terça-feira, 24 de setembro de 2024

Como melhorar sua memória: estratégias para crianças e adultos

Costumamos pensar na memória das pessoas como sendo boa ou ruim. No entanto, talvez você conheça alguém com uma péssima memória para nomes e rostos, mas que é muito bom em aprender idiomas. Outra pode ter uma capacidade extraordinária de se lembrar de eventos passados em detalhes, mas tem dificuldade para memorizar números de telefone.

Essas aparentes contradições são o resultado da complexidade de nossas memórias. Na verdade, elas são compostas de vários sistemas que são apoiados por uma série de estruturas e mecanismos neurobiológicos que variam dependendo do que estamos aprendendo e de como este aprendizado está sendo feito.

Aprender um novo idioma, por exemplo, não usa os mesmos mecanismos ou processos cerebrais que as informações científicas. Isso dificulta a generalização sobre o que torna uma determinada estratégia de memória mais ou menos eficaz em um ambiente educacional.

Neste artigo, vamos nos concentrar apenas na memória declarativa: partes explícitas de informações que podemos acessar conscientemente, como fatos, datas, nomes, eventos passados, conceitos e assim por diante.

Estudos sobre especialistas em memória competitiva (pessoas que conseguem se lembrar de grandes quantidades de informações) mostraram que, embora a genética seja responsável por grande parte das diferenças entre sermos melhores ou piores em recordar, é possível desenvolver uma capacidade excepcional de lembrar dados usando estratégias que foram praticadas por longos períodos de tempo. As mais usadas, conhecidas como mnemônicas (técnicas que auxiliam a memória), baseiam-se na criação de imagens mentais ou métodos verbais que geralmente exigem muito treinamento.

Os recursos de visualização, como o método de loci, consistem em associar os itens a serem lembrados a lugares específicos. Por exemplo, você pode memorizar uma lista de compras seguindo mentalmente seu trajeto para o trabalho e associando os itens da lista a diferentes lugares ao longo do caminho. Quando quiser se lembrar deles, basta refazer mentalmente o percurso.

Esse método é comumente usado por especialistas, e os dados de neuroimagem mostram que, durante as tarefas de memorização, eles têm maior ativação nas áreas cerebrais responsáveis pelo processamento de ambientes espaciais.

A eficácia das estratégias mnemônicas baseia-se em três princípios fundamentais:

1.       Relacionar as informações que você quer aprender com coisas que você já sabe.

2.       Lembrar-se do caminho para acessar as informações, juntamente com as próprias informações, para recuperá-las rapidamente.

3.       Praticar para chegar à perfeição: treinar os dois primeiros processos é essencial para ter uma memória afiada e ágil.

Pesquisas sugerem que, se alguém pode ser treinado em estratégias de memória para se lembrar de 67.890 dígitos do número pi (uma proporção numérica infinita), isso também poderia ser usado para impulsionar o aprendizado nas escolas. Entretanto, embora as técnicas mnemônicas espaciais ou verbais tenham se mostrado eficazes, seu uso real na vida cotidiana é limitado.

Na escola, isso significa que elas podem ser usadas para aprender listas, como planetas ou elementos químicos, mas não para matérias ou informações mais complicadas.

•        Codificação de memórias e redes de conhecimento

Devido a essas limitações nos contextos escolares, vale a pena procurar outras maneiras de melhorar a memória. Podemos fazer isso concentrando-nos nos elementos envolvidos nos próprios processos de lembranças e aplicando os mesmos princípios das estratégias mnemônicas.

A criação de uma memória começa quando a informação é primeiramente percebida, catalogada e codificada no cérebro. Sabemos que o fator mais importante no aprendizado de novas informações não é a intenção ou o desejo de aprender, mas sim o que fazemos com as informações.

O processamento profundo dos dados, relacionando-os com o conhecimento existente, é a chave para facilitar a memorização - é muito mais eficiente relacionar as informações com coisas que já sabemos do que simplesmente repetir mentalmente algo até que se fixe.

Portanto, é essencial criar redes ricas de conhecimento nas quais você possa integrar e organizar novos conhecimentos. Lembrar quando o primeiro presidente americano foi eleito será muito mais fácil se o relacionarmos com o que já sabemos sobre, por exemplo, a revolução francesa. Os pesquisadores chamam isso de codificação semântica.

O processo de recuperação de uma memória é tão importante quanto o de codificação. Com muita frequência, sabemos algo, mas não conseguimos acessá-lo, como quando temos o nome de uma pessoa na ponta da língua, mas não conseguimos lembrá-lo.

Para que o treinamento da memória seja eficaz, devemos, portanto, armazenar as chaves com as quais vamos acessá-la juntamente com a própria informação. A prática repetida é essencial para que a memorização ocorra de forma mais eficiente e rápida.

•        Conhecendo sua própria memória

Nas escolas, o método mais eficaz não é simplesmente ensinar técnicas de memorização, mas ajudar os alunos a aprender como funciona a própria memória. Como regra geral, quanto mais conhecimento eles já tiverem e quanto mais tempo praticarem estratégias de memorização eficazes, mais fácil será para eles adquirirem novos conhecimentos.

Também é essencial ensinar aos alunos quais estratégias de estudo são mais eficazes para diferentes tipos de conteúdo e avaliação, e concentrar-se em aplicá-las com flexibilidade.

 

•        Trabalhadores da geração Z são os que mais sofrem Burnout

Recém formada em publicidade e propaganda, Maria* (*nome fictício) foi contratada em uma renomada empresa do ramo com apenas 23 anos. Certa de que a carreira daria espaço para sua criatividade, a jovem acreditou que a oportunidade seria um divisor de águas em sua vida profissional, até que a rotina de trabalho mudou drasticamente em 2020, com a chegada da pandemia da covid-19.

Muitos de seus colegas foram demitidos para cortar gastos, a pressão em seu trabalho aumentou. O home office, prazos apertados, reuniões virtuais intermináveis e a urgência de criar campanhas que ressoassem com um público isolado tornaram-se a nova realidade.

Em meio ao caos, a agência exigia resultados, Maria se sentiu obrigada a se comprometer ainda mais com medo de perder a tão sonhada chance. "Eu acordava preocupada e ia dormir sempre muito tarde. Eu nem tinha tempo para pensar se estava cansada, recebia ligações intermináveis a quase qualquer hora do dia. Eu só pensava em trabalhar, em fazer bem feito e tentar não estragar tudo ", contou a jovem que não sabia, mas já apresentava os primeiros sintomas de algo que a acompanharia por muito tempo: a Síndrome de Burnout.

Declarada doença ocupacional desde 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico que pode ser resultante de situações de trabalho desgastante que demanda muita competitividade ou responsabilidade.

Segundo uma pesquisa da Harvard Business Review (2022), 50% dos trabalhadores da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) relataram que suas experiências de trabalho estão afetando sua saúde mental, e 75% disseram que desejam ver mais apoio de suas organizações em relação à saúde mental.

O relatório da Pew Research Center, publicado no mesmo ano, reforça esse resultado. O estudo destacou que a faixa etária enfrenta pressões significativas relacionadas a expectativas de desempenho, segurança financeira e questões sociais, que são fatores que podem contribuir para o burnout.

<><> Conectados

Para Renata Figueiredo, médica psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, o fato da Geração Z já ter nascido conectada e sempre imersa em dispositivos digitais torna difícil a separação entre a hora de trabalhar e a hora de descansar, principalmente no trabalho remoto. "Isso gera fadiga e a sensação de estar sempre disponível. Além disso, essa geração cresceu em um ambiente de critérios acadêmicos e profissionais muito elevados, enfrentando uma pressão constante por sucesso, inovação e produtividade", afirmou.

"Ao entrar no mercado de trabalho, a Geração Z se depara com um cenário de incerteza, marcado por empregos precários, alta competitividade e exigências constantes de adaptação e atualização. O descompasso entre as expectativas elevadas de sucesso e a realidade de empregos muitas vezes mal remunerados gera frustração e esgotamento emocional", complementou a especialista.

O trabalho que antes era apaixonante, virou um fardo e Maria só viu que precisava de uma pausa quando já era tarde demais. A jovem procurou ajuda médica após travar completamente enquanto dirigia, a síndrome que havia dado sinais nos últimos meses, chegou a seu estado máximo.

"Foi um momento esquisito daqueles que a gente percebe que não consegue fazer nada. Eu poderia ter batido o carro porque simplesmente não conseguia prestar atenção em nada à minha volta. Consegui, por um milagre, chegar em casa, mas chorava muito e estava desesperada. Queria sumir, queria desaparecer", relatou a jovem.

Apoiada por seus pais e amigos, a publicitária buscou ajuda profissional e começou o atendimento especializado com psicólogos e psiquiatras. Maria foi afastada do trabalho e logo que melhorou, pediu demissão para não voltar aos velhos hábitos de exaustão.

<><> Sinais vermelhos

A psicóloga Denise Milk explica que os sintomas iniciais do Burnout são muitas vezes ignorados e que podem ser emocionais ou até físicos e é preciso estar atento aos sinais de alerta. "Os principais sintomas referem-se a uma queda na produtividade, a indisposição, um cansaço que não passa, o distanciamento emocional e o isolamento. Em alguns casos vão aparecer também sintomas físicos como dores de cabeça, dores nas costas, ansiedade. Enfim, varia de pessoa para pessoa, mas esses sintomas tendem a ser os mais comuns", destacou.

Denise explica ainda que quando a síndrome já está instaurada é preciso de apoio e suporte especializado. Segundo a especialista, o tratamento é longo, mas uma rede de apoio formada por amigos e familiares é fundamental. "O tratamento de burnout é demorado e traz bastante sofrimento para a vítima. Cabe à empresa, a comunidade, a família, as pessoas que estão ao redor oferecerem apoio, suporte para que a pessoa possa gradualmente se restabelecer", aconselhou.

 

Fonte: Por Claudia Poch e Jorge González Alonso, para The Conversation Brasil/Correio Braziliese

 

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