10 dicas de arquiteta para você viver
melhor na sua casa
Talvez seja pequeno.
Talvez não seja o seu ideal. Mas o lugar onde você mora é um mundo repleto de
oportunidades.
Para muitas pessoas, o
lar é um refúgio. Para outras, um local de transição. Ou talvez seja um lugar
que elas querem mudar porque não traz a melhor energia.
A boa notícia é que,
quando o assunto é design, sempre podemos fazer algo para dar a este lugar um
toque positivo, que poderá nos ajudar a criar um espaço com mais paz e
criatividade.
O lar traz grandes
impactos emocionais sobre nós, segundo a arquiteta salvadorenha Alessandra
García, fundadora do estúdio de design de interiores Orsetto Interiors, na
região sudoeste de Londres.
"É extremamente
importante, pois somos seres humanos, viemos das cavernas e precisamos nos
sentir, antes de tudo, seguros onde moramos e também manter conexão com a
natureza", declarou García à BBC News Mundo (o serviço em espanhol da
BBC).
"Se você estiver
em um espaço muito pequeno que não tenha luz, nem acesso à vegetação, por
exemplo, é provável que ele não faça você se sentir feliz."
Um estudo realizado
nos Estados Unidos calculou que os norte-americanos passam, em média, 90% da
vida entre paredes – seja no lar, no trabalho ou em centros de estudo.
Em outros países, este
percentual pode ser menor, mas o espaço onde vivemos certamente irá causar
impactos, ainda que subconscientes, sobre as nossas emoções.
A seguir, veja 10
conselhos de arquitetos e designers para transformar os nossos lares em uma
maior fonte de bem-estar.
1. Conhecer a si
próprio
"Cores claras
ampliam os espaços, o amarelo energiza e assim por diante."
Podemos encontrar
muitas sugestões deste tipo na internet ou em revistas de arquitetura ou de
decoração. Mas o fundamental, segundo García, é se perguntar: Do que eu gosto?
O que faz com que eu me sinta bem?
"Eu gosto de
dizer aos meus clientes que uma coisa é a teoria e o que dizem os escritos –
que o branco faz com que um espaço pareça maior, por exemplo", explica
ela. "Mas, em última análise, somos indivíduos e temos nossas
experiências."
"Em El Salvador,
por exemplo, saem as procissões na Semana Santa. E, na procissão da Sexta-Feira
Santa, todos saem de roxo."
"Para mim, o
roxo, desde pequena, era muito forte e é algo que associo à morte de Jesus. Mas
existem pessoas que adoram roxo e a cor as deixa felizes", afirma García.
"Não é questão de
seguir tendências, mas de estar em harmonia com o seu ser e saber o que faz
você se sentir bem ou não."
Podemos morar na mesma
casa com outras pessoas, mas cada um de nós passou por experiências diferentes,
acrescenta ela. "Para mim, o trabalho mais importante como designer é
entender do que o meu cliente gosta e do que ele não gosta."
"Mesmo que ele me
diga uma coisa – porque, às vezes, as pessoas dizem algo só porque parece ser o
que elas deveriam dizer – mas, na verdade, não é daquilo que elas realmente
gostam."
2. Maximizar a luz
natural
"Pessoalmente, a
luz é o fator número 1, pois é a origem da vida", segundo García.
A luz natural favorece
os nossos ritmos circadianos, que regulam nosso ciclo de sono e vigília, além
dos hormônios. E, se houver diversos espaços pequenos em uma moradia, García
considera muitas vezes a possibilidade de derrubar paredes.
Uma alternativa é
trocar janelas. Mas, se nada disso for possível, "você pode permitir a
entrada de mais luz de outras formas – usando espelhos ou elementos que
reflitam a luz, por exemplo".
"Existem também
os acabamentos de pinturas, já que a mesma cor pode ser opaca, acetinada ou
brilhante", explica ela. "E isso também ajuda a refletir a luz de um
objeto para outro e a manter a luz no seu entorno."
Outra opção, segundo a
arquiteta, é simplesmente aceitar que um espaço seja mais escuro e dar a ele
outro uso.
"Se você for uma
pessoa muito ativa, que precisa de luz para fazer as coisas, mas quer se sentir
protegida e acalentada à noite, você pode se retirar para um espaço um pouco
mais escuro que ofereça esta sensação de proteção", indica ela.
"Um espaço escuro
não precisa necessariamente ser negativo. Ele pode também ser algo positivo,
dependendo do seu uso."
3. Trazer a natureza
para casa
O termo
"biofilia" significa, literalmente, amor à vida. Ele é usado para
descrever nossa conexão inata com a natureza.
Reconhecer esta
tendência ancestral na nossa casa é tão importante que gerou o que é chamado de
design biofílico.
"Trata-se de
incorporar a natureza em todas as suas formas (incluindo padrões, materiais,
formas, espaços, odores, imagens e sons) ao projeto urbano em diferentes
escalas", explicou à BBC Worklife a pesquisadora de urbanismo australiana
Jana Söderlund, autora do livro The Emergence of Biophilic Design ("O
surgimento do design biofílico", em tradução livre).
"Grande parte
disso é senso comum, pois fomos programados evolutivamente para reagir à
natureza", acrescenta. "Às vezes, precisamos apenas de um
lembrete."
Não se trata apenas de
ter uma planta na sala. É possível também acrescentar uma "experiência
indireta com a natureza" com tons de terra, que podem ter efeitos
positivos, tanto psicológicos quanto fisiológicos.
Söderlund recomenda
testar verde-floresta, azul-celeste ou tons de marrom, cor de terra. "Olhe
pela janela e imagine como você pode levar essas cores para o lado
interno", orienta ela.
García acrescenta que,
se morarmos em países com clima extremo ou não tivermos "boa mão"
para as plantas, "é preferível ter uma planta, mesmo que seja artificial,
a não ter nenhuma".
4. Escolher materiais
naturais
"Os materiais
naturais são aqueles com que normalmente mais nos identificamos", segundo
García. "Porque também temos deles uma memória histórica, quando os seres
humanos caçavam e moravam em edificações simples."
"Este contato com
o adobe, com a madeira, com a palha, com todo este tipo de materiais que
conectam você à natureza é algo intrínseco no subconsciente humano."
A arquiteta relembra
que, na década de 1980, houve uma tendência a rejeitar o que é natural e
preferir o moderno e o metálico.
"Mas, agora,
estamos retornando ao natural. Se você pegar um material natural como a madeira
em vez de um material metálico, seu ritmo cardíaco se altera."
Um estudo da
Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e um teste clínico da
Universidade Brown, nos Estados Unidos, demonstraram que a presença visual de
elementos de madeira pode reduzir o estresse com mais eficácia do que as
plantas. Já as moradias com cerca de 45% das superfícies de madeira aumentam a
percepção de comodidade e reduzem a pressão arterial.
Outro estudo solicitou
aos participantes que tocassem em superfícies de aço inoxidável, cerâmica,
mármore e em um painel de carvalho. Os resultados demonstraram que tocar o
painel de madeira apresenta efeito calmante sobre o sistema nervoso.
García relembra que
"existem tecidos naturais, como a lã e o linho".
"As fibras
naturais podem servir para suas almofadas, poltronas ou colchas, se fizer frio.
Estes materiais naturais são diferentes ao tato."
"Agora, a
tecnologia melhorou e, às vezes, é difícil diferenciar à primeira vista se um
material é natural ou uma imitação artificial", explica ela. "Mas,
inconscientemente, o ser humano sabe. Você pode não perceber, mas se sentar ou
tocar em algo natural muda o seu humor."
5. Facilitar a
circulação do ar
Quando García
transforma espaços muito pequenos derrubando paredes, isso gera "a ilusão
de que, visualmente, o espaço termina mais longe. Mesmo tendo a mesma área,
você se sente diferente."
Isso também permite o
que García chama de "ventilação cruzada".
"Em espaços
pequenos, o mais comum é que cada quarto tenha só uma janela", explica
ela. "Mesmo que você a deixe aberta e entre um pouco de ar, o vento não se
canaliza, não tem por onde sair."
"Mas, se você
abrir a porta para outro quarto, que tenha outra janela, pode haver troca de
ar. Você tem acesso não só à iluminação dos dois lados, mas pode também
ventilar o ar. Isso se chama ventilação cruzada."
"Somos compostos
de água, mas também de energia", afirma García. "A energia precisa
ser renovada e tem que circular, para trazer mais energia positiva. Senão, fica
estancada."
6. Não sobrecarregar
É importante não
superlotar um espaço com móveis e outros objetos, principalmente se ele for
pequeno.
"A energia, a
luz, tudo se move através do espaço e, se ele estiver sobrecarregado, a energia
não flui ou os objetos não são iluminados porque há coisas demais."
Deixar alguns espaços
vazios proporciona um respiro visual, um alívio mental.
García volta a
insistir na ideia de nos concentrarmos naquilo que nos agrada, como ter muitas
fotos de pessoas queridas, mas é preciso buscar o equilíbrio.
"Trata-se de um
equilíbrio entre o que deixa você feliz e um ambiente pesado, onde você já não
se sente cômodo porque não há onde colocar um copo, ou você não consegue ver o
outro lado do quarto", explica ela.
Sem este equilíbrio,
existe o risco de irmos para o outro extremo e nos sentirmos igualmente
incômodos ou estressados.
"Você pode acabar
optando por algo muito clínico ou estéril, onde tudo é muito branco e
minimalista, e sentir que é 'melhor não tocar em nada' ou 'se eu mover algo,
irá ficar fora de lugar'", ressalta ela.
"Todas as
tendências são válidas, mas é preciso não levá-las ao extremo."
7. Manter a
organização
García destaca que a organização
é fundamental, especialmente na cozinha.
"Tente não ter
muitas coisas na bancada", orienta ela. "Embora você não seja uma
pessoa meticulosamente organizada, observar sempre essa desordem irá
inconscientemente gerar ansiedade."
A especialista afirma
que este pequeno gesto – ter o mínimo sobre a bancada – pode chegar a melhorar
o nosso humor.
"Se você tiver
coisas que não usou em um ano, o mais provável é que não irá ocupá-las",
orienta ela. "Então, é melhor se desfazer delas e dar-lhes uma nova vida,
ajudando pessoas que não as têm."
8. Considere a
verticalidade
Legenda da foto,Uma
forma de fazer uso da verticalidade é pendurar quadros em diferentes níveis de
altura
Em espaços muito
pequenos, é possível instalar prateleiras altas, mas você também pode usar a
verticalidade de outras formas.
Em casas com tetos
altos, García propõe pendurar lâmpadas ou objetos de arte no espaço superior,
ou em alturas diferentes, para que não fiquem todos no mesmo nível.
"Com isso, você
faz sua visão se elevar, deixando de se mover em um único plano", explica
a arquiteta.
No caso de banheiros
pequenos, García aconselha especialmente a pintar o teto de outra cor. "É
uma ação que não irá ameaçar muito a sua vida cotidiana e traz um pouco de
humor."
"Pode ser um tom
vivo, se você quiser olhar enquanto toma banho de manhã, ou uma cor serena,
para ter paz na hora de dormir. Isso depende de cada personalidade."
9. Usar móveis
multifuncionais
Em espaços reduzidos,
é útil ter móveis que tenham mais de uma função, segundo García.
"A flexibilidade
é o mais importante. A mesma cadeira pode servir para alguém se sentar, para
manter seus livros, como mesinha de luz ou banquinho para alcançar alguma
coisa", recomenda a arquiteta.
"Se você mora em
um espaço pequeno e a sua sala for também seu refeitório, escritório e sala de
jogos para as crianças, faça com que, no final do dia, elas tenham um lugar
para guardar os brinquedos", como caixas decorativas.
"Assim, quando
você sentir que o dia terminou, não haverá desordem para causar estresse."
García também
aconselha, se o seu escritório ficar na sala, a guardar o laptop no final do
dia e, se chegarem visitas, usar o mesmo móvel para servir comida.
"O importante é
que, enquanto você estiver ocupando um espaço para uma determinada atividade,
tudo sirva para aquilo, mas que você depois possa ocupar o mesmo espaço com
outra finalidade."
10. Caminhar pouco a
pouco...
Se, ao ler estas
sugestões, você sentir que gostaria de segui-las, mas não sabe por onde
começar, respire profundamente... e sorria.
García relembra que
seus conselhos são uma forma de nos empoderar, sem nos deixar esgotados.
"Comece com algo
pequeno, com uma almofada que você viu em uma loja e se encantou, e depois você
pode seguir progressivamente", indica ela. "Você não precisa fazer
uma mudança da noite para o dia. Pode ser um processo de longo prazo."
"E não tenha medo
de errar. Se um dia você tiver vontade de pintar a parede de verde, pinte. O
pior que pode acontecer é que, amanhã, você volte a pintá-la de outra
cor."
"Pense,
sobretudo, em uma paleta de cores que deixe você feliz", orienta a
arquiteta. "E lembre-se de que aquilo de que você gosta hoje não será
necessariamente o que irá agradar você amanhã."
Fonte: BBC News Mundo
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