quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Maria Camila Moura: Abertura olímpica, a pobreza do debate e a intolerância coletiva

Desde a abertura das olimpíadas, na sexta-feira (26), a esquete representada, em sua maioria, por drag queens e pessoas da comunidade LGBT+, repercute nas redes sociais e nas mídias em geral. Após inúmeras manifestações de desagrado, neste domingo, durante uma conferência de imprensa do Comitê Olímpico Internacional, Anne Dechamps, porta-voz das Olimpíadas de Paris 2024, esboçou um pedido de desculpas (disse lamentar ‘muito, muito mesmo’) às pessoas que se sentiram ofendidas na abertura dos jogos pela cena.

Infelizmente, nossa sociedade parece carecer de pensamento crítico, reduzindo a rica oportunidade de debate em decorrência da cena a um embate polarizado entre defensores de tal manifestação artística x ofendidos pela mesma, em face do qual nenhum dos lados parece disposto a refletir sobre o acontecido.

Como torcedores fanáticos, são incapazes de reconhecer as virtudes do outro time e as falhas das próprias ações.

De um lado, muitos dos arautos de uma suposta moralidade aproveitaram a oportunidade para disseminarem discursos transfóbicos. O ódio na fala de muitos que se posicionaram contra a manifestação artística vai de encontro aos ensinamentos de Cristo, apesar de muitos se autodenominarem cristãos. Pessoalmente, creio que se tivessem lido, ao menos uma vez na vida, os belíssimos Evangelhos e os ensinamentos de Jesus aí contidos, certamente, adotariam outro tom, lembrariam que não são eles a guardarem as chaves do céu e que, inúmeras vezes, Jesus quebrou regras e protocolos de seu tempo, acolheu àqueles que a sociedade rechaçava.

Outras pessoas minimizaram a questão dizendo não se tratar de uma referência ao quadro A Última Ceia, mas à pintura do holandês Jan van Bijlert, “A Festa dos deuses”. Em uma cegueira coletiva, negaram que, na pequena encenação, podemos ver referências a ambas as obras e, de todo modo, a obra de Bijlert foi pintada por volta de 1635, ou seja, mais de cem anos depois do quadro de Da Vinci, datado de 1498 e, podendo, portanto, ter inspirações do mesmo. Neste ângulo do debate, a riqueza e a polissemia da arte passaram despercebidas.

Houve ainda aqueles que defenderam ferrenhamente a manifestação artística em questão, se referindo a todos aqueles que dela se desagradaram como ‘retrógrados’, ‘de extrema-direita’ e ‘conservadores’, ignorando, por completo, que é possível sentir certo desgosto pela cena por outros motivos que não uma inclinação pessoal ao proselitismo ou por um alinhamento com a agenda de discriminação à comunidade LGBT+.

Para compreender o desagrado vindo de pessoas razoáveis é preciso, primeiramente, não ter uma mente limitada, polarizada entre bons x maus, oprimidos x opressores - somos mais de oito bilhões no mundo, nem todos cabem em categorias diametralmente opostas. É preciso ainda entender que o quadro de Da Vinci, ao longo dos últimos cinco séculos, transcendeu seu valor como bela arte e se tornou, no imaginário coletivo, um símbolo do Cristianismo e das mais diversas religiões daí advindas - e isto é algo sério.

Diferente de outros animais, o ser humano é um ser simbólico – alguns objetos adquirem um valor que ultrapassam seu sentido original, dizem de uma história pessoal e coletiva. Os objetos que adquirem um valor simbólico não podem ser monetizados, dinheiro nenhum no mundo pode comprar e isso é o ápice do valor em um mundo capitalista. Talvez você tenha um objeto de um parente já falecido, algo da sua infância, um talismã ou mesmo sua aliança de casamento com seu grande amor que tenham se tornado simbólicos na sua existência e que você jamais irá se desfazer deles, ainda que lhe oferecessem uma fortuna por eles. Objetos simbólicos dizem de nossa história de vida, se tornam parte de nós mesmos e dói quando mexem neles.

Assim, o quadro A Última Ceia se tornou simbólico para milhões de pessoas, faz parte da história coletiva da comunidade cristã ainda que, talvez, a cena real de Jesus e seus apóstolos sequer tenha acontecido como foi pintada por Da Vinci. De tal modo, parodiar este símbolo pode sim ser motivo de ofensa pessoal para muitos. Não se trata necessariamente de um preconceito contra a comunidade LGBT+ (apesar de sabermos que alguns adentraram nesse debate por puro preconceito), afinal, ainda que a cena tivesse sido representada por homens e mulheres cis, naquele contexto de entretenimento, o sagrado se tornaria profano, continuaria sendo ofensivo.

Em um mundo plural e em busca de ser democrático, os símbolos devem ser respeitados e conservados. Entretanto, creio que a imposição dos símbolos de um determinado grupo à coletividade, por vezes, provoca um efeito reverso: não uma maior aceitação desses símbolos, mas um ressentimento, uma vontade de destruição e de zombaria, pura iconoclastia sem um sentido mais elevado.

É preciso assumir que no Brasil há, com frequência, a imposição em espaços públicos de símbolos cristãos, especificamente católicos. Como muitos nordestinos, sou devota de Maria, encontrei Nela o colo acolhedor de uma mãe, mas não posso concordar com as inúmeras praças em meu Estado (Ceará) com imagens de Maria, afinal, isso pode ser um ultraje a alguém com uma fé divergente da minha, que enxerga Maria com outros olhos.

Como a maioria dos brasileiros, sou cristã, mas não posso concordar que crucifixos sejam expostos em repartições públicas, afinal, esta não é a fé de todos os brasileiros - e a laicidade é garantida pela Constituição vigente. Do mesmo modo, posso não me sentir à vontade que símbolos de outras religiões sejam impostos à coletividade, mas, nem por isso, poderia me autorizar a parodiar estes símbolos pelos quais não tenho nenhum afeto, mas que são profundamente importantes para pessoas de outras religiões.

Os símbolos, cada um ao seu modo, são sagrados. Todos merecem ser conservados, respeitados e guardados para aqueles que os consideram preciosos. Pode ser um idealismo, mas ainda acredito que podemos conviver com as mais diversas religiões, ideologias e modos de ser, desde que sejamos norteados pela empatia, compreendendo que o que é valoroso e sagrado para o outro, não merece ser banalizado (muito menos parodiado).

 

¨      Não foi "A Última Ceia": drag queens encenaram outro quadro famoso na abertura das Olimpíadas. Por Ivan Longo

encenação feita por drag queens na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, na última sexta-feira (26) gerou revolta entre conservadores por, supostamente, fazer referência ao famoso quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, que retrata Jesus Cristo e seus 12 apóstolos. 

O fato de pessoas queer representarem uma cena cultuada pelo cristianismo foi vista por setores da igreja católica e evangélica como uma "blasfêmia" contra as religiões. 

A performance, entretanto, não fez referência à pintura "A Última Ceia", mas sim a outra obra que de cristã não tem nada. Tratou-se, na verdade, de uma releitura do quadro "Festa dos Deuses", de Jan Harmensz van Bijlert, pintado por volta de 1635 e mantido no Museu Magnin em Dijon.

A obra traz elementos da mitologia cultura greco-romana, particularmente ao culto de Baco (ou Dionísio, como é conhecido na mitologia grega). Baco (nome romano) ou Dionísio (nome grego) é o deus do vinho, da fertilidade, do teatro e das festividades. Ele é frequentemente representado em cenas de celebração, que refletem os festivais e os ritos em sua honra, conhecidos por serem alegres e exuberantes.

No centro da mesa da encenação, portanto, a drag queen não representava Jesus Cristo, mas sim o deus Apolo coroado. Em primeiro plano, pintado de azul, um ator interpreta Baco/Dionísio. 

Veja a comparação do quadro com a encenação: 

Quem deu o esclarecimento sobre a performance confundida com o quadro de Leonardo da Vinci foi o próprio perfil oficial dos Jogos Olímpicos de Paris nas redes sociais. 

"A interpretação do deus grego Dionísio nos conscientiza do absurdo da violência entre os seres humanos", diz a publicação. 

 

•        Pastor, mãe de santo, padre juntos para distribuir comida a quem tem fome

Pastor, padre, mãe de santo e representantes de várias religiões decidiram unir forças e distribuir comida para quem tem fome e vive em situação de vulnerabilidade no Rio de Janeiro. A iniciativa faz parte do Pacto Inter-Religioso Contra à Fome.

Assim o grupo formado por padre, pastor, mãe de santo e integrantes dos mais diversos credos ocupou um cartão-postal da Cidade Maravilhosa: os Arcos da Lapa, no centro do Rio. A ideia é levar comida para quem sente fome com amor e acolhimento, unindo palavras de esperança e fé.

Ali serviram, na hora do almoço, refeições saudáveis para quem quisesse e estivesse com fome . No local, vivem muitas pessoas em situação de rua. O Pacto Inter-religioso Contra à Fome foi lançado no último dia 27, no Rio, com muita união e parceria.

<><> Ação coletiva

O deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) é um dos que lideram o movimento. Segundo ele, é uma iniciativa coletiva para combater a fome e a miséria

“É um movimento que reúne o povo de fé, de diversas discussões, e movimentos sociais no combate à miséria e na partilha do pão”, afirmou Vieira.

De acordo com o pastor, unidos será possível avançar no combate à fome e à miséria.

“Juntos, em nossa diversidade, nos comprometemos a lutar contra a desigualdade e a unir esforços para acolher nossos irmãos e irmãs que precisam.”

<><> Sabedoria ancestral

O pastor ressaltou que a sabedoria ancestral aliada a políticas públicas ajudará nos esforços.

“Ao aprender com as tradições que promovem segurança alimentar, criaremos um futuro de justiça e solidariedade”, disse.

Em seguida, Henrique Vieira: “Juntos, faremos uma revolução de amor e generosidade para garantir uma mesa farta e justa para todos”.

 

•        Padre bolsonarista dirige bêbado e tenta subornar PMs: "sou famoso, vão se arrepender"

Apoiador de Jair Bolsonaro (PL) e negacionista durante a pandemia da Covid-19, o padre goiano Danillo Joaquim Costa Netto foi preso na rodovia GO-010, no município de Bonfinópolis,  na região metropolitana de Goiânia, ao dirigir bêbado e tentar subornar policiais no último domingo (28).

Danillo foi parado após dirigir em zigue-zague pela rodovia e quase atropelas dois ciclistas. Em vídeo divulgado nas redes, gravado durante a abordagem, o padre confessa que tomou umas cervejas e está "embriagado".

Ele ainda tenta usar a "influência" para oferecer subornos aos policiais para o acompanharem até a casa onde mora.

"Eu pago o valor que vocês quiserem, mas por favor, só me acompanhem até à minha casa para que eu possa dormir. Quem você acha que é? Eu tenho influência", disse o bolsonarista.

No carro, a PM encontrou latas de cerveja e uma arma de fogo com 17 munições.

Na hora da abordagem, o padre ainda se recusou a entregar os documentos. "Eu sou o padre famoso que aparece no jornal, vocês vão se arrepender de fazer isso", teria dito, segundo a afiliada local da Globo.

Em seguida, ele teria ameaçado os PMs ao ser colocado dentro da viatura. "Amanhã vocês vão estar em todos os jornais, eu vou acabar com vocês", disse o padre segundo a Polícia Penal.

Danillo, que estava sem o documento do veículo, ainda teria desacatado uma PM mulher que participou da abordagem.

"Com você, eu falo do jeito que eu quiser. Me fala seu nome que amanhã você vai perder esse seu cargo aí. Eu não vou te obedecer", disse Danillo Costa de acordo com os relatos da Polícia Penal.

Danillo, então, começou a agredir os PMs e teve que ser algemado para ser colocado no camburão. Chutando a grade, ele continuou atacando os PMs.

Ele passou por audiência de custódia nesta terça-feira (30) e vai responder por dirigir embriagado, porte ilegal de arma de fogo e por tentativa de suborno.

Ao G1, a defesa afirmou que houve possíveis abusos de autoridade por parte dos policias.

<><> Arrancou a batina

Danillo Netto tem histórico de chiliques e abuso de autoridade, sempre atrelado à defesa de Jair Bolsonaro (PL).

Em novembro de 2022, após a derrota do ex-presidente para Lula, o padre surtou, tirou a batina durante a missa e jogou sobre o púlpito ao ser confrontando em uma discussão política no sermão.

O caso aconteceu em uma igreja de Nerópolis, na Região Metropolitana de Goiânia.

Durante a missa, Danillo teria pedido aos que votaram em Lula para irem embora da igreja. Uma mulher se recusou e começou a discutir com ele. Outros fiéis se levantaram e fizeram o "L", de Lula.

Danillo, então, teve o chilique. “É? Então beleza. Vocês não precisam de padre. Então, estou deixando a paróquia”, disse o sacerdote antes de tirar a batina e deixar o altar.

Nas redes, o padre fez campanha para Bolsonaro e atacou Lula, além de se alinhar ao discurso negacionista na pandemia.

 

Fonte: Diário do Nordeste/Só Noticia Boa/Fórum

 

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