sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Colesterol: confira mitos e verdades sobre um dos maiores vilões da saúde cardiovascular

As doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, são as principais causas de morte no Brasil, com mais de 300 mil óbitos ao ano. E o colesterol alto, que segundo o Ministério da Saúde está presente em 40% da população brasileira, tem grande relação com estes números.

O colesterol é um tipo de lipídio ("gordura") que compõe a membrana das células do nosso corpo e que também é precursor da formação de hormônios e vitaminas. Ele é essencial para diversas funções, mas seu excesso está associado a diversos problemas de saúde, especialmente doenças cardiovasculares, como AVC e infarto.

O colesterol é essencial para o funcionamento do nosso corpo, porque ele participa de diversas funções biológicas essenciais, como na estrutura das células, na produção de hormônios - como testosterona, estrógeno, progesterona - e vitaminas, na formação da bile - necessária para digestão das gorduras - e para formação da bainha de mielina, que protege os neurônios, acrescenta o médico. Apesar de o colesterol ser essencial, é preciso manter seus níveis sob controle.

Os alimentos ricos em gordura trans, gorduras saturadas e ultraprocessados são as principais fontes alimentares de colesterol ruim, com impacto nos níveis do LDL.

Abaixo, nesta reportagem, confira 15 mitos e verdades sobre o colesterol apresentados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM):

<><> MITOS:

1. O consumo de proteínas, como o ovo, aumenta o colesterol

O ovo é rico em colesterol, além de também ser fonte de outros nutrientes como vitamina D, colina (importante para o tecido nervoso), ferro, vitamina A e luteína (que auxiliam a prevenir problemas de visão).

Como qualquer alimento, seu uso deve ser equilibrado e integrado a uma dieta equilibrada. A quantidade diária depende de diversas questões relacionadas à saúde de cada indivíduo.

Em geral, a quantidade de até 2 ovos ao dia é ser benéfica para a maioria das pessoas, sem maiores riscos de alteração do colesterol ou outros índices.

2. Chás ou água de berinjela ajudam a diminuir o colesterol

Não há comprovação científica de que chás ou água de berinjela reduzam significativamente o colesterol ou a pressão arterial.

Portanto, não são recomendados como tratamento eficaz. Naturalmente, uma dieta equilibrada pode incluir este vegetal como forma de obter nutrientes e evitar o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas.

3. O abacate pode aumentar o colesterol

O abacate é rico em gordura monoinsaturada, que pode ajudar a aumentar o colesterol bom (HDL) e diminuir o ruim (LDL). Apesar disso, deve ser consumido com moderação, devido ao seu alto valor calórico.

4. Pessoas magras não têm colesterol alto

Mesmo pessoas magras podem apresentar colesterol alto devido a fatores genéticos, que não são tão raros quanto se imagina. Os determinantes dos níveis de colesterol são complexos e não envolvem apenas o peso. Logo, todas as pessoas estão sujeitas a níveis elevados de colesterol, independentemente do IMC (índice de massa corpórea).

5. Óleo de coco diminui o colesterol e ajuda a emagrecer

O óleo de coco é uma gordura saturada e pode aumentar o colesterol. Além disso, é altamente calórico e não contribui para o emagrecimento.

6. Remédios para baixar o colesterol devem ser suspensos após algum tempo de uso, pois podem causar problemas de saúde

A manutenção ou suspensão dos medicamentos para controle do colesterol deve ser discutida com um médico. Muitos pacientes necessitam de uso contínuo para obter benefícios na prevenção das doenças cardiovasculares e os estudos clínicos atestam a segurança do uso prolongado dessas medicações.

7. Remédios para reduzir o colesterol não são seguros para idosos

Estudos mostram que esses medicamentos são seguros e benéficos para idosos quando bem indicados. Alguns trabalhos sugerem que pelo menos 30% dos idosos no Brasil possuem níveis elevados de colesterol.

Nesta faixa etária, o cuidado com o colesterol deve ser redobrado, tendo em vista a maior frequência de comorbidades que aumentam o risco cardiovascular, como hipertensão arterial e diabetes mellitus.

A adesão a longo prazo às medicações para controle do colesterol ainda é relativamente baixa no Brasil, em torno de 20 a 30%. O índice é problemático, pois o efeito destas medicações na proteção cardiovascular exige seu uso contínuo e só se manifesta no longo prazo, segundo o médico endocrinologista Joaquim Custódio Jr, também professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e presidente do Departamento de Dislipidemias e Aterosclerose da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia):

“Conscientizar as pessoas sobre o adequado controle do colesterol é essencial para reduzir a ocorrência de eventos cardiovasculares em nossa população”, afirma o médico.

8. Suplementos contendo ômega 3 são saudáveis e devem ser utilizados na prevenção das doenças cardiovasculares e para abaixar o colesterol

A dieta rica em ômega 3 demonstrou benefícios cardiovasculares, mas isso não foi comprovado com o uso de suplementos de ômega 3.

Na realidade, esses suplementos podem até elevar o colesterol ruim. O ômega 3 pode ser útil para a redução dos níveis de triglicérides (um tipo de gordura que circula em nosso organismo), mas a relação do seu consumo com a redução de eventos cardiovasculares ainda é considerada incerta.

Fontes naturais de ômega 3 incluem peixes de água fria - como salmão, atum e sardinha - algumas sementes – como linhaça e chia - e nozes.

9. Reduzir excessivamente os níveis de colesterol no sangue pode levar à demência pela falta de colesterol para as células

Estudos indicam que a redução dos níveis de colesterol é segura, mesmo a níveis muito baixos. As células do nosso organismo são preparadas para produzir o seu próprio colesterol sem depender do colesterol do sangue. Por outro lado, não tratar o colesterol elevado, especialmente em pacientes de alto risco cardiovascular, está associado a alguns tipos de demência.

<><> VERDADES

1. Colesterol elevado está associado ao envelhecimento das artérias

O LDL (colesterol ruim) elevado contribui para o envelhecimento das artérias através da formação de placas de gordura. Essas placas resultam em inflamação, oxidação e enrijecimento das paredes arteriais, reduzindo sua elasticidade e capacidade de fluxo sanguíneo.

2. O colesterol elevado está associado a alimentação e fatores genéticos

Setenta por cento do colesterol é produzido pelo fígado, mas os demais 30% são provenientes da alimentação e estilo de vida. Portanto, é importante também adotar hábitos saudáveis.

3. Distúrbios do colesterol devem ser rastreados na população

Homens a partir de 35 anos e mulheres a partir dos 45 anos devem ser rastreadas para níveis elevados de lipídios (gorduras) no sangue. Mas em casos específicos, a recomendação de idade pode mudar para a partir até de 20 anos em homens e mulheres, quando o (a) paciente apresentar um dos fatores de risco como diabetes, história prévia de doença coronariana ou doença aterosclerótica, história familiar de doença cardiovascular em homens abaixo dos 50 e mulheres abaixo dos 60 anos de idade, tabagismo, hipertensão e obesidade.

4. O excesso de colesterol pode causar infarto e AVC (acidente vascular cerebral)

O excesso colesterol LDL, que é conhecido como o "colesterol ruim”, está associado às doenças cardíacas. Uma estimativa realizada pelo grupo do estudo Carga Global de Doenças, iniciativa mundial coordenada pela Universidade de Washington, nos EUA, em 2019, aponta que pelo menos 6% da população brasileira convive com doenças cardiovasculares, sendo as mais prevalentes a doença arterial coronariana (que afeta a circulação do coração) e a doença cerebrovascular (que compromete a irrigação do cérebro).

5. Dietas que cortam carboidratos podem aumentar o colesterol

Se os carboidratos forem substituídos por gorduras saturadas, como é comum em algumas dietas, o colesterol pode aumentar. Recomenda-se que os carboidratos consumidos sejam de boa qualidade, com predomínio de carboidratos complexos (ricos em fibras) e menor consumo de carboidratos refinados, como o açúcar.

6. Crianças também pode ter colesterol alto

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que a primeira avaliação do colesterol seja realizada entre os 9 e 11 anos de idade, podendo ser antecipada em caso de histórico familiar de dislipidemias ou condições cardiovasculares precoces. Se os níveis de colesterol forem elevados, o endocrinologista deve ser consultado para definir o risco cardiovascular individual e planejar o tratamento adequado.

Um estudo recente, coordenado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), aponta que em torno de 20% das crianças e adolescentes do Brasil possui níveis de colesterol acima dos limites adequados para a faixa etária, acendendo um alerta para o possível desenvolvimento de doença cardiovascular precoce.

 

Fonte: Departamento de Dislipidemias e Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)

 

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