sábado, 31 de agosto de 2024

Ascensão de Pablo Marçal obriga Bolsonaro mudar estratégias

O apoio de Jair Bolsonaro ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), parece estar em uma encruzilhada, em meio ao crescimento meteórico do coach e candidato de extrema-direita, Pablo Marçal (PRTB), nas pesquisas eleitorais. Marçal, que agora disputa o segundo lugar nas intenções de voto com Nunes, tem desafiado o atual prefeito, que conta com o apoio declarado de Bolsonaro e do governador Tarcísio de Freitas.

Bolsonaro vinha reforçando seu apoio a Nunes, mas agora busca mais envolvimento do prefeito no ato de 7 de setembro, na Avenida Paulista, contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, apesar de o emedebista já ter confirmado sua presença. O ex-presidente postou um vídeo nesta quarta-feira (28) convocando seus apoiadores para o evento e indicando que "qualquer candidato a prefeito" de São Paulo poderia comparecer, um sinal claro de que também Marçal estaria bem-vindo. Com isso, Bolsonaro poderá, se comparecer, aferir a capacidade de mobilização de ambos. Segundo fontes próximas a Bolsonaro ouvidas pela Folha de São Paulo, a permissão para Marçal participar foi um movimento estratégico após ele solicitar sua presença, o que pode colocar os dois candidatos, Nunes e Marçal, lado a lado no mesmo palanque.

Enquanto isso, Bolsonaro teria orientado, segundo o jornal O Globo, seus aliados a não atacarem Marçal publicamente, uma postura que marca uma mudança em sua estratégia. O crescimento de Marçal nas pesquisas tem gerado temores dentro do círculo bolsonarista de que ele possa se tornar o principal rival de Guilherme Boulos (Psol), que lidera as intenções de voto e conta com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A possibilidade de um segundo turno entre Marçal e Boulos está se tornando cada vez mais real, o que coloca Bolsonaro em uma posição delicada em relação ao seu apoio a Nunes, que busca agora formas de reiventar sua estratégica e capturar o eleitorado menos extremista de Bolsonaro.

Aceno do clã Bolsonaro a Marçal pode ser ‘apito de cachorro’ para debandada da campanha de Nunes

Aliados do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), e interlocutores da campanha de Guilherme Boulos (Psol) acreditam que a aproximação entre Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e Pablo Marçal (PRTB) pode gerar uma debandada de bolsonaristas da campanha do candidato à reeleição, informa a jornalista Andréia Sadi, do G1. Na última quarta-feira (29), o filho de Jair Bolsonaro (PL) afirmou que os dois conversaram e “querem a mesma direção”.

"Conversei há pouco com Pablo Marçal, foi muito educado e bacana comigo. Expusemos nossos pontos e fico feliz em ter a consciência que queremos rumar nas mesmas direções quando falamos de Brasil", publicou Carlos nas redes sociais. Na avaliação das outras campanhas, o post pode ter sido uma senha para que o bolsonarismo desembarque na campanha de Nunes e se aproxime de Marçal.

A tendência é que Jair Bolsonaro siga pedindo votos para Ricardo Nunes, mas libere seus aliados para pedir votos para Marçal. Nos bastidores, assessores de Bolsonaro negam que ele deixe de apoiar o atual prefeito, mas lamentam a falta de pautas bolsonaristas na campanha. Do outro lado, o ex-coach se movimenta para atrair o bolsonarismo oficial e faz constantes acenos ao ex-mandatário.

Os assessores também afirmam que a conciliação entre os Bolsonaro e Marçal é resultado de uma articulação feita pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) com o objetivo de evitar um racha na extrema direita e criar um cordão de isolamento contra a esquerda.

•        Ricardo Nunes dá indireta bíblica para Pablo Marçal e implora por atenção de Bolsonaro em vídeo

A situação de Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, não é nada positiva. A campanha perdeu pontos nas últimas pesquisas eleitorais, caindo da segunda para a terceira colocação em alguns levantamentos divulgados nas últimas semanas.

Além da derrapada nas pesquisas para a prefeitura, Nunes perdeu um apoio grande: a família Bolsonaro - que publicamente o apoia no campanha ara São Paulo - fez um acordo e começou a dar sinais em favor de Pablo Marçal (PRTB). Carlos Bolsonaro, o mais radical dos filhos do ex-presidente que chegou a ser chamado de "retardado" pelo coach, também fez sinalização ao candidato de extrema direita, deixando Nunes desamparado.

Foi com esse cenário caótico que Ricardo abriu sua quinta-feira. Nesta manhã, ele tuitou: "Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos", citando versículos do Evangelho de Mateus, uma indireta para Pablo Marçal, a pedra em seu sapato na corrida eleitoral.

Depois, publicou um vídeo desesperado ao lado do seu vice, o coronel Mello Araújo, em chamada de vídeo com Jair Bolsonaro e confirmando sua presença nos ato bolsonarista do próximo dia 7 de setembro. O ex-presidente inelegível sorri e acena, mas não responde Nunes diretamente.

•        Marçal quer médico antivacina e antiaborto para coordenar saúde em São Paulo

Um dos responsáveis pelo plano de governo para a saúde do candidato à prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) será Francisco Cardoso, médico que defendeu o uso de cloroquina para tratar a covid-19, duvidou da eficácia de máscaras e vacinas e é contra o aborto após 22 semanas.

Os planos de governo trazem os pilares de uma gestão em áreas como saúde e educação e servem para os eleitores conhecerem melhor as ideias de seu candidato.

O infectologista escreveu, no Instagram, que aceitou o convite de Marçal “com muita honra”. “É impossível para mim apoiar para reeleição o prefeito [Ricardo] Nunes, uma pessoa que demitiu pessoas por exercerem seu direito de dúvida e livre escolha, por ousarem questionar algumas medidas, agora comprovadamente sem evidências científicas”, ele disse, em referência a servidores que foram demitidos por Nunes por recusarem a se vacinar contra a covid.

“Tenho muito carinho e admiração pela atual equipe da SMS [Secretaria Municipal de Saúde], são grandes colegas e muito competentes. Se depender de mim, inclusive, o secretário [Luiz Carlos] Zamarco e cia continuarão na SMS”, continuou. Zamarco é o atual secretário de Nunes, em cuja gestão a prefeitura suspendeu o serviço de aborto legal do Hospital Vila Nova Cachoeirinha, o de referência na cidade, e copiou prontuários sigilosos das pacientes.

Na rede social, Cardoso chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de “presidente” (sic) e disse que tem orgulho de ser apoiado por bolsonaristas.

Cardoso recentemente foi eleito conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM) representando o estado de São Paulo. Ele fazia parte da única chapa que defendia em suas propostas a resolução do CFM que proibia um procedimento para interromper a gravidez de vítimas de estupro acima de 22 semanas, chamado assistolia fetal. Esse procedimento é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O médico acredita, ainda hoje, que o Ministério da Saúde errou em tornar obrigatória a vacinação contra a covid, com imunizantes aprovados pela Anvisa, e em se posicionar contra o uso de remédios sem comprovação científica para combater a doença.

O candidato Ricardo Nunes (MDB) ainda não indicou nomes para a Secretaria de Saúde, caso seja reeleito, mas o seu plano de governo aposta na ampliação de serviços já existentes. Os coordenadores dos planos de governo de outros dois candidatos à prefeitura, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB), se posicionaram vocalmente contra o negacionismo durante a pandemia. Boulos chamou o médico sanitarista e ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina, e Amaral, os médicos Paulo Saldiva e Ludmila Hajjar.

Hajjar, por exemplo, negou convite de Bolsonaro para ser ministra da Saúde, integrou o governo de transição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e falou, recentemente, sobre uma “onda de picaretagem” que assola a medicina brasileira.

•        Presidente do partido de Marçal, suspeito de envolvimento com PCC, foi acusado de roubar R$ 4 milhões em bitcoins

O presidente do PRTB de Pablo Marçal, Leonardo Avalanche, foi acusado na Justiça do Distrito Federal, em março deste ano, de roubar 14.5 bitcoins do policial civil Bruno Pires, algo equivalente a R$4 milhões. As denúncias complicam ainda mais a situação do político, após a sua relação com o PCC ser exposta pela imprensa.

“Pires alegou à Justiça que, quando conheceu Avalanche, em 2020, ele prometeu ganhos ‘com rendimentos acima do mercado’ com a compra de bitcoins. O presidente do PRTB, então, pediu que Pires transferisse 15 bitcoins para ele. Uma parte das criptomoedas — 14.4 bitcoins — foi repassada para o operador financeiro de Avalanche, e o restante — 0.6 bitcoin — ficou com o presidente do PRTB, segundo a ação”, detalha o jornalista Guilherme Amado em sua coluna no Metrópoles.

Leonardo Avalanche  também é acusado por adversários dentro do partido de vender candidaturas, fazer ameaças e fraudar filiações. A acusação foi protocolada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo secretário-geral da legenda, Marcos Andrade, e pela ex-vice-presidente Rachel de Carvalho, que diz ter deixado o posto após sofrer ameaça de morte, revela reportagem do jornal Folha de S.Paulo.

•        Campanhas adversárias acreditam na impugnação da candidatura de Marçal e já projetam cenários sem o ex-coach

O cenário eleitoral para a Prefeitura de São Paulo pode sofrer uma reviravolta nos próximos dias. As campanhas e aliados dos principais candidatos já consideram a possibilidade de uma disputa sem a participação de Pablo Marçal (PRTB), segundo o Metrópoles. A candidatura de Marçal enfrenta questionamentos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e investigações do Ministério Público Eleitoral de São Paulo (MPSP), o que pode levar à sua impugnação antes do primeiro turno, marcado para 6 de outubro.

Marçal, atualmente empatado tecnicamente nas pesquisas com o deputado federal Guilherme Boulos (PSol) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), vê sua candidatura ameaçada devido a duas frentes. No TSE, a ministra Cármen Lúcia determinou um prazo para que o PRTB se manifeste sobre uma ação que questiona o cumprimento dos prazos internos do partido para a oficialização de Marçal como candidato. O prazo de resposta encerra-se nesta quinta-feira (29).

Além disso, o Ministério Público Eleitoral, a partir de uma ação movida pelo PSB, partido da candidata Tabata Amaral, investiga suspeitas de abuso de poder econômico por parte de Marçal, incluindo financiamento ilegal para promover conteúdos nas redes sociais. Esta investigação já resultou na remoção de alguns perfis de Marçal das plataformas online.

Nos bastidores, integrantes das campanhas de Boulos, Nunes e José Luiz Datena (PSDB) consideram como altas as chances de impugnação da candidatura de Marçal. Os candidatos acreditam que a agressividade e o desrespeito de Marçal a decisões da Justiça Eleitoral podem pesar contra ele. Um exemplo disso foi a acusação sem provas feita por Marçal contra Boulos, alegando que o candidato do Psol seria usuário de cocaína. O dossiê que fundamentou a acusação foi revelado como referente a um homônimo de Boulos, mas Marçal continuou com as insinuações.

A possível saída de Marçal da corrida pode beneficiar outros candidatos. Datena, que perdeu terreno nas últimas pesquisas devido ao crescimento de Marçal, é apontado como um dos que pode se recuperar com a ausência do influencer. Nos bastidores do PSDB, cogita-se que Datena esteja avaliando sua viabilidade eleitoral à espera de uma possível impugnação de Marçal.

Ricardo Nunes, por sua vez, pode também se beneficiar. Com o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV, que começa nesta sexta-feira (30), o atual prefeito de São Paulo espera retomar o crescimento nas pesquisas. Aliados acreditam que a saída de Marçal consolidaria sua posição no segundo turno.

No entanto, há uma ponderação entre os articuladores políticos sobre a hesitação da Justiça Eleitoral em tomar uma decisão tão severa como a impugnação de um candidato bem posicionado nas pesquisas. A preocupação é sobre o impacto dessa decisão perante os eleitores e o possível desgaste para a imagem do tribunal.

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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