quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Aldo Fornazieri: ‘Eleições em São Paulo - clivagens e vieses’

O estágio atual da disputa eleitoral para a prefeitura de São Paulo é ainda marcado por uma fase de acomodação na relação candidatos-eleitores. Mesmo nessa fase, é possível identificar algumas tendências. Mas tendências mais firmes só serão verificáveis após 20 a 30 dias do início da campanha eleitoral gratuita em rádio e TV, quando todos os candidatos e suas propostas serão mais conhecidos pelo eleitorado mais amplo.

A recente rodada de pesquisas – Atlas, Paraná Pesquisas, Datafolha e FESPSP – não são consensuais quanto aos lugares ocupados pelos três candidatos que despontam nas primeiras colocações: Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Pablo Marçal. Boulos aparece em primeiro lugar no Atlas, Datafolha e FESPSP. Nunes lidera na Paraná Pesquisas. O prefeito aparece em segundo lugar no Atlas e FESPSP e em terceiro no Datafolha. Já Marçal aparece em segundo lugar no Datafolha e em terceiro no Atlas, Paraná Pesquisas e FESPSP. De modo geral os institutos mostram um triplo empate técnico. Por enquanto, Datena e Tábata Amaral não disputam as primeiras colocações.

A primeira clivagem que pode ser estabelecida na disputa é entre continuidade e mudança. O ponto de referência a ser tomado é em relação a quem está no governo. Neste ponto, o prefeito tem 25% de aprovação, 25% de reprovação e 48% de regular, segundo o Datafolha.

Alguns institutos mostram que mais de 65% dos paulistanos desejam mudanças na gestão da Prefeitura. Isto se deve ao baixo índice de aprovação da gestão de Nunes. Por essa clivagem, pode-se afirmar que a conjuntura eleitoral da Capital é mais favorável a algum candidato que encarna a mudança. Este é o principal problema de Nunes. Além de conter o crescimento de Marçal, ele precisa melhorar os índices de avaliação de sua gestão durante a campanha. Acossado por Marçal, terá que buscar boias de salvação em Bolsonaro e nos evangélicos.

Boulos, Marçal, Datena e Tábata, entre os candidatos com pontuação significativa, se apresentam como candidatos da mudança. Como nas primeiras colocações aparecem Boulos e Marçal, se Nunes não reverter o quadro adverso da avaliação de sua gestão, um dos dois ou os dois podem encarnar o sentimento de mudança do eleitorado paulistano – o primeiro pela esquerda e o segundo pela direita.

O que está em disputa no primeiro turno não é quem vai vencer as eleições, mas quem vai passar para o segundo turno. Pelo quadro de polarização política e ideológica e pela correlação de forças, é quase impossível algum candidato vencer no primeiro turno. Na clivagem Boulos versus Marçal ambos têm um problema comum e focos diferentes no primeiro turno. O problema comum é a alta rejeição.

Tendo em vista que Boulos ocupa uma posição praticamente exclusiva (e privilegiada) no sistema de polarização e correlação de forças, o seu foco no primeiro turno deveria consistir em reduzir a rejeição buscando já um posicionamento mais favorável para o segundo turno. Só um desastre pode tirar Boulos do segundo turno. Reduzir a rejeição não é o foco de Marçal no primeiro turno. Ele precisa deslocar Nunes da disputa por uma das vagas no segundo turno.

Boulos e Marçal precisam calibrar suas táticas eleitorais em função de seus focos. Boulos precisa fugir das armadilhas das provocações, promover um discurso de estadista, enfatizar programas e se apresentar como candidato de todos os paulistanos, embora não seja isso. Deve seguir a fórmula do príncipe guerreiro e infiel que proclama a paz e a fé a todo momento. Deve ser o arauto do ecumenismo religioso.

Quer dizer: Boulos deveria construir um discurso orientado para o futuro, para soluções, visando capturar eleitores mais de centro para se posicionar de forma confortável para o segundo turno. Isso não significa ser um candidato anódino. Deve exprimir energia, alegria, combatividade, acolhimento, empatia.

Marçal precisa promover um ataque bifronte: por um lado, precisa atacar Boulos para se firmar como antiesquerda e tudo que ele atribui a ela. Precisa capturar o eleitorado de extrema-direita, apresentar-se como o candidato antissistema e antipolítica. Precisa construir uma base mais sólida no voto evangélico e no voto bolsonarista raiz. Ele opera o jogo da campanha digital com maestria. Combina um coquetel misturando discurso contra o sistema, se vitimiza ao dizer que luta “contra tudo e contra todos” e despolitiza com um atraente jogo de ataques e entretenimento nas redes digitais. Busca capturar o apoio dos jovens. Resta ver se isso terá sustentabilidade com o início da campanha no rádio e TV, onde terá um espaço quase nulo.

Por outro lado, Marçal precisa atacar Nunes, visando tirá-lo do segundo turno. Está abrindo uma cisão no campo da direita e da extrema-direita. Constrange Bolsonaro com cobranças duras. Se esta cisão vai se aprofundar ou se haverá reconciliação no primeiro ou no segundo turno é uma questão em aberto. É cedo ainda para dizer se está em disputa a liderança do campo da extrema-direita. Com Bolsonaro fora do jogo eleitoral até 2030 é natural que surjam líderes mais afoitos na busca do espólio na medida que entendem que Tarcísio fará movimentos mais ao centro para viabilizar-se eleitoralmente.

Com esses vieses, a clivagem Boulos-Lula versus Nunes-Bolsonaro-Tarcísio ou Boulos-Lula versus Marçal-extrema-direita e, possivelmente, Bolsonaro e Tarcísio deverá se agudizar só no segundo turno.  Boulos poderá agregar o apoio de Tábata e Datena. Então qual seria o objetivo dos dois no primeiro turno?

Dado o atual quadro de pesquisas, Tábata e Datena devem buscar crescer, buscando galvanizar votos mais identificados com valores de centro do espectro político e ideológico. Esses votos existem e constituem algo em torno de 1/3 dos eleitores. O problema é que, dada a incompetência dos partidos e dos políticos de centro, esses eleitores são capturados pela polarização esquerda versus extrema-direita. Tábata parece querer lançar bases para apostas futuras. O PSDB parece querer recolocar-se no jogo através de Datena. O partido foi engolfado pelo bolsonarismo nos últimos anos. Voltará ao centro? Resta saber se Datena será colaborativo nessa empreitada.

Tanto Nunes quanto Marçal devem preferir disputar o segundo turno contra Boulos por julgar ser mais fácil derrota-lo. Nesse momento é difícil dizer se Boulos deveria preferir Nunes ou Marçal num segundo turno. Contra Nunes, teria a vantagem de se definir como o candidato da mudança. Mas Nunes teria mais facilidade de capturar eleitores de centro. Contra Marçal teria a vantagem de jogá-lo para o extremismo de direita, visando atrair eleitores de centro. Mas Marçal poderá ser o azarão da antipolítica, do antissistema, da política do ódio. Boulos, contudo, tem o conforto de saber que Lula venceu Bolsonaro e Haddad venceu Tarcísio na capital paulista em 2022.

 

•        Crescimento de Marçal alerta: esquerda ainda não acordou e deve apressar a corrida eleitoral na internet. Por Leonardo Lucena

O crescimento do candidato à Prefeitura de São Paulo (SP) Pablo Marçal (PRTB), chegando a empatar tecnicamente com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) e com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), demonstra que a punição de bolsonaristas por fake news ilude boa parte dos eleitores, como se alguns anos fossem tempo suficiente, para entender todos os detalhes de esquemas de notícias falsas, investigação em andamento no Supremo Tribunal Federal.

Lideranças políticas e apoiadores da extrema-direita perceberam que a batalha nas ruas estava cada vez mais difícil, por conta das sucessivas derrotas, em quatro eleições presidenciais consecutivas (2002, 2006, 2010 e 2014), e por causa da alta aprovação de Lula (PT) nos seus dois primeiros mandatos. Em dezembro do seu último ano de governo, ele tinha 87% de popularidade, segundo pesquisa divulgada pelo Ibope em dezembro de 2010.

De acordo com números divulgados pelo Datafolha em agosto do ano passado, Marçal não apareceu nem entre os cinco primeiros colocados - Boulos (32%) e Nunes (24%) ocuparam as duas primeiras colocações. Em terceiro ficou a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) teve 11%, seguida por Kim Kataguiri, do União Brasil-SP (8%), e pelo ex-deputado Vinicius Poit (Novo), com 2%.

Mas a direita viu que a internet seria, e continua sendo, um campo que tem o poder de decidir eleições. Marçal tem 13 milhões de seguidores no Instagram, por exemplo - essa plataforma do candidato está suspensa por decisão judicial após ação do PSB acusando o político de pagamento ilegal de apoiadores para a propagação de cortes de vídeos com o influenciador, que tem, ainda, mais de 340 mil seguidores na rede social X, conta mantida por ele mesmo após a determinação judicial para a suspensão dos perfis. Não é que ele seja um candidato qualificado, os seus números geram alerta para outras candidaturas na capital paulista. pagar seguidores que distribuem cortes de seus vídeos nas redes sociais.

O acesso à internet no Brasil foi de 84% da população com 10 anos ou mais, o que representa 156 milhões de pessoas. Foi o que mostrou a pesquisa TIC Domicílios 2023, do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Pelas estatísticas, divulgadas em novembro do ano passado, os maiores índices de acesso à internet foram os das regiões Sul (88%) e Sudeste (87%).

Políticos, intelectuais e eleitores da esquerda devem acelerar estudos de informação, tecnologias e mobilização político-digital. Diferentemente de materiais gráficos, como revistas e jornais impressos, na internet o conteúdo é infinito. E o inquérito do Supremo Tribunal Federal sobre fake news não pode ser justificativa para uma esquerda, que, nos meios digitais, continua demonstrando ser passiva em comparação com a extrema-direita bolsonarista.

 

•        A democracia e a invasão do atraso. Por Ronaldo Lima Lins

A eleição para a maior cidade do país tem trazido preocupações à reflexão sobre a democracia, seus postulados e suas saídas para as crises. O ingresso das emissoras de televisão enquanto comunicadoras e difusoras de propostas, em substituição aos saudosos comícios de outrora alterou com novidades estranhas a escolha dos nomes destinados a cargos públicos. Passamos a assistir em nossas salas, em vez de propostas, um concurso de calúnias, difamação e acusações que, pelo visto, agarram a atenção dos espectadores e influem na popularidade de uns sobre outros. Em semelhante quesito, compreende-se que os bem educados se hajam retirado das telas, cansados de responder a baixarias, praticamente sem direito a contestação.

O tal de Marçal descobriu, em seguida, que, questionado, retrucaria pelo instagram e se pouparia de mobilizar a inteligência, delegando a assessores a tarefa de fazê-lo. Nada de mais grotesco ao que um dia se entendeu como debate, ajudando a esclarecer posições e definir a opinião dos eleitores.  Amarrados a essa estrutura, numa espécie de evolução aceita por todos, tornou-se difícil, no auge da catástrofe, dar um basta aos exageros. Eles fariam parte da atualidade, cabendo ao povo a ação de discernir se caminha para um lado ou para outro. Soberano, o votante imperaria nos labirintos da verdade e, por meio de sextos sentidos, optaria pela escolha correta. Alexis de Tocqueville, no livro Democracia na América, havia percebido certas perversões do sistema. Sem gravidade, acrescentara ele, na medida em que a população, independentemente de seus gestores, tomava as providências necessárias para a gravidade dos problemas. Ele não observou a anomalia à luz dos holofotes televisivos, é claro, já que isso, em seu tempo, inexistia.  A máxima ‘governo do povo’, frente às transformações tecnológicas e demais adereços, já vem sofrendo golpes com a passagem do tempo.

Como nos defender, na sociedade do espetáculo, das luzes em neon com forte capacidade de manipulação – e seus desdobramentos? Cabe, nesse momento, a intervenção de métodos legais ou dentro em pouco desceremos a ladeira da opressão, não mais pelos tanques, mas pela esperteza de bandidos ou chantagistas, ancorados no desejo da maioria. Para tanto, existem os tribunais com a função de impedir que desonestos, por pura desonestidade, tomem conta da situação e a encaminhem a seu bel prazer. Ninguém perderá pelo uso do bom senso... – e a nação reagirá com satisfação depois, na administração de suas instituições. 

Pruridos na hora de não tocar nos princípios da nossa escolha de governo não impedirão que milicianos, traficantes e corajosos representantes da má-fé dominem a situação. Cumpre implementar medidas antes da instalação das seções eleitorais ou entraremos na esfera do imponderável, orando aos céus para nos salvar. Pode existir melhor motivo para regulamentar a democracia do que orientá-la, seguindo o alvo da correção? Pouco a pouco atingiremos um limite e não romperemos com ele sem que o Estado tome medidas de preservação... Antes que o caldo entorne.

 

•        Internautas detonam Pablo Marçal e "coach morreu" fica entre os assuntos mais comentados nas redes

Internautas publicaram mensagens críticas ao influenciador Pablo Marçal nesta terça-feira (27). Na rede social X, antigo Twitter, a expressão "coach morreu" foi parar na seção Assuntos do Momento. "Não deixe São Paulo cair nas mãos de um coach picareta, golpista, estelionatário, misógino...", escreveu um perfil.

O influenciador foi preso em 2010 por fraudes bancárias, mas deixou a prisão depois de fornecer a investigadores informações das ilegalidades. De acordo com a Polícia Federal, Marçal atuava selecionando endereços de emails de possíveis vítimas. O esquema era o phishing, método de atrair pessoas na internet para que elas clicassem nos links de sites responsáveis por instalar vírus em computadores e celulares.

Em depoimento, Marçal afirmou que recebia R$ 350 (cerca de R$ 1.000, em valores corrigidos) para serviços de informática para Danilo de Oliveira, acusado de chefiar a quadrilha. A condenação ocorreu em 2010. A pena, de quatro anos e cinco meses de reclusão, foi extinta em 2018 por prescrição.

 

•        Campanha de Marçal viola lei novamente ao ensinar apoiador a impulsionar conteúdo

A campanha do candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, divulgou um vídeo ensinando os seus apoiadores a impulsionarem conteúdos favoráveis ao ex-coach nas redes sociais, informa o Metrópoles. O impulsionamento desse tipo de conteúdo pela população é proibido pela legislação eleitoral.

O vídeo em questão foi publicado no site oficial da campanha de Marçal e faz parte de um passo a passo criado para alavancar a candidatura após a decisão da Justiça Eleitoral que suspendeu as contas dele nas redes sociais. O guia cita “sete forma de ajudar o ex-coach”, e o sexto item, “Alcance mais pessoas”, convida o apoiador a assistir um vídeo para aprender uma “estratégia” que levaria a “mensagem do Marçal para muito mais pessoas”.

Com um celular logado na conta de Pablo Marçal, o chefe de Marketing do Grupo Marçal, Diego Neves, comanda a gravação e ensina os espectadores a patrocinarem publicações a favor do candidato. “Tem um jeito para você alcançar mais pessoas de uma forma específica através do tráfego pago. É bem intuitivo, bem simples para você fazer essa configuração”, explica Neves no vídeo.

Segundo as regras eleitorais, os responsáveis pelo impulsionamento podem ser multados de R$5 mil a R$30 mil, ou pagar o dobro do valor que foi investido, caso a verba supere o limite máximo da multa. Caso seja comprovado que os candidatos sabiam do impulsionamento, eles também podem ser multados.

 

Fonte: Brasil 247

 

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