terça-feira, 6 de agosto de 2024

Ação de Brasil, México e Colômbia ante Venezuela mostra que EUA perderam poder na região

A posição comum de México, Colômbia e Brasil, que lutam para alcançar uma solução institucional para a crise pós-eleitoral na Venezuela fora da Organização dos Estados Americanos (OEA), indica que os Estados Unidos já não têm a última palavra na região, dizem especialistas consultados pela Sputnik.

No dia 1º de agosto um telefonema foi feito entre os presidentes dos três países para abordar a situação na Venezuela após as eleições presidenciais de 28 de julho. Dessa ligação, saiu um comunicado conjunto.

"Acompanhamos com muita atenção o processo de escrutínio dos votos e fazemos um chamado às autoridades eleitorais da Venezuela para que avancem de forma expedita e divulguem publicamente os dados desagregados por mesa de votação", afirmou a nota do Itamaraty.

O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, disse que, no final da chamada, o presidente do Chile, Gabriel Boric, "concordou com o que foi expresso pela Colômbia, Brasil e México na sua declaração".

Para Mônica Velasco Molina, acadêmica da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais e doutora em estudos latino-americanos pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), o surgimento desta posição formada pelas três potências é visto como um impulso para resolver os problemas da região sem a intervenção dos Estados Unidos.

"Estamos apelando à soberania dos nossos países através dos nossos próprios meios institucionais, e não daqueles impostos ou desejados por qualquer entidade externa. O apelo entre eles reflete que os Estados Unidos já não são quem prevalece nas questões latino-americanas, é cada vez mais difícil para eles impor as suas decisões", observou Velasco Molina em entrevista à Sputnik.

Ao mesmo tempo, a especialista destacou que o peso geopolítico que têm estas três nações é decisivo, pois são as duas principais economias da região – Brasil e México – e a Colômbia, que ganhou um peso muito grande em política externa.

O diálogo entre os dirigentes ocorreu um dia depois de a Organização dos Estados Americanos não ter conseguido o consenso necessário para aprovar uma resolução que exige que as autoridades venezuelanas publiquem "imediatamente" a ata das eleições do último domingo (28).

O consenso não foi atingido porque teve ausência do México, da Colômbia e de vários países do Caribe, bem como a abstenção do Brasil e da Bolívia, entre outros.

A este respeito, Velasco Molina destacou a possibilidade de que, durante a teleconferência de quinta-feira (1º), os líderes latino-americanos considerassem o que fazer caso a situação tensa no país caribenho aumentasse.

"É um canal institucional muito importante, pois é a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos [CELAC] e não a OEA. A OEA perdeu muita credibilidade em nossa região, especialmente na secretaria de Luis Almagro, todas as ações que Almagro apoiou foram para beneficiar os golpistas em nossos países, a mais clara foi a da Bolívia [em 2019], mas não esqueçamos também o do Peru [em 2022]", afirmou.

Nesse sentido, Javier Gámez Chávez, doutor em História e acadêmico da Universidade Rosario Castellanos, destacou também que o México, o Brasil e a Colômbia procuram impedir a intervenção dos EUA através da OEA, bem como evitar que o conflito se transforme em uma crise social.

"O que o governo mexicano está tentando fazer é aplicar um dos seus pontos importantes, que é a não intervenção, dentro da sua política internacional. Essa é a origem, não deveria haver intervenção e muito menos em assuntos que são exclusivos do povo venezuelano", analisou Chávez em entrevista à Sputnik.

Poucas horas depois da publicação da declaração conjunta, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, negou a vitória de Nicolás Maduro e afirmou que o processo eleitoral e o dia da votação foram atormentados por "irregularidades" e "defeitos".

A este respeito, Chávez destacou que o reconhecimento por parte de Washington e dos seus aliados do candidato da oposição apenas encoraja "esta luta assimétrica para continuar dentro do território venezuelano".

"O objetivo deles, possivelmente, é que possam chegar a uma crise grave, onde a ideia é que Maduro renuncie. O reconhecimento [de Edmundo González] vai aí, mas do meu ponto de vista eles não vão ter muito sucesso. Se não conseguiram vencer uma eleição, têm ainda menos probabilidade de ganhar uma intervenção indireta em território venezuelano", concluiu o historiador.

Na declaração assinada por Brasília, Cidade do México e Bogotá, é pedido que "as controvérsias sobre o processo eleitoral devem ser resolvidas através dos canais institucionais" e se apela para que o "exercício da máxima cautela e contenção" seja feito nas manifestações e eventos públicos para evitar a escalada da violência.

 

¨      África do Sul apoia consenso Brasil-China sobre a resolução do conflito na Ucrânia, diz Pequim

O representante especial do governo chinês para Relações Eurasiáticas relatou que Pretória deu uma resposta positiva sobre a proposta de paz dos dois países, que é apoiada por mais de 110 países.

A África do Sul apoiou o consenso Brasil-China sobre a resolução da crise ucraniana e disse que os países do Sul Global precisam fortalecer a cooperação para criar condições e alcançar a paz, comunicou neste domingo (4) o Ministério das Relações Exteriores chinês.

De acordo com o ministério, Li Hui, representante especial do governo chinês para Relações Eurasiáticas, visitou a África do Sul na sexta-feira (2), onde se reuniu com representantes das autoridades do país e discutiu a crise ucraniana.

"A República da África do Sul apreciou muito a 'diplomacia de vaivém' da China, expressou a opinião de que os países do Sul Global precisam reforçar a cooperação, dar à comunidade internacional uma mensagem de honestidade e justiça para criar condições de forma a promover a redução da escalada e, finalmente, alcançar a paz", disse o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado.

O comunicado notou que Pretória expressou seu apoio ao plano de seis pontos China-Brasil e sua disposição de trabalhar com a China e o Brasil para o promover em formatos multilaterais.

"A comunidade internacional acredita universalmente que é necessário promover o esfriamento da situação na Ucrânia", disse Li Hui.

Li observou que o consenso de seis pontos alcançado pela China e pelo Brasil sobre a solução política da crise na Ucrânia recebeu respostas positivas de mais de 110 países.

"A China está disposta a fortalecer a interação e a coordenação com a África do Sul para chegar a um denominador comum com base no consenso de seis pontos, para ajudar a forjar um consenso internacional", disse Li Hui.

¨      Ocidente teme riscos de escalada por Ucrânia não ter estratégia para terminar conflito

O ex-representante da OTAN em Moscou, John Lough, declarou que o Ocidente está mais preocupado com os riscos de escalada por causa da Ucrânia do que com as consequências de sua derrota e, no entanto, o bloco militar não possui uma estratégia para acabar com o conflito.

"O Ocidente ainda está mais preocupado com os riscos de curto prazo da escalada do que com as consequências a longo prazo da derrota da Ucrânia", disse ele ao Newsweek.

Segundo Lough, os países ocidentais ainda estão dispostos a apoiar Kiev, mas não têm uma estratégia para pôr fim ao conflito. Além disso, o ex-representante da Aliança Atlântica enfatizou que o Ocidente em 2022 perdeu a oportunidade de fornecer à Ucrânia as armas necessárias.

Anteriormente, o governo alemão aprovou um projeto de orçamento para 2025, no qual se planeja alocar € 4 bilhões (R$ 24,2 bilhões) para apoio militar à Ucrânia, que é metade do valor deste ano.

Por sua vez, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, disse que, se for eleito, poria fim a todos os conflitos internacionais no mundo "que a atual administração de Joe Biden criou", incluindo o ucraniano.

Moscou tem repetidamente afirmado que a assistência militar ocidental não augura nada de bom para a Ucrânia e apenas prolonga o conflito, e que quaisquer meios de transporte carregando armas se tornam um alvo legítimo para o Exército russo.

¨      'Não faz sentido': se Ucrânia realmente quisesse paz não estaria efetuando mobilização, diz analista

Se Kiev realmente quisesse assinar um acordo de paz em breve, não teria continuado a mobilizar os ucranianos, declarou o analista Alexander Robert em entrevista ao canal de Youtube Deep Dive.

"Os ucranianos não estariam mobilizando meio milhão de pessoas para fazer a paz agora. Isso não faz sentido", disse ele.

Segundo o analista, ao falar sobre a cessação das hostilidades, é necessário pensar em uma paz de longo prazo, não uma que seja quebrada dentro de pouco tempo. O especialista considera que, mesmo que os ucranianos assinem uma trégua, eles a usarão para se preparar para a continuação do conflito.

"Os russos sabem disso, eles não vão cair nessa armadilha. Eles entendem que, no caso de uma trégua, os ucranianos vão se rearmar para iniciar uma nova rodada", disse Robert.

Em maio, a Ucrânia adotou uma lei de reforço da mobilização, segundo a qual todas as pessoas aptas para o serviço militar, em um prazo de 60 dias após a entrada em vigor do documento, devem atualizar seus dados no centro de recrutamento. As datas de desmobilização não estão especificadas no documento.

Em abril, Vladimir Zelensky reduziu a idade de recrutamento de 27 para 25 anos. Apesar de os regulamentos serem cada vez mais rigorosos, há apelos para reduzir a idade de recrutamento para 18 anos.

<><> 'Escassez de tudo': comandante de batalhão ucraniano relata sobre a situação das tropas no front

As tropas ucranianas na frente de combate sofrem com a escassez de todos os tipos de recursos, disse o comandante do 3º batalhão Svoboda, Petr Kuzyk, em entrevista ao canal de YouTube Fabrika Novin.

"A quantidade que esta fase de combate precisa não é apenas escassez – é uma falta literalmente de tudo. Às vezes o perímetro se mantém nos drones FPV", enfatizou ele.

De acordo com o militar, os soldados estão mantendo suas defesas em trincheiras rudimentares, não em abrigos subterrâneos, uma vez que as Forças Armadas da Ucrânia não conseguem construir a tempo posições fortificadas permanentes.

Kuzyk acrescentou que as Forças Armadas da Rússia operam de acordo com os padrões soviéticos, com aquelas normas de material bélico que estão prescritas lá, às quais a parte ucraniana não tem como responder.

"É nestas condições que é conduzida a defesa, nessas condições respetivamente as nossas perdas aumentam, é nessas condições que os soldados ucranianos operam. E quando você lê as notícias – temos tudo espetacular lá", concluiu o comandante do batalhão ucraniano.

Anteriormente, o ex-tenente-coronel do Serviço de Segurança da Ucrânia Vasily Prozorov disse que, em dois anos da operação militar especial, a Ucrânia perdeu o núcleo de seus militares mais experientes e está tendo problemas com a qualidade dos mobilizados.

¨      Político francês explica por que as negociações com a Rússia já não são 'tabu' para Zelensky

Na opinião do líder do partido francês Os Patriotas, o líder ucraniano sabe que já não tem a capacidade para continuar a desafiar Moscou na área militar.

Vladimir Zelensky foi forçado a reconsiderar sua posição sobre a possibilidade de negociações com a Rússia e concessões territoriais devido ao descontentamento entre os ucranianos e os fracassos das forças ucranianas na frente de batalha, disse o líder do partido francês Os Patriotas.

"Zelensky foi forçado a virar sua casa completamente de cabeça para baixo diante do descontentamento popular ucraniano e dos reveses no front!", disse Florian Philippot em sua conta na rede social X sobre o chefe do executivo ucraniano.

"É preciso que a Rússia participe das cúpulas de paz. Ela não está mais fazendo das concessões de terras um tabu: isso está se tornando concebível! Ela entendeu que as armas ocidentais viriam em quantidades cada vez menores e que isso foi um fracasso. Mais atenção aos falcões da OTAN, prontos para tudo!", escreveu ele.

Zelensky declarou anteriormente que a comunidade mundial e ele pessoalmente querem a participação de representantes russos na próxima conferência de paz sobre a Ucrânia. Ele destacou em uma entrevista na quarta-feira (31) à mídia francesa que a questão da integridade territorial da Ucrânia deve ser decidida pelos cidadãos da Ucrânia.

Comentando sobre os planos para outra "cúpula de paz", o Kremlin disse que até o momento não foi apresentada "uma agenda que agrade à Rússia".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário