quarta-feira, 31 de julho de 2024

OTAN mira a China após tentar enfraquecer a Rússia; 'falha permitiu união entre o urso e o dragão'

Após a derrota da ofensiva ucraniana por não alcançar objetivos estratégicos no que diz respeito ao conflito com a Rússia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) pode concentrar seus esforços em um novo alvo, sendo a China a "bola da vez".

No início de julho, os 32 Estados-membros da OTAN assinaram uma declaração conjunta acusando a China de abastecer a Rússia para ataques realizados contra a Ucrânia. O gigante asiático foi chamado de "facilitador decisivo" dos russos pelo bloco.

Recentemente, a Aliança Atlântica também teve ações criticadas pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Na oportunidade, o chanceler criticou a formação de blocos exclusivos, como o AUKUS, na região da Ásia-Pacífico.

Criado em 2021, o AUKUS é composto por EUA, Reino Unido e Austrália, mas tem reforçado contatos com a Nova Zelândia e outros países da Ásia-Pacífico.

O bloco, segundo Cassiano Schwantes, pesquisador associado do Laboratório de Estudos em Economia Política da China (LabChina) e mestrando em economia política internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), visa expandir a presença dos atores na região, que é estratégica também pela questão de Taiwan.

"Taiwan nos últimos anos tem se voltado como um player estratégico, não somente pela questão territorial, que a China reivindica, mas acima de tudo pela questão dos semicondutores. Os Estados Unidos têm interesse estratégico e geopolítico nessa região, e acho que não vai largar essa região tão fácil", afirma.

A aproximação do território chinês é parte de uma política muito executada pelos EUA e por outros países-membros da OTAN, avalia Daniel Ferreira, cofundador do canal Geopolítica Hoje e doutorando em China.

Segundo o especialista, a estratégia consiste em gerar situações que aumentem o custo e o gasto energético do país que está sendo alvo disso; neste caso, a China.

"Ao criar o AUKUS, uma aliança militar, uma pressão bélica, uma pressão política, uma pressão econômica próxima à China, você força a China a gastar energia e a se defender dessa questão. É muito mais barato para os Estados Unidos e para a OTAN, ou os parceiros dos Estados Unidos gerarem essa pressão na China do que a China reequilibrar essa ação do AUKUS", explica.

·        China na mira: alçada do Ocidente pode render sanções?

De acordo com Schwantes, desde 2022 o gigante asiático sofre com sanções há alguns anos e, em 2022 o governo de Joe Biden lançou o maior pacote de restrições da última década contra os chineses.

"Essas sanções se baseiam em proibir a exportação de insumos estadunidenses que pudessem servir, por exemplo, para a fabricação de semicondutores na China", exemplifica.

O pesquisador relata ainda que os EUA até tentam que outros países adiram ao pacote de bloqueio, mas fato é que a toada se torna difícil, uma vez que países menores dependem economicamente mais da China do que dos norte-americanos.

"Desde 2008, a gente pode citar uma inflexão aí no desenvolvimento econômico da China, quando ela percebe que não pode mais depender exclusivamente do modelo de exportações ou depender exclusivamente das instabilidades do sistema internacional. E aí ela foca muito mais no seu consumo doméstico, ela começa a focar em desenvolvimento tecnológico nacional", conta o pesquisador sobre a China se preparar para responder essas sanções que, atualmente, não têm impacto catastrófico no país.

Já em relação a Taiwan ser um ponto de instabilidade para o governo chinês, pelo histórico recente atribuído na região e, consequentemente, ser visto como um território onde um conflito bélico pode avançar, Schwantes considera que as eleições nos EUA podem influenciar nisso.

Caso Donald Trump vença, por exemplo, o especialista considera muito difícil que ele se preocupe em agir na região de forma mais contundente, sobretudo pelos gastos astronômicos com a Ucrânia.

"Ele [Trump] mencionou em algumas entrevistas que se Taiwan quer a nossa proteção [dos EUA], terá que pagar por isso", relata o pesquisador.

Ineficiência da OTAN na Ucrânia fez surgir casamento entre 'urso e dragão'

Por um lado, conforme analisa Ferreira, o conflito na Ucrânia permitiu que, de certa forma, a OTAN conseguisse novamente unir a Europa contra a Rússia. O momento representa também o renascimento da Aliança Atlântica, segundo o especialista.

"A frase mais marcante desse período anterior ao conflito é a frase do [Emmanuel] Macron dizendo que a OTAN estava com um enorme problema, que ela estava morrendo por morte cerebral, uma vez que a OTAN tinha perdido a sua razão de existir já há muito tempo", diz.

Por outro lado, o insucesso em atingir objetivos estratégicos e a derrota da ofensiva ucraniana "influenciam a mudança de foco da OTAN", conta o pesquisador.

"A prioridade da OTAN, especialmente dos Estados Unidos, de Washington, era compor uma ação conjunta de enfraquecer a Rússia por causa da Rússia, mas também para enfraquecer o principal aliado da China", avalia.

Apesar do reavivamento da OTAN e dos fracassos no campo de batalha, o Ocidente assistiu ao firmamento de uma parceria sólida, comparada a um casamento pelo analista. "O casamento entre o urso e o dragão", cita, fazendo analogia entre Rússia e China.

Segundo Ferreira, Rússia e a China têm um histórico extremamente conturbado. Entretanto, "para além dessas questões que elevam e colocam um afastamento, existem outras que aproximam muito mais China e Rússia do que afastam".

Além da máxima de que nada une mais duas partes do que um inimigo em comum, Moscou e Pequim entendem que "a união entre as duas potências permite a maior sobrevivência dos dois".

"É muito fácil olhar pra frente protegidas pela segunda maior potência do mundo. Seja no quesito bélico, seja no quesito econômico, seja no quesito de diplomacia. E aqui não vou nem dizer quem é a segunda maior potência do mundo", ressalta.

O analista destaca ainda que se trata de uma aliança tão bem-feita que os laços criados são interdependentes.

"Rússia e China foram muito inteligentes e muito eficientes na produção de vários acordos que fazem com que a Rússia seja dependente da China e a China seja dependente da Rússia. E a China é muito sutil em trabalhar na zona de influência russa", conta.

Nas atuações envolvendo os dois países, "raramente a gente vê falta de sintonia, uma desarticulação desses dois atores. Poucas alianças hoje em dia são tão equilibradas do que de respeito à ação e reação, a parceria e acordos. […] Onde um tem vantagem, o outro se equilibra com outro aspecto desse Estado, dessa potência", completa.

·        China prefere diplomacia a espada

"A China entendeu, por ser um império milenar, que ações agressivas são muito eficientes no curto espaço de tempo", resume Ferreira sobre o agir do gigante asiático.

Isso não significa, no entanto, que estamos falando de um país bonzinho, salienta. "Isso significa que a China prefere escolher primeiro a diplomacia do que a espada."

Ao contrário disso, o Ocidente "tem um histórico inegável, que muitas vezes a primeira escolha é a espada, ou um míssil Tomahawk, ou um míssil de cruzeiro jogado no palácio de algum presidente, ou um golpe militar".

A política chinesa para o mundo é estabelecer relações de ganha-ganha, que tragam benefícios mútuos para as partes. Países do chamado Sul Global tem se beneficiado inteiramente nessa política pacífica e econômica da diplomacia chinesa.

"Um exemplo que a gente pode trazer é a Iniciativa Cinturão e Rota, a chamada Rota da Seda, lançada em 2013, que tem demonstrado ser um projeto gigantesco a níveis internacionais de infraestrutura", ressalta Schwantes.

"A China não esqueceu como se usa uma espada. A China não esqueceu como é importante ter uma capacidade de soberania", diz Ferreira, mas é um país que entendeu que seu modo de fazer política é mais eficiente, o que o torna um país que "consegue oferecer vantagens tão valiosas, tão sedutoras" que nenhum outro país consegue, ou seja, ela consegue "redesenhar a cadeia global de valor atraindo poder e influência em volta de si".

"O bom estrategista sabe que dinheiro não é igual a poder. Porque dinheiro pode comprar poder, mas o poder consegue destruir o dinheiro", finaliza o doutorando em China.

¨      Pequim chama EUA e Japão a deixarem de 'interferir nos assuntos internos da China'

O Ministério das Relações Exteriores chinês respondeu às declarações de Tóquio e Washington, pedindo que parassem de "interferir nos assuntos internos da China".

As declarações conjuntas entre os EUA e o Japão "acusam falsamente" a China sobre questões marítimas e apontam o dedo para seu desenvolvimento militar normal e sua política de defesa, disse na segunda-feira (29) o Ministério das Relações Exteriores chinês.

Os líderes dos EUA e do Japão apresentaram no domingo (28) uma nova estrutura militar. Além disso, Tóquio anteriormente anunciou o estabelecimento de um comando conjunto para suas forças até março de 2025.

Ao mesmo tempo, os dois aliados criticaram o que chamaram de comportamento "provocativo" de Pequim nos mares do Sul da China e da China Oriental, exercícios militares conjuntos com a Rússia e o crescimento de seu arsenal de armas nucleares.

"Eles atacaram maliciosamente e desacreditaram a China em questões marítimas e fizeram observações irresponsáveis sobre o desenvolvimento militar normal e a política de defesa nacional da China", reagiu Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, durante uma coletiva de imprensa.

"A China está fortemente insatisfeita com o exagero da ameaça da China e com a especulação maliciosa das tensões regionais", acrescentou.

Lin sublinhou que "a China sempre seguiu o caminho do desenvolvimento pacífico, buscou firmemente uma política de defesa nacional de natureza defensiva, e sua construção de defesa nacional e atividades militares são legítimas e razoáveis". A China "sempre manteve suas capacidades nucleares no nível mínimo necessário para a segurança nacional, e não representa uma ameaça para nenhum país".

"Recomendamos urgentemente que Estados Unidos e Japão parem imediatamente de interferir nos assuntos internos da China e parem de criar inimigos imaginários", instou o diplomata.

<>< Partido europeu pede segurança de fronteiras após flexibilização da Hungria a vistos russos

Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu (PPE), maior grupo político do Parlamento Europeu, instou os líderes da União Europeia (UE) a tomarem contramedidas depois que a Hungria sugeriu flexibilizar as regras de visto para viajantes russos, informou a mídia britânica nesta terça-feira (30).

A Hungria publicou uma atualização das regras de vistos para cidadãos de oito países, incluindo a Rússia e Belarus, que lhes permitirá entrar sem verificações de segurança ou outras restrições, segundo o Financial Times (FT).

Weber enviou uma carta obtida pela apuração do FT ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, em que apela à UE para "adotar as medidas mais rigorosas para proteger imediatamente a integridade do espaço Schengen [sem fronteiras], limitar o risco de segurança que já surgiu e impedir que os Estados-membros tomem iniciativas semelhantes no futuro".

Weber também pediu a Michel que abordasse as ações da Hungria na cúpula de outubro dos líderes dos Estados da UE, argumentando que o plano de Budapeste criaria "sérias lacunas para atividades de espionagem" e representaria "um sério risco para a segurança nacional".

No início de julho, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, realizou uma viagem de "missão de paz" a Rússia, Ucrânia e China, reunindo-se com seus líderes, para apresentar a sua visão de um processo de paz ucraniano. Ele também se encontrou com o candidato presidencial dos EUA, Donald Trump, na Flórida. Alguns líderes da UE criticaram Orbán, considerando um abuso da presidência rotativa do Conselho da UE.

O premiê húngaro, que atualmente ocupa a presidência rotativa do bloco, argumentou que não se tratava de uma visita da autoridade europeia e sim da liderança húngara.

¨      Na China, Itália 'esquece UE' e Meloni diz a Xi que Pequim é 'ator-chave' para paz na Ucrânia

A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que está na China, disse nesta terça-feira (30) que foi ao país asiático para impulsionar a cooperação com a segunda maior economia do mundo e restabelecer os laços comerciais.

Meloni, em sua primeira visita a Pequim como primeira-ministra, após a Itália ter abandonado a iniciativa emblemática do Cinturão e Rota do presidente chinês Xi Jinping no ano passado, afirmou que Roma quer reequilibrar os laços com Pequim.

"Hoje, o investimento italiano na China é cerca de três vezes maior que o investimento chinês na Itália. Nós claramente queremos trabalhar para remover obstáculos para que nossos produtos acessem o mercado chinês", disse Meloni a repórteres, acrescentando que busca "fortalecer nossa cooperação visando reequilibrar claramente o comércio", segundo a Reuters.

Roma está tecendo uma verdadeira ofensiva de charme com Pequim, a qual chega até a esfera do conflito na Ucrânia. Meloni, que junto a seus parceiros do G7 e da União Europeia enviou milhões em ajuda militar para Kiev, destacou junto a Xi o potencial da China para ajudar a pôr fim ao conflito.

"Acredito que a China pode se tornar, partindo dos princípios de soberania e integridade territorial aos quais sempre apela, um ator-chave para ajudar a identificar os elementos de uma paz justa", afirmou Meloni na segunda-feira (29), citada pela Bloomberg.

Esse ato de equilíbrio diplomático, escreve a mídia, é complicado pela postura mais dura do bloco europeu em relação a Pequim no comércio, e pelas críticas da parceria entre a China e a Rússia.

A premiê caracterizou seu encontro com Xi como "franco e respeitoso" e anunciou que os primeiros-ministros de ambas as nações realizariam reuniões anuais para manter a comunicação.

A mídia estatal chinesa tem elogiado Meloni, com o China Daily descartando a saída de Roma da Iniciativa do Cinturão e Rota como um resultado de "pressão externa", em um ataque velado aos Estados Unidos.

O Global Times a elogiou por fazer da Itália "uma ponte para as trocas Leste-Oeste" e citou "confiança política mútua aprofundada" em um editorial dessa terça-feira (30), quando os dois lados prometeram cooperação em inteligência artificial (IA) e veículos elétricos.

¨      EUA podem retirar garantias de defesa de aliados da OTAN se continuarem com ajuda à Ucrânia

Se o ex-presidente dos EUA e candidato presidencial do Partido Republicano, Donald Trump, vencer a eleição de 5 de novembro, o Reino Unido e outros membros europeus da OTAN podem se deparar com "um acordo forçado a favor da Rússia", informou o Politico, em referência à crise na Ucrânia.

Logo após o início da operação militar especial russa na Ucrânia, Washington e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) têm aumentado o fluxo de ajuda militar para Kiev, o que, para o Kremlin só colabora para o prolongamento do conflito.

De acordo com o Politico, a volta de Trump "dividiria e enfraqueceria a OTAN" até o ponto em que alguns aliados poderiam interromper seu apoio à Ucrânia.

Se Trump se tornar o 47º presidente norte-americano, seus assessores podem pedir o fim do conflito na Ucrânia "para impedir que os EUA sejam atraídos [para o conflito] caso a Rússia [decida] retaliar contra membros da OTAN que fornecem [armas] à Ucrânia", acrescentou o Politico.

Há também um cenário em que os aliados da OTAN dos EUA rejeitam um acordo de paz e continuam a ajudar Kiev, o que pode levar Trump a retirar as garantias de defesa dos EUA a esses países, concluiu o veículo.

Trump afirmou repetidamente que, se reeleito, pretende alcançar uma solução para o conflito na Ucrânia em apenas 24 horas. Comentando o assunto, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, enfatizou que o problema é muito complicado para ser resolvido dessa forma.

Os países ocidentais têm fornecido apoio militar e financeiro massivo a Kiev desde o início da operação militar especial da Rússia em fevereiro de 2022. O Kremlin tem alertado consistentemente contra entregas contínuas de armas a Kiev, dizendo que elas só levam a uma maior escalada do conflito.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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