quinta-feira, 25 de julho de 2024

Mulheres têm mais chance de ter ansiedade após parada cardíaca, diz estudo

O cuidado após uma parada cardíaca deve incluir o apoio à saúde mental – especialmente para as mulheres, segundo uma nova pesquisa.

Nos cinco anos que seguiram uma parada cardíaca fora do hospital (OHCA), em que o coração para de bater repentinamente, as mulheres foram mais propensas do que os homens a receber medicação para tratar ansiedade ou depressão, de acordo com um relatório publicado na segunda-feira (8) na revista Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes.

“Recomendamos o monitoramento do bem-estar social e mental em indivíduos que sobreviveram a uma OHCA, não apenas diretamente após o evento, mas também a longo prazo”, diz a primeira autora do estudo, Robin Smits, em um e-mail. “Isso parece particularmente relevante para as mulheres, mas provavelmente também beneficiará os homens.”

Os pesquisadores analisaram dados de 259 mulheres e 996 homens nos Países Baixos que sobreviveram pelo menos 30 dias após uma parada cardíaca ocorrida fora de um hospital entre 2009 e 2015. A equipe comparou os dados sobre o status socioeconômico e a saúde mental dos pacientes com os da população em geral, de acordo com o estudo.

A quantidade de mulheres que tomam medicamentos para ansiedade ou depressão após uma parada cardíaca também foi maior do que nas mulheres da população em geral, diz Smits, uma pesquisadora de pós-doutorado no Amsterdam University Medical Center, nos Países Baixos.

“Investigações adicionais podem lançar luz sobre quais intervenções são necessárias para que os médicos possam ajudar as pessoas a prosperarem após uma OHCA”, afirma Smits.

Os pesquisadores têm aprendido cada vez mais sobre como a saúde mental e a cardíaca estão intimamente conectadas, segundo Andrew Freeman, diretor de prevenção cardiovascular e bem-estar no National Jewish Health em Denver. Ele não participou da pesquisa.

Uma em cada cinco pessoas hospitalizadas por ataque cardíaco (um bloqueio do fluxo sanguíneo para o coração) ou dor no peito desenvolve depressão grave – cerca de quatro vezes a taxa na população em geral, segundo a American Heart Association. Um em cada três sobreviventes de AVC fica deprimido, assim como até metade dos que passam por cirurgia de revascularização do miocárdio, de acordo com estudos anteriores.

“A saúde mental e o estresse pioram e tornam mais frequentes os eventos cardíacos, e sabemos que os eventos cardíacos pioram a saúde mental”, disse ele.

<><> Apenas o começo ao mergulhar na saúde mental e cardíaca

Este novo estudo investiga um tópico importante, mas é apenas o começo, segundo Freeman. Embora os autores tenham considerado fatores que poderiam distorcer os resultados, há muitos deles, diz.

Por exemplo, a pesquisa só pôde observar o número de pessoas que receberam prescrição de medicamentos – mas isso não significa necessariamente que elas eram as únicas pessoas que experimentavam ansiedade ou depressão, segundo Smits.

“Os resultados também podem refletir, em parte, que os homens podem buscar menos cuidados para a saúde mental e são talvez menos frequentemente avaliados e prescritos com medicação”, diz em um e-mail. “Além disso, os dados não refletem totalmente a experiência vivida, como mudanças forçadas nas responsabilidades de trabalho ou efeitos em outras áreas da vida.”

Mas este estudo destaca um conceito importante: que homens e mulheres muitas vezes experimentam o mundo de maneira diferente, e os provedores de saúde precisam estar cientes disso para oferecer o melhor cuidado a todos, segundo Freeman.

<><> Acompanhando o bem-estar emocional

A maior lição desta última pesquisa é para os entes queridos e provedores de saúde acompanharem as pessoas que tiveram uma parada cardíaca, de acordo com Freeman.

“Há uma estratégia que devemos adotar de forma mais proativa após uma parada cardíaca, para garantir que elas estejam de volta aos trilhos, que entendam que são sobreviventes incríveis em muitos casos?” diz. Mesmo que o médico com quem você está fazendo acompanhamento não seja um psiquiatra, é importante manter uma linha aberta de comunicação sobre seu bem-estar – e então você pode ser encaminhado a um profissional de saúde mental, acrescenta.

Felizmente, existem muitas estratégias para melhorar a saúde mental. Estudos anteriores mostraram que a terapia cognitivo-comportamental, exercícios regulares e um sono adequado são ferramentas eficazes para gerenciar o bem-estar emocional.

“Como médico, como ajudamos as pessoas a evitar ou tratar esses problemas à medida que surgem? Ou mesmo antes que surjam?” diz Freeman.

 

•        Tratar doença mental reduz o risco de hospitalização em paciente cardíaco

Tratar a ansiedade e a depressão diminui a necessidade de visitas ao hospital e internações em pacientes com doenças cardiovasculares, mostra um novo estudo publicado no Journal of the American Heart Association. Segundo os autores, vinculados à Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, embora haja muitas pesquisas sobre o tema, ainda existem poucas evidências de que cuidar da saúde mental possa, de fato, causar mudanças no desfecho desses pacientes.

Para analisar essa relação, o trabalho avaliou 1.563 adultos com idades entre 21 e 64 anos, participantes do programa Medicaid de Ohio, que foram acompanhados ao longo de três anos. Todos haviam passado por uma hospitalização em decorrência de obstruções nas artérias ou de insuficiência cardíaca. Cerca de 92% haviam sido diagnosticados com ansiedade e 55,5%, com depressão.

Ao fim do período, os resultados mostraram que aqueles que passaram por um tratamento com psicoterapia associado ao uso de medicamentos tiveram um risco entre 68% e 75% menor de ficar internado novamente, além de uma queda de até 74% no risco de passar pelo pronto-socorro outra vez. A probabilidade de morrer por qualquer causa caiu 67%. O impacto foi de cerca de 50% para aqueles que fizeram somente o acompanhamento psicoterápico ou apenas tomaram remédios.

“A saúde mental e a do coração estão intimamente conectadas”, diz o cardiologista Humberto Graner, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia. Segundo o especialista, a relação entre esses transtornos e os desfechos clínicos em doenças cardiovasculares tem sido o foco de vários estudos ao longo dos anos e já está bem estabelecida.

“Ela pode ser explicada de várias maneiras. Quando estamos estressados, ansiosos ou deprimidos, nosso corpo reage como se estivesse enfrentando uma ameaça, o que é conhecido como ‘resposta ao estresse’. Nessa situação, há a liberação de hormônios, como o cortisol e a adrenalina, que aumentam a pressão arterial e a frequência cardíaca, o que pode sobrecarregar o organismo a longo prazo”, explica.

“Além disso, o estresse crônico e a depressão podem causar inflamação, que é uma resposta natural a lesões e infecções. Mas, quando se torna constante, a inflamação pode danificar os vasos sanguíneos e levar à formação de placas que bloqueiam as artérias, aumentando o risco de ataques cardíacos e derrames.”

Graner lembra ainda que há o fator “estilo de vida”, já que esses pacientes muitas vezes têm mais dificuldade em manter hábitos saudáveis. “Podem ter menos energia para se exercitar, fumar mais e fazer escolhas alimentares menos saudáveis. Todos esses fatores aumentam o risco de doenças cardíacas.”

Segundo os autores do estudo, os resultados devem servir para reforçar a necessidade de rastrear problemas de saúde mental nesses pacientes e promover intervenções para reduzir o risco de complicações.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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