segunda-feira, 29 de julho de 2024

Migração para os EUA: 'Trump não é um fator de pânico'

Quem tem medo de Donald Trump retornar à Casa Branca? Na América Latina, ao que parece, não muitos. A eleição dos EUA aparentemente está tendo pouco impacto na migração .

"Não é 100% irrelevante quem está na Casa Branca, mas é bem isso", disse Benjamin Schwab, oficial de programa para o México com a Misereor. A organização de ajuda católica apoia uma série de organizações parceiras locais no México que fornecem assistência social e jurídica a famílias de refugiados da América Latina .

Na avaliação de Schwab, "o candidato presidencial Trump não é um fator de pânico em termos de migração". Afinal, as pessoas já têm experiência de Trump como presidente dos EUA. Embora tenha sido repetidamente anunciado, é bem sabido que o governo Trump — no governo de 2017 a 2021 — não concluiu o tão alardeado muro ao longo da fronteira EUA-México e, apesar das promessas de Trump, o México não contribuiu para pagar nada do que foi construído.

<><> Imigração para os EUA atinge recorde histórico

"Nem mesmo Trump conseguiu fechar a fronteira", disse Schwab. "A lição que aprendemos é que não é possível fechar a fronteira sul dos EUA 100%. Isso apesar de ser uma das fronteiras mais militarizadas e mais bem protegidas do mundo."

De acordo com uma pesquisa realizada em junho pelo Pew Research Center, um instituto de pesquisa não governamental dos EUA, havia cerca de 46 milhões de imigrantes vivendo nos EUA em 2022, cerca de 13,8% da população total dos EUA.

A pesquisa Pew descobriu que 77% desses 46 milhões de imigrantes estavam nos EUA legalmente. O maior grupo nacional, 10,6 milhões de pessoas, era do vizinho do sul do país, o México , constituindo 23% do total.

<><> O "limite" de travessia de fronteira tornará o acesso ao asilo mais difícil

Números recentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA mostram que, embora sua retórica seja mais branda , o presidente Joe Biden também adotou uma abordagem restritiva à imigração. O relatório da agência mostra que as recentes medidas de segurança para proteção de fronteiras resultaram em uma redução de 29% nas prisões por travessia ilegal de fronteiras em junho, em comparação com o mês anterior.

A especialista em México Indi-Carolina Kryg, do Instituto Alemão de Estudos Globais e de Área, também acha que Biden e a vice-presidente Kamala Harris estão buscando uma política de imigração rigorosa . Houve um grande número de deportações dos Estados Unidos, ela disse, e o acesso ao asilo se tornou mais difícil.

"Há um limite no número de travessias regulares de fronteira que podem ser feitas a cada dia para solicitar asilo", ela explicou. "A fronteira deve ser fechada para requerentes de asilo se houver uma média semanal de 2.500 travessias de fronteira não autorizadas por dia."

De acordo com Schwab, os democratas estão tentando enviar uma mensagem durante a campanha eleitoral de que estão fazendo algo sobre o aumento da imigração. No entanto, ele acrescentou, essas medidas não fazem diferença para os chamados fatores de atração — as razões pelas quais as pessoas migram para os EUA em primeiro lugar. 

Êxodo da Venezuela impulsiona migrantes

Esses "fatores" incluem reunificação familiar e crises em países como Venezuela ou Haiti . Refugiados de países asiáticos ou africanos também estão cada vez mais indo para o México e tentando entrar nos Estados Unidos de lá.

De acordo com o último Relatório de Migração Mundial da Organização Internacional para Migração, 10% de todos aqueles que cruzaram o que é conhecido como  Darien Gap  em 2022 vieram de países africanos ou asiáticos. O Darien Gap é uma região de selva com cerca de 100 quilômetros (cerca de 62 milhas) de largura, que atravessa a fronteira entre o Panamá e a Colômbia.

No entanto, de acordo com o relatório da OIM, 6 milhões dos 7 milhões de refugiados venezuelanos ao redor do mundo encontraram refúgio em países vizinhos da América Latina, como Colômbia, Peru, Chile, Brasil e Equador — não nos Estados Unidos.

O especialista em México Kryg prevê que as crises atuais na América Latina continuarão a estimular mais pessoas a migrarem para o norte.

"Enquanto as pessoas estiverem fugindo da violência e da pobreza, e não houver maneiras legais suficientes de entrar nos Estados Unidos, não vejo fim para essas travessias irregulares de fronteira", disse ela.

 

¨      Novos ataques misóginos e racistas contra Kamala sugerem desespero de Trump

A intensidade dos ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris surpreende até os pessimistas observadores da política americana. A eleição, até há dias definida pela idade avançada de dois homens brancos, virou a disputa de um idoso declarado culpado de estuprar uma jornalista contra a filha de um economista jamaicano e de uma cientista indiana que, à época em que foi promotora, colocou vários patifes como Trump na cadeia.

Sem noção de vergonha, sentimento hoje extinto entre a ultradireita, os capangas de Donald Trump e seus simpatizantes da mídia escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar a vice-presidente com insultos de cunho sexual e étnico.

DIFAMAÇÃO 

Ela teria dormido com poderosos para chegar ao topo (mentira: Harris namorou publicamente o ex-prefeito de San Francisco quando ele já estava divorciado da mulher); a advogada, duas vezes vencedora da difícil eleição para procuradora-geral do estado quase nação da Califórnia que, em seguida, elegeu-se senadora, teria virado vice de Joe Biden como uma empregada DEI (acrônimo para diversidade, equidade e inclusão).

É o cúmulo dizer que a nativa californiana não poderia se eleger presidente porque seus pais nasceram no exterior (a Constituição garante: qualquer pessoa nascida nos EUA pode se candidatar). Repetir o “birtherismo” que tentaram com Obama, nascido no Havaí, parece desespero.

A hostilidade havia começado já na campanha Biden-Harris de 2020, e o vice da chapa de Trump deixou uma trilha de migalhas de pão digitais para provar.

MAIS IMPOPULAR 

Como J.D. Vance é o candidato a vice mais impopular desde 1980, é possível que ele tire mais jovens e minorias de casa para votar contra republicanos arrotando chocalhos raciais como acusar a democrata de “não sentir gratidão” por viver nos Estados Unidos.

Um eleitor negro ouve esse comentário e arrasta até a avó de 90 anos para as urnas.

Como o destrambelhado Trump sofre de incontinência verbal e seu vice é um consumado lambe-botas, ambos não param de facilitar novos comerciais da campanha democrata. Nesta semana, Trump anunciou triunfal num comício que “Kamala não será a primeira mulher presidente”.

MAIS BAIXARIAS

Ele erra a pronúncia —Kâmala— e se refere a ela como Kamála para humilhá-la pela origem imigrante. E ainda arrematou, “não vamos ter uma presidente socialista, especialmente se for mulher”.

Um vídeo ridículo de J.D. Vance voltou a circular, no qual ele diz que a nova geração democrata, mencionando nominalmente Harris, a deputada latina Alexandria Ocasio-Cortez e o secretário de Transportes gay Pete Buttigieg, não passa de um bando de estéreis criadoras (no feminino) de gatos.

Harris tem dois enteados com o marido Doug Emhoff, Buttigieg adotou gêmeos e Ocasio-Cortez está noiva.

O fato é que 2024 não é 2016, quando Hillary Clinton enfrentou uma artilharia de misoginia escatológica como nenhuma outra política de projeção nacional nos EUA.

PELA VAGINA

2016 foi a campanha do áudio em que Trump se vangloriou de agarrar as mulheres pela vagina.

Nestes oito anos, as mulheres americanas se organizaram melhor, disputaram e venceram mais eleições e estão em pé de guerra contra a volta da criminalização do aborto, cortesia da jurássica Suprema Corte.

Kamala Harris espera a baixaria que virá nos próximos cem dias. Mas uma filha de imigrantes, escoltada ainda criança para a escola no fim da segregação racial, não vira promotora se fica facilmente intimidada.

¨      Kamala reduz distância para Trump em nova pesquisa do NY Times

Nos Estados Unidos, o crescimento da candidatura de Kamala Harris esquentou o plano principal da disputa na medida em que encurtou a distância em relação a Donald Trump. Uma pesquisa do New York Times/Siena College confirmou o cenário de equilíbrio na disputa pela Presidência dos Estados Unidos.

Entre eleitores registrados, Donald Trump aparece com 48% das intenções de voto, contra 46% de Kamala Harris. No universo de eleitores prováveis, os índices são, respectivamente, de 48% e 47%. Em ambos os casos, há empate técnico, uma vez que a margem de erro é de 3,3 pontos percentuais para eleitores registrados e de 3,4 pontos para eleitores prováveis.

CENÁRIO POSITIVO 

Trata-se de um cenário mais positivo para os democratas em comparação com a sondagem do início de julho, na qual o presidente Joe Biden aparecia seis pontos atrás de Trump entre eleitores prováveis, logo após um debate televisivo desastroso para o democrata. Considerando apenas os eleitores já registrados, a vantagem de Trump sobre Biden no pós-debate era de nove pontos. Trump já é oficialmente o candidato do Partido Republicano à Casa Branca, enquanto Kamala ainda precisa ser nomeada formalmente pelo Partido Democrata – o que deve acontecer até o início de agosto.

As eleições nos Estados Unidos não são decididas por maioria simples de votos, mas por um colégio eleitoral formado a partir da votação dos candidatos em cada um dos 50 estados. Ou seja, ter o maior número de eleitores nem sempre é suficiente para a vitória. Em 2016, por exemplo, Hillary Clinton somou 48% do voto popular, mas Trump, com 46%, foi eleito após vencer em estados-chave no colégio eleitoral.

APOIO 

Kamala Harris subiu rapidamente nos índices e mostra a força da sua personalidade nos primeiros momentos que já se travaram após a sua indicação por Joe Biden. Ela conta inclusive com o apoio do ex-presidente Barack Obama, que se manifestou publicamente nesta sexta-feira.

O ex-presidente e Kamala publicaram o mesmo vídeo em seus perfis na rede social X (antigo Twitter). A gravação mostra a pré-candidata recebendo uma ligação de Obama e sua esposa, Michelle. Vale lembrar que Biden também publicou um vídeo em que mostra um telefonema para convidar Kamala para ser sua vice nas eleições de 2020.

 

¨      Fala de vice contra "solteironas com gatos" castiga campanha de Trump

O senador J.D. Vance mal completou dez dias como vice na chapa republicana de Donald Trump e já se viu no centro de uma tempestade de críticas feitas por celebridades, políticos democratas e até fãs da cantora Taylor Swift, após uma entrevista concedida por ele em 2021 voltar a viralizar nesta semana.

Na ocasião, ao falar num programa do canal de direita Fox News, Vance descreveu os EUA como um país que sofria nas mãos de "um bando de mulheres amarguradas que têm gatos em vez de filhos".

Na mesma entrevista, Vance identificou seus rivais democratas como o principal veículo de dominância dessas "amarguradas" que, segundo ele, "estão infelizes com suas próprias vidas e com as escolhas que fizeram, e por isso querem deixar o resto do país infeliz também".

<><> Vice sob pressão

A repercussão das falas também ocorre em meio a uma eleição na qual o voto feminino pode ser crucial. Nas eleições legislativas de 2022, os republicanos conseguiram apenas 26% dos votos entre mulheres de 18 a 29 anos, contra 72% dos democratas.

A controvérsia, segundo vários jornais americanos, tem ajudado a alimentar dúvidas entre vários estrategistas e ativistas republicanos se Trump fez mesmo a escolha certa ao indicar Vance, de 39 anos, como vice. Tudo isso num momento em que a rival campanha democrata ficou reenergizada com a ascensão de Kamala Harris.

"Se você tivesse uma máquina do tempo, se voltasse duas semanas atrás, será que [Trump] teria escolhido JD Vance novamente? Eu duvido", disse o comentarista de direita Ben Shapiro.

Alguns estrategistas republicanos também admitiram ao site Politico que Vance teve uma "semana difícil" e que a indicação era mesmo "arriscada".

Paralelamente, usuários de redes sociais desenterraram um outro vídeo - também de 2021 - no qual Vance defende, em uma palestra, que pais com filhos tenham direito a mais votos do que eleitores que não formaram famílias.

"Se você não tem um investimento tão grande no futuro deste país, talvez não deva ter a mesma voz", disse Vance, que é casado e tem três filhos. O republicano também é radicalmente contra o aborto, mesmo em casos de incesto e estupro.

Ainda na entrevista à Fox News, nomeou seus exemplos de "democratas sem filhos", entre eles a atual vice-presidente Kamala Harris, que na semana passada foi endossada pelo presidente Joe Biden como candidata para substituí-lo na disputa à Casa Branca neste ano.

Vance ainda citou a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, e o atual ministro dos Transportes dos EUA, Pete Buttigieg.

Harris tem dois enteados com seu marido, Doug Emhoff. Buttigieg e seu marido, por sua vez, adotaram gêmeos logo depois que a entrevista de Vance foi ao ar, em 2021.

<><> Onda de repúdio

Após os comentários de Vance ressurgirem nas redes, as atrizes Jennifer Aniston e Whoopi Goldberg e a ex-secretária de Estado Hillary Clinton engrossaram o coro de críticas contra Vance.

"Não acredito que isto venha de um potencial vice-presidente dos Estados Unidos", disse Aniston em publicação no Instagram. "Rezo para que a sua filha tenha a sorte de ter os seus próprios filhos um dia. Espero que ela não tenha de recorrer à fertilização in vitro (FIV) como segunda opção, porque você também está tentando impedir isso", completou a atriz.

Recentemente, Vance votou para bloquear uma legislação proposta por parlamentares democratas para garantir acesso à FIV em todo os EUA.

Aniston, que não tem filhos, revelou em 2023 que chegou a tentar um tratamento de fertilidade para realizar o seu desejo de ser mãe, mas que não conseguiu engravidar.

Nas redes sociais, fãs da cantora Taylor Swift, que não tem filhos e tem três gatos, também se juntaram ao coro contra Vance. "É ousado, para alguém que busca votos, focar em 'mulheres solteiras com gatos e sem filhos' quando a líder das Mulheres Com Gatos e Sem Filhos é Taylor Swift", publicou a escritora britânica Caitlin Moran na rede X.

A atriz e apresentadora Whoopi Goldberg, por sua vez, dirigiu-se a Vance durante o programa The View: "Há pessoas que querem ter filhos e não podem. Como se atreve?". Hillary Clinton, que também dirigiu críticas, reagiu com sarcasmo na sua conta na rede social X: "Que cara normal e simpático, que com certeza não odeia que as mulheres tenham liberdade."

<><> Defesa de maridos violentos?

Os comentários de Vance têm sido explorados pela campanha de Kamala Harris. Na semana passada, os democratas já haviam resgatado outra declaração de Vance feita em 2021, na qual ele criticou a simplificação do processo de divórcio nas últimas décadas como um "truque da revolução sexual" para permitir que as pessoas "trocassem de cônjuges como trocam de roupa íntima".

Vance afirmou que o divórcio, mesmo quando dissolvia casamentos infelizes e violentos, acabou por ser prejudicial para crianças desses relacionamentos.

A fala acabou sendo interpretada por adversários de Vance como uma defesa de maridos violentos. "JD Vance diz que as mulheres devem permanecer em casamentos violentos 'pelo bem de seus filhos'", apontou uma mensagem da campanha de Kamala Harris no X neste sábado (27/07), acompanhada do vídeo. Vance afirmou que o comentário foi tirado do contexto.

Uma análise no jornal Washington Post apontou que a fala original tinha mais nuances, e que ele se referiu a "casamentos violentos" e não "maridos violentos", levando em conta que Vance presenciou e sofreu violência doméstica na infância. Mas, na prática, segundo o jornal, é compreensível que a fala tenha sido interpretada como um argumento para que esposas se submetam a maridos violentos, já que as estatísticas mostram que a violência doméstica afeta desproporcionalmente as mulheres.

<><> Vance dobra aposta

Na sexta-feira, Vance tentou defender as falas contra "mulheres amarguradas sem filhos". "Obviamente, foi um comentário sarcástico. As pessoas estão se concentrando muito no sarcasmo e não na substância do que eu realmente disse (...) e a substância do que eu disse, me desculpe, é verdade", disse ele ao podcast da jornalista Megyn Kelly.

Vance também tentou se reposicionar como um defensor dos pais, descrevendo seus comentários como uma crítica aos democratas, que, segundo ele, executam medidas prejudiciais para famílias. "Eu sei que a mídia quer me atacar e quer que eu recue, mas o que eu disse é que ter filhos, ser pai ou mãe, muda sua perspectiva de uma forma muito profunda".

Ainda na entrevista, Vance disse: "Não tenho nada contra gatos". Esse último comentário não passou despercebido nas redes sociais. "Vance esclarece que seu problema não é com os gatos, mas com as mulheres", debochou no X a jornalista americana Laura Rozen.

 

Fonte: Deutsche Welle/FolhaPress

 

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