Frequência com que você faz cocô influencia
na saúde, diz novo estudo
A frequência com que
você evacua pode influenciar mais do que apenas se você está
desconfortavelmente inchado. Esse número também pode afetar seu microbioma
intestinal e o risco de doenças crônicas, segundo um novo estudo.
Bactérias intestinais
que digerem fibras, por exemplo, parecem prosperar em participantes que evacuam
uma ou duas vezes por dia, de acordo com o estudo publicado na segunda-feira
(22) na revista Cell Reports Medicine. Mas as bactérias associadas ao trato
gastrointestinal superior ou à fermentação de proteínas foram enriquecidas
naqueles com diarreia ou constipação, respectivamente.
Os autores também
descobriram que pessoas mais jovens, mulheres e participantes com índice de
massa corporal mais baixo tinham evacuações menos frequentes.
“Muitas pessoas com
doenças crônicas, incluindo Parkinson e doença renal crônica, relatam ter tido
constipação por anos antes do diagnóstico”, diz o autor sênior do estudo, Sean
Gibbons, que perdeu membros da família devido ao Parkinson.
“No entanto, não está
claro se essas aberrações na frequência das evacuações são causadoras da doença
ou simplesmente uma consequência da doença”, acrescenta Gibbons, professor
associado do Institute for Systems Biology em Seattle, por e-mail.
Essa questão é o que
motivou os pesquisadores a estudar as associações entre a frequência das
evacuações e a genética, o microbioma intestinal, as químicas do plasma
sanguíneo e os metabólitos sanguíneos — pequenas moléculas que são
participantes e produtos do metabolismo — para avaliar se o padrão pode estar
afetando negativamente o corpo antes de um diagnóstico de doença, diz Gibbons.
Os autores examinaram
os dados de saúde e estilo de vida de mais de 1.400 adultos saudáveis que
participaram de um programa de bem-estar científico na Arivale, uma empresa de
saúde do consumidor que operou de 2015 a 2019 em Seattle. Os participantes, dos
quais quase 83% eram brancos, responderam a questionários e consentiram em
fornecer amostras de sangue e fezes.
A frequência das
evacuações auto-relatada foi separada em quatro grupos: constipação (uma ou
duas evacuações por semana), normal baixa (três a seis por semana), normal alta
(uma a três por dia) e diarreia.
Os autores também
descobriram que vários metabólitos sanguíneos e químicas do plasma sanguíneo
estavam ligados a diferentes frequências. Subprodutos da fermentação de
proteínas, como sulfato de p-cresol e sulfato de indoxil, conhecidos por causar
danos aos rins, foram enriquecidos em participantes constipados. Os níveis
sanguíneos de sulfato de indoxil também foram associados à função renal
reduzida. As químicas ligadas a danos hepáticos foram mais altas em pessoas com
diarreia, que também tinham mais inflamação.
Os autores acreditam
que suas descobertas são “apoio preliminar para uma ligação causal entre a
frequência das evacuações, o metabolismo microbiano intestinal e os danos aos
órgãos”, de acordo com comunicado à imprensa.
“O que me entusiasma
neste estudo é que há muito tempo sabemos sobre uma conexão entre constipação e
doença renal crônica, mas os mecanismos potenciais nunca foram bem
compreendidos”, afirma Kyle Staller, diretor do Laboratório de Motilidade
Gastrointestinal no Massachusetts General Hospital e professor associado de
medicina na Harvard Medical School, por e-mail.
“Este estudo fornece
um caminho pelo qual futuros estudos poderiam investigar essa conexão ao longo
do tempo… para saber se pessoas com baixa frequência de evacuações produzem
mais metabólitos potencialmente tóxicos e, subsequentemente, desenvolvem doença
renal”, acrescenta Staller, que não participou do estudo.
• Entendendo a saúde intestinal
“Existem algumas
limitações importantes aqui que tornam as descobertas menos traduzíveis para a
pessoa média”, diz Staller, incluindo que o estudo não prova uma relação de
causa e efeito. Os dados resultam de participantes estudados em um único
momento, então outros fatores podem estar em jogo. Também é possível que o
microbioma intestinal de uma pessoa possa estar influenciando a frequência das
evacuações.
A frequência das
evacuações também não é a medida mais ideal da função intestinal, diz.
“Sabemos que a
frequência normal das evacuações varia de (três) evacuações por semana a (três)
evacuações por dia, mas a melhor medida de quão rápido as coisas estão se
movendo pelo nosso intestino é a forma das fezes”, acrescenta Staller. “Ou
seja, quando as fezes são mais duras, elas ficaram no cólon por mais tempo — o
que chamamos de tempo de trânsito mais longo.
“Quando as fezes são
mais macias, o oposto é verdadeiro. Assim, uma medida mais ideal da função
intestinal seria a consistência das fezes em vez da frequência.”
Além disso, muitas das
descobertas são baseadas no grupo com frequência normal a baixa de evacuações —
três a seis vezes por semana — com poucas derivadas daqueles que estavam
constipados ou tinham diarreia, segundo os especialistas.
“Idealmente, veríamos
um tipo de ‘relação dose-resposta’, onde quanto pior a constipação, pior a
função renal e maior o número desses metabólitos potencialmente prejudiciais no
sangue como um marcador.”
Além disso, as
espécies bacterianas nas fezes dos participantes foram detectadas por um tipo
de tecnologia que indica apenas um grupo maior, ou gênero, ao qual as bactérias
pertencem, em vez de espécies específicas — que poderiam ter efeitos
diferentes, mesmo sendo do mesmo grupo, acrescentam os especialistas.
Participantes com
frequência de evacuações geralmente normal também tinham diferenças importantes
no estilo de vida, como consumir mais frutas e vegetais, estar mais hidratados
e praticar mais exercícios, doz Rena Yadlapati, professora da divisão de gastroenterologia
da Universidade da Califórnia em San Diego, que não participou do estudo.
Sobre os processos
potenciais por trás da hipótese dos autores, “trabalhos anteriores
estabeleceram que os micróbios intestinais passam por uma mudança entre a
fermentação de fibras e proteínas, dependendo do tempo de trânsito intestinal”,
diz Gibbons por e-mail. “Durante os tempos de trânsito normais (frequência
normal das evacuações), os micróbios intestinais fermentam fibras dietéticas em
ácidos orgânicos saudáveis que mantêm a homeostase intestinal.
“No entanto, se as
fezes permanecem no intestino por muito tempo (constipação), os micróbios
começam a ficar sem fibras e passam a fermentar proteínas (e comer nossa camada
de muco, que também é rica em proteínas)”, acrescenta Gibbons. “A fermentação
de proteínas no intestino dá origem a esses compostos tóxicos que são
encontrados no sangue.”
Considerando tudo,
Staller não acha que alguém deva ver as descobertas como uma razão para se
preocupar com a rapidez com que seu intestino está funcionando. “Muitos dos
dados são derivados de pessoas que nós, médicos, consideraríamos normais, e não
há indivíduos verdadeiramente constipados em quantidade suficiente para que
possamos tirar conclusões definitivas”, diz.
O que é mais
importante, segundo Staller, é o fato de que o estudo reafirmou a capacidade
dos fatores dietéticos de também afetar a função intestinal.
A compreensão dos
especialistas sobre as interações entre as bactérias residentes no intestino e
as funções corporais “está crescendo a passos largos diariamente”, diz.
“No entanto, qualquer
tentativa de simplificar esse conhecimento para cultivar o ‘microbioma
intestinal ideal’ está distante”, acrescenta. “Nosso conhecimento nessa área é
muito subdesenvolvido para fazer mudanças drásticas em nossas vidas com base
nos achados de um estudo como este ainda.”
• Fazer cocô apenas a cada 3 ou mais dias
está relacionado ao declínio cognitivo, aponta pesquisa
Na primeira pesquisa a
observar o impacto da constipação no cérebro envelhecido, os cientistas
encontraram algumas ligações preocupantes.
Ser constipado
cronicamente, definido pelos autores como ter uma evacuação apenas a cada três
ou mais dias, foi associado a um risco 73% maior de declínio cognitivo
subjetivo, de acordo com pesquisa apresentada na quarta-feira na Conferência
Internacional da Associação de Alzheimer em Amsterdã.
“Nosso estudo forneceu
evidências inéditas que examinaram um amplo espectro de frequência de
evacuação”, disse o Dr. Chaoran Ma, primeiro autor da pesquisa e professor
assistente do departamento de nutrição da Universidade de Massachusetts
Amherst, por e-mail. . “Ficamos surpresos com a força das associações,
especialmente para aqueles com movimentos intestinais pouco frequentes”.
Cerca de 16% da
população adulta mundial sofre de constipação, mas é ainda mais comum entre os
idosos devido a fatores relacionados à idade, como falta de exercícios e fibras
alimentares e o uso de medicamentos que podem causar constipação como efeito colateral.
A constipação crônica
tem sido associada à inflamação e distúrbios mentais, como ansiedade e
depressão , mas há muitas perguntas sem resposta sobre a relação entre a saúde
digestiva e a função cognitiva de longo prazo, de acordo com um comunicado à
imprensa.
A função cognitiva
refere-se à capacidade mental de uma pessoa para aprender, pensar, raciocinar,
resolver problemas, tomar decisões, lembrar e prestar atenção.
Para encontrar pistas
para essas questões, os autores avaliaram mais de 112.000 adultos que
participaram do Nurses’ Health Study, do Nurses’ Health Study II e do Health
Professionals Follow-Up Study. Os dois primeiros estudos investigaram os
fatores de risco para as principais doenças crônicas entre as mulheres na
América do Norte, enquanto o último estudo está analisando os mesmos tópicos,
mas para os homens. Os autores da pesquisa mais recente coletaram dados sobre a
frequência de evacuação dos participantes de 2012 a 2013, autoavaliações da
função cognitiva dos participantes entre 2014 e 2017 e detalhes sobre a função
cognitiva medida objetivamente de alguns participantes entre 2014 e 2018.
Em comparação com
pessoas que faziam cocô uma vez por dia, os participantes constipados tinham
uma cognição significativamente pior, equivalente a três anos a mais de
envelhecimento cognitivo cronológico, descobriram os autores. Maior risco
também foi encontrado entre aqueles que fizeram cocô mais de duas vezes ao dia,
embora essas chances maiores fossem pequenas.
“Quanto mais
aprendemos sobre o acesso intestino-cérebro, mais entendemos que é tão
importante garantir que (prevenir ou abordar o declínio cognitivo) seja uma
abordagem sistêmica”, disse Maria C. Carrillo, diretora científica da
Alzheimer’s Association , que não participou da pesquisa. “O cérebro não está
completamente isolado do que está acontecendo no seu fluxo sanguíneo.”
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Movimentos intestinais e o cérebro
Esta pesquisa não foi
“projetada para testar a relação causal entre os movimentos intestinais, o
microbioma intestinal e a saúde cognitiva, por isso não podemos tirar
conclusões firmes sobre a sequência causal precisa subjacente a essa
associação”, disse Ma.
Mas a frequência da
evacuação e a função cognitiva subjetiva também foram ligadas aos microbiomas
intestinais dos participantes, descobriram os autores. Entre aqueles com
movimentos intestinais pouco frequentes e pior função cognitiva, houve uma
depleção de boas bactérias que produzem butiratos, ácidos graxos que sustentam
a barreira intestinal que impede que bactérias e outros micróbios entrem na
corrente sanguínea, de acordo com a Cleveland Clinic .
Os butiratos também
ajudam significativamente na saúde digestiva, fornecendo a principal fonte de
energia para as células do cólon. Eles podem ser encontrados em alimentos ricos
em fibras, suplementos de fibras, prebióticos e laticínios integrais – consumidos
com moderação – como manteiga, queijo, leite ou ghee. Ghee é manteiga
clarificada , feita isolando a gordura da manteiga pura dos sólidos do leite e
da água na manteiga.
Aqueles que faziam
cocô duas vezes ou mais por dia e tinham pior função cognitiva tinham uma
quantidade maior de espécies que promovem inflamação e estão relacionadas à
disbiose, um desequilíbrio nos micróbios intestinais associado à doença.
Outra pesquisa
apresentada na mesma conferência na quarta-feira teve resultados semelhantes.
Em um resumo de 140 adultos de meia-idade, ter níveis mais baixos de bactérias
intestinais neuroprotetoras Butyricicoccus e Ruminococcus foi associado a
níveis elevados de biomarcadores da doença de Alzheimer.
Em outro, de mais de
1.000 adultos, aqueles com baixa cognição tinham quantidades anormalmente altas
das bactérias Alistipes e Pseudobutyrivibrio em comparação com outros
participantes. A bactéria Alistipes já foi associada à ansiedade, síndrome da
fadiga crônica, depressão e hipertensão.
“Faz sentido que os
indivíduos que estão tendo esses movimentos com muito menos frequência tenham
menos bactérias boas e mais bactérias ruins causadas por condições
inflamatórias”, disse Carrillo.
“Mais estudos são
necessários para identificar os micróbios envolvidos e sua função”, disse Ma
sobre sua pesquisa.
Em relação à saúde
neurológica e digestiva, “uma boa alimentação não apenas alimenta nosso
cérebro, mas também promove movimentos intestinais saudáveis”, disse Carrillo.
Comer bastante fibra
de vegetais, frutas, grãos integrais e nozes pode prevenir a constipação. A
ingestão total de fibras deve ser de pelo menos 25 gramas por dia, de acordo
com a Food and Drug Administration dos EUA . E ser suficientemente hidratado
amolece as fezes para que você possa eliminá-las sem esforço.
Exercitar-se pelo
menos algumas vezes por semana e controlar o estresse também pode ajudar
Fonte: CNN Brasil
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