segunda-feira, 29 de julho de 2024

Como estratégia dos EUA deve mudar no mundo se Kamala Harris for eleita

Logo após abandonar a corrida presidencial dos Estados Unidos, o presidente Joe Biden endossou a vice-presidente Kamala Harris como sua substituta.

Harris ainda não foi formalmente escolhida a candidata do Partido Democrata, mas caso vença a disputa para o cargo mais alto do país, na Casa Branca, ela seria a primeira mulher presidente dos EUA e a primeira pessoa de ascendência indiana e jamaicana a ocupar o cargo.

Ela também se tornaria a primeira presidente filha de imigrantes desde Andrew Jackson, em 1829.

Abaixo uma análise detalhada da experiência da vice-presidente Kamala Harris com questões internacionais e como ela se posiciona nos principais temas de política externa.

·        Ucrânia

Uma das principais questões de política externa em que Kamala Harris e o candidato republicano Donald Trump provavelmente divergiriam é a guerra da Rússia na Ucrânia.

A postura de Trump causa desconforto entre os países que apoiam a resistência ucraniana à invasão da Rússia.

Há temores entre os apoiadores europeus da Ucrânia de que uma presidência de Trump enfraqueceria o apoio ao país e encorajaria a Rússia a agir de forma desenfreada.

Publicamente, Harris deu ao presidente Biden seu total apoio ao envio de equipamentos militares para a Ucrânia para apoiar a resistência contra a invasão da Rússia em 2022.

"Precisamos aprovar financiamento para a Ucrânia, financiamento para Israel", disse ela. "O que precisamos fazer em relação a todas essas questões é extremamente importante."

Ela liderou a delegação dos EUA na Conferência de Segurança de Munique de 2022 realizada poucas semanas antes de os tanques russos entrarem na Ucrânia.

Em junho de 2024, Harris representou os EUA na Cúpula sobre a Paz para a Ucrânia na Suíça.

No entanto, em ambas as ocasiões, ela recebeu o apoio de autoridades mais experientes em política externa, como o Secretário de Estado Antony Blinken em Munique, Alemanha, e o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan em Lucerna, Suíça.

Ao contrário de Biden e de muitos dignitários estrangeiros, Harris nunca viajou para a Ucrânia enquanto estava no cargo. Ela se encontrou com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, porém, seis vezes.

A escolha de JD Vance por Donald Trump como seu companheiro de chapa reacendeu preocupações na Europa de que a política de "América em primeiro lugar" de Trump pode pressionar a Ucrânia a admitir derrota ao presidente russo Vladimir Putin.

O medo entre os governos europeus é que uma futura administração Trump tentaria fazer a Ucrânia abrir mão de terrirtório em um acordo de paz.

·        Rússia e OTAN

Já Kamala Harris prometeu que os EUA seguirão cumprindo suas obrigações de apoiar a OTAN – a aliança de segurança entre as nações europeias e norte-americanas.

Ela tem sido crítica às ameaças de Trump de se retirar da aliança caso os países não contribuam com ao menos 2% de seu produto interno bruto (PIB, a atividade econômica em um país) para a OTAN.

Trump disse que encorajaria a Rússia a invadir os países da OTAN que não pagassem os 2% que deveriam pagar.

"A ideia de que o ex-presidente dos EUA diria que encoraja um ditador brutal a invadir nossos aliados, e que os EUA simplesmente ficariam parados assistindo - nenhum presidente anterior dos EUA, independentemente de partido, curvou-se a um ditador russo antes", disse Harris.

·        Israel e a guerra em Gaza

Harris ofereceu apoio vocal a Israel após os ataques de 7 de outubro de 2023, afirmando que o país tem o direito de se defender do Hamas.

"Não criaremos qualquer condição para o apoio que estamos dando para que Israel se defenda", disse ela em novembro de 2023.

Um mês depois, no entanto, ela assumiu uma postura muito mais crítica a Israel do que Biden e outros funcionários do governo, dizendo que "muitos palestinos inocentes foram mortos" durante a ação militar de Israel contra o Hamas em Gaza.

"Israel deve fazer mais para proteger civis inocentes", disse ela.

Em março deste ano, após grandes protestos nos EUA e ao redor do mundo, Harris disse que Israel "deve fazer mais para aumentar significativamente o fluxo de ajuda - sem desculpas".

Ela pediu a Israel que abrisse as passagens de fronteira e protegesse os trabalhadores humanitários.

Em 22 de julho, o ministério da saúde administrado pelo Hamas em Gaza disse que pelo menos 39.006 pessoas já foram mortas na guerra.

Trump demonstrou forte apoio a Israel durante sua presidência. E, em visita ao país, anunciou o apoio dos EUA para que Jerusalém se tornasse a capital de Israel.

Harris foi ao Oriente Médio duas vezes como vice-presidente, mas não a Israel enquanto estava no cargo.

·        América Central

Uma das responsabilidades de Harris como vice-presidente tem sido tratar da migração na fronteira com o México.

Trump e outros republicanos criticaram-na diretamente sobre o assunto, dizendo que ela falhou em conter a onda de pessoas chegando por ali.

Em uma viagem à Guatemala em junho de 2021, o âncora da NBC Lester Holt questionou Harris sobre o motivo de ela não ter visitado a fronteira EUA-México. E a resposta caiu no ridículo entre os críticos.

Ela disse que era responsável por lidar com as "causas básicas" da migração da América Central para os EUA e observou que também "não tinha visitado a Europa".

Ela então visitou a fronteira durante uma viagem ao Texas em junho de 2021.

Os republicanos apelidaram Harris de "czar da fronteira", enquanto criticavam o governo Biden por permitir que a imigração do sul aumentasse.

Trump, que em sua campanha de 2016 promessa de construir um muro na fronteira, tem como uma de suas principais metas conter a imigração pela fronteira com o México.

Durante o período de Harris como vice-presidente, as travessias ilegais de fronteira reportadas em 2021, 2022 e 2023 atingiram o nível mais alto de todos os tempos - embora tenham caído em 2024.

Elas atingiram o menor nível em três anos em junho, depois que o presidente Biden emitiu uma ordem executiva proibindo a maioria dos migrantes de buscar asilo.

Harris também enfrentou críticas por fazer apenas duas viagens à América Central como vice-presidente - três dias em 2021 e um dia em 2022.

·        China

Assim como Trump, Harris tem sido crítica à China. Ao contrário do ex-presidente, seu foco não tem sido nas tarifas comerciais, mas nas disputas geopolíticas.

Ela acusou a China de "intimidação", com relação a disputas territoriais no Mar da China Meridional.

Pequim, em troca, acusou Washington de agir como a "mão negra" por trás das tensões nas águas disputadas.

Durante suas quatro viagens à Ásia como vice-presidente, Harris visitou a Coreia do Sul.

Ela entrou na Zona Desmilitarizada, entre o Sul e o Norte, e destacou as tentativas de conter a influência da China na região.

Ao visitar a Zona Desmilitarizada em 2019, como presidente, Trump pisou no Norte e apertou a mão do líder norte-coreano Kim Jong-un.

Ele também conversou com Kim em Cingapura.

Enquanto Trump enfatiza seus encontros com Kim,]Harris segue uma postura muito mais convencional, fornecendo apoio verbal aos aliados tradicionais.

Durante as presidências de Trump e de Biden, os EUA impuseram tarifas à China.

O atual governo está elevando o custo de importação de veículos elétricos chineses a fim de reforçar sua própria indústria.

Enquanto isso, Trump está se comprometendo a reduzir ou encerrar o apoio às indústrias verdes.

·        África e Oriente Médio

Em 2023, Harris foi uma das várias autoridades dos EUA a visitar a África.

A mudança reflete uma intenção crescente do governo dos EUA de aprofundar o relacionamento com as nações africanas diante da crescente competição de outras potências globais, especialmente China e Rússia.

Em maio de 2024, ela anunciou planos para ajudar a África a dobrar o acesso à Internet para 80% da população.

Harris também assumiu um papel ativo na limitação das operações da Arábia Saudita, o que incluiu uma parceria com o governo do Iêmen para conter a insurgência no país por quase uma década.

Como senadora, Harris votou para restringir as vendas de armas à Arábia Saudita devido às ações do país no Iêmen e o papel do país no assassinato do jornalista do Washington Post Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul.

Ela co-patrocinou projetos de lei em 2018 e 2019 para interromper a cooperação militar dos EUA com a Arábia Saudita devido às operações do país no Iêmen.

No entanto, ela tem sido cuidadosa:

“Os EUA e a Arábia Saudita ainda têm áreas de interesse mútuo, como o contraterrorismo, onde os sauditas têm sido parceiros importantes”, disse Harris ao think tank americano Council of Foreign Relations em 2020.

·        Direitos humanos

Além de agir para limitar a assistência à Arábia Saudita, Harris apoiou leis para defender os direitos humanos em outros lugares.

Ela apoiou a legislação para lembrar o genocídio armênio, uma fonte de tensão entre a Turquia, membro da OTAN, e a Armênia por mais de um século.

Harris apoiou o acordo do Plano de Ação Integral Conjunto de 2015 com o Irã para deter o programa nuclear de Teerã.

Ela também condenou um ataque militar de 2020 sob a presidência de Trump que matou o principal general iraniano Qassem Soleimani no Iraque.

Harris também copatrocinou uma legislação que não foi aprovada para bloquear novas ações militares contra líderes e alvos iranianos.

 

•        Avaliação do legado do presidente Biden depende do que acontecerá em novembro

Como Joe Biden entrará para a história? Depende do que acontecerá em novembro. Se os democratas vencerem o pleito presidencial, com Kamala Harris ou outro candidato, Biden estará consagrado. O que se dirá é que, além de ter sido um dos melhores presidentes americanos das últimas décadas —uma tese objetivamente defensável—, ele teve a grandeza e o desprendimento de renunciar à candidatura quando ficou claro que teria dificuldades para derrotar Donald Trump. Já apareceram editoriais com esse teor.

Na hipótese, porém, de o postulante democrata ser derrotado, o julgamento da história poderá não ser tão favorável. Nós, que assistimos a tudo ao vivo, sabemos que o processo de desistência, embora possa encerrar alguma dose de altruísmo, foi arrancado a fórceps.

TEIMOSIA E VAIDADE

Biden resistiu o quanto pôde, postergando por semanas a definição de seu substituto. No cenário de vitória democrata, esses detalhes serão rapidamente esquecidos, mas, se Trump triunfar, não faltarão vozes no próprio Partido Democrata atribuindo a derrota ao atraso na troca de candidato, um reflexo da teimosia e da vaidade de Biden. Narrativas podem ser cruéis.

Outro problema para o legado de Biden é que, no caso de vitória de Trump, algu

mas de suas realizações na Presidência poderão ser revertidas. Um bom exemplo são os avanços na transição energética, uma pauta a que o republicano se opõe e certamente tentaria solapar.

RESULTADO FINAL

Num mundo justo, retrocessos ambientais patrocinados por Trump contariam apenas como ônus do republicano, mas essa é uma seara em que nossas percepções dependem muito do resultado final.

Se Trump sair mais uma vez do Acordo de Paris e encher os EUA de usinas a carvão, será como se Biden não tivesse feito nada.

Há algo de paradoxal aí. Em termos estritamente lógicos, juízos valorativos de ações pretéritas de um presidente não deveriam depender do futuro, mas vivemos num mundo que não é assim tão lógico.

 

¨      Parlamentar democrata que condenou Harris sobre fronteira agora a apoia como presidente, diz mídia

O deputado Don Davis endossou a candidatura presidencial de Kamala Harris nesta sexta-feira (26), um dia depois de se juntar a outros cinco democratas na condenação da forma como ela lidou com a fronteira sul dos EUA, na qual pessoas egressas do México tentam passar ilegalmente para o país vizinho.

As informações foram veiculadas pelo portal de notícias Politico, ressaltando que o parlamentar é um democrata centrista que frequentemente rompe com seu partido.

"Os riscos desta eleição presidencial são incrivelmente altos, com implicações de longo alcance", disse ele via comunicado, acrescentando que "ao mesmo tempo, o governo e o Congresso devem abordar as preocupações da fronteira sul".

Harris e Gaza

A candidata à presidência dos EUA promoveu a implementação de um acordo de cessar-fogo de duas fases por Israel e Hamas, e recebeu reação neutra e negativa de Tel Aviv.

Israel se retirará totalmente de Gaza na segunda fase do acordo de reféns, disse Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, em declarações à imprensa após sua reunião na Casa Branca com Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel.

"A todos que pediram um cessar-fogo e a todos que anseiam pela paz, eu os vejo e os ouço", disse Harris no final da tarde de quinta-feira (25), citada pelo jornal israelense The Jerusalem Post.

¨      Trump e Netanyahu deixam as diferenças de lado e selam amizade, aponta mídia dos EUA

O ex-presidente Donald Trump se encontrou nesta sexta-feira (26) com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em Mar-a-Lago, na Flórida.

Segundo o portal de notícias norte-americano Axios, o encontro sela a amizade dos dois e "enterra o machado da guerra", uma expressão norte-americana em alusão aos que discordam, mas que cedem em fazer as pazes. O concílio acontece durante a agenda de Benjamin nos EUA, dias depois de discursar e implorar manutenção da ajuda dos EUA no conflito na Faixa de Gaza, no Congresso norte-americano.

Informações veiculadas no Axios atestam que "o encontro é um sinal claro de que o ex-presidente está pronto para virar a página em seu relacionamento com Netanyahu antes da eleição presidencial".

A última vez que o primeiro-ministro israelense e o magnata se encontraram foi na Casa Branca, em setembro de 2020, na cerimônia de assinatura dos Acordos de Abraão, mediados por Trump.

<><> Conflito dura quase 9 meses

Em 7 de outubro de 2023, Israel foi alvo de um ataque do Hamas sem precedentes realizado na Faixa de Gaza. Após isso, combatentes do movimento invadiram as áreas fronteiriças, quando fizeram mais de 200 reféns e provocaram a morte de outras 1,1 mil pessoas.

O governo Netanyahu declarou guerra ao movimento e iniciou o bloqueio total do enclave: foram interrompidos os fornecimentos de água, eletricidade, combustível, alimentos e medicamentos, uma medida que já dura quase nove meses. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, o número de mortos já ultrapassa 39 mil, com mais de 89,8 mil pessoas feridas.

 

Fonte: Por By Andrew Webb, do Serviço Mundial da BBC/Tribuna da Internet/Sputnik Brasil

 

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