segunda-feira, 1 de julho de 2024

Brasil: Seca em 2023! Superfície de água abaixo da média histórica

A superfície de água em todo o Brasil ficou abaixo da média histórica em 2023, segundo levantamento do MapBiomas Água. A água cobriu 18,3 milhões de hectares, ou seja, 2% do território nacional no ano passado. O número representa queda de 1,5% em relação à média histórica, cujo cálculo foi iniciado em 1985.

Houve perda de água em todos os meses de 2023 em relação a 2022, incluindo os meses da estação chuvosa. Em 2022, a superfície de água ficou em 18,8 milhões de hectares. Os dados estão em nova coleção de dados do MapBiomas, cobrindo o período de 1985 a 2023. Segundo a entidade, os biomas estão sofrendo com a perda da superfície de água desde 2000, com a década de 2010 sendo a mais crítica.

Em 2023, corpos hídricos naturais respondiam por 77% da superfície de água no país, nos quais houve queda de 30,8% ou 6,3 milhões de hectares em relação a 1985. Os outros 23% são corpos antrópicos, ou seja, água armazenada em reservatórios, hidrelétricas, aquicultura e mineração, que totalizam 4,1 milhões de hectares. Desse total, os grandes reservatórios, que são monitorados pela Agência Nacional de Águas (ANA), somam 3,3 milhões de hectares, que registraram crescimento de 26% em 2023 em relação a 1985.

“Enquanto o Cerrado e a Caatinga estão experimentando aumento na superfície da água devido à criação de hidrelétricas e reservatórios, outros, como a Amazônia e o Pantanal, enfrentam grave redução hídrica, levando a significativos impactos ecológicos, sociais e econômicos. Essas tendências, agravadas pelas mudanças climáticas, ressaltam a necessidade urgente de estratégias de adaptação de gestão hídrica”, avaliou, em nota, Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do MapBiomas Água.

•           Amazônia

Mais da metade da superfície de água do país estão na Amazônia, sendo 62% do total nacional. Em 2023, o bioma apresentou superfície de água de quase 12 milhões de hectares ou 2,8% da superfície do bioma. Esse total representa redução de 3,3 milhões de hectares em relação a 2022.

A entidade ressalta que, em 2023, a Amazônia sofreu seca severa: de julho a dezembro, abaixo da média histórica do MapBiomas Água, sendo que o período de outubro a dezembro registrou as menores superfícies de água da série. O episódio levou ao isolamento de populações e à mortandade de peixes, botos e tucuxis, apontou o MapBiomas.

•           Pantanal

A superfície de água em 2023 no Pantanal chegou a 382 mil hectares, 61% abaixo da média histórica. A entidade destaca que houve redução da área alagada e do tempo de permanência da água. No ano passado, apenas 2,6% do bioma estavam cobertos de água. O Pantanal responde por 2% da superfície de água do total nacional.

O ano de 2023 foi 50% mais seco que o de 2018, quando ocorreu a última grande cheia no bioma. Segundo o MapBiomas, em 2018, a água no Pantanal já estava abaixo da média da série histórica, que compara os dados desde 1985. A entidade ressalta que, em 2024, não houve o pico de cheia e que o ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro.

•           Cerrado

Em 2023, o Cerrado teve a maior superfície de água desde 1985, chegando a 1,6 milhão de hectares ou 9% do total nacional. O número é 11% acima da média histórica no bioma. A entidade explica que o ganho de superfície de água se deu em áreas antrópicas, que aumentaram em 363 mil hectares, uma variação positiva de 56,4%. Os corpos de água naturais, por sua vez, perderam 696 mil hectares, o que representa queda de 53,4%.

No ano passado, os corpos de água naturais ocupavam 608 mil hectares do Cerrado ou 37,5% da cobertura de água do bioma. Os 62,5% restantes ficaram divididos principalmente entre hidrelétricas (828 mil hectares; 51,1%) e reservatórios (181 mil hectares; 11,2%).

“A partir de 2003, a área de superfície de água destinada à geração de energia e ao abastecimento dos centros urbanos superou a área de água natural no Cerrado. No entanto, esses reservatórios são abastecidos pelos corpos de água naturais que têm sido reduzidos nas últimas décadas”, disse, em nota, Joaquim Pereira, do MapBiomas.

•           Caatinga e Pampa

Após longo período de estiagem, que se estendeu por sete anos, resultando em uma das maiores secas do Nordeste desde 2018, o MapBiomas mostra que é possível observar uma tendência de acréscimo na superfície de água na Caatinga e a consolidação de um ciclo mais chuvoso no bioma. O ano passado registrou uma superfície de água de quase 975 mil hectares, 6% acima da média histórica e 5% do total nacional.

A parcela de 10% da superfície de água do Brasil em 2023 estava no Pampa: mais de 1,7 milhão de hectares ou 9,2% do território do bioma. A superfície de água, no ano passado, ficou 1,3% abaixo em relação a 2022. De acordo com o MapBiomas, em 2023 o Pampa teve o primeiro quadrimestre mais seco da série histórica. As cheias no Rio Grande do Sul, entre setembro e novembro, recuperaram a superfície de água no Pampa, mas ainda assim ela se manteve 2% abaixo da média histórica.

•           Mata Atlântica

A superfície de água na Mata Atlântica em 2023 ficou 3% acima da média histórica, superando os 2,2 milhões de hectares ou 12% e segundo lugar do total nacional, conforme dados do levantamento. A água responde por 2% da superfície do bioma.

No ano passado, a entidade ressalta que a Mata Atlântica registrou elevados níveis de precipitação em alguns municípios, levando a inundações em áreas agrícolas e deslizamentos. Esse é o bioma com maior superfície de água antrópica, onde a área de superfície de água em hidrelétricas e em reservatórios é maior do que a área de superfície de água natural.

•           Cerrado perde 53% da superfície de água natural em 38 anos

A área de superfície de água natural no Cerrado registrada em 2023 foi de 696 mil hectares, 53% a menos do que o observado em 1985.

Os dados foram publicados na terceira coleção do MapBiomas Água, rede da qual o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) faz parte. Atualmente, o bioma possui 1,6 milhões de hectares cobertos por água, maior valor registrado em 39 anos, mas apenas 37% estão em áreas naturais e 51% em hidrelétricas.

No geral, a área de superfície de água no Brasil foi de 18,3 milhões de hectares em 2023, 2,6% a menos do que em 2022, confirmando a tendência de redução observada por pesquisadores desde os anos 2000. Além disso, todos os meses de 2023 registraram áreas de água inferiores às de 2022, sendo que nove também estiveram abaixo de suas médias históricas.

‘“O Cerrado tem papel central para a agropecuária brasileira e para produção de energia elétrica, pelo qual observamos um aumento de 390 mil hectares (89)% na superfície de água destinada aos reservatórios de hidrelétricas nos últimos 38 anos, afetando diretamente a ecologia dos ecossistemas aquáticos”, destaca Dhemerson Conciani, pesquisador do IPAM que trabalhou na elaboração dos dados.

A diminuição da superfície de água natural também pode ser observada em outros biomas. Em todo o território nacional, foram perdidos mais de 6 milhões de hectares de água em formações como rios, lagos e veredas, uma queda de 30% em relação ao observado em 1985. A bacia do Rio Paraguai, principal abastecedor do Pantanal, perdeu 565 mil hectares de água em relação a sua média histórica, cerca de 55% da sua área total. Além dela, outras cinco regiões hidrográficas brasileiras registraram perdas em 2023, totalizando 625 mil hectares ressecados, ou 1,08 vezes a área de Brasília.

“A redução severa na superfície de água da bacia do Paraguai é o resultado complexo de desmatamento, uso desordenado dos recursos hídricos, mudanças climáticas, erosão, sedimentação, e crescimento urbano. Como foi possível observar em anos anteriores, existe uma forte relação no Pantanal entre anos mais secos, com menor disponibilidade hídrica, e mais queimadas. Tratar essa questão requer uma abordagem integrada que inclua a conservação e recuperação da vegetação nativa, a implementação de práticas agrícolas e de manejo de solo sustentáveis e a melhoria da gestão dos recursos hídricos”, alerta Joaquim Pereira, pesquisador do IPAM, que também compôs a equipe.

•           Biomas

Em 2023, o Pantanal registrou uma superfície de água de 381 mil hectares, 61% abaixo da média para o bioma. Apesar de ainda concentrar 2% de toda a superfície de água no Brasil e ter 2,6% de toda a sua área coberta por água, a região foi a que mais secou desde 1985, uma redução de 64% na superfície de água em relação a 2001, quando tinha mais de 1 milhão de hectares de superfície. O bioma também tem passado apenas dois meses alagado por ano, quando costumava ficar seis, prejudicando o ciclo natural da sua fauna e flora e facilitando a ocorrência de incêndios.

Na Amazônia, que concentra 62% de toda a superfície de água do Brasil, a seca severa de 2023 contribuiu para que a superfície de água reduzisse 5,2% em relação a 2022, perdendo 3,3 milhões de hectares no ano passado. É também onde se concentra a maior área hídrica destinada à mineração: aproximadamente 6 mil hectares de água são represados pelo setor.

•           Estados e municípios

Ainda de acordo com o balanço, em 2023, 10 Estados brasileiros registraram uma superfície de água abaixo das suas médias históricas. Os casos mais severos ocorreram em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que tiveram perda de 274 mil e 263 mil hectares, uma redução de 33% e 30%, respectivamente. Goiás, com um aumento de 105 mil hectares, e Minas Gerais, com 47 mil hectares, foram os Estados que mais ganharam superfície de água, especialmente em reservatórios de hidrelétricas.

O padrão de ressecamento pode ser observado também na lista de municípios que mais perderam água: das 20 cidades no ranking, quatro estão localizadas em Mato Grosso e três em Mato Grosso do Sul. Amazonas, com quatro municípios, Pará, com três, Roraima e Amapá, ambos com dois, e Rondônia e Rio Grande do Sul, com um município, completam a lista dos que mais secaram.

Corumbá, no Mato Grosso do Sul, foi a cidade que mais perdeu água em 2023 tendo em vista a média da região. Foram mapeados cerca de 261 mil hectares de água, 53% abaixo do esperado. Nos últimos 40 anos, o município também foi o que mais sofreu com os incêndios, perdendo cerca de 3,6 milhões de hectares para o fogo.

 

Fonte: EcoDebate

 

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