quinta-feira, 27 de junho de 2024

Tecnologia: concorrente ou aliada dos profissionais de enfermagem?

A enfermeira entra no quarto no exato momento em que o paciente com risco de queda está tentando sair da cama sem ajuda de ninguém. Seria uma feliz coincidência? Não. Ela foi lá porque um sistema de inteligência artificial (IA) e machine learning interpretou as imagens da câmera do quarto e fez o alerta. A cena acima é real e aconteceu no Einstein. Em maior ou menor escala, a tecnologia embarcada nos hospitais vai se ocupando de tarefas repetitivas e menos nobres, liberando tempo da enfermagem para aquilo que agrega mais valor no cuidado do paciente.

Imagine acontecimentos bem corriqueiros em um hospital: quantas vezes a enfermagem é acionada pelo paciente que quer apenas pedir para abrir a persiana do quarto ou solicitar algum serviço da copa ou da lavanderia? Aqui no hospital, mapeamos que demandas do tipo respondiam por 56% dos pedidos feitos para a enfermagem. Um sistema de automação de leito implementado recentemente aqui dá autonomia ao paciente para disparar comando por meio de um tablet para acender/apagar a luz ou direcionar pedidos diretamente para a copa ou lavanderia. Isso vem reduzindo a carga da enfermagem para essas tarefas, além de ajuda-los, também, a informar necessidades assistenciais, como solicitar um medicamento para aliviar a dor. Ao invés de ir ao quarto para ouvir o sintoma, providenciar o analgésico e voltar para administrá-lo, a interação digital permite que o profissional já vá ao quarto com a medicação.

enfermagem virtual é outra aliada que alivia a carga de trabalho da enfermagem real. Já há sistemas disponíveis que auxiliam na checagem da administração de quimioterapia, por exemplo. Um enfermeiro que está a distância acompanha o processo virtualmente (fazendo dupla com o colega in loco) no acesso do prontuário, se incumbindo de preencher a documentação. É economia de tempo de deslocamento de um profissional e economia de tempo com tarefas administrativas de quem está na linha de frente. Além disso, facilidade e agilidade do processo contribuem para maior adesão ao procedimento de segurança.

E por falar em tarefas administrativas, a IA também vem estendendo seus tentáculos por lá. As planilhas de Excel para determinar escalas de trabalho, sem margem para ajustes no número de profissionais em relação à demanda, começam a dar lugar para sistemas que usam IA capazes de fazer isso. A ferramenta analisa dados da série história do ano anterior e faz um estudo de ocupação por área e por dia. Isso evita sobrecarga de trabalho nos dias de maior demanda ou, ao contrário, ociosidade nos dias mais tranquilos.

Novas tecnologias em equipamentos e dispositivos são outros trunfos da enfermagem. Por exemplo, alguns indivíduos podem apresentar retenção urinária após a cirurgia. Há algum tempo, acompanhávamos o quadro com exame clínico ou havia a necessidade de deslocar o paciente até o setor de ultrassom para fazer a medição do volume de urina dentro da bexiga. Hoje, com o ultrassom portátil é possível fazer isso à beira leito e, dependendo do resultado, já proceder a sondagem. Um enfermeiro ou enfermeira devidamente capacitado(a) é quem coloca o PICC (sigla em inglês de cateter venoso central de inserção periférica), usando o mesmo ultrassom portátil para fazer a punção da veia. O cateter de acesso periférico traz menor risco de complicações e infecções do que o cateter venoso central convencional. Cateteres venosos centrais são necessários em terapias intravenosas mais prolongadas, mas devem ser mantidos estritamente o tempo necessário. O Einstein combina tudo isso com IA: é um algoritmo que ajuda a enfermagem a identificar qual paciente tem indicação para uso do PICC.

Existem muitos outros exemplos, mas escolhi esses para ilustrar que inovações na assistência à saúde são transversais a todo o corpo clínico, em diferentes pontos de contato com o paciente ou na rotina de trabalho. Mas, assim como acontece entre profissionais médicos, há quem se pergunte se as tecnologias vão substituir enfermeiras e enfermeiros. No que diz respeito a isso, eu repito o refrão que há muito falo: a tecnologia não vai substituir o profissional, pelo contrário. Aqueles que não a abraçarem serão substituídos pelos colegas que o fazem. Da simplificação de rotinas ao apoio à decisão, as ferramentas liberam espaço para que o profissional exerça funções primordiais atreladas ao cuidado. Engrossa esse coro a enfermeira Claudia Laselva, diretora de Operações e Enfermagem do Einstein: “A tecnologia não vai substituir os profissionais de enfermagem. Mas quem souber utilizar esses recursos vai cuidar melhor dos pacientes e ter um posicionamento mais relevante no mercado”.

 

Fonte: Por Sidnei Klajner, no Futuro da Saúde

 

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