Reativação do vírus da catapora,
herpes-zóster afeta principalmente idosos
Causada pela
reativação do vírus da catapora no organismo humano, a herpes-zóster também é
conhecida como cobreiro. Normalmente ela aparece na fase adulta daqueles que
tiveram contato com o vírus ainda na infância.
Isso faz com que a
doença seja descrita como latente pelos especialistas. "Como é uma
reativação da catapora que tivemos na infância, todos os vírus dessa família
não nos deixa", explica Renato Kfouri, infectologista pediatra e
vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunização).
Um dos principais
fatores de risco para o aparecimento da herpes-zóster é a queda de imunidade
somado ao avanço da idade.
"A idade é o
principal fator de risco, e acima dos 60 anos aumenta muito esse risco. E acima
de 80 anos, um em cada três pessoas vai desenvolver herpes zóster. É claro que
aí outras condições que abaixam a imunidade também são fatores de risco",
completa Kfouri.
Comum na região do
tronco, os principais sintomas são erupções avermelhadas na pele, bolhas e
úlceras. Os pacientes de herpes-zóster também podem apresentar mal-estar,
coceira e formigamento.
Um dos quadros
causados pela doença é conhecido como neuralgia pós-herpética --dor crônica na
pele que dura mais de 30 dias podendo causar queimação, ardência ou sensação de
agulhadas.
"É uma doença
extremamente dolorosa, e muitas vezes persistente. E quanto maior a idade,
maior o risco de ter a neuralgia e maior o tempo de duração até a melhora.
Então, muitas vezes paciente fica com dor por mais de um ano", afirma.
Infectologista da
Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Samira Yarak diz que a primeira
infecção acontece quando o vírus entra em contato com a mucosa do trato
respiratório ou conjuntiva. "Após a infecção primária, o vírus migra ao
longo das fibras nervosas sensoriais até as células satélites dos gânglios da
raiz dorsal, onde fica dormente", afirma.
Assim, a reativação do
vírus que permaneceu latente nos gânglios da raiz dorsal, muitas vezes durante
décadas após a exposição inicial do paciente ao vírus na forma de varicela
(catapora), resulta em herpes-zóster, completa Yarak.
De acordo com o
Kfouri, mais de 95% dos adultos já tiveram contato com o vírus da herpes na
infância. "Estudos mostram que é difícil você encontrar alguém com mais de
40, 50 anos de idade que não teve catapora", afirma.
O principal sintoma é
o aparecimento da lesões na pele que pode acontecer no trajeto de qualquer
nervo, desde a face, nos olhos, no tronco --área mais comum. Cerca de 40 a 72
horas antes do aparecimento dessas feridas é comum já surgir quadro de dor.
Primeiro, o machucado
aparece como uma erupção cutânea. Na sequência, essa lesão se rompe e libera um
conteúdo líquido, formando crostas. Segundo Yarak, o paciente permanece
infeccioso enquanto apresentar esse tipo de ferida e a dor, em geral, dura em
média de 10 a 15 dias.
Segundo a médica,
metade dos idosos com mais de 70 anos que contraírem a doença podem apresentar
o quadro de dor por mais de 12 meses.
Outro grupo de risco
para o desenvolvimento da doença são os pacientes transplantados ou em
tratamento quimioterápico.
Durante a fase aguda,
os pacientes são infecciosos e contagiosos para outras pessoas e devem ser
orientados a evitar contato com idosos, pessoas imunocomprometidas, mulheres
grávidas e pessoas sem histórico de infecção por varicela É especialmente
contagioso para bebês e crianças, alertam os especialistas.
O que exatamente
desencadeia a reativação do vírus, no entanto, ainda não foi descoberto com
precisão, explica Yarak. "Pode ser por conta da reexposição externa ao
vírus, por processos de doenças agudas ou crônicas --particularmente
malignidades e infecções--, em decorrência de medicamentos de vários tipos,
estresse emocional, radiação ou trauma físico", afirma.
O mundo inteiro tem
reportado um aumento dos casos de herpes-zóster no pós-pandemia. "Não se
sabe exatamente se é devido ao distanciamento, a parte emocional, ao estresse,
ou se é uma própria complicação pós Covid-19", explica, dizendo que é visível
a associação da doença a um desses fatores, completa Kfouri.
O tratamento para quem
desenvolve a segunda fase da doença é feito à base de analgésicos para controle
da dor e aciclovir, um medicamento próprio para o vírus da herpes, e deve ser
iniciado até 72 horas após o diagnóstico da doença.
Além da vacinação,
higiene frequente das mãos, cobertura da erupção cutânea em casos de pessoas
diagnosticadas com herpes zóster e evitar coçar a região lesionada já diminuem
o risco de propagação do vírus para outras pessoas.
Segundo o
especialista, a melhor forma para evitar o contágio pela doença é com a
vacinação. E essa imunização, para a catapora, já está disponível no PNI
(Programa Nacional de Imunização) para crianças a partir dos 15 meses de vida
aos quatro anos de idade.
Para quem tem mais de
50 anos, ou é imunocomprometido, o indicado é a vacina contra a própria
herpes-zóster, dividida em duas doses. "A eficácia está acima de 92% em
todas as idades. Então é extremamente eficaz em todas as faixas etárias",
diz Kfouri.
Disponível apenas na
rede privada, na capital paulista o imunizante custa entre R$ 764,10 e R$ 879 a
dose.
O médico informa ainda
que adultos de 18 a 30 anos que não tiveram catapora na infância, podem tomar a
vacina para a primeira versão da doença.
A vacina disponível
hoje contra a herpes-zóster é a Shingrix, da farmacêutica GSK, aplicada com um
intervalo de dois meses. O imunizante recombinante inativado utiliza a proteína
do vírus e promete uma imunização de cerca de 10 anos.
A recomendação é que
quem já teve a doença seja vacinado apenas após seis meses desde o primeiro
episódio da doença.
O Ministério da Saúde
informou em nota que a herpes-zóster não integra a lista nacional de doenças de
notificação compulsória e por isso a vacina não foi incorporada à rede pública.
No entanto, segundo a pasta, é analisado a viabilidade da incorporação da
vacina ao SUS (Sistema Único de Saúde) para atender pessoas imunossuprimidas ou
de 50 anos ou mais.
"Essas análises
levam em conta critérios técnicos, científicos e de logística, além de
evidências epidemiológicas, eficácia e segurança do produto, levando em conta
as regras para a incorporação de tecnologias definidas pela Lei nº 14.313/2022
e pelo Decreto nº 11.161/2022", diz a nota.
De acordo com a pasta,
o SUS disponibilizou ensaios laboratoriais capazes de diagnosticar casos de
infecção de herpes-zóster, monkey pox e catapora em todos os estados
brasileiros. Foram distribuídos 274 kits, totalizando 26.304 reações.
Os exames realizados
pela Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Publica constatou no ano passado
1.419 exames positivos. Sem dados oficiais unificados, o Ministério da Saúde
aponta 173 casos positivos de herpes zóster até 23 de abril deste ano. Já o estado
de São Paulo chegou ao número de 1.459 atendimentos ambulatoriais para a doença
até fevereiro.
Fonte: FolhaPress
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