terça-feira, 25 de junho de 2024

Julian Rodrigues: ‘Laicidade, pluralismo e liberdade individual’

“Os fariseus fazem uma armadilha para apanhar Jesus em alguma palavra. Primeiramente, eles começam elogiando Jesus, dizendo que Ele é verdadeiro e não se deixa influenciar pela opinião dos outros. Depois, eles perguntam a Jesus, se é lícito ou não pagar o imposto a César. César era governador e pertencia ao império Romano na época e, como sabemos, o Império Romano governava Israel. Jesus usou como sempre de uma grande sabedoria para dar a resposta e não disse nada que lhe comprometesse ou comprometesse seus discípulos. Se Jesus respondesse que não deveria pagar o imposto a César, iriam dizer que Ele era contra o Império Romano. E se Ele dissesse que tinha que pagar iriam dizer que Ele estava ao lado do governo e não ao lado do povo. De todas as formas, queriam apanhar Jesus na resposta que Ele disse.Assim, Jesus pede que lhe apresentem a moeda e pergunta qual a figura que está na moeda, e eles responderam: de César. Diante disso, sabiamente Jesus responde “Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22, 21). Nessa resposta, sutilmente Jesus quer dizer que todos devem cumprir com as suas obrigações, seja com o governo ou seja com Deus.”

·        Sinal dos tempos

Cabe sobretudo aos não cristãos e aos cristãos de esquerda uma urgentíssima missão: defender o núcleo progressista dos supostos ensinamentos de um camponês judeu (I.N.R.I) analfabeto de origem aramaica que supostamente viveu no século I da Era comum – mais conhecida como ano 1 depois de Cristo.

Há muito está estabelecida a existência de um certo judeu da Galileia, pregador messiânico, na executado pelas autoridades coloniais do império Romano. A influência da religião cristã oficial na Europa e nas América teria se iniciado por volta do século IV da Era comum – e segue firme e forte até os dias de hoje, para o bem e para o mal.

O fato é que “nestes dias tão estranhos” quando a poeira nem se dá mais ao trabalho de se esconder pelos cantos acabou sobrando para nosotras: ateus, cartesianos, racionalistas, iluministas, newtonianos, darwinistas, feministas, existencialistas, marxistas, nietzschianos, leninistas, punks, céticos, agnósticas e admiradoras de Bergoglio (o papa peronista) uma trivial tarefa: resgatar, defender e divulgar o legado progressista do Novo testamento.

É preciso disputar Jesus com os fascistas, fariseus modernos, mercadores da fé. Um bando de homens feios, brochas, machistas, racistas, homofóbicos, autoritários – e, sobretudo, cínicos.

“A César o que é de César, a Deus o que é de Deus”. Nada mais atual. A liberdade religiosa, pilar de qualquer regime democrático, é indissociável dos princípios da laicidade, do pluralismo, da garantia das liberdades individuais, da igualdade, da defesa e promoção dos direitos humanos.

A história registra: o Estado laico é uma conquista da luta das classes subalternas, das minorias políticas, das mulheres, comunistas e cientistas. Dos cristãos perseguidos pelos romanos, dos mulçumanos esmagados por cristãos em suas “cruzadas”, das mulheres carbonizadas nas fogueiras, dos judeus caçados por centenas de anos, obrigados a se esconder, mudar de nome, negar sua fé, estigmatizados desde a Inquisição até os campos nazistas – hoje, triste e ironicamente, o Estado de Israel faz com os palestinos coisas similares às que os nazistas fizeram com os judeus 80 anos atrás.

Antes mesmo de me considerar marxista tornei-me fã de Ludwig Feuerbach: “não foi deus quem criou o homem, mas sim foi o homem quem criou deus à sua imagem e semelhança”. (A propósito Caetano sempre teve razão, e quem há de negar que “só é possível filosofar em alemão”.

Voltando ao tema do artigo: é hora de ensinar cristianismo aos cristãos. Em defesa da pluralidade religiosa e do Estado laico. Sim life is hard, mas, cá entre nós, também muito divertida. De real e de viés.

 

¨      No radar geopolítico. Por Ruben Bauer Naveira

O complexo xadrez geopolítico atual com suas múltiplas guerras, desdolarização e as eleições nos EUA

·        Israel

Já há semanas Israel vem emitindo sinais de que irá desfechar uma grande ofensiva contra o Líbano, para destruir o Hezbollah. Isso seria altamente temerário, posto que o Hezbollah: passou as últimas duas décadas construindo uma rede de túneis e bunkers subterrâneos por todo o sul do Líbano; adquiriu vasta experiência de combate ao lutar por anos na guerra civil da Síria, e; acumulou um estoque estimado em cerca de 150 mil mísseis e foguetes apontados para Israel.

Para tornar tudo mais surreal, Israel vem anunciando abertamente que atacará o Líbano, ou seja, abrindo mão deliberadamente de qualquer elemento-surpresa, o qual seria absolutamente essencial para se atacar um inimigo fortemente entrincheirado. Os líderes israelenses vêm demonstrando imensa presunção (overconfidence) ao abordarem seus planos, algo que soa muito estranho.

A que conclusão a que se poderia chegar? A resposta é daquelas tão aterradoras que soa inverossímil: Israel estaria se preparando para empregar armas nucleares táticas contra o Líbano. Cabe lembrar que Israel não possui mais qualquer “freio” ético ou moral para suas ações, haja visto o que tem feito em Gaza.

·        Ataques “da Ucrânia” a território russo

As aspas aqui são devidas a não haver nenhum ataque “da Ucrânia” a território russo, somente ataques por parte da OTAN. A cada ataque, são satélites americanos que fornecem as coordenadas do alvo, as quais são programadas por instrutores (sic) da OTAN em armas igualmente ocidentais. A Ucrânia sequer fica tomando conhecimento dos alvos (para reduzir o risco de espionagem pelos russos, e porque não é necessário mesmo), ela apenas empresta a “cara”, para poder levar toda a culpa: é ucraniano somente o piloto que decola e solta o míssil em um ponto pré-determinado, ou o agente infiltrado em território russo que solta o drone.

Como o território russo é gigantesco, é absolutamente impossível as defesas antiaéreas do país cobri-lo integralmente, assim elas protegem apenas aqueles ativos mais importantes. Desta forma os ataques continuarão, e em muitos casos serão bem-sucedidos, especialmente contra a população civil, para procurar convencê-la de que Vladimir Putin é incompetente para protegê-la. Ontem mesmo (domingo 23 de junho, pela manhã), a OTAN…, ops, Ucrânia lançou uma bomba de fragmentação sobre uma multidão de banhistas em uma praia na Crimeia, matando cinco pessoas inclusive duas crianças e ferindo mais de uma centena, muitos gravemente.

Os americanos adorariam provocar uma guerra entre a Europa e a Rússia, fazendo dos europeus o seu novo proxy-bucha-de-canhão após o extermínio em combate da população masculina adulta da Ucrânia (afora aqueles que conseguiram escapar do país). Porém, algumas coisas os americanos não querem, de jeito nenhum: participar diretamente dessa guerra; que soldados americanos sejam atingidos (somente na base aérea de Rammstein na Alemanha há cerca de 40 mil deles), e; levar os russos a empregar armas nucleares táticas. Ou seja, eles querem mais uma guerra localizada, não a Terceira Guerra Mundial (nuclear) – vai gostar de andar na corda bamba assim lá na Ucrânia. Então, os americanos necessitam “dosar” os ataques da OT…, diacho, Ucrânia em território russo, de modo a não chegar ao ponto de obrigar os russos a uma retaliação que venha a cruzar algumas daquelas linhas vermelhas. E, ao mesmo tempo em que eles vêm dosando, eles esticam a corda para testar os limites da Rússia…

Os russos, por sua vez, até aqui não têm retaliado diretamente esses ataques, e muito provavelmente continuarão sem retaliá-los (a menos que a OTAN “pegue pesado” demais, por exemplo, atingindo alguma instalação nuclear, civil ou militar, dos russos). Afinal, a Rússia está vencendo a guerra na Ucrânia, assim ela não precisa morder a isca da escalada jogada pela OTAN. Isso não significa que os russos não estejam retaliando, eles estão, só que de forma indireta (por exemplo, fornecendo armamento de ponta aos inimigos do Ocidente, vide a recente visita de Vladimir Putin à Coreia do Norte; é de se ver também como o Kremlin reagirá à anunciada invasão por Israel do Líbano).

·        Desdolarização

No último dia 09 de junho expirou um acordo de 50 anos entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita para venda do petróleo saudita exclusivamente em dólares. Não há, e nem vai haver, confirmação oficial desta não-renovação por parte dos sauditas, assim a coisa passa como se não tivesse acontecido. Porém foi abalado um dos pilares da hegemonia do dólar no mundo.

De todo modo, o restante do mundo (fora Rússia e China) ainda não consegue desdolarizar as suas economias, porque lhes falta um sistema de pagamentos análogo ao SWIFT e, principalmente, porque ainda não existe uma moeda (que terá necessariamente que ser supranacional) alternativa ao dólar que se imponha como novo padrão de referência mundial.

China e Rússia vêm trabalhando muito duro nisso, e a ideia é que tanto o novo sistema de pagamentos quanto a nova moeda venham a ser adotados no âmbito dos BRICS – e as novas adesões de países ao grupo certamente trarão como critério a vontade política pelos novos países de embarcarem nessa empreitada (a propósito, não foi apenas a Argentina que declinou de sua adesão aos BRICS, a Arábia Saudita até o momento não confirmou o seu ingresso que deveria ter ocorrido a 01 de janeiro, deixando-o “em suspenso” – o jogo é bruto).

Será o sucesso dessa nova moeda que representará o prego final no caixão do dólar, e assim China e Rússia se cercarão de todos os cuidados (além de procurarem o melhor timing) para lançá-la.

·        Eleições nos EUA

Ainda é muito cedo para prever que “Donald Trump vai ganhar”, em especial porque o deep state (que banca Joe Biden) nunca larga o osso facilmente. Os americanos até já cunharam uma expressão, “october surprise”, para se referir a algum evento bombástico que acontece muito próximo da data das eleições (que são em novembro), como uma tentativa de última hora de virar o jogo junto ao eleitorado.

Até o momento, os rumores mais fortes para essa “surprise” falam de uma renúncia de Joe Biden ao cargo de presidente às vésperas da convenção nacional do partido democrata (em setembro, o que consistiria em uma “september surprise” rs). Kamala Harris seguraria a presidência até janeiro, um(a) outro(a) candidato(a) mais competitivo(a) seria ungido(a) na convenção (se for a própria Kamala só se os democratas estiverem muito desesperados), e Biden levaria sozinho para a aposentadoria (ou para o túmulo, se o deep state optar por algo mais dramático) as culpas americanas pela Ucrânia e por Gaza. A conferir.

De todo modo, o primeiro debate televisionado Joe Biden X Donald Trump será quinta-feira agora, dia 27/06, na CNN, e será decisivo para revelar a capacidade (ou incapacidade) de Biden vir a enfrentar Trump nas urnas. Será a prova de fogo para os planos para essa “surprise”.

 

Fonte: A Terra é Redonda

 

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