sexta-feira, 31 de maio de 2024

Indiciado por associação ao PCC se apresenta como presidente do PRTB e articula para partido de Marçal em SP

O Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) se tornou o primeiro partido em São Paulo a ter como presidente um indiciado por associação para o tráfico e organização criminosa. Justamente a maior e mais conhecida delas, o Primeiro Comando da Capital (PCC), que tem cada dia mais estreitado os laços com a política e o poder público. O partido, que na última sexta-feira anunciou o empresário e coach Pablo Marçal como pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, nomeou Tarcísio Escobar de Almeida no dia 18 de março deste ano para responder pela legenda em âmbito estadual. Três dias depois, ele foi desligado oficialmente. Apesar disso, Escobar continua a participar de encontros políticos nos quais ainda se apresenta como presidente da legenda, incluindo atos em sedes da legenda, e articula em nome do PRTB, firmando alianças da sigla em todo o Estado. Os dados foram levantados pelo Estadão junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Polícia Civil de São Paulo e Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

O indiciamento de Tarcísio Escobar pela polícia paulista ocorreu em julho de 2023. A investigação contra ele se iniciou após documentos que indicaram sua suposta relação com a quadrilha serem apreendidos com um criminoso preso em flagrante. A reportagem confirmou o indiciamento com integrantes da Polícia Civil, que reforçaram que outros desdobramentos do caso continuam em apuração.

Tarcísio Escobar não aparece na lista de filiados do partido e, segundo o sistema do TSE, está com o título eleitoral suspenso. Mesmo assim, continua figurando em vídeos e eventos públicos como líder paulista do PRTB, negociando adesão da legenda a pré-candidatos em cidades paulistas. Em alguns casos, os eventos acontecem nas sedes municipais do PRTB. Nesta quarta-feira, 29, ele publicou imagens na região de Rio Preto, com pré-candidatos de Olímpia e Catanduva.

Além do indiciamento por associação ao PCC e tráfico, Tarcísio Escobar também foi condenado em primeira instância por estelionato em Poá, na Grande São Paulo, e responde pelo mesmo crime em Barueri, também na região metropolitana (leia mais abaixo).

Ele foi colocado de maneira provisória no comando do partido em âmbito paulista depois de Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, assumir o comando da legenda na esfera nacional em fevereiro deste ano. Hoje, o presidente estadual da legenda em São Paulo registrado no TSE é Joaquim Pereira de Paulo Neto, que não foi encontrado para comentar sobre o caso.

Procurado, Leonardo Avalanche não explicou as razões de Tarcísio Escobar ter sido registrado como presidente e retirado formalmente da direção três dias depois. Sobre ele continuar articulando e se apresentando como presidente da legenda, Avalanche disse ter visto Escobar em alguns eventos, mas alegou não ter contato com ele. “Não, não fiquei ciente, desconheço isso (indiciamento de Escobar). Mas ele se apresenta como presidente? Ele não esta ativo no partido. Não tenho muito contato. Vi ele em alguns eventos, mas igual eu vejo (outros) em todos os Estados também. A gente não definiu um grupo e eu sou recente na direção”, argumentou ao Estadão.

Em nota depois da publicação da reportagem, o PRTB afirmou que Escobar não faz parte do diretório. “Informamos que o senhor Tarcísio Escobar não faz parte do diretório estadual do PRTB de São Paulo e, portanto, não possui legitimidade para falar em nome do partido. Embora tenha atuado na gestão anterior, ele foi mantido no posto provisoriamente por apenas três dias, enquanto ainda estávamos reformulando a nova equipe da atual direção. O doutor Joaquim Pereira de Paulo Neto o substituiu oficialmente desde então é o legítimo presidente do diretório estadual”, afirmaram.

Escobar e um advogado que figura em sua defesa em um processo criminal foram procurados, mas não atenderam a reportagem. Pablo Marçal foi procurado por meio de sua assessoria, que limitou-se a afirmar que a informação estava equivocada. Ao ser questionado novamente, não respondeu se sabia do indiciamento de Escobar. O PRTB estadual também foi procurado por meio do telefone que consta como do diretório no TSE. Contudo, as ligações não foram atendidas.

•        Escobar participou de articulações políticas

Uma semana depois de deixar oficialmente a presidência partidária, Tarcísio Escobar teve um encontro com o vice-prefeito de Santo André, Luiz Zacarias (PL), em São Paulo.

O vídeo do encontro, publicado por Zacarias no dia 27 de março no Instagram, contou com a presença do deputado federal Fernando Marangoni (União-SP), que apresenta Tarcísio Escobar como “presidente estadual do PRTB em São Paulo” e declara apoio ao pré-candidato de Santo André Zacarias.

Procurado na terça-feira, 28, para se manifestar, Zacarias disse que enviaria nota por meio de assessoria, o que não ocorreu até a publicação deste texto. Se for enviada, o Estadão atualizará a reportagem. Já Marangoni disse se sentir vítima e afirmou que o PRTB não participará mais da coligação.

“É com profunda indignação que tomo conhecimento das denúncias veiculadas ao senhor Tarcísio Escobar. Fui surpreendido pela imprensa com denúncias ao então presidente do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), contrárias aos valores e princípios que regem a minha trajetória política. Acreditei na seriedade e importância do PRTB, porém, diante dos fatos revelados, não podemos compactuar com tais condutas”, afirmou o parlamentar.

O parlamentar encaminhou o caso ao jurídico do União Brasil, ao qual é filiado. “É importante ressaltar que, tive um único encontro com então presidente Tarcísio Escobar, em março último, para tratar do apoio do PRTB para as pré-candidaturas que apoiamos. Foi uma conversa rápida, momento em que ele se apresentou e declarou apoio a um pré-candidato que estamos apoiando. Diante dos fatos, acionei o jurídico do União Brasil para que as medidas cabíveis sejam tomadas”, disse.

Por fim, Marangoni afirmou descontentamento com a situação do PRTB. “Reitero o meu desapontamento e repúdio e manifesto meu apoio integral a quaisquer investigações que visem esclarecer os fatos. Espero que este episódio sirva como alerta para a necessidade de maior transparência e integridade no cenário político, reafirmando nosso compromisso com a ética e o interesse público”, afirmou o deputado.

Em abril, Tarcísio Escobar participou do encontro do partido para declarar apoio ao pré-candidato Marcelo Lima (Podemos), em São Bernardo do Campo, também no ABC Paulista. Tarcísio Escobar aparece em fotos publicadas nas redes sociais do vereador Ivan Silva. Em uma das fotos, Lima aparece de mãos dadas com as lideranças do PRTB, incluindo Tarcísio Escobar e Leonardo Avalanche. Ao menos dois jornais locais apresentaram Tarcísio Escobar como presidente estadual do PRTB. O Estadão entrou em contato com Lima, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.

Ainda no mês de abril deste ano, Tarcísio Escobar deu entrevista ao portal Rede Cidade Live, de Guarulhos, na Grande São Paulo. A entrevista foi ao vivo e, em nenhum momento, Escobar negou ser dirigente da legenda no âmbito estadual, cargo com o qual foi apresentado. Encontros no interior de São Paulo também ocorreram.

Tarcísio Escobar registra alguns dos eventos em seu perfil do Instagram. Na página, inclusive, ele também se apresenta como presidente estadual do PRTB. Na última semana, participou de um evento e publicou fotos ao lado do prefeito de Ribeirão Pires, Guto Volpi (PL), que é pré-candidato ao mesmo cargo nas eleições deste ano.

Volpi afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que foi a um evento do PRTB municipal, constituído antes da chegada de Avalanche e Tarcísio nos âmbitos federal e estadual. Segundo ele, Tarcísio Escobar se apresentou no evento do partido, de fato, como presidente estadual do PRTB. O prefeito diz que não sabia dos problemas judiciais dele.

•        Ficha inclui processos por estelionato contra mulheres

Em outubro de 2023, segundo dados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Tarcísio Escobar foi condenado a um ano, dois meses e onze dias de reclusão por estelionato. A pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade e pagamento de multa no valor de um salário mínimo. Ele recorre junto ao TJ.

De acordo com os autos, a vítima, uma mulher, foi até uma agência do Bradesco com R$ 880 para realizar um depósito. Ao chegar na agência bancária, ela foi auxiliada por um rapaz, que seria Escobar, que efetuou a troca dos envelopes, segundo informações dos autos. No entanto, a vítima perceber a troca e solicitou a ajuda de algum funcionário do banco. Depois foram para a delegacia. O Bradesco cobriu o prejuízo da vítima. Ela também declarou que queria desistir da ação. No entanto, a Justiça entendeu que a vítima, de fato, era o banco.

“Tudo indica que (Tarcísio Escobar) possui personalidade voltada para a prática de crimes, visto que já foi processado por outros delitos, cujos processos permaneceram suspensos, haja vista sua não localização para ser citado”, disse a juíza Antonia Brasiliana de Paula Farath, da 2ª Vara Criminal de Poá, em trecho da sentença.

Na defesa, Tarcísio Escobar negou que tenha praticado crime de estelionato. Segundo ele, como consta no processo, foi interpelado pela vítima que solicitou ajuda para realizar um depósito, a orientou sobre como fazê-lo e depois saiu do estabelecimento. Ao sair da agência, disse ter sido detido por policiais militares.

Um outro processo, também com acusação de estelionato, corre em Barueri. De acordo com os autos, a acusação é igual a de Poá. Tarcísio Escobar teria fingido depositar um envelope com R$ 300 de uma mulher numa agência bancária do Banco do Brasil da cidade da Grande São Paulo. A ação ainda não foi julgada. Não consta defesa no processo.

•        Partido vive ‘guerra interna’ desde eleição de Avalanche

Opositores de Leonardo Avalanche, atual presidente nacional do PRTB, tentam tirá-lo da principal cadeira do partido desde sua eleição em fevereiro último. Há um pedido de abertura de investigação sob análise na Polícia Federal (PF), em Brasília, com acusações sob suposta compra de votos na disputa interna.

A ala de Avalanche apoia a pré-candidatura a prefeito de São Paulo de Marçal, que aparece com 10,4% de intenções de votos, segundo a pesquisa Atlas. Em um possível confronto entre integrantes do partido, em caso de vitória dos opositores nos tribunais, Marçal pode ficar sem legenda para disputar eleição mais uma vez. Em 2022, no PROS, Marçal enfrentou problemas internos entre dois grupos. Um defendia sua candidatura, enquanto o outro grupo não. Marçal teve a candidatura derrubada e não disputou a Presidência da República.

De acordo com os documentos protocolados por Adalmo Romildo Alves, há citação de que uma pessoa teria recebido proposta para votar a favor do atual grupo em troca de um carro Mercedes-Benz. Outros três teriam recebido dinheiro em espécie (R$ 300 mil).

“Neste sentido, requer-se apuração dos fatos para comprovar existência de fraude do processo licitatório, com entrega de dinheiro em espécie, oferecimento de veículo Mercedes, coação de integrantes do partido, lavagem de dinheiro, negociação de cargos do PRTB, constituição de organização criminosa”, cita o documento protocolado na PF pelo advogado Tulio Marcelo Denig Bandeira.

Sobre a situação, Avalanche disse que nunca enfrentou processo criminal e nem foi alvo de inquérito. Segundo ele, as acusações de compra de votos fazem parte de uma perseguição “justamente por nossa recusa em nos alinhar ou ceder aos corruptos e criminosos que desejam utilizar o partido para realizar negociatas indecentes e injustas”.

 

Fonte: Agencia Estado

 

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