sexta-feira, 31 de maio de 2024

Conferência em Berlim alerta sobre lado sombrio da IA

Aumento de padrões de discriminação e colonialismo de dados são alguns dos aspectos negativos desta tecnologia apontados por especialistas.A revolução da inteligência artificial (IA) tem um lado sombrio. Foi esse o aviso de defensores dos direitos digitais e de ativistas reunidos em Berlim para a última conferência tecnológica re:publica, que terminou nesta quarta-feira (29/05).

“Novos padrões de discriminação estão emergindo da IA e dos algoritmos”, afirmou Ferda Ataman, comissária federal independente para o combate à discriminação na Alemanha. Ela advertiu que a inteligência artificial, se não for controlada, pode exacerbar a discriminação, perpetuando os preconceitos existentes.

O recente crescimento da tecnologia de IA conduziu a avanços notáveis, desde formas inovadoras de diagnosticar e tratar o câncer a novos sistemas que permitem a qualquer pessoa, independentemente dos seus conhecimentos técnicos, criar imagens e vídeos a partir do zero.

No entanto, vários especialistas advertiram durante a conferência que as desvantagens da tecnologia são menos visíveis e que as comunidades vulneráveis à margem da sociedade e no Sul Global serão as primeiras a sofrer as consequências.

•        Vigilância por IA

A forma como a inteligência artificial está a ser utilizada para levar a vigilância a níveis sem precedentes ilustra bem esta situação, segundo Antonella Napolitano, analista de política tecnológica.

Em um relatório publicado no ano passado pela organização de direitos humanos EuroMed Rights, Napolitano argumentou que, como parte de uma tendência mais ampla para “externalizar” o controle das suas fronteiras externas, a União Europeia financia empresas que testam novas ferramentas de vigilância baseadas em IA em migrantes no Norte de África, cuja privacidade não é tão protegida como a dos cidadãos da UE.

“É mais fácil para as empresas testarem diferentes tecnologias nestas pessoas sem enfrentarem quaisquer consequências”, disse Napolitano à DW. “Mas as consequências são reais”, ressalta, acrescentando que a vigilância por meio da inteligência artificial pode empurrar os migrantes para caminhos migratórios mais perigosos.

•        “Colonialismo de dados”

Relatórios como este levaram alguns defensores dos direitos digitais a estabelecer paralelos com a história do colonialismo a partir do século 15, quando as potências europeias começaram a explorar grandes partes do mundo.

Outro aspeto deste novo “colonialismo de dados” é o fato de muitas empresas ocidentais terem se dirigido a locais no Sul Global para recolher dados, aponta Mercy Mutemi, uma advogada queniana especializada em direitos digitais. “A história está se repetindo”, destacou.

A maioria dos sistemas de IA de ponta de hoje depende de grandes quantidades de dados. Para atender a essa demanda, as empresas ocidentais estão extraindo dados de indivíduos em toda a África em grande escala, muitas vezes sem consentimento e com pouco ou nenhum benefício em troca, disse Mutemi. A advogada está envolvida em cerca de uma dúzia de casos em andamento que desafiam o papel das empresas de tecnologia ocidentais em seu país de origem.

É provável que esse fenômeno se intensifique nos próximos anos, à medida que a procura de dados por parte da tecnologia de IA continua a crescer, acrescentou.

Pegada de carbono

O ritmo alucinante do desenvolvimento da IA também suscita preocupações quanto ao seu impacto ambiental. O treinamento e a execução de modelos complexos de inteligência artificial requerem uma enorme capacidade de processamento nos centros de dados, o que implica em elevado consumo de energia, utilização de água e emissões de gases de efeito estufa.

Atualmente, os centros de dados já são responsáveis por mais de 2% do consumo global de eletricidade, de acordo com estimativas da Agência Internacional de Energia.

O desenvolvimento de ferramentas de IA que exigem muita energia aumentará ainda mais o consumo de energia, segundo o autor canadense e crítico de tecnologia Paris Marx.

Marx alertou para um “boom de centros de dados alimentados por IA” impulsionado pelos interesses comerciais de algumas empresas de tecnologia poderosas. “Tem havido um enorme investimento na construção de centros de dados em todo o mundo”, disse Marx na conferência.

 

•        ChatGPT, Gemini e Copilot: como usar o IA no trabalho?

Um relatório relatório conjunto da Microsoft e do LinkedIn sobre o estado da IA no trabalho, que contou com a participação de usuários da suíte Microsoft 365 em 31 países, revelou que 75% das pessoas já usam IA no trabalho. Destes, 46% começaram a usar em menos de 6 meses. A empresa também diz que 78% dos usuários de IA estão indo atrás de suas próprias ferramentas de IA para trabalhar, em vez de esperar que suas organizações forneçam as soluções.

Mas com tantos modelos e opções de IA disponíveis, especialmente após os anúncios recentes da Microsoft, Google e OpenAI, como saber que ferramentas usar no trabalho?

•        Como escolher uma IA no trabalho?

Existem muitas maneiras criativas de utilizar IA no trabalho, seja para agilizar processos e aumentar a produtividade, seja para obter inspirações que podem ajudá-lo a chegar a seus objetivos. O problema muitas vezes é saber qual ferramenta usar.

A solução mais comum é utilizar IAs como ChatGPT (da OpenAI), Gemini (do Google) e Copilot (da Microsoft) para a produção de textos, relatórios, postagens, traduções, e-mails e imagens. Dependendo da sua necessidade, contudo, você terá que procurar ferramentas específicas.

Os modelos também são capazes de resumir PDFs e destacar os pontos mais importantes de um texto, bastando que você solicite a eles, da forma mais detalhada possível. Quando integrado a outros serviços, como o Google Meet ou o Teams, são capazes também de gerar atas de reuniões e anotações de encontros.

É importante ressaltar que IAs são sujeitas à falha e podem “alucinar”, que é quando elas inventam dados ou fatos. Portanto, nunca deixe de revisar todas as informações presentes em um texto gerado por IA. Além disso, elas tendem a utilizar expressões pouco usuais e construir frases muito publicitárias. Dependendo do contexto, talvez seja bom reescrever alguns trechos. Você também sempre pode pedir à IA dar ao seu texto certos tons ou evitar algumas abordagens.

<><><> Confira algumas dicas gerais:

– Seja específico nos seus prompts. Quando mais específico você for, melhor a IA será capaz de entender o que você quer.

– Ajuste seus prompts caso o primeiro resultado não atenda às suas expectativas ou se achar que é possível obter uma resposta melhor.

– Use palavras-chave e frases relevantes ao seu tópico.

– Forneça exemplos e contextos para a IA entender melhor o que você está buscando.

•        Usando o ChatGPT

Ao utilizar a mais recente versão do GPT-4, que pode ser acessada gratuitamente pelo computador (a versão mobile exige uma assinatura mensal), você poderá adicionar arquivos do Google Drive ou OneDrive diretamente no chatbot, sem a necessidade de download. Além disso, a IA é capaz de interagir dinamicamente e em tempo real com tabelas, gráficos, textos e apresentações. A assinatura do ChatGPT Plus, que permite o uso integral do GPT-4 e outros recursos avançados, custa R$ 95,99 por mês.

Essa atualização dá ao ChatGPT a habilidade de entender conjuntos de dados e completar tarefas em linguagem natural. A ferramenta será capaz ainda de escrever e executar código Python por você, lidando com grandes conjuntos de dados e criando gráficos de forma autônoma.

Para usar o recurso quando ele for disponibilizado, na tela do chatbot, basta clicar no botão de anexar (um ícone de clipe metálico, localizado à esquerda na barra de prompt), selecionar “Conectar ao Google Drive” ou “Conectar ao Google Docs” e, após dar acesso do ChatGPT ao serviço desejado, selecionar o arquivo com o qual deseja trabalhar.

•        Usando o Gemini

Já o Gemini possui uma integração direta com o Google Workspace, ganhando recursos adicionais dentro de cada ferramenta, como Gmail, Google Docs, Apresentações, Planilhas e Meet. Para que eles apareçam, você precisa ter acesso ao serviço via assinatura do Google One AI Premium, no valor de R$ 96,99 por mês.

Entre as possibilidades estão assistente de escrita para e-mails e documentos, bastando clicar no botão “Me ajude a escrever”, disponível para os assinantes do serviço no Gmail e no Google Docs. O Gemini pode gerar planos de projetos, propostas, resumos, descrições de cargos e outros tipos de documentos.

No Google Planilhas, o botão “Me ajude a organizar” pode criar modelos personalizados de tabelas a partir de suas descrições. O Gemini classifica e rotula os dados em células, entendendo seu contexto. A IA é capaz de criar tabelas variáveis, incluindo cronogramas.

Já o botão “Crie uma imagem”, no Google Apresentações, pode te fornecer ilustrações ou mesmo fotografias realistas para suas apresentações, além de outros recursos visuais.

No Meet, é possível personalizar o fundo em chamadas de vídeo, melhorar a qualidade da imagem e do som, simular iluminação e ativar legendas e traduções automáticas, permitindo diálogo entre falantes de diferentes idiomas, mesmo que eles não falem suas línguas. Ainda é possível solicitar para que a IA faça anotações durante videochamadas e resumos dos principais tópicos abordados em reuniões.

O Google também está introduzindo o Vids, um aplicativo de edição e criação de vídeos integrado ao Workspace. Utilizando o Gemini, o Vids gera storyboards e apresentações a partir de descrições em texto e sugere imagens, clipes e músicas. O serviço oferece narrações pré-definidas, com diferentes tons e emoções de voz, e permite a criação de roteiros com IA.

•        Usando o Copilot

O Copilot, inteligência artificial da Microsoft, funciona integrado ao Windows 11, ao navegador Edge e à suíte de produtividade Microsoft 365. Contudo, a última opção não sai de graça: é preciso desembolsar R$ 2.142 por usuário ao ano, o que dá R$ 178,50 por mês. Além disso, você precisa de uma licença do Microsoft Teams à parte se quiser integrá-la à ferramenta de comunicação corporativa.

O Copilot para Microsoft 365 inclui integra a IA no Word, PowerPoint, Excel, Outlook, Teams, Loop, Edge for Business e outros aplicativos do Microsoft 365. Ao acessar a ferramenta, ela já te sugere uma série de prompts, incluindo resumo de reuniões realizadas no Teams ou dos últimos e-mails do Outlook. Assim, você consegue ficar por dentro das comunicações sem precisar passar por todas elas individualmente.

Integrado ao Teams, o sistema permite ficar por dentro de todas as necessidades da equipe e agilizar respostas aos colegas de trabalho, transitando rapidamente entre rascunhos gerados pela IA e a finalização de materiais nos aplicativos correspondentes, como Word ou Excel. Também é possível solicitar ao Copilot anotações durante reuniões e a consolidação da ata ao final dos encontros, com o sistema funcionando paralelamente e de forma autônoma na barra lateral enquanto a reunião acontece. Para otimizar o tempo de conversa durante uma chamada, a ferramenta ainda sugere o momento ideal de mudar de assunto e a criação, divisão e rastreamento de tarefas via Microsoft Planner.

Para empresas e desenvolvedores, a Microsoft possibilitará, com o uso da IA, a criação de funcionários virtuais que executam tarefas automaticamente. Dessa forma, o recurso Consegue monitorar caixas de entrada de e-mail e automatizar tarefas que costumam ser feitas manualmente.

 

Fonte: Revista Planeta

 

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