Mídia revela armadilhas da ajuda dos EUA à
Ucrânia: 'Kiev receberá muito pouco'
O projeto de lei de
ajuda dos EUA a Kiev, que está prestes a ser ratificado pelo presidente Joe
Biden, difere dos anteriores. Ao que tudo indica, os norte-americanos vão
alocar mais da metade do novo pacote para atender às suas próprias
necessidades, disseram os especialistas citados pela Al Jazeera.
O presidente ucraniano
Vladimir Zelensky avalia inadequadamente as perspectivas de mais ajuda dos EUA
a Kiev, disse o analista militar Yevgeny Semibratov à Al Jazeera.
"De acordo com o
analista militar, US$ 61 bilhões [cerca de R$ 314,3 bilhões] correspondem a uma
quantia bastante grande, mas os norte-americanos gastarão mais de metade deles
consigo próprios. Kiev receberá muito pouco do chamado pacote de ajuda e a
maior parte a crédito", indica a publicação.
De acordo com o
projeto de lei de assistência à Ucrânia, que avançou na última terça-feira (23)
no Senado dos EUA e está agora sendo encaminhado para o despacho do presidente
dos EUA, Joe Biden, dos US$ 61 bilhões planejados, mais de US$ 23 bilhões (aproximadamente
R$ 118,5 bilhões) vão ser usados para reconstruir o arsenal do país
norte-americano.
Segundo o artigo, a
julgar pelas peculiaridades do pacote, este "não é semelhante aos
anteriores", pois se baseia em um sistema de crédito, enquanto os recursos
projetados serão utilizados para necessidades específicas.
Bandeira nacional
russa no edifício administrativo na Praça do Kremlin de Moscou - Sputnik
Brasil, 1920, 24.04.2024
Panorama internacional
Rússia expandirá 'zona
tampão' da Ucrânia se Kiev obtiver mísseis de longo alcance, diz Kremlin
10:12
Para além do que já
foi mencionado, pelo menos US$ 11 bilhões (pelo menos R$ 56,7 bilhões) de todo
o montante da ajuda serão investidos no financiamento das operações militares
dos EUA em curso na região e cerca de US$ 7,85 bilhões (mais de R$ 40,4
bilhões) serão transferidos para apoio orçamentário direto a Kiev. Este último
exclui o pagamento de pensões, uma vez que se trata de um empréstimo e não de
um auxílio. Da mesma forma, quase US$ 14 bilhões (cerca de R$ 72,2 bilhões)
serão atribuídos à compra de armas e material militar para as Forças Armadas
ucranianas.
"Quase todo o
dinheiro que será nominalmente atribuído à Ucrânia permanecerá na economia dos
EUA e no complexo militar-industrial dos EUA", sublinhou o cientista
político Dmitry Kim sobre as cifras destinadas a Kiev.
Em suas palavras, os
principais beneficiários vão ser as empresas de armamento dos EUA, enquanto
"outro pacote de ajuda dos EUA à Ucrânia enviará dezenas de milhares de
ucranianos para um 'massacre' geopolítico irrefreável".
¨ Opositor ucraniano: Ocidente quer destruir civilização russa
para 'eliminar concorrente perigoso'
Segundo o líder do
partido ucraniano Plataforma de Oposição – Pela Vida, esta é mais uma das
tentativas históricas do Ocidente de eliminar seu adversário russo, que está
promovendo com sucesso um mundo multipolar.
O plano do Ocidente é
destruir a civilização russa para eliminar um concorrente perigoso, disse um
opositor ucraniano em declarações à Sputnik.
"As fronteiras
estratégicas da Rússia, como as de qualquer grande potência mundial, estão
muito além de seu território, e elas não se baseiam na força militar ou no
desejo de redesenhar o mapa político, mas nos princípios de igualdade,
benefício mútuo e parceria", disse Viktor Medvedchuk, líder do partido
ucraniano Plataforma de Oposição – Pela Vida, proibido na Ucrânia e presidente
do conselho do movimento Outra Ucrânia.
"Essa é a
essência da nova ordem internacional, que está gradualmente substituindo o
mundo unipolar", disse ele.
Segundo Medvedchuk, os
propagandistas ocidentais alegam uma "política invasiva" da Rússia e
argumentam que ela simplesmente não pode viver sem invadir seus vizinhos, e
que, portanto, deve ser destruída, desmembrada em pequenos Estados e forçada a
sair da "civilização", mas a situação real é exatamente o oposto.
"É exatamente o
plano do Ocidente destruir a verdadeira civilização russa, a fim de eliminar um
concorrente perigoso de seu caminho. Não é a primeira vez que a Rússia é
declarada um 'país bárbaro' para organizar a próxima cruzada, que lhe trará
'cultura e liberdade', mas, na verdade, os novos cruzados tentarão destruí-la
novamente, e a Rússia se levanta contra os próximos cruzados para mandá-los de
volta, para onde mandou seus ancestrais", escreve ele.
A Rússia sempre venceu
porque o objetivo de suas guerras era a justiça, acrescentou.
"Hoje, a justiça
consiste em desmantelar o ditame do Ocidente coletivo, para o qual já foram
criadas condições econômicas e políticas no mundo. E quanto mais o Ocidente se
envolver na guerra, mais ele perderá", acredita o opositor.
Viktor Medvedchuk
concluiu que quanto menos os ucranianos apoiarem a guerra, melhor será para
eles, e que se os cidadãos ucranianos se lembrarem da história real, eles
entenderão que são russos, e que são muito necessários para construir uma
Rússia nova e forte, que deseja criar um mundo justo para todos os países e
povos.
¨ Por que a Ucrânia pode estar combatendo grupo mercenário russo
no Sudão
Em setembro de 2023,
ocorreu um encontro inesperado em um local inusitado.
Quando o presidente da Ucrânia,
Volodymyr Zelensky, fez escala no aeroporto de Shannon, na Irlanda, voltando
sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova York, ele foi recebido pelo líder
sudanês, general Abdel Fattah al-Burhan.
Os dois líderes
discutiram questões de segurança internacional e "ameaças de grupos
ilegais financiados pela Rússia".
De acordo com o gabinete de Zelensky, a
reunião de alto nível em um aeroporto frequentemente utilizado para
reabastecimento em voos transatlânticos foi "não programada".
Mas acredita-se que
as forças especiais da Ucrânia tiveram
um papel fundamental para que ela acontecesse.
Naquele momento, o
Sudão estava paralisado por confrontos entre o Exército e uma força paramilitar
chamada Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
Os confrontos eram o
resultado direto de uma violenta luta pelo poder dentro da liderança militar do
país: de um lado, o general Abdel Fattah al-Burhan, que é chefe das Forças
Armadas e presidente do país; do outro, o seu antigo vice e líder da RSF, o general
Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti.
Milhares de pessoas
morreram no conflito e milhões tiveram de abandonar as suas casas ou fugir para
outros países. A economia do país sofreu um grande golpe.
Relatos sobre como e
por que a Ucrânia teria apoiado o governo sudanês durante estes confrontos
começaram a surgir recentemente.
De acordo com o
americano The Wall Street Journal, soldados ucranianos ajudaram o general
al-Burhan a fugir da capital Cartum em agosto de 2023, quando o seu
quartel-general foi cercado pela RSF.
Cerca de uma centena
de agentes das forças especiais da Ucrânia, liderados por um oficial de
inteligência conhecido apenas como Timur, chegaram ao Sudão após um telefonema
entre al-Burhan e Zelensky, informou o jornal.
De acordo com o WSJ, a
unidade ucraniana não só ajudou al-Burhan a fugir, mas também mudou a natureza
da guerra no Sudão, fornecendo equipamentos conhecidos como drones de visão em
primeira pessoa (FPV) e conduzindo ataques noturnos contra a RSF.
Em uma nota à BBC, a
inteligência ucraniana não confirmou nem negou relatos do envolvimento de Kiev
no Sudão, afirmando que "realiza as suas atividades em várias regiões
geográficas onde é necessário proteger os interesses nacionais ucranianos".
·
O que o grupo Wagner
faz no Sudão?
Em fevereiro, surgiu
um vídeo que supostamente mostrava agentes ucranianos no Sudão inspecionando um
veículo militar bombardeado com o corpo de um soldado russo morto no seu
interior.
O veículo carregava a
insígnia do grupo mercenário russo Wagner.
Em outra parte do
vídeo, militares ucranianos questionavam soldados russos capturados.
"Qual é o seu
objetivo aqui?", perguntava um oficial ucraniano.
"Derrubem o
governo local", respondia o soldado.
Não está claro quando
ou onde o vídeo foi gravado no Sudão e a BBC não conseguiu verificá-lo de forma
independente.
O grupo russo Wagner
já estava presente no Sudão muito antes do início dos confrontos entre o
exército sudanês e a RSF.
Os primeiros vídeos de
mercenários Wagner no Sudão datam de pelo menos 2017.
Foi noticiado na época
que mercenários russos estavam envolvidos no treinamento de soldados sudaneses
e supostamente ajudando as forças de segurança locais a reprimir os protestos.
Após a morte do seu
fundador, Yevgeny Prigozhin, em agosto de 2023, as unidades Wagner que operam
em África, incluindo o Sudão, ficaram sob o controle dos serviços especiais
russos.
Agora, os mercenários
do Wagner que apoiam a RSF parecem ser o principal alvo dos ucranianos no
Sudão, de acordo com Beverley Ochieng, analista da BBC Monitoring.
"Relatos que
surgiram sobre o que as unidades ucranianas estão fazendo [no Sudão] indicam
que eles estão mais concentrados em atingir a Rússia do que em dar apoio ao
exército sudanês na luta contra a RSF", disse ela.
O grupo Wagner foi
repetidamente acusado de crimes de guerra pelas autoridades ucranianas.
O chefe da
inteligência militar ucraniana, Kyrylo Budanov, sugeriu que alguns dos
mercenários estacionados no Sudão poderiam ter passado pela guerra na Ucrânia.
"Todos os
criminosos de guerra russos, que estiveram, estão ou estarão lutando contra a
Ucrânia, serão punidos em qualquer lugar do globo", disse ele.
A Ucrânia também está
tentando cortar o financiamento dos mercenários russos no Sudão, segundo Murad
Batal Shishani, do Remarks on Political Violence, um think tank com sede em
Londres.
"Hemedti tem sido
o maior aliado da Rússia na África, principalmente do grupo Wagner. Ele
controla o ouro, principal fonte de financiamento do Wagner", disse.
Em 2022, uma
reportagem da CNN disse que havia envolvimento russo na mineração e comércio de
ouro no Sudão e que os russos tinham enviado 16 voos carregados de ouro do
Sudão para a Síria.
Os planos para atingir
o ouro russo no Sudão foram confirmados ao WSJ por uma fonte da inteligência
militar ucraniana.
A derrota de Hemedti e
o fortalecimento das relações da Ucrânia com o Sudão também podem impedir os
planos russos de criar uma base militar em Porto Sudão, no Mar Vermelho.
·
'O inimigo do meu
inimigo é meu amigo'
Alguns analistas dizem
que o que está acontecendo no Sudão é uma "típica guerra por
procuração" – um conflito em que estão envolvidos países terceiros, cada
um perseguindo os seus próprios interesses.
"Hemedti é
apoiado pelos Emirados Árabes Unidos e pela Rússia, e al-Burhan está vencendo a
guerra de forma constante com o apoio das finanças sauditas e das forças
ucraniana"”, disse Glen Howard, antigo chefe da Fundação Jamestown, um
grupo de pesquisa baseado em Washington.
A Ucrânia também está
tentando construir uma imagem de um Estado capaz de ameaçar as posições russas
em qualquer lugar, segundo Nicholas A. Heras, do New Lines Institute, com sede
em Washington.
"O acordo entre
Zelensky e al-Burhan é um acordo do tipo 'inimigo do meu inimigo é meu
amigo'", disse ele.
"Funciona para a
Ucrânia como um meio de demonstrar à comunidade internacional que Zelensky irá
confrontar Putin a qualquer hora, em qualquer lugar, não apenas na
Europa", disse ele.
No entanto, a
capacidade ucraniana no Sudão é limitada devido à guerra com a Rússia, e Kiev
só pode fornecer ao seu aliado africano pequenas unidades de forças especiais.
Já a presença da
Rússia no Sudão é muito mais tangível.
"A Rússia tem
maiores capacidades expedicionárias no Sudão através do grupo Wagner, com
batalhões de combatentes apoiados por artilharia, sistemas de mísseis
superfície-superfície e abastecimento logístico às Forças de Apoio
Rápido", disse Heras.
Fonte: Sputnik Brasil/BBC
News Mundo
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