Empresas de agrotóxicos financiam ativistas
contrários à ocupação, denuncia MST
Empresas de
agrotóxicos financiam ativistas do Movimento Invasão Zero, contrário à ocupação
da Fazenda Coqueirinho, em São Mateus, norte do Estado. A denúncia é do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que organiza as mais de 200
famílias integrantes da ocupação, iniciada na última quarta-feira (17), como
parte da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
“Gelo Cariri, Nutrimax
e outras empresas do agronegócio que focam na venda de agrotóxicos na região”
têm levado funcionários, a maioria jovens, para rondar o acampamento, afirma o
MST, inclusive no episódio do dia 17 de abril, quando cercaram a entrada da
ocupação, com xingamentos aos trabalhadores sem terra. As ameaças e agressões
têm prosseguido, com “os mesmos carros passando bem devagar em volta do
acampamento, fazendo fotos e filmagens”, informa o núcleo de Comunicação do
MST/ES.
“Drones sobrevoando
cotidianamente, arremessos de rojões e bombas de fabricação caseira, vídeos
fazendo ameaças a integridade física das pessoas, xingamentos de diversas
formas, têm sido alguns dos ataques comuns que as famílias estão lidando no
acampamento”, relata. Das três bombas, ao menos um artefato foi localizado
pelos trabalhadores e denunciado à Polícia por meio de Boletim de Ocorrência
(BO). A partir da denúncia, o Esquadrão Antibombas foi enviado ao acampamento
“para desarmar e fazer a retirada da bomba”, informa.
Além das empresas de
agrotóxicos, o Invasão Zero também tem participação forte de políticos da
extrema direita que são financiados pelo agronegócio, como Lucas Polese (PL) e
Evair de Melo (PP), que inflamam discursos de ódio em suas redes sociais, em
que criminalizam a luta pela reforma agrária, prática que “coloca em risco a
integridade física de famílias inteiras, com adultos, crianças, adolescentes e
idosos, que já estão em vulnerabilidade social e sofrem com a falta de direitos
básicos como trabalho digno e moradia, dentre outras”, alerta.
• Passivos sociais, trabalhistas e
ambientais
Segundo investigações
do MST e acompanhadas por mandatos que apoiam a luta pela justiça fundiária e
os direitos humanos, como das deputadas estaduais Iriny Lopes (PT) e Camila
Valadão (Psol), Coqueirinho se enquadra nos critérios federais para desapropriação
e destinação à reforma agrária.
“Desde os anos 2000, a
área está abandonada, ela já foi sede de uma fábrica de farinha de mandioca
chamada Inquinor, que funcionou por poucos anos e foi desativada, sendo assim a
área não se enquadra como produtiva, tem problemas com a Justiça do Trabalho
por negar direitos trabalhistas e ter trabalho análogo a escravidão, além da
contaminação ambiental, sendo passiva de reforma agrária conforme prevê a
legislação”, elenca o MST.
A organização informa
que o perfil dos acampados na Coqueirinho tem predomínio de pessoas do norte e
noroeste do Estado, principalmente de São Mateus, Nova Venécia, Jaguaré,
Ecoporanga e Barra de São Francisco. “Grande parte já tem vínculo com o
trabalho agropecuário, sendo filhos de assentados e demais pequenos
agricultores da região, outros, moradores urbanos que desejam viver e trabalhar
com a terra e que buscam na reforma agrária a oportunidade de trabalho e vida
digna para a família”, acrescenta.
• Judicialização
As liminares de
reintegração de posse e interdito proibitório, concedidas pela justiça de São
Mateus à empresa Apal Agropecuária Aliança, são questionadas pelo MST, que
aguarda julgamento do recurso judicial.
Estudo identifica pelo menos três mortes
ao ano provocadas por agrotóxicos em Goiás. Por Nanci Pittelkow
Um grupo de sete
pesquisadores da Universidade de Rio Verde, em Goiás, analisou dados do
Ministério da Saúde entre 2012 e 2022 e localizou 2.938 notificações de
intoxicação por agrotóxicos. A média anual é de 267,09 casos, com taxa de
letalidade de 1,46%. Ou seja, 33 óbitos no período, pelo menos três mortes ao
ano.
Entre as intoxicações
que aconteceram de forma crônica houve risco do desenvolvimento de neoplasias
(tumores benignos ou malignos), “visto que a exposição a esses agentes de forma
constante acaba gerando alterações no DNA”. Foram doze notificações desse tipo.
A intoxicação por
agrotóxicos também está relacionada a tentativas de suicídio, somando 741
casos, ou 25,22%, alguns levando a óbito. Dos casos notificados, 2.444 estão
relacionados a intoxicações de forma aguda única e 236 aconteceram de forma
repetida. Do total, 43 apresentaram sequelas.
As intoxicações agudas
provocam geralmente fraqueza, cólica abdominal, cefaleia, vertigem, vômito,
convulsão, insuficiência respiratória. As crônicas, que se manifestam após
longos anos de exposição, causam alterações celulares patológicas como
arritmias cardíacas, lesões renais, pneumáticas, alergias, neurotoxicidade,
neoplasias, lesões hepáticas, dermatites de contato.
CHUVA DE VENENO EM
ESCOLA ATINGIU CENTENA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Os dados mostram que
Goiás é o sétimo estado com maior número de casos de intoxicação por
agrotóxico, atrás de Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo,
Paraná e Rio Grande do Sul. O levantamento foi feito por meio do Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Departamento de Informática do
Sistema Único de Saúde (Datasus), e podem não incluir todas as ocorrências.
No sudoeste de Goiás,
onde fica Rio Verde, foram registrados 681 casos, seguidos do entorno de
Brasília (519) e a região de Goiânia (333).
O estado registra um
dos casos mais conhecidos de intoxicação por agrotóxicos, quando, em 3 de maio
de 2013, um avião de pulverização despejou o pesticida Engeo Pleno sobre a
Escola Municipal Rural São José do Pontal, no Projeto de Assentamento Pontal dos
Buritis, no município de Rio Verde. Foram atingidas 122 pessoas, principalmente
crianças e adolescentes. Muitas ficaram com sequelas. O documentário “Brincando
na Chuva de Veneno: Cinco anos depois“, de 2018, mostra histórias como a do
assentado Wagner Mendes Vieira, cujo filho passou a ter ataques epiléticos e
desmaios frequentes após o ataque.
Em 7 de maio de 2021,
47 pessoas intoxicadas precisaram ser atendidas depois de uma pulverização de
agrotóxicos em Bela Vista de Goiás. A região, antes ligada a pequenos
produtores e agricultura camponesa, assiste ao avanço da soja.
METADE DOS CASOS TEM
RELAÇÃO DIRETA COM O AGRONEGÓCIO
No estudo da
Universidade de Rio Verde, o maior número de atingidos é do sexo masculino,
71,91%, sendo que 51,56% tinham entre 20 e 39 anos (51,56%). O perfil condiz
com o de trabalhadores do agronegócio. Segundo a pesquisa, as áreas com maior
incidência de intoxicações coincidem com as de maior atividade do agronegócio.
No sudoeste de Goiás, uma das áreas com maior número de casos, é predominante o
cultivo de soja e milho e a cana avança.
Outra evidência da
ligação com o agronegócio é o fato de 50,71% das intoxicações ocorrerem por
exposição ao trabalho, seja na manejo de agrotóxicos ou na atividade agrícola,
durante a colheita, pulverização ou tratamento de sementes. O maior número de
casos ocorreu em março e novembro, meses que correspondem à safra em Goiás. Em
8% dos casos, os atingidos já tinham vivenciado uma intoxicação agrícola.
A pesquisa da
Universidade de Rio Verde, publicada em janeiro na revista digital acadêmica
Peer Review, considera que os agrotóxicos, “por seu potencial para o
adoecimento humano, animal e contaminação ambiental, seu uso intensivo e
indiscriminado é considerado problema de saúde pública”. Entre os pontos de
atenção destacados está a “política de fomento” pelo baixo custo de registro de
produtos na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de R$ 180,00 a
R$ 1.800,00, e isenções fiscais na maioria dos estados.
Os pesquisadores
ressaltam a escalada de liberações: de 2005 a 2015, a média de novos registros
de agrotóxicos por ano ficou em 140,5. A partir de 2016, no governo Temer, o
número cresceu para 277. Com Bolsonaro, em 2019, atingiu 474 novos registros.
Ao todo, durante os quatro anos de governo Bolsonaro, foram liberados 2.182
agrotóxicos, uma média de 546 por ano, segundo dados da Coordenação-Geral de
Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Os pesquisadores
concluem que é necessária “a implementação de ações de promoção e prevenção à
saúde do trabalhador”. Eles apontam a falta de normas que “priorizem a
segurança dos trabalhadores agrícolas”, além da “ausência de medidas rigorosas
para obtenção desses produtos”.
SÉRIE “BRASIL SEM
VENENO” APRESENTOU PERSEGUIÇÕES E RESISTÊNCIA
sofreu perseguição por
pesquisar agrotóxicos. (Imagem: Denise Matsumoto)
Em 2022, o De Olho nos
Ruralistas, em parceria com O Joio e o Trigo, identificou 542 iniciativas de
resistência aos agrotóxicos pelo Brasil, incluindo aquelas de movimentos
sociais e da sociedade civil, acadêmicas, educativas e comunicacionais,
institucionais e legislativas.
A série Brasil sem
Veneno contou ainda com uma reportagem mostrando um mapa do corpo humano e os
impactos à saúde causados pelos pesticidas. Foram entrevistados seis
pesquisadores e cientistas perseguidos após revelarem impactos ambientais,
sociais e de saúde provocados pelos agrotóxicos.
Candidatos das
eleições de 2022 que assumiram compromissos contra o uso indiscriminados de
agrotóxicos foram destaque em reportagem, e também em um dos episódios do
programa De Olho na Resistência.
Fonte: Século Diário/De Olho nos Ruralistas
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