quarta-feira, 3 de abril de 2024

Defesa: Brasil é 'vítima de bloqueio de tecnologia' por parte dos EUA, diz Ministério da Ciência

Em fala à Sputnik Brasil, o secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luis Manuel Rebelo Fernandes, destacou como nações ao redor do mundo, em especial os Estados Unidos, têm impedido o Brasil de se desenvolver tecnologicamente.

Em discurso durante a LAAD Security & Defence 2024, maior feira de segurança e defesa da América Latina, Fernandes afirmou que o Brasil "quer manter uma relação plural com o mundo", mas também é, infelizmente, "vítima de bloqueio de tecnologia ou de cerceamento de tecnologia".

No discurso, realizado na cerimônia de abertura da feira, nesta terça-feira (2), o secretário-executivo também destacou como o binômio segurança-defesa pode ampliar a capacidade científica do Brasil.

Com representantes do governo federal, o evento tem 50 delegações de 35 países e mais de 650 expositores, como Embraer, Imbel, Amazul, Condor, CBC, Taurus, Leonardo, EDGE, FORD, MKU, MacJee e Flash.

·        EUA são caso mais emblemático

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Fernandes detalhou sua fala. "Há múltiplas práticas de cerceamento tecnológico no mundo" e "há estudos que têm identificado a origem dessas ações de cerceamento".

"Predominam, nas ações de cerceamento dirigidas ao Brasil, ações restritivas vindas dos Estados Unidos."

Assim é o caso, afirma Fernandes, pois os EUA são um parceiro econômico de longa data, o que lhes dá mais oportunidades para limitar o desenvolvimento tecnológico brasileiro, e também porque, com o passar do tempo, "têm intensificado mecanismos de intervenção em relações econômicas e comerciais por conta de interesses geopolíticos".

"Talvez o caso mais exemplar seja o programa de enriquecimento do urânio, o nosso programa nuclear, que por pressão dos Estados Unidos foi bloqueada uma transferência de tecnologia da Alemanha."

Com o conflito na Ucrânia, afirma o secretário, ficou evidente a escalada dessas ações por parte dos EUA, como a exclusão da Rússia do SWIFT, sistema de pagamentos internacional. "São múltiplas ações de restrição que têm nos atingido em várias áreas de desenvolvimento de tecnologias, tanto para a defesa quanto para a segurança."

Ainda assim, afirma Fernandes, o Brasil tem interesse em "manter relações amplas e diversas com todos" e não quer ter "um alinhamento automático com nenhum polo dos que estão em formação no mundo". "Mas também isso não isenta o país de ser alvo desse tipo de ação restritiva."

Para combater essas ações, o governo federal está desenvolvendo um "conjunto de programas para investir em capacidade científica e tecnológica nacional […]".

Em um primeiro momento, Fernandes já anunciou um programa de financiamento de R$ 500 milhões, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), para autonomia tecnológica na área de defesa.

¨      Avibras anuncia estar perto de ser comprada por empresa australiana; sindicato alerta à 'soberania'

Com salários atrasados, greves e dívidas na casa de R$ 600 milhões, a fabricante brasileira de mísseis, Avibras, entrou com pedido de recuperação judicial em 2022. Ao que tudo indica, uma companhia australiana comprará a fabricante.

Nesta terça-feira (2), a Avibras anunciou que a empresa australiana DefendTex está em negociação avançada com a companhia de mísseis.

"A Avibras Indústria Aeroespacial e a DefendTex comunicam que vêm mantendo tratativas avançadas para viabilizar um potencial investimento que visa a recuperação econômico-financeira da Avibras, de forma a manter suas unidades fabris no Brasil, retomar as operações o mais breve possível e manter o fornecimento previsto nos contratos com o governo brasileiro e demais clientes", diz uma nota da empresa brasileira divulgada hoje (2).

O comunicado ainda afirma que as duas companhias estão empenhadas "para finalizar os termos e condições específicas do investimento e manterão o mercado informado".

No entanto, as tratativas não foram comemoradas por alguns setores e sindicatos.

O Sindicato dos Metalúrgicos informou que é contra a venda da Avibras e que considera a negociação um "ataque à soberania nacional".

A associação que representa a categoria disse ainda que seguirá mobilizando os metalúrgicos pela regularização dos salários (que estão atrasados há 11 meses) e pela "estatização da Avibras".

"Caso a transação se consuma, o novo grupo assumirá a Avibras diante de uma mobilização histórica em curso, com luta por empregos e direitos e greve contra o atraso nos salários. Independentemente da mudança na direção da empresa, o sindicato seguirá mobilizando os metalúrgicos pela completa regularização da situação, bem como pela estatização da Avibras sob controle dos trabalhadores", afirmou o sindicato em um comunicado.

Fundada em 1961 por um grupo de engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), a Avibras é uma das pioneiras no Brasil em construção de aeronaves, programas de pesquisa espacial e desenvolvimento e fabricação de veículos especiais para fins civis e militares. Localizada em Jacareí, no Vale do Paraíba, faz parte do principal centro de tecnologia aeroespacial do país.

A empresa participa do Programa Espacial Brasileiro, com fabricação de motores para foguetes. Além disso, com a injeção de dinheiro público, desenvolveu capacidade de produção de armamentos e equipamentos bélicos, como mísseis, lançadores de foguetes, veículos blindados, bombas inteligentes, sistemas de comunicação por satélite e drones.

Por seu histórico, é considerada estratégica às aspirações de uma nação que quer ser soberana, recordou o Sindicato dos Metalúrgicos.

A crise na Avibras se arrasta há alguns anos. Em 18 de março de 2022, a empresa demitiu cerca de 400 trabalhadores na fábrica em Jacareí.

Na época, o Sindicato dos Metalúrgicos informou que não houve nenhum comunicado prévio ou tentativa de negociação sobre medidas para evitar as demissões, como adoção de um layoff, por exemplo.

A fábrica alegou que teve de adotar "ações de reestruturação organizacional da empresa, mantendo as atividades essenciais para o cumprimento dos compromissos contratuais assumidos junto aos seus clientes". Ao mesmo tempo em que fez o corte, pediu à Justiça a recuperação judicial alegando dívida de R$ 600 milhões.

 

Ø  'Estamos marcando um gol de bicicleta no RJ', diz Lula em inauguração de sede do IMPA Tech

 

Em sua décima agenda no estado do Rio de Janeiro em apenas dois meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou com ministros e o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PSD), nesta terça-feira (2), do lançamento da sede do IMPA Tech, primeiro curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).

Cumprindo a promessa de reforçar os compromissos com lideranças políticas em todo o Brasil, o presidente Lula participa de uma extensa agenda de compromissos no Rio. Durante a manhã, Lula esteve na Zona Portuária da capital para inaugurar o primeiro curso de graduação do IMPA, que vai atender 400 alunos da rede pública do país, além de oferecer bolsa e moradia aos estudantes no entorno da estrutura.

Junto com ministros e uma turma de cerca de 50 alunos da instituição, Lula ressaltou a importância do investimento em educação no país. Durante discurso, o presidente disse que criou, ainda no fim do seu primeiro mandato, a Olimpíada Brasileira de Matemática.

"E eu ouvi centenas de argumentos que me diziam que aluno de escola pública não ia fazer a olimpíada da matemática, não teria um interesse. E eu resolvi aceitar o desafio da professora Sônia Cruz, que na época era a coordenadora do IMPA e […] começava a criar o grupo da olimpíada da matemática, e fizemos a primeira inscrição em escola pública em 2005, quando se apresentaram 10 milhões de estudantes. Então estava desmistificada a ideia de que as crianças da escola pública não iriam participar da olimpíada. Em 2007, se inscreveram 18 milhões de crianças. E hoje nós temos a maior olimpíada de matemática do mundo", afirmou.

Lula ainda destacou a necessidade de criar estruturas para que o país tenha uma mão de obra de qualidade e, com isso, ajude a mudar a vida da população.

"É por isso que eu sou fanático por educação. Não é admissível que o presidente da República ou o Governo do Estado veja no jornal a matéria em que 480 mil crianças desistiram do ensino médio porque tinham que ajudar no orçamento familiar. Porque se essa criança parar de estudar, qual será o destino dela? Onde ela vai se empregar?", questionou.

Para o presidente, nunca houve um momento na história em que o negacionismo e a disseminação de informações falsas estiveram tão fortes como atualmente. "Então, se a gente não investir na educação, a gente está dando de graça para os negacionistas, para o crime organizado os nossos filhos. Então tem que ter um caminho", afirmou.

Conforme o petista, entre 1909 e 2003 o Brasil contava com apenas 140 escolas técnicas, número que em pouco mais de 20 anos saltou para 782, com a promessa de chegar a mil nos próximos anos.

"Não é motivo de orgulho que um país do tamanho do Brasil tenha menos estudantes na universidade proporcionalmente do que o Chile. Não é motivo de orgulho que o nosso país tenha proporcionalmente menos estudantes na universidade do que a Argentina. Não é motivo de orgulho a gente saber que a Argentina, em 1918, havia feito a sua primeira reforma universitária, e que o Brasil não tinha a sua primeira universidade", frisou.

Tudo isso, aponta Lula, mostra o atraso brasileiro no setor da educação e a dimensão do desafio.

"Durante muitas décadas e muitos séculos, a elite que dirigia esse país não imaginava que filho de pobre tinha que estudar, já mandava os seus para Madri, Londres. E nós queremos que o nosso jovem estude aqui, seja um mestre aqui, seja um doutor aqui, seja um senhor aqui, porque o Brasil definitivamente quer deixar de ser um país pobre."

·        Gol de bicicleta

Conhecido por suas analogias esportivas, Lula comparou a cerimônia de inauguração da nova estrutura a uma das jogadas mais admiradas do futebol, o gol de bicicleta, criada por Leônidas da Silva.

"Vocês sabem que o gol mais bonito de futebol é o gol de bicicleta. O gol de bicicleta nunca fica feio. Em qualquer época que marcam o gol de bicicleta, ele é o mais bonito do jogo. E a bicicleta passou a ser o gol sempre mais importante."

"Por isso hoje nós estamos marcando umo gol de bicicleta no Rio de Janeiro", disse o presidente.

·        Discurso que usou inteligência artificial

Já o prefeito Eduardo Paes, que abriu a cerimônia, leu um discurso sobre a importância da obra no Porto Maravilha, novo setor de desenvolvimento do Rio que tem recebido vários investimentos públicos e privados no último ano, feito por inteligência artificial. A ideia era ressaltar a importância da tecnologia e da necessidade de capacitação dos jovens brasileiros.

"Portanto, agradeço à inteligência artificial e à minha inteligência nessa parte do discurso que eu acabei de ler, para que a gente tenha clareza e compreensão do que nós estamos fazendo aqui neste momento, da importância desses jovens representados aqui", afirmou.

Em mais um afago a Lula, o prefeito lembrou da importância que a capital fluminense tem recebido ao longo da gestão federal.

"O Rio de Janeiro também é conhecido de muitas formas. Somos a Cidade Maravilhosa, já fomos capital da Colônia, do Império e da República. Neste ano somos a capital do G20, queremos nos tornar também a capital da inovação da América Latina. Isso que a gente tem aqui hoje começou lá atrás, na derrubada da Perimetral [antigo elevado da Zona Portuária do Rio], e o governo federal, até com o presidente Lula, estava ao nosso lado. Essa é a grande diferença de ter um presidente forte pelo Rio e que ama o Rio de Janeiro".

Já durante a tarde, o presidente Lula segue para Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, para acompanhar o início das obras de dragagem do canal de São Lourenço, na baía de Guanabara.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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