Crise do clima pode derrubar renda global
em 19% até 2050; Brasil é um dos mais afetados
Um estudo que cruzou
informações sobre economia local em populações do mundo todo com dados climáticos
nos últimos 40 anos gerou uma simulação para os próximos 25 anos para saber
como cada canto do planeta vai reagir ao aquecimento global. Se nada
for feito contra as emissões de CO2, a renda global deve cair 19%.
O trabalho, realizado
por economistas alemães, fez uma simulação com detalhamento regional inédito
para investigar a questão, avaliando mais de 1600 unidades subnacionais no
mundo. A precisão do estudo criou um modelo para entender o impacto econômico
da crise do clima em estados, províncias e outros tipos de divisão que países
adotam para seus territórios.
O Brasil aparece como
um dos países mais afetados na simulação. Todos os 27 estados brasileiros devem
sofrer queda na renda média por problemas desencadeados pelo clima, mas alguns
terão mais dificuldades do que outros.
As regiões do Norte e
do Centro-Oeste, que abrigam a maior parte dos biomas da Amazônia e do Cerrado,
devem ser mais impactadas, com quedas de renda média superiores a 25%. Outras
regiões ficariam na faixa de impacto entre 10% e 20%.
O artigo dos
pesquisadores que fizeram a simulação, publicado pela revista Nature, destaca
um mapa global mostrando como esse fenômeno deve impactar o planeta de forma
desigual. Os problemas mais graves devem ocorrer no interior da América do Sul,
no Sahel africano, na Península Arábica e em alguns focos da Ásia Central e da
África Subsaariana.
Países desenvolvidos,
incluindo quase toda a Europa e o Sul também serão afetados, mas menos que as
nações mais pobres em média. Só os poucos habitantes que vivem hoje no Ártico é
que não devem ter a renda perturbada pela crise do clima, sugere o modelo. Como
muitas das regiões apontadas como foco do problema já possuem renda média
pequena, a crise do clima deve acentuar as desigualdades regionais no mundo,
dizem os cientistas.
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US$ 38 trilhões
Em volume total a
simulação indica que o planeta pode perder US$ 38 trilhões por ano em média até
2050, se as emissões de gases do efeito estufa continuarem desenfreadas. A
margem de erro é larga (de US$ 19 trilhões a US$ 59 trilhões), mas mesmo na
margem inferior o impacto é significativo.
Os impactos na renda
se manifestam na forma de problemas como redução de produtividade na
agricultura, limitações de saúde dos trabalhadores e danos à infraestrutura por
eventos climáticos extremos. Os cálculos de danos foram modelados
principalmente em função de alterações de temperatura, dizem os cientistas, o
que torna o estudo conservador. A perda deve ser até 50% maior se forem
consideradas outras variáveis como chuva/seca e elevação do nível do mar.
Os danos, afirmam os
cientistas, são muito menores que os custos de investimento estimados para o
planeta fazer a transição dos combustíveis fósseis para a energia renovável. Já
se sabia que isso era verdade em termos globais, mas agora o estudo mostra que
essa lógica é válida em termos locais, para praticamente todos os cantos
habitados do planeta.
— Esses danos de curto
prazo são resultado de nossas emissões passadas. Precisaremos de mais medidas
de adaptação se quisermos evitar pelo menos alguns deles. E temos de reduzir as
nossas emissões de forma drástica e imediata para que as perdas econômicas não
fiquem ainda maiores na segunda metade do século, subindo até 60% na média
global até 2100 — disse em comunicado Leonie Wenz, vice-chefe do Instituto de
Potsdam para Pesquisa em Impacto Climático que liderou o estudo.
O trabalho mostra que
a perda de renda impulsionada pela crise do clima é da ordem de seis vezes
maior do que o custo de fazer a transição energética até o meio do século para
frear o aumento da temperatura em 2,0°C, o limiar menos ambicioso do objetivo do
Acordo de Paris para o clima.
— Isso mostra
claramente que proteger o nosso clima é muito importante, e mais barato do que
deixar de fazê-lo, mesmo sem considerar os impactos não-econômicos, como a
perda de vidas e de biodiversidade — afirma a pesquisadora.
A questão da
desigualdade destacada pelo estudo também é preocupante, dizem os cientistas.
— Haverá impacto em
quase todo canto, mas os países tropicais serão os que mais sofrerão porque já
estão mais quentes. Mais aumento de temperatura será, portanto, mais
prejudicial — afirma Anders Levermann, outro coautor do estudo. — Os países
menos responsáveis pela mudança climática deverão sofrer perdas de renda 60%
superiores às dos países de alta renda e 40% superiores às dos países que são
os maiores emissores.
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Bancos "acordam" para impacto do
clima nos negócios e tentam driblar perdas
Incidentes como
a chuva que inundou Dubai no
início da semana vêm mostrando que os efeitos extremos do clima são
imprevisíveis, e podem ter impactos cada vez maiores sobre comunidades,
empresas e países. Ciente disso, o mercado financeiro dá sinais de que entendeu
que precisa acelerar seu entendimento sobre os novos riscos do século 21 se não
quiser perder dinheiro.
Totens do sistema
financeiro, como JP Morgan, Bank of America e Citi, revelaram um pouco de suas
estratégias e também a preocupação que começa a tomar forma em Wall Street, uma
vez que o mercado passa a reconhecer cada vez mais que desastres climáticos têm
o potencial de causar um efeito dominó de falências e empréstimo não pagos, por
exemplo.
Reportagem da agência Bloomberg traz informações sobre os bastidores do JP Morgan,
que está formando times dedicados a avaliar a carteira de clientes do banco sob
essa nova perspectiva de risco, contratando modeladores de catástrofes que
possam estimar o impacto potencial de eventos climáticos severos sobre seus
credores.
Em dezembro, analistas
da BloombergNEF, braço de pesquisa estratégica do grupo de comunicação
americano, publicaram um relatório afirmando que o impacto nas empresas de
eventos climáticos extremos pode variar desde uma redução nas receitas até à
falência. O mais alarmante é a quantidade de companhias caminhando no escuro:
65% das mais de 2.000 empresas analisadas não conseguiram identificar áreas das
suas operações que podem ser vulneráveis a riscos físicos, e ainda menos
empresas realizam avaliações financeiras de riscos relacionados com o clima.
“Estes eventos estão
acontecendo cada vez com mais frequência e, por isso, precisamos de
conhecimento, para estarmos conscientes dos riscos”, afirmou Gianluca
Cantalupi, chefe de clima, natureza e risco social do JPMorgan Chase & Co.,
em entrevista à Bloomberg. “Preciso conhecer os riscos físicos que o banco pode
enfrentar ao tomar decisões de empréstimo: uma empresa de semicondutores
enfrentará estresse hídrico? A exploração madeireira em certas províncias
causará deslizamentos de terra que destroem fábricas ou outras
infra-estruturas?”, exemplificou o executivo.
O Citigroup afirmou no mês passado que as consequencias físicas da mudança climática podem
impactar crédito, liquidez e riscos operacionais. Para avaliar a exposição das
suas operações de crédito aos riscos climáticos, o banco introduziu o que chama
de “Mapa de Calor do Risco Climático", que mostra as áreas de negócio com
maiores riscos físicos e de transição.
De acordo com o grupo,
a sua carteira de empréstimos para a produção de petróleo e gás, no valor de
US$ 15,8 bilhões, tem uma pontuação de risco de transição de 4, a mais elevada,
e uma pontuação de risco físico de 3. Os setores com as pontuações de risco
físico mais elevadas são os semicondutores e portos.
Para Andrew Karp,
chefe global do grupo de soluções bancárias sustentáveis do Bank of America, o
alarme vem soando especialmente nos últimos seis meses, um indicativo de quão
recente pode ser o despertar do mercado financeiro para a questão climática. “Há
uma preocupação crescente com o aumento dos custos e, em alguns casos, com a
redução da disponibilidade de seguros e o que isso diz sobre como o risco
climático irá se manifestar em riscos financeiros.”
Fonte: Um só Planeta
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