quarta-feira, 3 de abril de 2024

Crianças no Brasil estão 1 cm mais altas e mais obesas, revela estudo

As crianças no Brasil estão mais altas, porém mais obesas, segundo pesquisa que analisou dados de mais de 5 milhões de crianças de 3 a 10 anos. O resultado foi publicado na semana passada na The Lancet Regional Health - Americas, revista que é referência na área de saúde.

O estudo mostrou que houve aumento de 1 centímetro na trajetória da altura infantil nessa faixa etária e maior prevalência de obesidade e excesso de peso entre as crianças. (Entenda mais abaixo.)

•        Como foi feita a pesquisa?

A pesquisa foi feita por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimento para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a University College London (no Reino Unido).

Segundo a Fiocruz, o estudo é o primeiro a analisar o peso e a altura de crianças em uma trajetória de tempo e com um grupo tão extenso.

Os resultados, de acordo com a instituição, serão importantes para a tomada de decisão nas ações do poder público na atenção à infância.

No estudo, foi incluída uma população de 5.750.214 crianças, de 3 a 10 anos, nascidas entre 2001 e 2014 -- uma linha histórica de 13 anos.

•        O que a pesquisa descobriu?

📈 Observando os nascidos desde 2001, os pesquisadores apontam que houve crescimento de 1 centímetro entre os nascidos a partir de 2008.

📈 Em relação ao peso, houve um aumento de 600 gramas. Na comparação entre os dois grupos, a prevalência de excesso de peso para a faixa etária de 5 a 10 anos aumentou 3,2% entre meninos e 2,7% entre meninas.

No caso da obesidade, o aumento da prevalência passou de 11,1% para 13,8% entre os meninos e de 9,1% para 11,2% entre as meninas.

O mesmo aconteceu com a faixa etária de 3 e 4 anos. Houve um aumento do excesso de peso em 0,9% entre os meninos e 0,8% entre meninas. Já para a obesidade houve um aumento de 4% para 4,5% nos meninos e de 3,6% para 3,9%.

•        O que isso significa?

Segundo o estudo, o aumento da altura mostra o resultado positivo nas ações contra a desnutrição infantil. O crescimento das crianças é reflexo da melhor assistência à saúde e desenvolvimento.

🚨 No entanto, a prevalência da obesidade é um ponto de atenção e reabre a discussão sobre o padrão da dietas das crianças, como o aumento do consumo de ultraprocessados, e do comportamento, com o sedentarismo.

Em comunicado divulgado pela Fiocruz, a líder da investigação Carolina Vieira comenta que a obesidade ainda é maior nas crianças que estão em núcleos de famílias vulneráveis economicamente.

"Vale destacar que esse impacto [da obesidade] será ainda maior na população de crianças mais pobres, onde a prevalência da obesidade vem aumentando mais. As políticas de prevenção devem ser direcionadas de forma mais específicas para esse grupo social”, explica Carolina Vieira.

 

Ø  Sobrepeso e obesidade como problemas de saúde pública

 

O Ministério da Saúde reconhece a obesidade como um problema de saúde pública e orienta que, diante do atual quadro epidemiológico do país, sejam prioritárias as ações de promoção da alimentação adequada e saudável, de prevenção da obesidade e intervenções para a construção de ambientes alimentares saudáveis. 

Tal qual uma orquestra, o corpo humano funciona como um sistema em que cada parte exerce uma função em prol do todo. Isso inclui características como quantidade de água no corpo, de massa magra, o peso e o percentual de gordura. Quando dentro de um parâmetro adequado, esse percentual é positivo para a saúde. Mas quando esse limite é extrapolado, é hora de ligar o sinal de alerta.

Do ponto de vista conceitual, tanto o sobrepeso quanto a obesidade se referem ao acúmulo excessivo de gordura corporal, um guarda-chuva que inclui todos os outros conceitos. A obesidade é fator de risco para outras enfermidades, como: doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e alguns tipos de câncer. Isso sem falar da maneira como o problema é visto pela sociedade, podendo levar a estereótipos e discriminação. E é justamente nesse ponto que fica evidente como aspectos sociais e psicológicos do indivíduo podem ser afetados, para além da questão física.

A prevalência de obesidade tem aumentado de maneira epidêmica entre crianças e adolescentes nas últimas quatro décadas e, atualmente, representa um grande problema de saúde pública no mundo. No Brasil, o excesso de peso (que compreende o sobrepeso e a obesidade) também tem aumentado em todas as faixas etárias.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2020), atualmente mais da metade dos adultos apresenta excesso de peso (60,3%, o que representa 96 milhões de pessoas), com prevalência maior no público feminino (62,6%) do que no masculino (57,5%). Um em cada cinco adolescentes com idades entre 15 e 17 anos estava com excesso de peso (19,4%) e 6,7% estavam com obesidade.  Em 2021, dados do Relatório público do Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional mostram que, das crianças acompanhadas na Atenção Primária à Saúde, 15,8% dos menores de 5 anos e 33,9% das crianças entre 5 e 9 anos tinham excesso de peso, e dessas, 7,6% e 17,8%, respectivamente, apresentavam obesidade segundo o Índice de Massa Corporal (IMC) para idade. Quanto aos adolescentes acompanhados na APS em 2021, 32,7% e 13,0% apresentavam excesso de peso e obesidade, respectivamente.

A obesidade em crianças e adolescentes é um problema grave, que ocasiona repercussões deletérias importantes em crianças, adolescentes, jovens e adultos, além de sobrecarregar o SUS com altos custos relacionados ao tratamento do agravo e de suas complicações.  

No caso da obesidade infantil, muitas crianças estão crescendo em ambientes obesogênicos. Ou seja, aqueles que promovem ou favorecem comportamentos sedentários e escolhas alimentares não saudáveis com presença de alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras, sódio, aditivos químicos e pobres em nutrientes.

·        Como prevenir o quadro em adultos e crianças por meio da alimentação?

Manter um peso saudável não é fácil e não depende exclusivamente da vontade de quem sofre com o problema. Existem vários aspectos que permeiam esse contexto da obesidade – que muitas vezes extrapolam o próprio indivíduo e se relacionam com o ambiente e todos eles precisam ser levados em consideração.

Mas é possível apontar a alimentação adequada e saudável como um desses caminhos, a partir da regra de ouro proposta pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, produzido pelo Ministério da Saúde: prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados. E essa é uma atitude viável uma vez que comer de forma adequada e saudável significa priorizar a comida de verdade. E cada vez que ela é valorizada, outros aspectos estão embutidos. Falar em alimentação vai muito além da comida no prato. 

É preciso também pensar na cultura alimentar. Colocar na mesa preparações feitas com ingredientes típicos da região para compor uma alimentação adequada e saudável. Sem falar na valorização da agricultura familiar e dos pequenos produtores que fomentam a economia local, além de ser uma opção mais barata para o bolso do consumidor e sustentável para o meio ambiente. 

É preciso também pensar em espaços que sejam ambientes promotores de uma alimentação adequada e saudável. Locais limpos, tranquilos e confortáveis, comer com calma e sem distrações. Esses são fatores que favorecem a digestão dos alimentos e também evitam que se coma mais do que o necessário. Em outras palavras, conforme ensina o Guia Alimentar, comer de forma regular, devagar e com atenção é uma boa maneira de controlar naturalmente o quanto comemos. 

É bom lembrar que o oposto disso acontece  no consumo de ultraprocessados, alimentos nutricionalmente desbalanceados que podem ter excesso de sal, açúcar, gorduras, edulcorantes, aromatizantes e conservantes feitos para comer rapidamente e sem atenção e, comumente, em quantidade excessiva. O consumo desses alimentos está associado à obesidade, doenças do coração, diabetes e câncer, além de contribuir para o aumento do risco de deficiências nutricionais.

Outro ponto importante da alimentação saudável está no ato de comer em companhia. Afinal comer é parte natural da vida social e ao comer em companhia evita que se com rapidamente.

Por falar em ambientes, a escola é um espaço de aprendizado, vivências e reflexões, sendo um local estratégico para a promoção da saúde e alimentação adequada e saudável. Nesse sentido, o lanche do intervalo e os vendidos nas cantinas escolares também precisam ser adequados e saudáveis. Saem os alimentos ultraprocessados, entre eles guloseimas, salgadinhos e biscoitos de pacote para dar lugar às frutas, lanches caseiros e diversas preparações culinárias feitas com ingredientes in natura ou minimamente processados. 

 

Fonte: g1/Gov.BR

 

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