quarta-feira, 3 de abril de 2024

Como operam as Forças Quds, temido grupo de elite do Irã que teve comandante morto em ataque atribuído a Israel

O ataque de segunda-feira (1/4) ao consulado iraniano em Damasco, na Síria — que vários governos atribuem a Israel — deixou pelo menos sete mortos, incluindo uma importante figura militar do regime dos aiatolás.

Trata-se de Mohamed Reza Zahedi, um general de 63 anos com um longo histórico de serviços prestados ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), o poderoso exército paralelo do Irã — e o mais numeroso dentro das suas Forças Armadas.

Zahedi era um alto comandante da Força Quds, o braço paramilitar de elite da Guarda Revolucionária, responsável pelo relacionamento com governos e grupos aliados de Teerã.

O braço direito dele, o general Mohamed Hadi Haji-Rahimi, também morreu no ataque surpresa que aviões israelenses provenientes das Colinas de Golã — segundo informou o Ministério das Relações Exteriores da Síria — teriam realizado contra o consulado iraniano no distrito de Mezzeh, em Damasco.

O ataque destruiu o prédio de vários andares do consulado próximo à embaixada iraniana, que não foi danificada.

O general assassinado era o comandante da Força Quds na Síria e no Líbano, onde desempenhou um papel crucial na prestação de ajuda militar tanto ao regime de Bashar al-Assad quanto à organização político-militar Hezbollah.

A seguir, analisamos como esta temida organização opera — e qual era o papel de Zahedi.

·        Fundamental na política externa iraniana

A Força Quds é um importante instrumento da política externa iraniana que muitos especialistas descrevem como uma combinação das forças de operações especiais e da agência de inteligência americana (CIA, na sigla em inglês).

Ela surgiu de fato como o braço das relações exteriores durante a expansão do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica.

Seu nome significa Jerusalém em farsi e árabe, cidade que seus combatentes prometeram “libertar”.

A organização opera secretamente e, às vezes, abertamente em várias partes do mundo.

Está ligada ao grupo Hezbollah, no Líbano, e às milícias xiitas, no Iraque e no Afeganistão.

A Força Quds foi apontada como autora intelectual de vários ataques mortais, como o atentado contra os quartéis em Beirute em 1983, no qual morreram 241 fuzileiros navais americanos, 58 soldados franceses e seis civis libaneses.

Tanto os EUA como a União Europeia (UE) acusaram a mesma de distribuir armas na Síria para ajudar o regime de Bashar al-Assad a reprimir rebeldes no país árabe.

Washington também apontou a Força Quds como responsável ​​por armar e treinar o Talebã no Oriente Médio.

Esta organização se concentra em apoiar e assessorar, em vez de participar diretamente das incursões militares.

Isso permite ao Irã negar qualquer participação em operações militares e insurgentes, evitando assim um conflito direto com os EUA.

·        Entre 5 mil e 10 mil membros

Devido à forma como opera, é impossível obter números exatos sobre o tamanho de suas tropas. Há, no entanto, estimativas que variam de 5 mil a mais de 10 mil membros.

Eles são recrutados de acordo com suas habilidades e por seu grau de lealdade à República Islâmica.

Mas, uma vez que a principal função da Força Quds é ajudar a estabelecer milícias aliadas e forças de combate em outros países, o número de recrutados não reflete sua enorme capacidade de influência e ação.

Desde 1979, seu objetivo tem sido combater os inimigos do Irã e ampliar a influência do país na região.

Para tentar combater seu crescente poder de ação, o governo do ex-presidente americano, Donald Trump, classificou este braço paramilitar como uma Organização Terrorista Estrangeira (FTO, na sigla em inglês).

Na época, Trump afirmou que a Força Quds era o “principal mecanismo do Irã para cultivar e apoiar” grupos terroristas no Oriente Médio.

O governo iraniano negou, por sua vez, em diversas ocasiões apoiar organizações criminosas — e acusa os EUA de serem os culpados pelas turbulências que abalam atualmente o Oriente Médio .

Em janeiro de 2020, os EUA assassinaram o então comandante-chefe da Força Quds, o influente general iraniano Qasem Soleimani, em um ataque preciso e direcionado com drones.

O assassinato de Soleimani foi um duro golpe para o regime do aiatolá Ali Khamenei, que respondeu com ataques às bases americanas no vizinho Iraque, aumentando a tensão militar entre os dois países.

Soleimani foi substituído pelo general Esmail Qaani, de 66 anos, que é o atual líder da Força Quds.

·        Mohamed Reza Zahedi

O assassinato de Zahedi é o de maior escalão na Força Quds e na Guarda Revolucionária desde o de Soleimani em 2020.

O general desempenhou um papel fundamental ao ser o principal interlocutor entre o Irã e o Hezbollah, a organização político-militar libanesa considerada terrorista pela União Europeia, pelos EUA e parte da comunidade internacional.

Nascido em 2 de novembro de 1960, ele ingressou na Guarda Revolucionária em 1980, durante a guerra Irã-Iraque (1980-1988), da qual participou ativamente.

Ele comandou a 44ª Divisão Qamar Bani Hashem entre 1983 e 1986, e a 14ª Divisão Imam Hussein até 1991.

Entre 1998 e 2002, comandou pela primeira vez a Força Quds no Líbano, onde prestou todo tipo de assistência ao Hezbollah.

Mais tarde, entre 2005 e 2008, liderou as forças terrestres do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica — e foi responsável pela base Thar-Allah em Teerã, encarregada da segurança na capital iraniana.

Em 2008, Zahedi regressou à Força Quds e, até seu assassinato na segunda-feira, esteve à frente desta organização na Síria e no Líbano.

De acordo com especialistas, ele desempenhou um papel crucial no fornecimento de armas e conhecimentos técnicos ao Hezbollah, assim como na coordenação de operações contra as forças israelenses no sul do Líbano.

Além disso, coordenava a ajuda militar que o braço estrangeiro do Exército iraniano presta ao regime de Bashar al Assad — e liderava a Unidade 18000 do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, que opera na Síria em colaboração com o Exército local para contrabandear armas, munições e equipamento militar.

Desde 2010, Zahedi estava na lista de terroristas e seus financiadores sujeitos a sanções do Departamento do Tesouro americano por atuar como um “link com o Hezbollah e os serviços de inteligência sírios” e “garantir o envio de armas” para a organização islâmica radical do Líbano.

¨      Presidente do Irã diz que ataque de Israel a consulado na Síria 'não ficará sem resposta'

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou nesta terça-feira (2) que o ataque de Israel ao consulado do país na Síria "não ficará sem resposta". A fala foi divulgada pela agência de notícias iraniana Tasnim.

O ataque destruiu um prédio do Irã em Damasco, na segunda-feira (1º). Segundo a mídia estatal iraniana, o bombardeio feito com aviões militares de Israel matou Mohammad Reza Zahedi, comandante sênior da Guarda Revolucionária do Irã, e outras seis pessoas.

Ao Conselho de Segurança da ONU, o Irã disse que tem o direito de revidar o ataque de Israel e pediu que o órgão faça uma reunião de emergência para discutir a agressão.

Segundo a Tasnim, o presidente Raisi divulgou um comunicado nesta terça-feira condenando o ataque e classificando o caso como "ação agressiva e desesperada".

O presidente também afirmou que a ação israelense viola regras internacionais. Apesar de afirmar que o ataque não ficará sem resposta, o governo do Irã não informou quais providências serão tomadas.

  • Ataque à embaixada

Aviões militares de Israel atingiram o consulado do Irã em Damasco, na Síria, matando sete membros da Guarda Revolucionária Iranian

Hossein Akbari, o embaixador do Irã na Síria, afirmou que o consulado foi atingido por seis mísseis disparados de caças F-35. Akbari, que morava em um anexo da embaixada e teve sua casa atingida, escapou ileso e afirmou que a resposta do Irã será dura.

O jornal "The New York Times" afirmou que conversou com quatro autoridades de Israel, que confirmaram que o país realmente executou o ataque.

Um porta-voz militar de Israel disse que não vai fazer comentários sobre notícias na mídia estrangeira.

 

Ø  Ministro do Irã diz que 'os EUA devem prestar contas' pelo ataque de Israel à embaixada iraniana

 

Já que os Estados Unidos não possuem representante oficial no país, o Ministério das Relações Exteriores iraniano convocou um funcionário da embaixada da Suíça no Irã como representante dos interesses dos EUA no país.

Segundo publicação na plataforma X, um funcionário da Embaixada da Suíça no Irã, que representa os interesses dos EUA no país, foi convocado ao Ministério das Relações Exteriores iraniano.

"O alcance do ataque terrorista e os crimes do regime israelense foram 'postos na mesa', explicados e a responsabilidade do governo dos EUA foi cobrada", afirmou o ministro.

·        Sobre o ataque

Pelo menos cinco pessoas foram mortas como resultado de um ataque aéreo israelense que teve como alvo um prédio junto da Embaixada do Irã em Damasco, na Síria, segundo uma fonte de segurança síria revelou à Sputnik nesta segunda-feira (1º).

"De acordo com relatos iniciais, duas pessoas foram mortas e outra ficou ferida no ataque israelense a um prédio perto da Embaixada iraniana em Damasco", disse a fonte.

Um relato anterior da emissora estatal IRIB afirmou que um ataque aéreo israelense atingiu um prédio que pertence ao Consulado-Geral iraniano em Damasco e que serve de residência para o embaixador.

Ainda de acordo com uma apuração preliminar da IRIB, o ataque aéreo israelense que atingiu o Consulado-Geral iraniano em Damasco nesta segunda-feira (1º) teria vitimado vários diplomatas do país do Oriente Médio, uma informação que ainda não foi oficialmente confirmada.

De acordo com a TV estatal síria Al Ekhbariya, a defesa antiaérea do país abateu a maioria dos mísseis, mas os restantes acertararam em um prédio junto da Embaixada do Irã.

 

Fonte: BBC News Mundo/g1/Sputnik Brasil

 

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