segunda-feira, 25 de março de 2024

Saiba o que Mauro Cid revelou e o que escondeu em novo depoimento ao STF

Antes de ser preso pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira, 22, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi interrogado por um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes. O magistrado cobrou explicações sobre os áudios em que atacou o próprio ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e a PF. Mauro Cid admitiu que errou, mas não quis contar com quem fez o "desabafo" sobre as investigações contra Bolsonaro.

Na quinta-feira, 21, a revista Veja divulgou os áudios de Cid, que falava com um interlocutor desconhecido sobre a delação premiada que fechou com a PF em setembro. Em uma das gravações, o tenente-coronel afirmou que os investigadores "não queriam saber a verdade" sobre a tentativa de golpe de Estado e que Alexandre de Moraes seria "a lei". "Ele prende, ele solta quando ele ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação", disse o ex-ajudante de ordens da Presidência.

>>> A seguir, veja o que o militar contou e o que não falou em seu novo interrogatório:

•        As 'besteiras' e o desabafo do coronel

Ao STF, Mauro Cid negou que tivesse sofrido pressão por parte da PF ou do Judiciário para realizar a delação premiada. Segundo ele, os áudios com ataques aos investigadores foram um mero desabafo de "quem quer chutar a porta e acaba falando besteira". O tenente-coronel disse também que a conversa era "privada, informal, particular e sem o intuito de ser exposta pela revista".

"É um desabafo, quer chutar a porta e acaba falando besteira. Genérico, todo mundo acaba dizendo coisas que não eram para serem ditas. Em razão da situação que está vivendo, foi um desabafo. É um desserviço que a Veja faz ao inquérito, à minha família, às minhas filhas", diz um trecho do depoimento.

•        Mauro Cid não se lembra do interlocutor

O tenente-coronel do Exército foi questionado sobre a pessoa com quem ele conversou e reclamou da atuação dos investigadores do inquérito que apura tentativa de golpe de Estado. Mauro Cid desconversou. Alegou que não se lembrava. Disse que só anda conversando com pessoas mais próximas, incluindo parentes.

O militar afirmou que "está recluso, praticamente em casa, não tem vida social e não trabalha. Não lembra para quem falou essas frases de desabafo, num momento ruim. Não conseguiu ainda identificar quem foi essa pessoa. Não acredita que alguém do núcleo próximo tenha contato com a imprensa. Possivelmente, a conversa teria ocorrido por telefone. Provavelmente celular", disse.

•        Cid admitiu ressentimento com Bolsonaro

Em um dos áudios divulgados pela Veja, Cid revelou ter um ressentimento de Bolsonaro por ter sido o único que ficou "fudido" após o início das investigações contra o ex-presidente. O tenente-coronel disse que o ex-chefe do Executivo ficou "milionário" a partir de transferências feitas via Pix por apoiadores, enquanto ele teve a carreira no Exército e a vida financeira prejudicadas.

Segundo Cid, enquanto Bolsonaro enriqueceu por meio das transferências e os outros generais investigados pela tentativa de golpe estão na reserva das Forças Armadas, ele está com a "carreira desabando". O ex-ajudante de ordens afirmou também que os seus amigos o tratam como "um leproso, com medo de se prejudicar". "Quer ter a vida de volta. Está enclausurado. A imprensa sempre fica indo atrás. Está agoniado. Engordou mais de 10 quilos. O áudio é um desabafo. Acredita que as pessoas deviam o estar apoiando e dando sustentação", diz outro trecho do depoimento.

Em outra gravação, o tenente-coronel diz que Bolsonaro e outros investigados terão penas acima de 100 anos de prisão. Cid também cita os presos pelos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro de 2023, chamando-os de "bagrinhos" que foram condenados a 17 anos pelo STF.

Segundo Cid, ele se assusta com as sentenças que estão sendo feitas contra os envolvidos nos atos golpistas e "imagina a pena que os mais altos vão pegar".

•        Moraes tira sigilo para não pairar dúvida

Nesta sexta, 22, o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo do novo depoimento de Cid. No despacho, o magistrado justificou que o fazia para não deixar dúvidas de que o militar não foi forçado a fazer delação premiada. "Diante da necessidade de afastar qualquer dúvida sobre a legalidade, espontaneidade e voluntariedade da colaboração de Mauro César Barbosa Cid, que confirmou integralmente os termos anteriores de suas declarações", escreveu o ministro do STF.

Assim que deixou o STF, Cid foi preso pela PF e levado para um quartel da Polícia do Exército, onde ficou encarcerado entre maio e setembro do ano passado. O tenente-coronel foi detido pela primeira vez durante a Operação Venire, que investigou fraudes em cartões de vacina de Bolsonaro e da sua filha Laura.

•        Mauro Cid não revela a quem fez 'desabafo' contra PF e Moraes

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou pública a ata do depoimento prestado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, na tarde desta sexta-feira (22). Logo após a oitiva, o militar foi preso por descumprimento de medidas cautelares e obstrução à Justiça.

Cid foi obrigado a se apresentar a um juiz instrutor do gabinete de Moraes para prestar esclarecimentos sobre os áudios que enviou a um interlocutor e que foram vazados à revista Veja nos quais critica a Polícia Federal (PF) e diz haver uma "narrativa pronta" nas investigações sobre tentativa de golpe de Estado, joias e falsificação de cartões de vacina.

Nos áudios em questão, o tenente-coronel, que mantém um acordo de delação premiada com a Justiça, disse ter sido pressionado pela PF durante depoimentos anteriores, sugerindo que foi coagido a "confessar coisas que nunca fez”, fazendo críticas aos policiais e ao próprio Moraes. 

Na nova oitiva para explicar os áudios, entretanto, Cid negou que tenha sido coagido e confirmou o conteúdo de seus depoimentos anteriores. Afirmou que suas declarações nos áudios em questão se deram em um momento de "desabafo", pois estaria, recentemente, "mais sensível".

Perguntado para quem mandou os áudios, Mauro Cid disse que não se lembra, adicionando ainda que mantém contato com poucas pessoas - a maioria seria familiares e militares próximos. O ex-ajudante de ordens afirmou, ainda, que "perdeu tudo o que tinha" e que o que falou nas gravações foi apenas "uma maneira de se expressar". Isto é, voltou atrás.

Segundo Cid, os amigos o "tratam como leproso", pois ninguém quer ter contato com ele, sua carreira está "desabando" e, nos últimos meses, engordou mais de 10 quilos.

O militar ainda criticou a revista Veja pelo vazamento dos áudios. "É um desserviço o que a Veja faz ao inquérito, a minha família, às minhas filhas", declarou.

•        Os áudios

Bolsonaristas entraram em polvorosa com a divulgação dos áudios pois acreditam que o material teria potencial para anular as provas obtidas a partir dos depoimentos de Cid à PF que implicam Jair Bolsonaro, militares, membros do antigo governo e aliados.

Investigadores da PF, entretanto, avaliam que os áudios vão apenas para anular o acordo de delação do tenente-coronel, enquanto as provas colhidas a partir dos relatos de Cid continuarão valendo - algo que prejudicaria o próprio militar, que perderia possíveis benefícios acordados na delação.

Mauro Cid havia deixado a cadeia em setembro de 2023, sob condição do uso de tornozeleira eletrônica, justamente após o acordo de delação ser homologado.

Os áudios vazados de Mauro Cid coincidem com a estratégia de Jair Bolsonaro, que desde que o acordo de delação foi firmado tem dito a interlocutores que o ex-ajudante sofreu uma pressão emocional para falar sobre as investigações.

Na última semana, Bolsonaro voltou a dizer a pessoas próximas que Cid só aceitou a fazer a delação porque estava sob forte pressão após ficar preso por mais de 100 dias - impedido, inclusive, de se encontrar com a família.

Nos áudios vazados pela Veja, Cid repete o discurso de Bolsonaro, de que já há uma "narrativa pronta" feita pela PF.

"Eles estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa deles. Entendeu? É isso que eles queriam. E todas as vezes eles falavam: ‘Ó, mas a sua colaboração. Ó, a sua colaboração está muito boa’. Ele (o delegado) até falou: ‘Vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove negócios de vacina, nove tentativas de falsificação de vacina. Vai ser indiciado por associação criminosa e mais um termo lá’. Ele falou assim: ‘Só essa brincadeira são trinta anos para você’", diz Cid, em um dos áudios.

“Eu vou dizer o que eu senti: já estão com a narrativa pronta deles, é só fechar, e eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles. É isso que eles querem”, emendou.

Em seguida, também alinhado à narrativa bolsonarista, o ex-ajudante de ordens da Presidência diz que "o Alexandre de Moraes é a lei".

"Ele prende, ele solta, quando ele quiser, como ele quiser. Com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação”, diz.

O militar ainda faz suspense sobre um suposto encontro entre Moraes e Bolsonaro. “Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?’".

Mais adiante, ele volta a falar que Moraes "já tem a sentença dele pronta".

“O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo".

Cid também reclama de sua vida ter sido completamente destruída por Jair Bolsonaro, a quem serviu de maneira tão fiel como ajudante de ordens por todos esses anos.

“Quem mais se fodeu fui eu, quem mais perdeu coisa fui eu. Pega todo mundo aí. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve pix de milhões, ficou milionário. Está todo mundo aí. Pra quem é político é até bom essas porras porque depois ele consegue se eleger fácil. O único que teve pai, filha e esposa envolvidos; o único que perdeu a carreira; o único que perdeu a vida financeira, toda fudida, fui eu”, lamentou.

 

       Wajngarten demonstra desespero com nova prisão de Mauro Cid

 

Ex-chefe da Secretaria de Comunicação do governo Bolsonaro e atualmente advogado do ex-presidente, Fabio Wajngarten demonstrou desespero com a nova prisão do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência.

Cid foi preso nesta sexta-feira (22) logo após prestar depoimento a um juiz de instrução do gabinete do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para prestar esclarecimentos sobre os áudios vazados e divulgados pela revista Veja em que se diz coagido pela Polícia Federal (PF) a "confessar o que não fez". Diante do juiz, entretanto, Cid negou a coação - mas mesmo assim foi preso por violação de medidas cautelares e obstrução à Justiça.

Através das redes sociais, neste sábado (23), Wajngarten não conseguiu esconder sua preocupação diante da situação, afirmando que "quem grava um investigado pode gravar outros". O nome da pessoa para quem Cid enviou os áudios e que vazou as gravações à Veja ainda é desconhecido, sendo que o tenente-coronel disse ao juiz de instrução que não se lembra quem seria seu interlocutor.

"Quem grava um investigado pode gravar outros. Não há mais nenhum espaço para planos tabajaras. Eu vou descobrir novamente quem foi esse 'jenio'. Virou questão de honra", escreveu Wajngarten.

 

Fonte: Agencia Estado/Fórum

 

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