sábado, 30 de março de 2024

O único objetivo de Milei é 'destruir' a 'integração latino-americana', diz presidente da Colômbia

A fala de Gustavo Petro segue um rito de insatisfação da liderança colombiana.

Petro acusou o seu homólogo argentino, Javier Milei, de ter planos de destruir o projeto de integração latino-americana, principalmente depois que as relações diplomáticas entre as duas nações ficaram tensas devido às divergências entre as lideranças.

"Acho que Milei pretende destruir, ou pelo menos adiar, o projeto de integração latino-americano", disse Petro nas suas redes sociais depois de ser chamado de "terrorista" pelo líder do La Libertad Avanza.

Em sua mensagem, o presidente colombiano também expressou solidariedade ao seu homólogo mexicano, Andrés Manuel López Obrador, descrito por Milei como "ignorante".

"A promessa de Milei de repetir o sistema neoliberal de 30 anos atrás pode ser um fracasso previsto", arrematou Petro.

·        Troca de farpas

Nos últimos dias, o clima na América Latina, em especial na Argentina e na Colômbia, vem arrefecendo. Mas por qual motivo? Vem cá que a gente explica.

Desde a sua posse, Milei parece estar, pelo que apontaram especialistas em diversas análises trazidas pela Sputnik Brasil, fazendo um jogo de comportamento "vira-latista", seguindo uma lógica de domínio aplaudida apenas pelos Estados Unidos.

Entre os malfeitos do chefe argentino estão as proibições e cobranças indevidas de alunos brasileiros que cursam medicina nas terras dos hermanos, declarações de que ao apoiar o cessar-fogo no conflito israelo-palestino o homólogo colombiano estaria sendo terrorista, entre tantos outros. As ações dirigidas a Petro, por exemplo, já vêm gerando consequências.

Daí a acusação de Milei estar agindo contrariamente à integração latino-americana. Outros gestos que vão nesse sentido são "apoiar" decisões de Israel na Faixa de Gaza e fazer viagens que o liguem aos interesses dos Estados Unidos, entre outros.

·        Governo Milei publicou vídeo polêmico em aniversário do golpe militar na Argentina

A Casa Rosada publicou em sua conta oficial no X (antigo Twitter) um vídeo de quase 13 minutos intitulado “Dia da Memória pela Verdade e Justiça. Completo”.

O vídeo foca nos anos anteriores ao golpe militar de 1976 na Argentina sem mencionar os desaparecidos da última ditadura militar.

O material audiovisual divulgado pelo governo de Javier Milei inclui figuras como o escritor, ex-jornalista e político argentino Juan Bautista “Tata” Yofre, o ex-guerrilheiro Luis Labraña, e María Fernanda Viola, filha do capitão tucumán Humberto Viola, que morreu antes da última ditadura militar.

O vídeo começa com a narração de “Tata” Yofre, que expõe uma citação de um livro do autor tcheco Milan Kundera: “Para liquidar as nações, a primeira coisa que se faz é tirar deles a memória”.

Durante os quase 13 minutos de vídeo, é apresentada a história de María Fernanda Viola e a morte de seu pai e irmã, bem como a versão de Labraña e Yofre de como se chegou a um governo de fato após a presidência de Isabel Martínez de Perón.

Os depoimentos apontam para o arco político, fazem denúncias públicas contra organizações de direitos humanos e o jornalista Juan Bautista Yofre lembra que foi o governo do falecido presidente Néstor Kirchner quem “acabou com tudo”: o perdão do presidente Carlos Menem e as leis de Ponto Final e Obediência Devida de Raúl Alfonsín anos antes.

Num dos momentos mais polêmicos do vídeo, o ex-guerrilheiro Luis Labraña afirma ter inventado o número de 30 mil pessoas desaparecidas, apesar de esse número ter consenso nacional e internacional e ter sido construído com base em relatórios de organizações de direitos humanos.

Por exemplo, em 1984, a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas registrou pelo menos 8.961 pessoas desaparecidas em uma lista que chamou de parcial, e em 2006 o Arquivo de Segurança Nacional da Universidade de Georgetown divulgou um documento preparado pela inteligência militar argentina, em julho de 1978, no qual eles reconheceram que havia pelo menos 22 mil mortos ou desaparecidos.

O número não é indiscutível, já que ainda está em construção, uma vez que o número exato de mortos e desaparecidos na última ditadura na Argentina nunca foi conhecido com certeza.

O polêmico vídeo foi publicado horas depois de uma nova marcha na Praça de Maio, no dia 24 de março, na qual organizações de direitos humanos, associações civis, políticos e diversos setores da cidadania comemoram o “Dia da Memória, da Verdade e da Justiça” e relembraram as vítimas da repressão da última ditadura militar na Argentina.

Em declarações à imprensa durante o protesto, a presidente da associação Abuelas de Plaza de Mayo, Estela Carlotto, criticou o vídeo e afirmou: “Diante de um governo que nos ofende, tanto o presidente como o vice-presidente, o povo é mais claro do que nunca sobre todos os jovens, sem violência e sem ouvir provocações”.

Em sua conta pessoal no X, Javier Milei republicou o vídeo acompanhado da frase “para uma memória completa para que haja verdade e justiça”.

Horas antes, sua vice-presidente, Victoria Villarruel, havia compartilhado outro material que acompanhava com a legenda: “Os Direitos Humanos são para todos. Memória também. Verdade, Justiça e Reparação para as vítimas do terrorismo. Os responsáveis ​​por estes crimes não podem ficar impunes.

A ministra da Segurança, Patrícia Bullrich, também se manifestou nesse sentido: “Eles construíram uma história sobre a tragédia de acordo com os seus interesses ideológicos, independentemente das vítimas e da profundidade das feridas. A mudança também vem do reconhecimento de que uma meia verdade não é a verdade”

No final do vídeo, Yofre faz uma reflexão e convoca os argentinos a se reunirem novamente no dia 25 de maio e “olharem para frente”.

Essa foi a data que Javier Milei escolheu para convocar os governadores para assinarem o chamado “Pacto de Maio” em Córdoba.

Recordemos que María Estela Martínez de Perón foi destituída pelas Forças Armadas em 24 de março de 1976, dando lugar a uma das etapas mais sombrias da história do país.

Durante este período, que durou até Dezembro de 1983, a Junta Militar suspendeu a Constituição Nacional e foram perpetrados múltiplos crimes contra a humanidade, como o desaparecimento forçado de milhares de pessoas, assassinatos, sequestros e torturas.

 

Ø  Chamado de 'ignorante' por Javier Milei, presidente do México rebate e diz que argentino 'despreza o povo'

 

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, publicou uma mensagem na rede X nesta quinta-feira (28) para responder a Javier Milei, da Argentina, que o chamou de "ignorante" em uma entrevista.

"Eu ainda não entendo como os argentinos, sendo tão inteligentes, votaram em alguém que despreza o povo", afirmou López Obrador.

A crítica de Milei foi feita durante uma entrevista à rede CNN. O presidente argentinou afirmou o seguinte: "É um elogio que um ignorante como o López Obrador fale mal de mim, isso me enaltece".

Em novembro, antes de Milei ser eleito, López Obrador afirmou que o argentino era um "facho conservador". Facho é uma forma de se referir a uma pessoa como fascista.

Na mesma entrevista em que Milei criticou o presidente mexicano, ele atacou Gustavo Petro, da Colômbia (veja mais abaixo).

Na rede social X, Petro fez um comentário sobre a publicação de López Obrador.

O presidente colombiano agradeceu o mexicano e afirmou: "Creio que Milei busca destruir ou, pelo menos, adiar o projeto de integração da América Latina. Hoje o povo argentino sofre, e a pobreza aumenta. A promessa de Milei de repetir o sistema neoliberal de 30 anos atrás pode ser um fracasso anunciado".

·        Colômbia expulsa diplomatas argentinos

Só alguns trechos da entrevista foram veiculadas. Além de criticar López Obrador, Milei também chamou Gustavo Petro, da Colômbia, de "assassino terrorista".

O governo colombiano respondeu  nesta quarta-feira (27) com a expulsão de todo o corpo diplomático da Argentina no seu país, em protesto pelas declarações que o presidente Javier Milei fez contra o chefe de Estado colombiano, Gustavo Petro.

O Ministério de Relações Exteriores da Colômbia enviou um comunicado no qual afirma que repudia as declarações de Milei em uma entrevista a uma rede de TV, "na qual ele ofende a dignidade do presidente Petro, que foi eleito democraticamente".

De acordo com o texto, as falas de Milei "deterioraram a confiança da nossa nação".

Essa não é a primeira vez que Milei faz criticas a Petro de uma maneira que os colombianos consideram ofensiva.

A decisão acontece depois de Milei dizer, em entrevista a Andrés Oppenheimer, que “não se pode esperar muito de alguém que foi um assassino terrorista”, em referência ao passado de guerrilha de Petro.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia, o alcance da expulsão “será comunicado à embaixada argentina através dos canais institucionais diplomáticos”.

A CNN pediu comentários à chancelaria argentina sobre esta decisão e aguarda resposta.

Antes de a decisão ser anunciada, o embaixador colombiano na Argentina, Camilo Romero, antecipou no X que o governo colombiano “está explorando todas as medidas” para responder às declarações de Milei contra o Petro.

·        Outros incidentes

Em janeiro, a Colômbia convocou seu embaixador na Argentina para consultas. No mundo diplomático, essa é uma forma de sinalizar descontentamento com a ação de um outro país.

Na ocasião, Milei havia se referido a Petro como "um comunista assassino" e que o presidente estava "afundando a Colômbia".

Na época, o Ministério de Relações Exteriores da Colômbia também publicou um comunicado dizendo que as declarações de Milei feriam a honra de Petro e que eram desrespeitosas e irresponsáveis.

·        Histórico da relação entre os países

Historicamente, Colômbia e Argentina tiveram boas relações diplomáticas e comerciais. Mas hoje a Argentina tem um líder ultraliberal, e Petro é o primeiro presidente de esquerda na história da Colômbia.

Petro chegou a insinuar uma crítica a Milei em um discuro em janeiro. Ele afirmou "Eles nos atacam como comunistas, como socialistas, que o Estado é o dono dos meios de produção. Claro, aqueles que nos atacam não têm ideia do que é o comunismo ou do que é o socialismo”.

Petro disse na ocasião que o seu governo quer que os meios de produção estejam nas mãos do povo e não do Estado.

·        Desculpas ao papa

Milei já pediu desculpas a uma das pessoas que xingou: o Papa Francisco. Durante a campanha à presidência, ele se referiu ao papa como "comunista" e "imbecil que defende a justiça social". No entanto, em fevereiro, já como presidente da Argentina, ele se encontrou com o o papa e afirmou que Francisco é "o homem mais importante da Argentina".

 

Ø  Waack: As brigas entre presidentes latino-americanos

 

Para usar um pouco de gíria, tacaram fogo no parquinho latino-americano nesta quarta-feira (27).

Presidentes de alguns dos principais países da região atracaram-se em violências verbais. Teve o tradicional direita contra esquerda, entre Argentina e México. Mas também esquerda contra esquerda, envolvendo Venezuela e Colômbia.

O Brasil também faz parte do show, criticando a Venezuela e sendo criticado por ela.

O pano de fundo para os desentendimentos não é só o que cada um acha do governo do outro. Mas, principalmente, como cada um enxerga seu papel na situação internacional. E suas possíveis alianças.

É neste ponto que a situação se complica do ponto de vista brasileiro. Geografia e tamanho da economia sugerem que o Brasil deveria ter grande influência sobretudo na América do Sul. Não é o que acontece. Não só Caracas e Buenos Aires parecem dar pouca bola para o Brasil.

Não há muita gente preocupada em outras chancelarias latino-americanas com o que se pensa em Brasília. É difícil imaginar hoje que qualquer organização regional — e o Brasil apostou em várias — possa se reunir e chegar a consensos de aplicação prática sobre qualquer assunto.

O governo brasileiro se orgulha de praticar o que chama de política externa ativa e altiva. Seria melhor ainda se tivesse mais influência.

 

Ø  Argentina dá asilo a seis opositores venezuelanos em embaixada e denuncia corte de luz

 

Argentina confirmou que está dando asilo a líderes políticos da oposição na residência oficial de sua embaixada em Caracas e manifestou “preocupação” com o corte no fornecimento elétrico da sede diplomática na última segunda (25).

Em comunicado, a Casa Rosada advertiu ao governo da Venezuela “sobre qualquer ação deliberada que ponha em perigo a segurança da equipe diplomática argentina e dos cidadãos venezuelanos sob proteção”.

O governo argentino também lembrou que é obrigação do Estado receptor de missões diplomáticas salvaguardá-las de “invasões ou danos e preservar a tranquilidade e dignidade da mesma”.

Fontes do governo argentino confirmaram à CNN que estão dando asilo a seis opositores que têm mandado de prisão.

“São dirigentes perseguidos que precisavam de proteção”, explicaram. “Não somos um foco opositor em Caracas, somente estamos atuando em exercício efetivo de proteção dos direitos humanos”, esclareceram.

O texto do comunicado, emitido pelo escritório do presidente Javier Milei, explica que o acolhimento dos opositores foi concedido sob o respaldo da inviolabilidade garantida pela Convenção de Viena sobre as Relações Diplomáticas, da qual ambos os países são signatários.

O comunicado argentino também “expressa sua inquietude diante da deterioração da situação institucional e atos de intimidação e perseguição contra figuras políticas da Venezuela”.

No texto, ainda há um pedido de Milei para que o presidente Nicolás Maduro “garanta a segurança e bem-estar do povo venezuelano e convoque eleições transparentes, livres, democráticas e competitivas, sem proscrições de nenhum tipo”.

Perguntado pela CNN acerca da denúncia da presidência argentina, o governo venezuelano informou que toda posição oficial será divulgada através dos meios oficiais estabelecidos para isso, seja através de comunicados ou declarações.

Diversos mandados de prisão foram emitidos nas últimas semanas pelo Ministério Público da Venezuela após a denúncia de supostos planos de conspiração contra Maduro e o governador do estado de Táchira, Freddy Bernal.

Entre os presos, estão sete integrantes do movimento político Vente, de María Corina Machado. Outros sete colaboradores da líder opositora estão com mandado de prisão.

A Argentina está sem embaixador em Caracas desde o início do governo Milei, que disse que não se relacionaria com comunistas.

A tensão entre os países escalou desde fevereiro, quando uma aeronave venezuelana que estava retida no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, foi confiscada e entregue aos Estados Unidos. Caracas qualificou a ação como um “roubo descarado”.

Em represália, a Venezuela proibiu que aeronaves argentinas sobrevoassem seu espaço aéreo.

O porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, chamou os governantes chavistas de “amigos do terrorismo” e o chanceler venezuelano, Yván Gil, chamou o governo Milei de “neonazista”, além de “submisso e obediente ao seu amo imperial”, em referência à atual relação argentina com os Estados Unidos.

 

Fonte: Sputnik Brasil/CNN Brasil

 

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