Na luta contra o etarismo, mulheres provam
que são mais que idade!
Envelhecer é um
processo natural da vida. As rugas aparecem, a atenção com a saúde precisa ser
redobrada e a pele necessita de mais cuidados. Entretanto, no meio desse ciclo,
outras questões aparecem. Para as mulheres, a idade é uma prerrogativa para o
preconceito e o início de várias dificuldades, em diversas áreas da sociedade.
Chamada de etarismo de gênero, das roupas que usam até a produtividade no
mercado de trabalho, essa forma de discriminação põe o valor delas à prova.
Segundo relatório da
Organização Mundial da Saúde (OMS), 16,8% dos brasileiros com mais de 50 anos
já se sentiram vítima de algum tipo de discriminação ligado à idade. Embora o
etarismo, preconceito com a pessoa idosa, impacte tanto o público masculino quanto
o feminino, é com as mulheres que ele se desenvolve de maneira mais cruel.
Isso, de acordo com
Camila Potyara Pereira, socióloga e professora do Departamento de Serviço
Social e do Programa de Pós-graduação em Política Social da UnB, porque há uma
cultura sexista enraizada na sociedade. "O sexismo se expressa de
diferentes modos. Um deles é o etarismo de gênero, uma discriminação dupla que
menospreza mulheres pela faixa etária. Apesar de não ser exclusivo do campo
profissional, o etarismo de gênero encontra nesse espaço um solo fértil",
detalha.
No trabalho, quando
mais jovens, são vistas como meninas, imaturas, ingênuas e fracas. Para muitos,
incapazes de exercerem suas profissões. Após os 50 anos, são consideradas
frágeis, descartáveis e sem vigor. A crença, inclusive, é de que este público
deveria dar lugar a pessoas com mais energia, conforme explica Camila.
"Contudo, não há idade ideal. Entre os 40 e os 50 anos as mulheres são
discriminadas pela maternidade, pela sobrecarga imposta pelos afazeres
domésticos, pela menstruação e pela chegada da menopausa", ressalta a
socióloga.
Do preconceito,
derivam práticas discriminatórias amplamente conhecidas, como a opção pela não
contratação de mulheres em empresas, os salários desiguais e a interferência do
chefe na vida privada das funcionárias. Infelizmente, na visão da especialista,
o estigma não se restringe somente ao ambiente do trabalho. Opiniões e condutas
esperadas das mulheres, mesmo em espaços de lazer ou descanso, são igualmente
mediados pelo etarismo de gênero. Intimamente ligado à aparência e ao valor
sexual, o etarismo direcionado às mulheres atua como agente opressor para que
se mantenham sempre jovens e desejáveis.
"O público
feminino é proibido de envelhecer. De fato, enquanto os homens são vistos como
mais preparados e sábios à medida que envelhecem, as mulheres passam a ser
vistas como desinteressantes, ultrapassadas e caricatas. A discriminação é tão
grande que as mulheres são as mais afetadas pela depressão, pela ansiedade e
pela síndrome do impostor, que se caracteriza por sentimentos constantes de
incapacidade, desqualificação e farsa", acrescenta Camila.
• Fora da caixa
"Depois de uma
certa idade, nem opinião própria podemos ter." A professora de educação
físicaCheila de Souza Luiz, 51 anos, tem vivido na pele a pressão do etarismo.
As cobranças e os questionamentos, que sempre existiram, bateram na porta assim
que completou cinco décadas de vida. Machismo, opressão e comentários
desconfortáveis inauguraram uma nova percepção de realidade a ela. Algo como
estar presa a uma ideia que os outros gostariam que Cheila fosse para sempre.
Dentro desse imaginário coletivo, descobriu no poder da luta feminina uma forma
de se reinventar.
"É muito comum
ouvir frases como: 'nossa, você está conservada para a idade que tem'; 'você
aparenta ser 10 anos mais nova'. Há uma cobrança exacerbada para que estejamos
dentro do padrão de juventude pelo resto de nossos dias. A frase que parece clichê
— cabelos grisalhos neles é charme —, infelizmente, é vista como uma
verdade", enfatiza a multiartista.
Exigências
desproporcionais em relação aos homens. O peso das rugas, dos quilos extras,
dos fios brancos são desafiadores, principalmente se elas ainda estão
subjugadas e presas a crenças castradoras e limitantes. Cheila acredita que há
sempre uma tentativa de reduzir mulheres a esse lugar de servidão, do qual
praticamente sempre estiveram. Além disso, se o tema foi reprodutividade ou
sexualidade, com o passar da idade, logo perdem a funcionalidade.
Bombardeadas de
informações e reclamações, como se já não tivessem enfrentado isso durante toda
a vida. Bem mais que os obstáculos que aparecem na saúde física e mental,
lidam, ainda, com o peso de dilemas e obrigações estéticas e comportamentais.
"Hoje, no climatério, tenho consciência das nuances e transformações, mas
não me sinto seca ou murcha, como um dia acreditei que seria. Esse momento
agora é meu. Não é fácil galgar essa nova consciência, mas é ela que busco
diuturnamente", complementa Cheila.
• Para se manter sã
Diante desse incêndio
particular, vindo de aspectos externos, a parte interna, da alma, implora por
autocuidado. Assim, a professora de educação física tenta, ao menos, manter os
pensamentos e os sentimentos positivos. Entender seu lugar no mundo, o poder
como mulher e pessoa integral. Fazer as pazes com a própria história e com o
"eu feminino", como ela mesmo destaca, é um dos caminhos para se
manter sã.
Aliás, encontrou nesse
trajeto outras alternativas com o objetivo de se manter bem consigo mesma.
"Meditação, ioga e uma alimentação saudável estão inclusas nessa segunda
metade da minha história. O lema é seguir fazendo escolhas que me tragam saúde
e paz", acrescenta. Terapia em dia e atividade física também são outros
componentes que auxiliam Cheila nesse processo difícil, mas encantador.
Nos momentos de lazer,
busca relaxar e se divertir. Na casa dos 50 anos, ela acredita que o viver não
poderia ser mais magnífico. Cantar, tocar, subir no palco — já que é uma
multiartista — além de apreciar um bom vinho ao lado de outras mulheres. A conversa
restaura, assim como compartilhar experiências dessa fase que se inicia.
"Eu me reúno com
mulheres em vários projetos, promovo esses encontros também, para além das
amigas, para papear, rir, dançar, chorar. Sentir sem reservas. Trocar, ensinar,
aprender e, principalmente, criar laços e redes de apoio. Juntas nos fortalecemos,
nos apoiamos, nos reconhecemos", finaliza.
• Como combater o etarismo?
Para combater esse
tipo de discriminação, a socióloga Camila Potyara Pereira afirma que é
essencial um letramento de gênero. Homens e mulheres devem ter acesso a uma
pedagogia feminista, ou seja, uma educação que discuta as desigualdades entre
os gêneros e questione criticamente os papéis sociais atribuídos a cada um
deles.
"Uma pedagogia
feminista incentiva a construção social de mulheres independentes e que podem
escolher o próprio destino, reconhecendo seu valor pelo que são, e não em
comparação com os homens. E friso que essa pedagogia não deve estar presente
apenas nas instituições educacionais. O processo educativo também ocorre no dia
a dia, nas rodas de amigos e no almoço de domingo."
• Impacto na autoestima
Para Lucas Benevides,
psiquiatra e professor de medicina do Ceub , o etarismo pode ter efeitos
negativos na saúde mental das mulheres, afetando a autoestima, o bem-estar
emocional e o psicológico. Isso, de acordo com ele, porque a sociedade
frequentemente impõe expectativas e padrões que valorizam a juventude,
especialmente para o sexo feminino, o que pode levar a uma série de
problemáticas quando elas envelhecem.
À medida que a idade
chega, muitas se deparam com estereótipos ruins sobre o envelhecimento, que
podem ser internalizados, levando a sentimentos de desvalorização,
invisibilidade e, em alguns casos, isolamento social, podendo aumentar o risco
de depressão, ansiedade e diminuição da autoestima.
"As cobranças
sociais relacionadas à aparência, à produtividade e aos papéis tradicionais
podem se intensificar com a faixa etária. Mulheres são frequentemente avaliadas
por sua capacidade de manter a aparência jovem e atender às expectativas de cuidados
dos outros. A comparação com padrões inalcançáveis pode levar a uma percepção
distorcida de si mesma e a sentimentos de inadequação", explica o
profissional.
Para ele, o
preconceito contribui para o desenvolvimento de transtornos psicológicos mais
graves. Por exemplo, o isolamento social, uma tendência comum do
envelhecimento, já que a solidão é fator comum entre os idosos. Essa razão está
associada a um risco aumentado de transtornos de humor, ansiedade e demência.
Além disso, a experiência de discriminação pode ser um fator de estresse
crônico.
• Sem medo de envelhecer
Encarar o
envelhecimento e o etarismo de maneira positiva envolve a construção de
resiliência psicológica e a busca por apoio social. A participação em grupos
sociais ou atividades coletivas que valorizem a diversidade de idades, bem como
o desenvolvimento de uma identidade positiva que transcenda a aparência física
são fundamentais, na visão de Lucas. "Práticas de autocuidado, como a
manutenção de um estilo de vida saudável e a busca por terapia quando
necessário, também são cruciais", destrincha o psiquiatra.
Falar sobre saúde
mental das mulheres após os 50 anos requer uma compreensão holística que inclua
os aspectos físicos, emocionais e sociais do envelhecimento. A sociedade
precisa compreender e reconhecer, incluindo profissionais de saúde da área, o
que é etarismo. Assim, o trabalho para promover uma visão mais inclusiva e
respeitosa no que diz respeito ao envelhecimento pode acontecer.
O empoderamento das
mulheres por meio da educação, apoio social e acesso a recursos de saúde mental
ajudam a mitigar os impactos negativos do etarismo e promover uma experiência
de envelhecimento mais positiva. "Superar o preconceito é um processo complexo
e profundamente pessoal, que varia significativamente de uma mulher para outra,
dependendo de suas circunstâncias únicas, desejos e necessidades emocionais. No
entanto, existem aspectos essenciais que podem ajudar mulheres a navegar por
essa jornada desafiadora."
>>>>
Recomendações
1. Suporte emocional:
ter acesso a uma rede de apoio composta por parceiros, familiares, amigos ou
grupos de apoio pode fornecer um espaço seguro para expressar sentimentos e
experiências. O suporte emocional é crucial para lidar com a montanha-russa emocional
que muitas vezes acompanha a infertilidade.
2. Aconselhamento e
terapia: profissionais especializados em saúde mental, especialmente aqueles
com experiência em questões de gênero, podem oferecer estratégias para lidar
com o estresse, a ansiedade, a depressão e o luto que podem surgir com
envelhecimento.
3. Informação e
educação: entender as opções de tratamento disponíveis e o que esperar de cada
um deles pode ajudar a mulher a se sentir mais no controle de sua jornada.
4. Autocuidado:
praticar o autocuidado, incluindo alimentação saudável, exercícios regulares,
hobbies e atividades de relaxamento, pode melhorar o bem-estar geral e ajudar a
gerenciar o estresse.
5. Paciência e
resiliência: superar o etarismo muitas vezes requer paciência e resiliência
diante de contratempos e desapontamentos. Desenvolver uma perspectiva
resiliente pode ajudar a enfrentar os desafios emocionais e físicos de forma
mais eficaz.
Fonte: Lucas
Benevides, psiquiatra e professor de Medicina do CEUB
• Não ser o que dizem
Os cabelos brancos
aumentaram e as marcas de expressão no rosto começaram a aparecer. Ainda assim,
Lara Amorelli, 54, não se enxerga com os anos que tem. E mais que isso, não
acredita e nem quer ser o que as más línguas pedem que ela seja. Recentemente, percebeu
o etarismo nos detalhes. Atitudes, antes ignoradas, ganharam um pouco de força,
uma vez que passou a entender, de fato, o que realmente significa o termo e o
preconceito que existe por trás dele.
"Não sou uma
senhorinha, sou muito ativa, trabalho, estudo, me exercito, sou apaixonada por
viajar e sair à noite para dançar. Meus amigos dizem que tenho mais energia do
que a média. Uma amiga, que é tão animada quanto eu, uma vez me disse sobre relacionamentos
pessoais: quando os homens sabem que você passou dos 50, a atitude muda",
relata a servidora pública. Ela Adora festejar e nunca teve problema em falar
da idade.
Lara, por enquanto,
tem amado os fios grisalhos e diz achar bastante estranho quando a chamam de
senhora. Entretanto, a lista de perguntas formulárias sempre surge. Ela crê,
porém, que não há motivo para se importar com as indagações. "Vejo
mulheres ainda muito preocupadas em não aparentar a idade que têm e, às vezes,
gastar o que não tem, em procedimentos não confiáveis para parecerem mais
novas. Não as julgo, cada uma sabe a dor e a delícia de ser o que é e como
respondem às pressões sociais e ao que valorizam".
Definitivamente, a
servidora pública não pertence a esse grupo. No entanto, Lara espera e deseja
que todas sejam felizes, se encontrem e se respeitem como seres humanos e,
acima de tudo, como mulheres. "Sou muito senhora de mim e devo isso à
minha criação. Pago minhas contas e não me importo com o que pensam de mim. A
questão sobre me vestir ou portar — que sempre foram dentro do que o momento
pede — não me dizem nada. Há preconceito? Com certeza", conclui.
• O etarismo "sutil"
Recentemente, Lara
sentiu o estigma mais de perto, em uma equipe na qual estava trabalhando, em
que 90% eram mais novos do que ela. A servidora costuma fazer reuniões e chamar
outros colegas para sua casa. Todavia, notou que raramente era convidada para eventos
similares, quando ele acontecia na residência de outras pessoas. "Como
também não chamam um outro colega da mesma idade. Passei a identificar essa
exclusão com a questão da faixa etária. O que fiz a respeito? Falei com quem
considero mais e passei a chamar menos para minha casa. Reciprocidade é a chave
para muitos problemas."
Manter esse pensamento
não é tarefa fácil. E mais do que a cabeça boa, o corpo também clama por isso.
A servidora pública realiza checapes anuais — especialmente, cardiológico,
ginecológico e oftalmológico. Faz hidroginástica três vezes na semana e musculação,
em dois dias. Conhecer novos lugares, pessoas e culturas faz parte desse novo
momento do qual Lara tem se deliciado. A alimentação é balanceada, mas comer
bobagens, de vez em quando, não é um problema. "Viajo sempre que o
trabalho e os recursos permitem."
• Envelhecimento saudável
Na faixa etária dos 50
anos, é crucial para as mulheres priorizar exames de rastreamento, como a
mamografia e o exame de Papanicolau, juntamente com consultas regulares ao
ginecologista. Segundo Luis Otávio Manes, ginecologista especialista em
endometriose, é imperativo estar atento aos sintomas associados à menopausa e
buscar orientação médica para gerenciar as mudanças hormonais. Além disso,
manter um estilo de vida saudável, que inclua uma dieta equilibrada, exercícios
regulares e controle do peso, desempenha um papel fundamental na preservação da
saúde ginecológica durante essa fase da vida.
Na busca por um
envelhecimento saudável, os cuidados físicos, emocionais e mentais são
primordiais. Ter hábitos positivos, comer bem e fazer exercícios regularmente
entram nessa lista. "Manter um peso adequado e praticar atividades físicas
ajudam a prevenir condições como osteoporose e ganho de peso. A terapia
hormonal, quando apropriada, pode ser útil para gerenciar sintomas da
menopausa. É crucial manter uma comunicação aberta com o ginecologista para
discutir preocupações e receber orientações personalizadas para uma ótima saúde
ginecológica ao longo do processo de envelhecimento", recomenda Luis.
>>>> Para
se informar
Na faixa etária dos 50
anos, algumas das condições ginecológicas mais comuns incluem:
1. Menopausa e
sintomas associados, como fogachos, alterações de humor e secura vaginal.
2. Osteoporose, uma
condição caracterizada pela perda de densidade óssea, aumentando o risco de
fraturas.
3. Câncer de mama,
câncer de endométrio e câncer de cólon (intestino), portanto fazem-se
necessários os exames regulares de rastreamento.
4. Incontinência
urinária e prolapsos de órgãos pélvicos, que podem surgir devido ao
enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico.
5. Doenças sexualmente
transmissíveis (DSTs), embora menos comuns nessa faixa etária, ainda
representam um risco se houver atividade sexual desprotegida.
• Menopausa
Marcada pelo fim da
menstruação e da capacidade reprodutiva, a menopausa ocorre, em média, entre 48
e 50 anos. Estágio natural da vida da mulher, é um período caracterizado por
mudanças hormonais significativas, particularmente diminuição dos níveis de estrogênio
e progesterona.
"Os sintomas da
menopausa podem incluir ondas de calor, sudorese noturna, alterações de humor,
dificuldade para dormir, secura vaginal, diminuição da libido e alterações na
pele e no cabelo", elenca o ginecologista. Para lidar com esses sintomas e
promover uma transição mais suave para a menopausa, as mulheres podem adotar
diversas estratégias:
Manter um estilo de
vida saudável, com uma dieta equilibrada, rica em nutrientes como cálcio e
vitamina D, pode ajudar a manter a saúde óssea. O exercício regular também é
essencial para controlar o peso, fortalecer os ossos e melhorar o humor.
A reposição hormonal é
uma opção para algumas mulheres que experimentam sintomas da menopausa. Isso
envolve a administração de estrogênio, progesterona ou uma combinação de ambos
para compensar os hormônios que o corpo não produz mais em quantidades adequadas.
A menopausa pode ser
um momento desafiador emocionalmente para algumas mulheres. Buscar apoio
emocional de amigos, familiares ou um profissional de saúde mental pode ser
útil para lidar com os sentimentos de ansiedade, depressão ou mudanças de
humor.
• A conversa é o caminho
Aos poucos, Heloisa
Rocha, 58 anos, percebeu uma alteração de comportamento de muitas pessoas ao
redor. No início, não soube identificar. Mas, algum tempo depois, entendeu que
se tratava de um estigma com a sua idade. "Tentei participar de alguns processos
seletivos, principalmente para empresas na área digital e era descartada logo
de cara por ter mais de 40 anos. Nunca consegui entrar em nenhuma dessas,
apesar de ter muitas qualificações para isso. Acredito que esse tipo de recusa
recorrente me fez entender que aquilo não era para mim", recorda a gestora
cultural.
Envelhecer, sendo
mulher, é explicitamente mais difícil, acredita Heloisa. É normal ver um homem
acima de 50 anos em posição de poder em empresas e organizações, mas o público
feminino que atinge esses lugares é minoria. Na visão da gestora, o etarismo é
também uma questão de gênero. Mesmo com tantos empecilhos e paradigmas na
sociedade, Heloisa tenta manter a sanidade e o corpo ativos.
"Sigo trabalhando
e fazendo muitas coisas que gosto, sem ligar para padrões que querem nos
diminuir ou nos dizer o que podemos ou não fazer. Importante salientar que o
preconceito por idade mais velha é um autopreconceito, afinal, queremos ficar
velhos, certo? A outra opção não é lá muito boa. É urgente falar sobre isso.
Colocar esse assunto na pauta do dia a dia", alerta.
Exercícios físicos
para fortalecer a musculatura e ter mobilidade é fundamental nesse momento.
Além disso, não se esquecer dos elementos que existem no mundo real mantém a
chama da vida acesa. Amigos, terapia, diversão, leituras, séries e diálogos
profundos. Essa lista não é deixada de lado por Heloisa. Para aqueles que estão
entrando nos 50 anos, é uma forma de enxergar tudo de maneira especial e
diferente.
Este tema tem estado
presente sempre que as mulheres estão reunidas, conta a gestora cultural.
"Tenho grupos de bordado, crochê e manualidades que sempre trazem assuntos
ligados ao etarismo e como podemos encarar esse preconceito. Recentemente, entrei
para o grupo do Café Gentil, que resolveu organizar conteúdos interessantes. Eu
acredito muito que o caminho seja esse, conversar sobre o assunto sem medos e
preconceitos", acentua.
• Alimentação
O nutricionista
Clayton Camargo frisa que a alimentação saudável é essencial em todas as idades
para proteger tanto de doenças infecciosas, quanto dos eventos crônicos não
transmissíveis. “Aos 50 anos, as manifestações secundárias ao envelhecimento se
instalam de forma mais evidente, embora a formalização ocorra, sobretudo, acima
dos 60 anos de idade. Manter-se normopesado e com uma alimentação equilibrada
com relação aos macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras), e também
do valor energético, pode assegurar um organismo livre de diabetes tipo II,
hipertensão e inúmeros tipos de câncer”, analisa.
Nessa altura da vida,
como avalia o especialista, a mulher, geralmente, tem de lidar com climatério e
menopausa, isso significa que a dieta precisa priorizar folhosos verdes
escuros, grão de bico, lentilha, quinoa, feijão, bem como abóbora, cenoura,
beterraba, berinjela, batata-doce, castanhas e carnes mais magras, como frango
e pescados, em especial os ricos em ômega 3, como salmão e sardinha, que
conferem proteção contra as doenças neurodegenerativas.
• Ponto de vista
Um olhar meio torto,
falas preconceituosas e o entendimento de que a realidade estava diferente.
Solange Teixeira, 71, percebeu que o etarismo chegou à sua vida há três
décadas. Apesar de sempre se sentir segura e bem resolvida consigo mesma, em
algum momento, as coisas deixaram de ser fáceis. “Quando fiz 65 anos, os
desaforos ficaram mais fortes e eu já não era tão firme como antes”, comenta.
A menopausa, por
exemplo, chegou aos 44, um pouco cedo quando comparado com outras mulheres. Por
isso, os sintomas e os sinais de envelhecimento apareceram mais rápido do que
ela imaginava. Assim como a transição de humor e a crença de que muito do que via
do mundo tinha mudado. Solange fez reposição hormonal e até rejuvenescimento
facial. Era quase uma rocha de sentimentos e mal se importava com comentários
alheios.
Entretanto, com o
passar da idade, crê que o caminho ficou mais árduo e duro. No trabalho como
servidora pública, as interpretações eram de que Solange já não poderia
entregar em produtividade o que tinha feito em outros tempos. “Esses
preconceitos se verbalizam muito em relação à idade. As crianças começam a
debochar, tudo fica mais difícil.”
Para ela, o
preconceito pelo envelhecimento não é velado, é ostensivo e tem sido uma
realidade constante, tanto pessoal quanto profissionalmente. No entanto, a
energia e a vontade de continuar exercendo funções normalmente continua, ainda
que pessoas ao redor estejam sempre a observando com olhar de cuidados. O
“posso ajudar”, de acordo com Solange, é uma expressão frequente na rotina
laboral diária e entre os amigos. Como também ouvir críticas ao usar uma roupa
mais ousada ou muito colorida.
Hoje, praticamente
nada difere de épocas passadas. A discriminação permanece, crescendo e não
amenizando. Crente disso, ela tenta preservar a sanidade mental. Além do
físico, é claro. Aliás, Solange teve um problema sério de saúde, que dificulta
a locomoção em determinadas situações. “Tenho cultivado relações saudáveis com
amigos e familiares e busco manter equilíbrio entre a vida pessoal e
profissional. Tenho profunda gratidão pela vida. Ter vivido tudo que vivi e por
estar aqui.”
Fonte: Correio
Braziliense
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