Milei diz que enviará novos projetos de
reforma ao Congresso argentino e ameaça parlamentares
O presidente
argentino, Javier Milei, disse nesta sexta-feira (1°) que enviará um novo
pacote de projetos de lei ao Congresso, quase um mês depois que os legisladores
rejeitaram seu chamado “projeto de lei geral”, que teria realizado reformas
abrangentes.
Durante a fala, Milei
afirmou aos parlamentares que tentaria mudar a política com ou sem o apoio
deles. Fazendo pausas frequentes entre aplausos, disse ao Congresso que se eles
se opusessem a ele, enfrentariam um “tipo diferente de animal”.
O chefe de Estado
expôs várias das propostas do novo pacote, que também parece ser abrangente.
O presidente ressaltou
que deve propor a limitação dos mandatos dos dirigentes sindicais, com quem o
libertário entrou em conflito, e que cortará benefícios a políticos condenados
pelo crime de corrupção pela segunda vez.
Milei tomou posse em
dezembro, procurando levar uma “serra eléctrica” ao status quo do
país, em uma época em que o país enfrenta a crise econômica.
A inflação superior a
250%, anterior a Milei, mas que aumentou depois dele ter desvalorizado
drasticamente o peso, em dezembro, elevou os níveis de pobreza, que se
aproximam dos 60%, aumentando as tensões entre trabalhadores e sindicatos e
provocando mais greves e protestos.
Ø
Desafio argentino é defender instituições
democráticas, como Brasil fez, diz Human Rights Watch
Em visita à Argentina, onde se reuniu nos
últimos dias com representantes da sociedade civil, integrantes do Executivo e
do poder judiciário, a diretora para as Américas da organização de direitos
humanos Human Rights Watch, Juanita Goebertus Estrada, disse que o desafio do país
é “demonstrar se, em um cenário de embates”, como o promovido pelo
ex-presidente Jair Bolsonaro no
Brasil contra o judiciário, o país conseguiria defender suas instituições
democráticas.
De acordo com Estrada,
a organização monitora há décadas a situação no país e, recentemente, tem
detectado “possíveis riscos quanto ao Estado de Direito e à proteção dos
direitos humanos”. “Estamos aqui para ouvir diferentes vozes, nos reunir com o
governo, com a sociedade civil, membros do poder judiciário e avaliar de
maneira mais detalhada se esses riscos estão realmente se consumando”, explicou
à CNN sobre a visita.
“Temos algumas
preocupações sobre declarações do presidente [Javier Milei] relacionadas ao
Estado de Direito. A maneira com a qual a relação entre o governo e o Congresso
foi conduzida nos preocupa. Um dos controles essenciais em uma democracia é a
separação de poderes, e vamos monitorar de maneira muito detalhada a relação entre
a presidência e o poder Judiciário”, disse a diretora da organização.
À CNN, Estrada
manifestou preocupação por medidas como decreto de necessidade e urgência
assinado pelo chefe de Estado argentino, que eliminou e modificou, em dezembro,
centenas de leis que tinham sido aprovadas pelo parlamento, e o envio ao
Congresso da “lei ônibus”, que reformava diversos aspectos da administração
pública, mas acabou tendo vários artigos rejeitados e acabou sendo retirada de
discussão pelo governo.
Outro ponto de
preocupação é o protocolo “anti-piquetes” implementado pela atual ministra da
Segurança do país, Patricia Bullrich, que
impede o bloqueio de ruas por manifestantes e leva o governo a colocar centenas
de integrantes de forças de seguranças nas ruas durante protestos. “Contemplam
algumas medidas concretas de restrição de direitos, como do direito ao protesto
e a forma com que vão lidar com eles daqui para frente”, explicou, afirmando
que a organização manifestou essas preocupações para o governo argentino.
No Brasil, diz
Estrada, o escritório da organização em São Paulo registrou diferentes casos
“graves de violações ao Estado de Direito, de corrupção, uma série muito
delicada de violações aos direitos humanos por parte de policiais, em termos de
segurança pública, de uso da força” nos últimos governos.
No entanto, segundo
ela, quando sob o governo de Jair Bolsonaro, houve tentativas para afetar a
independência judicial, para inclusive não reconhecer resultados eleitorais, as
instituições brasileiras, e particularmente a justiça, conseguiu resistir e defender
a institucionalidade diante do autoritarismo”. Para ela, o desafio argentino é,
diante de possíveis enfrentamentos de Milei com os demais poderes, o país
demonstrar que resiste e defende suas instituições democráticas.
Questionada pela CNN, Estrada preferiu não comentar a investigação ao
ex-presidente sobre tentativa de golpe de Estado. “Estamos acompanhando, mas
ainda não fizemos um pronunciamento sobre o caso”, explicou.
Com relação à
Argentina, ela também manifesta preocupação com denúncias que recebeu de cortes
de envios de alimentos para refeitórios populares. “Os recursos não estão
chegando para pessoas que realmente precisam de acesso à comida. Recebemos
fortes denúncias de restrição de direitos econômicos e sociais pelo bloqueio de
desembolsos de recursos, mas ainda estamos investigando. Continuaremos
monitorando, e devemos ter resultados mais contundentes em breve”, concluiu.
Apesar da alta
inflação, que ronda os 20% mensais e castiga o bolso dos argentinos, o governo
Milei afirma que irá acabar com os intermediários para o envio de auxílio à
população mais necessitada. Segundo a administração ultralibertária, esses
mediadores atuam como “gerentes da pobreza”.
Uma das medidas
governamentais para mitigar o impacto da inflação nas camadas sociais mais
pobres foi duplicar o montante do cartão alimentar, auxílio governamental para
a compra de alimentos pelos setores pobres, que já são, segundo o Observatório
da Dívida Social da Argentina, mais de 57% da população.
Ø O revés venezuelano com decisão de corte internacional de manter
investigação por supostos crimes contra a humanidade
O governo do
presidente venezuelano, Nicolás Maduro, sofreu
um revés com a rejeição de um recurso de apelação perante a Corte Penal
Internacional (CPI), onde buscava interromper as investigações sobre possíveis
crimes contra a humanidade.
"A Câmara de
Apelações (...) rejeita os argumentos apresentados pela Venezuela. Recusa as apelações
e confirma a decisão impugnada", declarou o juiz Marc Perrin de
Brichambaut ao tribunal sediado em Haia, conforme relatado pela agência AFP.
Em novembro de 2021, a
Venezuela tornou-se o primeiro país da América Latina no
qual a CPI iniciou uma investigação formal, após o promotor britânico Karim
Khan anunciar a abertura do caso conhecido como "Venezuela I",
relacionado a alegados crimes contra a humanidade ocorridos em 2017.
Nesse ano, violentos
protestos contra o governo de Maduro eclodiram, com milhares de pessoas indo às
ruas devido à escassez de alimentos e medicamentos, inflação e insegurança.
As manifestações foram
intensificadas pela suspensão de um referendo revogatório contra o presidente.
·
O recurso de apelação
da Venezuela
No ano passado, o
governo de Maduro apelou uma decisão favorável à retomada da investigação,
argumentando que o princípio da complementaridade deveria ser respeitado.
Esse princípio
estabelece que um tribunal internacional complementa a justiça nacional e só
pode intervir se um país não estiver investigando os mesmos crimes.
Segundo a agência
Reuters, os juízes de apelação unânimes rejeitaram todos os argumentos da
apelação, dando luz verde à Procuradoria do CPI para retomar as investigações
sobre os abusos.
Em resposta à decisão,
o governo venezuelano expressou em um comunicado seu "desacordo" com
a decisão, alegando que ela "responde à intenção de instrumentalizar os
mecanismos da justiça penal internacional com fins políticos, baseando-se em
acusações de supostos crimes contra a humanidade que nunca ocorreram".
A nota também afirma
que toda essa manobra foi construída a partir da manipulação de um pequeno
conjunto de crimes e acusa a oposição de distorcer casos de alegadas violações
dos direitos humanos.
O governo de Maduro
assegura estar investigando as denúncias e sustenta que não houve crimes contra
a humanidade em larga escala.
Em 2020, Khan afirmou
que havia "bases razoáveis" para acreditar que funcionários
governamentais e militares perpetraram desaparecimentos forçados, execuções
extrajudiciais, detenções arbitrárias e torturas contra dissidentes durante os
protestos de 2017, nos quais 125 pessoas perderam a vida.
A decisão da Sala de
Apelações da CPI foi aplaudida por organizações de defesa dos direitos humanos
na Venezuela, em meio a protestos exigindo a libertação da ativista Rocío San
Miguel, detida em 9 de fevereiro.
Durante vários dias,
as autoridades não forneceram informações sobre seu paradeiro e negaram acesso
a familiares e advogados.
San Miguel foi acusada
de participar de uma alegada conspiração para assassinar Maduro e permanece
detida em El Helicoide, denunciado pela dissidência como "o maior centro
de tortura da Venezuela".
A detenção de San
Miguel foi qualificada como desaparecimento forçado pelo Alto Comissariado das
Nações Unidas para os Direitos Humanos, uma afirmação que enfureceu Maduro,
levando-o a ordenar a expulsão de todo o pessoal dessa instância na Venezuela.
A Missão Internacional
Independente de Determinação dos Fatos sobre a Venezuela, um mecanismo da ONU
com um mandato separado do Alto Comissariado, investigou e documentou casos de
execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias,
torturas e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes ocorridos desde
2014.
Ø
Grupo guerrilheiro ELN pede que Colômbia
rompa relações com Israel
O Exército de
Libertação Nacional (ELN) emitiu uma nota na segunda-feira (26/02) apoiando as
falas do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, após o mandatário classificar
de “genocídio” as ações de Israel na Faixa de Gaza. Segundo o grupo armado
colombiano, o governo deveria romper as relações diplomáticas com Tel Aviv.
Em suas redes sociais,
Petro expressou "solidariedade integral" ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. O brasileiro comparou o massacre promovido pelas forças
militares de Israel contra os palestinos ao genocídio promovido por Adolf
Hitler contra os judeus na Segunda Guerra Mundial. Petro também disse que o que
ocorre em Gaza neste momento é um genocídio, com as mortes de crianças,
mulheres e idosos civis.
No documento do ELN, o
grupo afirma que Israel promove desde 1948 “política de aniquilação da
Palestina” com o apoio dos Estados Unidos e da Europa. O grupo apoiou a postura
do governo da Colômbia, mas disse que as relações com Israel “já deveriam ter
sido encerradas”.
“Romper com um Estado
genocida é um dever elementar e é por isso que há países que já o fizeram; da
mesma forma que os acordos de cooperação devem ser rompidos imediatamente em
todas as áreas; em absolutamente todas as áreas, inclusive nos campos militar e
comercial, para tentar isolar e sancionar moralmente essa política, como já
está sendo proposto em muitas partes do mundo”, diz o documento.
O grupo lembra também
das acusações que foram feitas pela África do Sul na Corte Internacional de
Justiça (CIJ), afirmando que as ações de Israel são “mais extremas” que o
apartheid. O ELN também pediu a prisão do primeiro-ministro israelense,
Benjamin Netanyahu, e comparou as ações do Estado de Israel na Faixa de Gaza
com o Holocausto.
“Paradoxalmente, há
apenas 80 anos, era assim que os nazistas se consideravam: superiores, razão
pela qual buscaram exterminar os judeus e outras pessoas que consideravam como
lixo”, afirma o texto.
Ao final do documento,
o ELN disse que, se a Colômbia não romper relações com Israel, o discurso do
governo de “dignidade humana” será só uma “retórica”.
·
Retomada das
negociações
A delegação do ELN nos
diálogos de paz também anunciou que vai retomar os diálogos com o governo a
partir de 8 de abril. As negociações com o governo da Colômbia estavam
congeladas desde o dia 20 de fevereiro. O grupo afirmava que o processo estava
em “crise aberta” e chegou a convocar sua delegação para consultas.
Em nota, o ELN afirmou
que vai continuar com o que foi acordado no último ciclo de debates em Cuba e
que vai preparar para o próximo ciclo de debates que será em abril, na
Venezuela. Ainda assim, a delegação manteve a convocação para as consultas
internas no grupo.
Fonte: CNN Brasil/BBC
News Mundo/Brasil de Fato
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