sábado, 23 de março de 2024

Lula se aproxima cada vez mais da direita e se distancia de atos da esquerda pela democracia

Movimentos e partidos de esquerda vão às ruas neste sábado (23) em atos pela democracia e contra anistia a golpistas, em diferentes cidades do país. As manifestações miram Jair Bolsonaro (PL) e não vão contar com o embarque do governo Lula (PT).

O presidente não deve comparecer, tampouco seus ministros.

Os atos estão marcados para ao menos 23 cidades, inclusive fora do país, mas o principal será no Largo do Pelourinho, em Salvador, onde vão se reunir presidentes de partidos, inclusive Gleisi Hoffmann do PT, líderes de movimentos e parlamentares. O governador anfitrião, Jerônimo Rodrigues (PT), vai comparecer.

Os organizadores querem evitar que as manifestações sejam comparadas ou vistas como resposta ao ato promovido por Bolsonaro na avenida Paulista, em fevereiro. Até por isso, como mostrou a Folha, eles buscaram um local diferente em São Paulo, o Largo São Francisco, e pulverizaram os protestos pelo país.

Na época, Lula reconheceu que o ato adversário foi grande e havia temor de que a comparação de público fosse desfavorável para a esquerda.

O dia de mobilização tem como temas também a ação de Israel na Faixa de Gaza e a memória dos 60 anos do golpe militar.

Nesse último ponto, a posição dos militantes, que formam a base do governo Lula na sociedade e no Congresso, contrasta com a do próprio presidente, que orientou ministérios a não realizar críticas ou atos que lembrem a ditadura em meio a um esforço para distensionar a relação com as Forças Armadas.

Representantes de entidades ouvidos pela Folha afirmam que tanto o governo quanto os movimentos têm autonomia para realizar ou não cerimônias que marquem a data e para incentivar ou não manifestações.

Enquanto parte minimiza a decisão do governo, argumentando que seu papel institucional é diferente, há também críticas à postura de Lula.

Depois de vetar atos alusivos ao golpe, o governo avaliou que, no mesmo sentido, deveria ficar de fora da convocação das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo para este sábado.

Além disso, a leitura no Palácio do Planalto é a de que a gestão petista não deveria usar o governo para mobilizar a militância, acusação que era feita em relação a Bolsonaro. O mandatário deve ficar no fim de semana em Brasília.

Ministros do governo Lula do PT e outros partidos de esquerda evitam falar que há uma posição fechada ou mesmo uma orientação para se distanciarem dos atos. Por outro lado, afirmam que não irão comparecer por motivos variados, como compromissos familiares e doenças.

Alexandre Padilha (Relações Institucionais), por exemplo, deve cumprir agenda oficial no Rio de Janeiro. Há ministros que ainda afirmam não terem tomado decisão, como o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo (PT). Um dos protestos está previsto para acontecer em Aracaju (SE), sua base política.

Deputados e senadores petistas iniciaram em suas redes sociais uma campanha de convocação para os atos, nas diferentes cidades. Uma das presenças confirmadas no ato em Salvador é o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

No início do mês, integrantes do governo e do PT bateram cabeça sobre a conveniência de convocar o ato. Primeiro, por causa da inevitável comparação com o de Bolsonaro. Em segundo lugar, porque alguns opinam que o Planalto deveria priorizar as políticas públicas e não os atos de rua como meio para mobilizar a base e aumentar a popularidade de Lula.

Num cenário negativo para o presidente, o Datafolha desta quinta (21) mostra sua aprovação (35%) empatada tecnicamente com sua reprovação (33%).

O deputado federal Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT, diz concordar com a posição do Planalto de não se misturar aos atos, mas critica o veto a eventos que lembrem a ditadura. Diz que isso é "um erro" e que ações institucionais servem para que um golpe "nunca mais aconteça".

"O governo tem que governar. Governo não faz manifestação, oposição é que faz. Agora, está certo as entidades fazerem o ato. É para reafirmar a defesa da democracia. Quem tenta dar golpe tem que ir para a cadeia."

Durante o planejamento das manifestações, os organizadores decidiram não incluir o mote da prisão de Bolsonaro como bandeira. O argumento que prevaleceu nos debates fechados foi o de que o direito de defesa e o devido processo legal têm que ser resguardados, assim como se reivindicava para Lula nos casos da Operação Lava Jato.

Os protestos têm a participação de siglas de esquerda, como PT, PC do B, PV, Rede, PSOL, PSB e PDT. E também de entidades como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), CUT (Central Única dos Trabalhadores), CMP (Central de Movimentos Populares), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e UNE (União Nacional dos Estudantes).

Rud Rafael, coordenador do MTST e representante da frente Povo sem Medo, afirma não ver problema na ausência do governo nos atos ou na proibição de eventos institucionais com esse tema.

"O mais importante é que a sociedade brasileira não esqueça [a ditadura]. Há um nexo direto entre a ditadura militar e os fatos políticos que movem a extrema direita hoje, uma tentativa golpista em curso. Em nenhum momento queremos fazer palanque, mas sim dar voz às manifestações populares", diz.

Raimundo Bonfim, coordenador nacional da CMP, também diz que o movimento é autônomo em relação ao governo, embora sejam aliados.

"Tanto é que não arredamos pé de lembrar os 60 anos [da ditadura]. Compreendo a preocupação do Lula de não tensionar com os militares, mas a melhor maneira de não tensionar e não deixar brechas como a do 8 de janeiro é lembrar o golpe sanguinário de 1964. Os movimentos têm obrigação moral de trabalhar esse tema."

Bonfim acrescenta que depoimentos colhidos pela PF mostram que Bolsonaro "foi mentor da tentativa de golpe" e "animam o processo de convocação". Ainda assim, ele admite que, desde 2013, "a direita tem mobilizado mais gente".

Já a presidente da UNE, Manuella Mirella, diz ser "inadmissível" a proibição do governo de atos em alusão ao golpe. "Temos sim que exigir punição para quem atacou a democracia tanto em 1964 como no 8 de janeiro", afirma ela, que rejeita a comparação com a manifestação bolsonarista.

Diz que aquele foi "um ato de desespero de Bolsonaro" e que as manifestações de rua "estão no DNA do movimento social".

•        CIDADES COM ATOS MARCADOS

AL - Maceió - Calçadão do Comércio - 9h

BA - Salvador - Largo do Pelourinho - 15h

CE - Fortaleza - Praça do Ferreira - 8h30

DF - Brasília - Praça Zumbi dos Palmares - 16h

ES - Vitória - Praça Vermelha - 9h

GO - Goiânia - Coreto da Praça Cívica - 14h

MA - São Luís - Praça Deodoro - 9h

MG - Belo Horizonte - Praça Afonso Arinos - 9h

MS - Campo Grande - Praça do Rádio - 9h

PA - Belém - Escadinha do Cais - 9h

PB - João Pessoa - Praça da Lagoa - 15h

PE - Recife - Praça do Derby - 10h

PR - Curitiba - Praça Santos Andrade até Boca Maldita - 9h

RJ - Rio de Janeiro - Uruguaiana com Presidente Vargas - 10h

RR - Boa Vista - Praça Germano Sampaio - 17h

RS - Porto Alegre - Largo Glênio Peres - 15h

RO - Porto Velho - Praça Marechal Rondon - 17h30

SC - Florianópolis - Em frente a Catedral - 16h

SE - Aracaju - Em frente a Deso - 07h

SP - São Paulo - Largo São Francisco - 15h

SP - Osasco - Calçadão em frente ao Shopping - 13h

Lisboa (Portugal) - Praça Luís de Camões - 10h30

Barcelona (Espanha) - C/ Rocafort 242 - 14h

 

       ‘Quem flerta com criminalidade’ e ofende STF pode ser barrado ao entrar no Brasil, diz delegado

 

O diretor de Polícia Administrativa da Polícia Federal (PF), delegado Rodrigo de Melo Teixeira, afirmou que quem “flerta com a criminalidade” e “ataca a honra” de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) está sujeito a ser questionado pelo órgão ao entrar no País. O delegado compareceu a uma audiência na Comissão de Segurança Pública do Senado na terça-feira, 19.

A reunião ocorreu para esclarecer o caso do influenciador português Sergio Tavares, que foi retido e entrevistado no aeroporto de Guarulhos em 25 de janeiro. Ele veio ao Brasil para acompanhar o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista. Teixeira afirmou que as manifestações dele, “que beiram um aspecto criminal”, motivaram a retenção.

“Ele (Sergio Tavares), questionado sobre ataque à honra de ministros da Suprema Corte que ele faz na rede social dele… Não é questão só de ser ministro da Suprema Corte. Eu não posso fazer um ataque à honra do senhor, que é senador, ou de qualquer cidadão, ou contra mim, que sou delegado. Ataque à honra considera-se crime no nosso ordenamento legal. Outra questão, quando ele critica a urna eletrônica e diz que é fraudada. Tangencia em uma situação que a gente sabe que não tem nenhuma ilegalidade nesse procedimento, e ele critica. Ele apoia o movimento golpista que teve no 8 de Janeiro”, afirmou o delegado.

Tavares foi retido pela PF para um “procedimento técnico”, decorrente do setor de análise do aeroporto que verifica as listas de restrição ou alerta aos passageiros, e liberado horas depois.

Segundo o diretor de Polícia Administrativa, 143 mil nomes constam na lista de alerta. Ele explicou ainda que, como não havia mandado judicial, “não há processo no Brasil contra o Sérgio Tavares”, e que a relação de nomes “serve para controlar a migração”.

•        ‘Perseguição política’

Ao citar as falas públicas do influenciador que levaram ao alerta, o delegado se referiu aos ataques às sedes dos Três Poderes no 8 de Janeiro como uma atividade antidemocrática, provocando protesto de alguns senadores bolsonaristas. O senador Jorge Seif (PL-SC) disse que a classificação revela um posicionamento político de Teixeira, porque “não houve golpe, é uma narrativa”. Após essa fala, Seif afirmou que a retenção de Tavares foi motivada por questões políticas.

Em outro momento da sessão, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) disse que “todos vão fazer essa pergunta (por que o influenciador foi interrogado?) e não vai ter outra resposta a não ser perseguição política”.

Já o senador Carlos Portinho (PL-RJ) questionou se o monitoramento prévio das redes sociais do português se aplica a todos os estrangeiros. O diretor da PF respondeu que a “todos não”, mas sim aos que constam nas listas do controle migratório. Ele ainda afirmou que o nome de Tavares constava na relação por causa de postagens em suas “redes sociais abertas”.

Considerando que a retenção foi causada por posicionamentos políticos condizentes com a gestão de Bolsonaro, o senador Sérgio Moro (União-PR) questionou se estrangeiros serão barrados no País por suas opiniões, caso elas sejam contrárias ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O delegado respondeu que ninguém será impedido por opinião política. No entanto, “nós temos que separar uma coisa que é opinião política do que é opinião favorável a algo que é crime, como, por exemplo, o ato de vandalismo do 8 de Janeiro”, disse Teixeira.

Ainda durante a sessão, o senador Eduardo Girão (Novo-CE) fez referência ao caso em que o ministro do STF Alexandre de Moraes sofreu supostas agressões no aeroporto de Roma, na Itália. O parlamentar perguntou se um italiano entraria na lista da PF caso o criticasse. Em resposta, o delegado afirmou que “todo cidadão que é vítima ou que sofre um ataque à honra tem o direito de procurar a Justiça”. “Se tiver processo ou mandado de prisão, a pessoa nem entra no alerta, entra na restrição.”

•        Sergio Tavares diz que foi interrogado por ‘crimes de opinião’

No dia em que chegou ao Brasil, o influenciador se manifestou no X (antigo Twitter), para dizer que estava retido. “Todos os passageiros tiveram autorização para sair, menos eu. A Polícia Federal tem o meu passaporte retido e dizem-me que o superior me quer fazer questões. Tudo porque vim divulgar a manifestação pela democracia convocada por Bolsonaro”, escreveu Tavares.

Nesta quarta-feira, 20, ele criticou as declarações do delegado. Afirmou nunca ter apoiado os atos do 8 de Janeiro e criticou o uso do termo “entrevista”, alegando que foi “levado por dois policiais para dentro de uma delegacia”. “É mentira. Eu não fui entrevistado, eu fui interrogado por crimes de opinião.”

 

Fonte: IstoÉ

 

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