Caso Daniel Alves: por que ex-jogador não
teve dinheiro para pagar caução?
O brasileiro Daniel
Alves passou o fim de semana na penitenciária após sua defesa não conseguir
arrecadar, mais uma vez, o valor para o pagamento da fiança arbitrada pela
Justiça da Espanha.
Os advogados do
ex-jogador condenado por estupro tentaram um empréstimo bancário nesta
sexta-feira, 22, mas o negócio não avançou, e Alves permanecerá preso até esta
segunda-feira, 25, pelo menos.
Ainda pela manhã, a
defesa de Alves tentava o empréstimo, que acabou sem sucesso enquanto os
advogados mantinham negociações abertas com outras vias de financiamento. Os
defensores do ex-jogador chegaram até a conseguir a prorrogação do prazo para o
pagamento da fiança, mas, ainda assim, não arrecadaram o valor exigido pelo
Judiciário espanhol, divulgou o jornal La Vanguardia.
Com patrimônio
estimado em 60 milhões de euros (R$ 324 milhões), por que Daniel Alves não usa
o próprio dinheiro para arcar com a fiança? Entenda, a seguir, o imbróglio para
o custeio do valor.
Em decisão divulgada
na última quarta-feira, 20, a Justiça da Espanha concedeu a possibilidade de
que o ex-jogador brasileiro, condenado a quatro anos e meio por estupro,
aguarde em liberdade o trânsito em julgado, sob pagamento de fiança de 1 milhão
de euros (R$ 5,4 milhões).
Atualmente, o
ex-jogador está com as contas bloqueadas no Brasil em decorrência de uma
disputa judicial com a ex-esposa, Dinorah Santana. Ela o processou pelo não
pagamento de pensão alimentícia aos filhos e cobra R$ 13 milhões na Justiça do
Rio de Janeiro.
Já na Espanha, sua
defesa apontou, no decorrer do processo por estupro, que Alves tem dívida de
500 mil euros (R$ 2,7 milhões) com o Fisco espanhol e duas contas no país
europeu, uma com saldo de 50 mil euros (R$ 272 mil) e outra com saldo negativo
de 20 mil euros (R$ 109 mil).
A advogada Inés
Guardiola, que representa o jogador, explica que tenta conciliar o recebimento
de uma indenização vencida por Daniel Alves contra o Fisco espanhol, de 1,2
milhões de euros (R$ 6,5 milhões), com o pagamento da fiança para a liberdade
provisória.
O processo envolve uma
série de trâmites judiciais e dificilmente avançará antes da próxima segunda,
afirmou Inés. Ela ressaltou que não buscou ajuda da família de Neymar Jr, amigo
de Daniel Alves, para arrecadar o valor da fiança.
A defesa, no entanto,
assegura que o pagamento do valor arbitrado para a fiança será arrecadado até
as 9h de segunda, assim que o advogado da administração da penitenciária
estiver disponível.
Decisão polêmica
A decisão por
autorizar a liberdade provisória de Daniel Alves sob pagamento de fiança
aconteceu um dia após audiência entre a Justiça da Espanha e a defesa do
ex-jogador que, pela sexta vez, pediu para que ele pudesse recorrer liberdade
até o esgotamento de todos os recursos. Desta vez, o pedido foi concedido pelo
Judiciário de Barcelona.
Além do pagamento
milionário, a decisão estipula uma série de outras medidas cautelares. Daniel
Alves terá de entregar seus dois passaportes - um brasileiro e um espanhol -
para impedí-lo de fugir. A vítima ainda deve ser comunicada de sua liberdade. O
ex-jogador ainda deverá comparecer semanalmente ao Tribunal de Barcelona.
A advogada da vítima,
Estér García, e o Ministério Público da Espanha se posicionaram contra a
defesa, alegando risco de fuga. Já a defesa de Daniel Alves alegou que ele tem
residência em Barcelona.
De acordo com Estér,
após ser notificada da decisão pela liberdade provisória do brasileiro, a
vítima ficou 'inconsolável'.
"Sinto que
voltaram a me estuprar. Estou cansada de ser forte, não quero mais ser
forte", afirmou a vítima do jogador à advogada, que pretende apresentar um
recurso contra a fiança de Daniel Alves até a próxima segunda-feira, 25.
Após a condenação do
jogador, todas as partes recorreram da sentença. A defesa dele pede pela
absolvição, enquanto o Ministério Público e os advogados da vítima pedem que
ele seja condenado a cumprir a pena máxima, de 12 anos.
• Contrário à liberdade de Daniel Alves,
MP de Barcelona contesta fiança
O Ministério Público
de Barcelona, na Espanha, recorreu de decisão judicial que possibilitou ao
ex-jogador de futebol Daniel Alves sair da cadeia mediante o pagamento de
fiança, fixada em 1 milhão de euros – cerca de R$ 5,5 milhões.
Daniel Alves foi
condenado a quatro anos e meio de prisão por agressão sexual. Ele é acusado de
estuprar uma mulher no banheiro de uma boate em Barcelona, no final de 2022.
Ele está preso no
Centro Penitenciário Brians 2, mas a Justiça aceitou um pedido de liberadade
provisória da defesa do jogador, condicionado ao pagamento de fiança. O MP, no
entanto, entendeu que há risco de fuga do ex-jogador caso ele saia da prisão.
Assim, os promotores recorreram da possibilidade de liberadade.
Até o momento, a
defesa de Daniel Alves não conseguiu arrecadar o valor total da fiança.
O pagamento foi uma
das condições estabelecidas pela Justiça da Espanha para que o jogador deixe a
prisão.
Há ainda as
condicionantes para que ele compareça semanalmente ao Tribunal de Barcelona e
não tenha nehum tipo de contato com a vítima. Os passaportes do jogador também
foram confiscados.
• “Voltaram a me estuprar”: desabafa
vítima
A decisão da Justiça
Espanhola de conceder liberdade provisória a Daniel Alves impactou o mundo do
futebol. Por trás dos pormenores jurídicos e dos olhares públicos de
indignação, a vítima do ex-lateral, condenado por estupro, sentiu mais uma vez
a dor de ter passado pelo trauma de uma agressão sexual.
Ao Uol, a advogada da
mulher, Ester García López, afirmou que nunca viu a sua cliente tão mal quanto
na última quarta-feira (20/3), no momento em que Justiça decidiu aceitar o
pedido da defesa de Alves.
Em encontro com sua
advogada, após o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha divulgar a decisão,
a vítima expressou a sua tristeza por sentir que Alves sairia incólume de todo
o processo. “Sinto que voltaram a me estuprar. Estou cansada de ser forte, não
quero mais ser forte”, desabafou a vítima.
Em 22 anos de
profissão, Ester afirma nunca ter presenciado uma decisão parecida com a que
foi tomada pela Justiça no caso do ex-jogador brasileiro e revelou não
compreender o motivo por trás da resolução da corte.
“A sensação que fica é
a de que a justiça tem um preço. A sentença já era injusta, uma vez que nunca
vi uma pena tão baixa para um estupro. Nós estamos lutando contra o poder”,
revelou a advogada da mulher.
Quantas vezes a vítima de Daniel Alves
foi violentada? Por Helcio Herbert Neto
Em abril, completa um
ano a declaração em que Daniel Alves reconheceu com veemência que mentiu sobre
o episódio de violência sexual às vésperas da virada para 2023. O caso,
publicizado como uma vitória em direção à justiça, é outro indício da sequência
de violações a que as vítimas são submetidas em processos como esse, que
culminou na condenação pelo aparato judicial da Espanha ainda no início de
2024. A justificativa para a troca de versão: era preciso manter o que
aconteceu na boate sob silêncio para não soar infiel à esposa.
A vítima, cujo nome
foi mantido sob sigilo, aparecia assim como o foco de uma provocação tamanha
capaz de desvirtuar o marido, pai de família, homem responsável que edificou
uma vida pública – a ponto de ser considerado ídolo nacional. Daniel Alves
morava no México, mas estava na Espanha para o velório da própria sogra quando
o caso se desenrolou. Com a reviravolta de 2023, então, à mulher violentada foi
reservada a vilania em oposição à constituição familiar, ao lar que o jogador
havia composto.
Mais urgente do que
saudar a recente condenação a quatro anos e meio de prisão por violência sexual
como um marco é identificar a quantas humilhações foi submetida a vítima desde
que resolveu revelar o crime cometido. A primeira, imediata, foi se levantar,
retornar à pista de dança e se deparar com o que parecia ser uma noite comum
para todos: as conversas fluíam, as danças eram parecidas com a dos demais dias
na casa noturna, Daniel Alves se comportava como se nada de grave tivesse
acontecido.
Em seguida, outra
violência – relatar à equipe do estabelecimento que havia sido violentada.
Repisar, rememorar, recuperar os detalhes de cada dor, à flor da pele, eram
formas de fazer com que o crime fosse repetido. E era só o começo: a partir
dali, os relatos seriam repetitivos, cada vez para interlocutores diferentes.
Rapidamente, para os seguranças; adiante, para a promotoria; e, pouco antes da
decisão judicial, para a própria Corte. As consecutivas humilhações não se
restringiriam à esfera da linguagem.
O protocolo
estabelecido pelas autoridades espanholas prevê procedimentos para comprovação
dos casos de estupro. Numa descrição fria, o exame de corpo de delito é a
identificação de indícios que atestem ou não alguma prática criminosa. Para a
vítima, é a exposição a legistas, possivelmente homens, que novamente farão vir
à tona dos gestos menos aparentes aos mais agressivos do momento do crime. Além
disso, novamente se coloca em posição vulnerável a mulher que já havia sido
exposta a tudo aquilo.
E então se somam às
desconfianças quanto às denúncias da mulher – mal crônico da sociedade – a
pressão midiática. Daniel Alves forçou uma repercussão favorável em entrevista,
ainda em junho, quando afirmou que a perdoava. As declarações à imprensa manifestam
a intenção de sustentar a versão de que o encontro entre ambos foi consensual e
que somente os dois sabiam o que tinha acontecido. A despeito das comprovações,
o absurdo clima de suspeitas contra a acusação é preservado até hoje por canais
no YouTube.
O apoio vem a reboque
dos ventos apologéticos a Daniel Alves, que se fortaleceram no fim da carreira
profissional. Liderança na seleção brasileira, capitão do São Paulo e reforço
chamativo do Pumas do México: o noticiário incensava os seus feitos na contramão
dos problemas disciplinares e das quedas de rendimento atlético. Em 2022, foi
ainda cabo eleitoral para a reeleição do então presidente da República Jair
Bolsonaro, em coro com colegas de modalidade, milicianos e envolvidos em
acusações de estupro.
Companheiro de
delegação de Daniel Alves no Mundial de 2010, Robinho foi condenado na Itália
por violentar coletivamente uma jovem albanesa. Vale destacar: a antiga dupla
da seleção fez campanha para o mesmo candidato em 2022. Ainda que a decisão
judicial tenha sido anunciada no ano da votação que definiu uma derrota em
escala nacional do bolsonarismo, o atacante seguiu em liberdade no Brasil.
Somente a pressão de movimentos sociais evitou que sua carreira prosseguisse
normalmente após o crime.
Em todos os níveis, o
desequilíbrio entre as partes do caso Daniel Alves é nítido. No banco dos réus
esteve um homem conhecido, milionário, na lista dos cinco jogadores de futebol
que mais atuaram com a camisa da seleção – a maior campeã da história das Copas
do Mundo. A acusação se ampara no depoimento de uma mulher, desconhecida, para
quem os relatos dificilmente seriam avalizados como legítimos perante o muro de
desconfiança que se ergue todas as vezes que novos episódios de assédio vêm a
público.
Tornar-se invisível
era o último recurso para sobreviver, uma vez que as disparidades eram de tal
amplitude. Eis, então, outra violência – a mãe de Daniel divulgou a identidade
pelas redes sociais. O fato de uma voz feminina ter descredibilizado o relato é
um agravante nessa investida, agora contra a única forma de resistência
possível naquelas circunstâncias. As imagens publicadas supostamente
registravam instantes de diversão da mulher. Ou seja, a partir do episódio, à
vítima apenas caberia um sofrimento sem fim.
Em ritmo de violências
consecutivas: os procedimentos jurídicos, de certo modo, realçam essa hipótese
de calvário. Entre a defesa e o Ministério Público pairava o desejo de que todo
o julgamento fosse às portas fechadas, em tentativa de conter a superexposição.
Mesmo a justiça espanhola – cujos protocolos recentes para violência sexual e
velocidade para os processos até a punição têm sido elogiados –, rubricou a
necessidade de abrir os ritos da Corte e fez com que somente o depoimento da
vítima fosse restrito no tribunal.
A cobertura esportiva registrou
a aliança com Neymar, que colaborou em dinheiro para que a pena de Daniel Alves
fosse reduzida. Seria o mais escandaloso gesto de agressão, se o atacante
atualmente no Catar não tivesse sido acusado de diferentes episódios de
assédio. O primeiro terminou com o indiciamento por calúnia contra a suposta
vítima; o segundo foi amplamente silenciado e culminou no rompimento do astro
do futebol com a fornecedora de material esportivo Nike. Um retrospecto que
impede qualquer surpresa.
Daniel Alves nasceu em
Juazeiro, na Bahia. Uma estátua em homenagem ao jogador foi construída, ainda
antes dos seguidos gestos de violência impostos pelo réu e pelas consequências
de seus atos, contra a vítima. Várias manifestações foram realizadas diante
daquele monumento que, agora, não deixa de ser a expressão de uma agressão
permanente à mulher violentada. A prefeitura, contudo, respondeu que a
escultura em bronze será mantida. Cumpre mandato, no Executivo municipal,
Suzana Ramos.
Prisão de Robinho repercute na imprensa
internacional
Pelo crime de estupro
coletivo de uma mulher albanesa em uma boate em Milão, Robinho foi preso em
Santos, no litoral paulista. Na madrugada desta sexta-feira, 22, ele chegou à
Penitenciária 2 de Tremembé, em São Paulo, onde cumprirá pena de 9 anos. A prisão
não só movimentou o noticiário nacional, como também foi destaque em jornais
pelo mundo.
<<< Confira
alguns destaques:
• La Gazzetta dello Sport
Na Itália, a La
Gazzetta dello Sport contou sobre como Robinho ‘foi pego’ pela Polícia Federal
e também explicou que a defesa do ex-jogador deve tentar apresentar recursos,
contestando os pontos da sentença. “Mas esse processo levará muito mais tempo.
Salvo surpresas, Robinho estará preso enquanto isso”, finalizou a matéria. Além
disso, em parte do texto, chamaram o caso de ‘Inferno Robinho’.
• Corriere Dello Sport
Também italiano, o
Corriere Dello Sport fez uma matéria evidenciando que Robinho foi transferido
para a “prisão dos famosos”, o complexo penitenciário Tremembé. Além disso,
reproduziu publicações de agências internacionais sobre a notícia da prisão, em
si.
• BBC
A britânica BBC também
publicou uma matéria sobre a prisão de Robinho. Em parte do texto, evidenciou
que a ação do Supremo Tribunal de rejeitar um pedido para suspender a detenção
foi elogiada na imprensa brasileira, “que temia que Robinho escapasse da justiça
por sua fama e riqueza”.
• Corriere Della Sera
Com uma foto do
momento da prisão, o diário italiano Corriere Della Sera evidenciou: “As portas
de uma prisão brasileira se abriram para Robinho”. No texto, também explicaram
que o ex-jogador não pôde ser extraditado para a Itália porque a constituição brasileira
não permite que cidadãos brasileiros sejam entregues a sistemas de justiça
estrangeiros.
Fonte: Terra/Le
Monde/Metrópoles
Nenhum comentário:
Postar um comentário