sexta-feira, 1 de março de 2024

Brasil tem tudo para ser líder de descarbonização e potência verde, mas precisa querer, diz Paul Polman

Com a matriz elétrica 95% limpa e a energética mais da metade vinda de fontes renováveis, isso dá ao Brasil a oportunidade de desenvolver uma indústria menos poluente que pode ser referência ao mundo. Somado ao potencial do país nas soluções baseadas na natureza, reflorestamento e geração de crédito de carbono, o Brasil é o que tem mais potencial, hoje, para ser o primeiro país no mundo net zero, ou seja, que consegue absorver da atmosfera a mesma quantidade de carbono que emite.

“O Brasil é muito privilegiado, com energia limpa, biodiversidade e áreas florestais preservadas. Mas também tem a responsabilidade para com os outros países do sul global de aproveitar essa oportunidade que lhe é dada e se tornar um líder na nova economia”, comenta Paul Polman, ex-CEO da Unilever, ativista e coautor do livro Net Positive, durante sua fala no Fórum de Finanças Climáticas, evento promovido por sete entidades e que antecede as discussões da reunião dos ministros das Finanças e presidentes do Banco Central do G20, em São Paulo. “O Brasil pode mostrar que essa transição pode ser feita. Mas precisa querer”, acrescenta o executivo.

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Ele cita que há um problema global de falta de liderança, falta de uma potência que mostre aos demais que é possível fazer a descarbonização da economia e ter desenvolvimento econômico e social, e que o Brasil é o país com maior capacidade para ocupar esse lugar. Elogiou o Plano de Transformação Ecológica, lançado no ano passado pelo Ministério da Fazenda em parceria com outros ministérios.

Centrado em seis eixos - financiamento sustentável, desenvolvimento tecnológico, bioeconomia, transição energética, economia circular e infraestrutura e adaptação às mudanças do clima - o Plano visa criar bases regulatórias, estruturais e operacionais para desenvolver iniciativas dos setores privado e público e do terceiro setor.

“Você tem um plano de transformação ecológica muito lindo, não vi nenhum país que possa dizer que pode ser positivo e fazer reparação a um tão baixo custo. Um plano que acelera o PIB, dobra o crescimento e cria empregos para 3 milhões de pessoas no mínimo; é tudo que precisamos”, diz.

Entre as medidas do Plano de Transformação Ecológico estão a regularização do mercado regulado, estímulo à pesquisa e inovação tecnológica em universidades, a ampliação de áreas de concessões florestais, incentivos para a substituição de frotas de ônibus por modelos elétricos, estímulo à reciclagem e direcionamento de recursos a obras públicas para reduzir riscos de desastres naturais.

Governo e empresas estão prontos para transformar o Brasil. Pense em quanto os desastres climáticos impactam o PIB nacional, e quantos empregos podem ser gerados a partir das mudanças. O Brasil está tão perto de se tornar a maior economia descarbonizada do mundo, mas depende de vocês decidirem se querem — Paul Polman

Para ele, a principal crise que o mundo precisa superar para avançar na agenda climática é a falta de liderança. Ele acredita que o Brasil pode ocupar esse papel. “Espero que consigam alcançar a liderança e colocar as pessoas certas juntas. Precisam fazer o que falam e se colocar a serviço dos outros. Fazendo isso, nós todos seremos beneficiados”, comenta Polman.

Em sua última fala, ele destacou que há mais de 20 anos visita o Brasil e sempre ouviu que é o “país do futuro”, futuro que não chega nunca.

“Não tem país melhor para resolver isso que o Brasil, mas a pergunta é se quer fazer parte disso ou não. Há 20 anos que viajo pro Brasil, acho que vocês precisam resolver os problemas que têm que ser resolvidos, mas acho que agora é hora de dizer que o Brasil é o país do futuro hoje”, disse e foi muito aplaudido pela audiência, formado de autoridades públicas, empresários, representantes de organizações do terceiro setor e acadêmicos.

·        Dinheiro disponível

No discurso, um ponto abordado por Polman, e que permeia a maior parte dos debates do fórum, é o da atração de dinheiro para desenvolver os projetos necessários para chegar às metas do Acordo de Paris. Muitos estudos apontam para valores diferentes, mas Polman cita a cifra de US$ 1,7 trilhão para se referir à necessidade de investimento. Para o Brasil, as pesquisas apontam para algo em torno de US$ 150 bilhões por ano na próxima década, número bastante citado nos painéis. É um número próximo ao que o ministério da Fazenda estima para o Plano de Transformação Ecológica - entre US$ 130 a US$ 160 bilhões de investimentos anuais nos próximos 10 anos, principalmente em infraestrutura.

Para Polman, achar dinheiro não é um problema. “Nós temos muito dinheiro no mundo que não sabe o que fazer”, diz, e comenta que trilhões estão sendo, por exemplo, usados para “países jogarem bombas uns dos outros”, se referindo aos conflitos geopolíticos em andamento.

O problema principal, diz, é que a humanidade está criando problemas em uma velocidade mais rápida do que investe nas soluções. Isso, na linha final, é o que tem levado muitas pessoas à situação de insegurança alimentar e condição de pobreza.

“É isso que queremos? Queremos empresas com impacto positivo na sociedade. Se precisamos entre US$ 1,5 trilhão e US$ 2,4 trilhões, nem é tanto assim, o que precisamos não são promessas de governos, são de compromissos implementados”, pontua.

Para ele, é importante achar formas criativas para alavancar uma parte desse dinheiro, usando dinheiro não-reembolsável, por exemplo, de filantropia ou recursos concessionários, para minimizar riscos e atrair o capital do setor privado.

 

Ø  Mais floresta, mais economia: Brasil busca oportunidades globais com "bioeconomias"

 

Paralela à vasta economia da soja e da pecuária da Amazônia brasileira – apontadas como algumas das principais impulsionadoras do desmatamento no bioma –, existe um sistema mais antigo e mais sustentável de famílias e cooperativas que produzem produtos florestais, incluindo o açaí, borracha e ingredientes farmacêuticos. Essa bioeconomia, com legiões de pequenos produtores, incluindo comunidades indígenas, recebe apenas uma fração do fluxo de investimento canalizado para a expansão da soja e do gado.

À medida em que o Brasil tenta proteger a sua floresta tropical em rápido desaparecimento, reduzir a desigualdade e construir uma economia mais sustentável, encontrar formas de direcionar o investimento para a expansão da bioeconomia – ou das bioeconomias, no plural, dada a diversidade da aplicação em potencial no cenário nacional – pode ser a melhor oportunidade para proteger a Amazônia e o seu povo, apontam especialistas reunidos no painel "As Bioeconomias do Brasil: oportunidades no contexto global", realizado nesta terça-feira (27) durante o Fórum de Finanças Climáticas.

Floresta Amazônica intacta tem um valor econômico quatro vezes maior do que a mesma terra transformada em pasto para gado, se forem considerados benefícios como a contribuição da floresta para a produção de chuvas, ar puro e um clima estável, segundo trabalho do cientista Carlos Nobre, referência em mudanças climáticas.

Hoje, apenas 22% do crédito rural subsidiado canalizado através dos bancos públicos do Brasil vai para apoiar negócios de bioeconomia. Ainda mais importante é persuadir os bancos privados do Brasil de que a bioeconomia é um bom investimento - uma mudança que pode ser encorajada com novos incentivos e políticas governamentais, e através de investimentos filantrópicos que comprovem o caso.

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Os créditos de carbono poderiam desempenhar um papel importante no pagamento da restauração de terras – mas emitir créditos para proteger as florestas existentes é mais complicado, com os mercados de carbono não regulamentados e a propriedade da terra muitas vezes pouco clara.

 

Fonte: Um só Planeta

 

 

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