sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Rússia desgasta defesas da Ucrânia enquanto Zelensky luta com seu comandante, diz mídia americana

Nesta quarta-feira (31), Olaf Scholz e diversos importantes líderes da União Europeia (UE) admitiram em uma carta que falharam no compromisso que tinham para a entrega de munições a Kiev. Enquanto fica sem apoio, a Ucrânia ainda enfrenta outra batalha entre seu presidente e principal general.

A Ucrânia está ficando sem armas para proteger suas cidades, com a assistência vital da Europa e dos Estados Unidos retida por disputas políticas, enquanto o presidente Vladimir Zelensky luta com o comandante de suas Forças Armadas por estratégia militar, escreveu a agência Bloomberg nesta quarta-feira (31).

Esta semana, o líder ucraniano tentou — e não conseguiu — afastar o general Valery Zaluzhny. Na análise da mídia, Zelensky procura uma abordagem mais ousada para o conflito após a contraofensiva fracassada do ano passado. Ele parece estar em desacordo com a visão mais conservadora do seu general.

Para sustentar essa "defesa ativa", como é conhecida a abordagem, a Ucrânia necessitará de fornecimentos constantes de granadas de artilharia e outras munições que os aliados estão enfrentando barreiras para fornecer.

Porém, além do veto do Congresso dos EUA para a liberação de verbas para Kiev, os aliados europeus ficaram muito aquém do 1 milhão de cartuchos que prometeram entregar até 1º de março às Forças Armadas ucranianas.

Nesta quarta-feira (31), a UE reconheceu que foi forçada a adiar por vários meses a sua ambiciosa meta de munições, prejudicando a capacidade de munição de Kiev a curto prazo.

"No início do ano passado, a UE se comprometeu com um objetivo ambicioso de fornecer à Ucrânia 1 milhão de munições de artilharia antes do final de março de 2024. A dura verdade: não alcançamos esse objetivo. A Rússia não espera por ninguém e precisamos agir agora", diz o trecho de uma carta assinada pelo chanceler alemão, Olaf Scholz; o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte; a primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas; o primeiro-ministro checo, Petr Fiala; e a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen. A carta foi publicada hoje (31) no Financial Times.

Segundo Ann Marie Dailey, pesquisadora do think tank norte-americano Rand Corporation, se Kiev não tiver munições para manter a pressão, "a Rússia pode continuar a disparar artilharia enquanto a sua infantaria ataca as posições ucranianas".

Publicamente, as autoridades ucranianas dizem que continuarão a lutar contra as tropas russas, mesmo que o apoio aliado não chegue. No entanto, destaca a Bloomberg, os relatórios da linha de frente mostram que a situação é cada vez mais terrível, com as forças de Kiev lutando por vezes para conter as tropas russas, segundo autoridades ocidentais familiarizadas com as discussões que pediram anonimato à mídia.

Em uma reunião na segunda-feira (29), Zelensky pediu ao comandante que assumisse um novo papel como parte de uma remodelação destinada a revigorar a liderança militar da Ucrânia, mas Zaluzhny se recusou a renunciar o controle das Forças Armadas.

As tensões foram exacerbadas pelo fato de o comandante ter um apoio generalizado tanto do povo ucraniano como das suas tropas. O general tem o apoio de 88% dos ucranianos nas sondagens, segundo a Bloomberg.

Sobre os projéteis, "as tropas ucranianas estão disparando, em média, apenas cerca de um terço dos disparos que os russos disparam", segundo o ministro da Defesa da Estônia, Hanno Pevkur, citado pela agência norte-americana.

Os líderes da UE se reunirão amanhã (1º) para uma cúpula de emergência, a fim de tentar superar a oposição do governo húngaro à liberação de 50 bilhões de euros (R$ 259 bilhões) em ajuda para a Ucrânia.

·        Esforço improvisado de demissão do chefe do Exército expõe divisão política da Ucrânia, diz analista

Apesar de negar ter tentado demitir Valery Zaluzhny, comandante das Forças Armadas, Zelensky ainda tenta substituir o general, informa o Financial Times. "O fato é que houve uma tentativa de substituir Zaluzhny. Foi uma tentativa improvisada que falhou", afirma Alexander Dudchak, principal pesquisador do Instituto dos Países da CEI à Sputnik.

Segundo Dudchak, que também é especialista no movimento "Outra Ucrânia", a tentativa de Zelensky falhou porque "ele esperava remover um concorrente político, não militar", disse em entrevista à Sputnik.

"E o fato de Zelensky ter oferecido o cargo de conselheiro [militar] diz muito. Ao assumir esse papel, Zaluzhny teria se afastado dos assuntos militares sem se tornar um concorrente político", disse Dudchak.

·        Ucrânia se vê dividida entre duas facções pró-Ocidente

Dudchak afirma que há duas facções ocidentais lutando para impor suas visões para a Ucrânia. A primeira é pró-EUA e inclui Zaluzhny, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) e algumas figuras do gabinete do presidente. O outro grupo é pró-britânico e inclui a Diretoria Principal de Inteligência do Ministério da Defesa, seu chefe Kirill Budanov, e o comandante das forças terrestres ucranianas, Aleksandr Syrsky.

"Então, por enquanto, a operação para substituir Zaluzhny foi simplesmente adiada. Isso não significa que ele não será removido."

O pesquisador esboçou os dois cenários procurados pelo Ocidente: Londres está mais interessada na continuação do conflito e em travar uma "guerra terrorista". Mas Washington está muito mais interessada em congelar o conflito, dado que as próximas eleições presidenciais ocorrem em novembro de 2024.

·        Zaluzhny conta com apoio do ex-presidente

O súbito apoio do ex-presidente ucraniano Pyotr Poroshenko a Zaluzhny demonstra que o conflito interno entre as elites ucranianas está ganhando força, de acordo com Dudchak.

Poroshenko foi fundamental para espalhar o escândalo sobre a possível derrubada de Zaluzhny, disse Dudchak.

O ex-presidente espalhou o pânico em Bruxelas sobre os esforços de Zelensky para se livrar do principal general. Suas ações foram um golpe para Zelensky, e Poroshenko ficou feliz em demonstrar sua lealdade a Washington salvando seu homem em Kiev, argumentou o pesquisador.

Embora a grande imprensa ocidental diga que Zelensky está decidido a despedir o principal comandante ucraniano, existe a possibilidade de que ele mantenha o seu posto, acredita o pesquisador.

"Na verdade, mesmo que renunciasse e entrasse na política, talvez essa fosse a melhor opção para ele, porque atualmente é problemático obter qualquer sucesso no campo de batalha", disse o especialista.

"Em tal posição, ele poderia ter dito que é um comandante brilhante e que todos os fracassos resultaram de decisões [de Zelensky], que não foram acordadas com a liderança militar. Isso realmente aconteceu, houve ações de Zelensky quando ele ou seu gabinete tentou controlar os militares, contornando o comandante-em-chefe. Portanto, essa seria uma opção muito boa para Zaluzhny."

 

·        Falha: UE deseja enviar 1 milhão de projéteis à Kiev, mas não vai conseguir, afirma ministro polonês

A União Europeia pretende fornecer 1 milhão de projéteis de artilharia à Ucrânia, mas enfrenta dificuldades para cumprir o prazo, declarou o vice-primeiro-ministro polonês e ministro da Defesa Nacional, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, a jornalistas após uma reunião com seus colegas da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em Bruxelas.

Segundo Kosiniak-Kamysz, cujas declarações foram transmitidas pela televisão polonesa, o segundo ponto da agenda da reunião abordou a iniciativa de disponibilizar os 1 milhão.

"Esta é uma iniciativa do ano passado. Esse milhão deveria ser fornecido até março. Provavelmente, isso não será possível até março", afirmou o ministro.

Em novembro de 2023, uma fonte importante da União Europeia informou a jornalistas em Bruxelas que os países do bloco haviam entregue até o momento 300.000 das 1 milhão de bombas planejadas para a Ucrânia.

A Rússia está conduzindo uma operação militar especial na Ucrânia desde 24 de fevereiro de 2022. O presidente Vladimir Putin afirmou que a operação visa "proteger as pessoas sujeitas ao genocídio pelo regime de Kiev durante oito anos".

Segundo o presidente, o objetivo final da operação é libertar Donbass e criar condições que assegurem a segurança da Rússia.

Anteriormente, a Rússia enviou uma nota à OTAN devido ao fornecimento de armas à Ucrânia. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que qualquer carga contendo armas destinadas à Ucrânia se tornará um alvo legítimo para a Rússia.

·        Ucrânia sofre com 3 vezes menos munição que Rússia e preocupa aliados europeus

O ministro da Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov, alertou seus aliados nesta semana sobre a "crítica" escassez de projéteis de artilharia, enquanto a Rússia intensifica suas operações nas linhas de frente, desdobrando três vezes mais poder de fogo diariamente.

De acordo com uma carta enviada pelo titular da pasta aos seus homólogos da União Europeia (UE), as forças ucranianas enfrentam desvantagem numérica massiva ao tentar repelir novos ataques russos.

Ele destacou que a Ucrânia não consegue disparar mais do que 2 mil projéteis por dia ao longo de uma linha de frente que se estende por 1,5 mil quilômetros, conforme documento obtido pela Bloomberg.

Esse número representa menos de um terço do arsenal utilizado pelas forças russas. As Forças Armadas ucranianas enfrentam agora o que foi definido como uma "escassez crítica" de projéteis de artilharia.

A notícia surge em meio a declarações de que a UE não conseguirá cumprir sua própria promessa de fornecer 1 milhão de projéteis para a Ucrânia até março de 2024.

O chefe da política externa do bloco, Josep Borrell, afirmou que apenas cerca da metade da quantidade planejada seria entregue.

·        Forças Armadas da Rússia eliminaram a maioria dos tanques alemães Leopard 2 cedidos à Ucrânia

Artigo da revista Foreign Affairs destaca que os tanques alemães mostram ser "armas dificilmente invulneráveis" e que o desempenho das forças ucranianas fornece "poucas evidências de que tanques melhores teriam sido decisivos".

A maioria dos tanques Leopard 2, enviados pela Alemanha à Ucrânia, foi danificada em combates com as forças russas, sendo que mais de 25% do total foi completamente destruído para além da capacidade de reparo das forças ucranianas.

A informação é da revista norte-americana Military Watch, com base em dados divulgados em um artigo publicado pela revista Foreign Affairs.

"Dos menos de 100 Leopards 2 em serviço na Ucrânia, pelo menos 26 foram destruídos. Outros não podem ser utilizados devido a problemas de reparação e manutenção", diz a revista.

O texto acrescenta que os tanques provaram ser "armas dificilmente invulneráveis" e ressalta que o desempenho das forças ucranianas fornece "poucas evidências de que tanques melhores teriam sido decisivos".

Soldados ucranianos caminham em uma trincheira perto da linha de frente na zona

O artigo afirma que os tanques M1 Abrams, fornecidos ao regime de Kiev pelos Estados Unidos, foram retirados do front para servirem de reforço para o Exército ucraniano, de forma a resistir aos ataques com drones das forças russas.

O texto ainda aponta que há evidências de que os Estados Unidos atrasaram deliberadamente a entrega dos tanques até que a ofensiva de verão ucraniana perdesse força.

A ideia era garantir que os veículos militares não seriam destacados para a frente de combate, como ocorreu com os Leopard 2, para evitar danos à reputação de seu setor de defesa por conta da destruição de um de seus produtos mais icônicos.

O artigo da Foreign Affairs vai ao encontro de outro texto publicado em novembro pela revista Forbes, que alertou que o Exército ucraniano já tinha perdido "um quarto dos seus melhores tanques fabricados na Alemanha".

O desempenho fraco dos tanques Leopard 2 já vinha sendo especulado por conta da experiência do Exército turco com o equipamento durante combates contra militantes do grupo Daesh (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países). Na ocasião, oficiais turcos se queixaram de ter sofrido uma derrota traumática contra milícias com armas relativamente leves.

 

Ø  Senadora russa: veredito do Tribunal Internacional é 1º passo para verdade sobre situação na Ucrânia

 

Processo iniciado pela Ucrânia em janeiro de 2017 fazia várias acusações contra a Rússia, responsabilizando-a por ataques em Donetsk e pela queda do avião Boeing MH17. Nesta quarta-feira (31), o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) não considerou o país culpado.

Após o veredito da corte internacional ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), a senadora russa de Sevastopol Ekaterina Altabayeva afirmou à Sputnik que a decisão é apenas o primeiro passo em direção à verdade sobre a situação na Ucrânia.

Em decisão histórica, o tribunal não cedeu às demandas de Kiev, que pedia fundamentalmente que a Rússia fosse reconhecida como "Estado agressor" e as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (RPD e RPL) como "organizações terroristas".

Também foi rejeitada a maioria das reivindicações da Ucrânia contra a Rússia na Crimeia sob a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, anunciou a presidente do TIJ, Joan Donoghue.

"Em particular, isso indica que chegará o momento em que o governo ucraniano será avaliado. Este é o primeiro passo, e a avaliação do regime ucraniano e a investigação dos crimes de certos políticos, membros de organizações terroristas, como 'Azov' na Ucrânia, ocorrerão; tenho certeza de que isso acontecerá em um futuro previsível. A verdade sempre prevalece. É um caminho difícil, mas estamos percorrendo agora", disse Altabayeva.

Além disso, a senadora enfatizou que as decisões da corte "colocaram a Ucrânia em seu devido lugar".

"Acredito que este é um sinal importante para a comunidade internacional; ele diz que é necessário avaliar objetivamente o que está acontecendo na Ucrânia", acrescentou ela.

·        As acusações de Kiev

O processo, iniciado por Kiev em janeiro de 2017, abordou várias questões, sendo uma delas a responsabilidade da Rússia pela queda de um avião Boeing MH17. No entanto o tribunal rejeitou essa demanda, não considerando a Rússia culpada pelo incidente.

Além disso, o tribunal não respaldou os argumentos da Ucrânia sobre o suposto envolvimento da Rússia e a responsabilidade das milícias de Donetsk em vários ataques, incluindo os bombardeamentos do posto de controle militar de Bugas, próximo a Volnovakha; do campo de aviação militar em Kramatorsk; e das posições das Forças Armadas ucranianas em Mariupol e Avdeevka, ocorridos no período de 2014 a 2017.

No que diz respeito às acusações de financiamento do terrorismo, o tribunal indicou que a Rússia cumpriu suas obrigações de cooperação, incluindo a identificação e o bloqueio de fundos utilizados para financiar o terrorismo.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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