quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Leonardo Sakamoto: Com Carluxo como alvo da PF, Abin Paralela se encontra com Gabinete do Ódio

O vereador Carlos Bolsonaro, filho 02 do ex-presidente Jair Bolsonaro, é alvo de uma operação da Polícia Federal, nesta segunda (29), sobre pessoas que teriam sido destinatárias de informações produzidas por espionagem ilegal durante o governo de seu pai. Dessa forma, a Abin Paralela se encontra com o Gabinete do Ódio.

Agentes da PF realizaram mandados de busca e apreensão na residência do vereador (no mesmo condomínio Vivendas da Barra, onde seu pai também tem casa) e no seu gabinete, na Câmara do Rio. É difícil imaginar que a paranoia de Carluxo manteria material ilegal em sua casa ou trabalho, mas sua equipe pode não ter sido tão cuidadosa.

Comentei aqui logo após a operação que teve como alvo o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, o deputado federal Alexandre Ramagem, na semana passada, que a óbvia conexão surgiria mais cedo ou mais tarde. Afinal, o governo Bolsonaro não ficaria satisfeito em espionar seus desafetos apenas para proteção pessoal. Eles usariam as informações como munição de forma sistemática.

Rodrigo Maia deu elementos para confirmar essa suspeita quando afirmou ao UOL que desconfiava estar sendo monitorado quando presidente da Câmara dos Deputados, uma vez que suas reuniões eram alvo de ataques de bolsonaristas radicais nas redes sociais tão logo aconteciam. O que aponta que tanto ele quanto os seus interlocutores eram monitorados.

A PF vem revelando como funcionava a máquina de espionagem de Jair Bolsonaro entre 2019 e 2022. Pelas informações até o momento, já podemos dizer que esse é um dos maiores escândalos desde o fim da ditadura militar. E estamos apenas no começo, porque essa investigação é apenas sobre o software israelense First Mile, usado para monitorar o deslocamento.

E grampos em celulares? E a espionagem usando órgão públicos, como a Receita Federal?

Bolsonaro já havia instalado o Gabinete do Ódio nas dependências do Palácio do Planalto, com pessoas pagas pelo erário para atacar adversários políticos, partidos, juízes, jornalistas, como apontaram depoimentos na CPMI das Fake News. Atribuiu-se a Carlos Bolsonaro a responsabilidade pela montagem e coordenação do tal gabinete, mesmo que não tivesse cargo oficial no governo de seu pai.

Em sua delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-faz-tudo de Jair, confirmou que três assessores presidenciais usavam essa estrutura no Planalto para produzir conteúdo difundido pelo bolsonarismo nas redes sociais e aplicativos de mensagens para atacar instituições.

O Gabinete do Ódio, segundo ele, era formado por Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz subordinados a Carlos Bolsonaro, que ditava o que deveria ser produzido.

A PF pode mostrar como a estrutura de ataque a pessoas vistas como entraves aos planos do bolsonarismo era abastecida por outra estrutura que atropelava garantias constitucionais e liberdades individuais, esvaziando a privacidade e fazendo arapongagem na vida pessoal e profissional de milhares de brasileiros.

Isso comprovaria, mais uma vez, que vivemos sob um governo de características autoritárias, que vigiava a todos e, ao primeiro sinal de algo que poderia ir contra seus interesses, acionava suas milícias digitais visando a neutralizar a “ameaça” a fim de garantir a sua perpetuação no poder.

Essa constatação não é exatamente surpreendente. Quando ele ainda era candidato à Presidência da República, em 2018, os que tinham apreço pela democracia avisaram que ele dobraria as leis e as instituições do Estado brasileiro às suas próprias necessidades.

Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, isso ficou explícito. “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse ele.

Ele falava sério quando disse “não estamos aqui pra brincadeira”. Ao longo de seu mandato, enfraqueceu ou sequestrou instituições públicas do Poder Executivo voltadas ao monitoramento e controle. Pior: dobrou órgãos à sua vontade, como a Polícia Rodoviária Federal – que ajudou em ações golpistas ao dificultar a votação de eleitores de Lula e fazer vistas grossas ao golpismo nas estradas.

É conhecida a preocupação de Jair com o filho 02, estrategista de suas redes digitais e que não conta com foro privilegiado ao contrários dos irmãos Flávio e Eduardo. Essa preocupação deve ter subido um pouco mais nesta segunda. Com isso, os aliados do ex-presidente devem dobrar a artilharia contra a PF, o MPF e o STF. Exercem, dessa forma, seu direito de espernear diante da percepção de que o cerco da lei está se fechando.

 

Ø  Abin paralela: ministros do STF cobram silêncio de general Heleno

 

Na semana passada, a Polícia Federal (PF) cumpriu mandados de busca relacionados a atividades ilegais da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o governo Bolsonaro, que visava espionar adversários do bolsonarismo e favorecer filhos do presidente em investigações.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o chefe de Alexandre Ramagem (PL-RJ) no governo, o general Augusto Heleno, não foram alvos nesta fase da investigação. Para ministros do STF, no entanto, isso é apenas uma questão de tempo, segundo informações da coluna Radar, da revista Veja. A lista de ações ilegais e os alvos de Ramagem não deixam dúvidas sobre os reais interessados e beneficiados pela pilantragem.

“Bolsonaro admitiu em diferentes momentos de sua gestão que tinha seu serviço informal de informação. O Heleno, que agora está sumido, como chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), permitiu que tudo acontecesse. Heleno precisa falar, mas não vai, como sabemos. As investigações vão falar por ele e por Bolsonaro, que está no centro disso e de outros episódios tristes da República”, diz um ministro do STF ao Radar.

Aliados do ex-chefe do Executivo temiam que Heleno fosse o próximo alvo da operação da Polícia Federal (PF), mas antes dele, a corporação mirou outro “aliado” de Bolsonaro, e esse, mas próximo impossível: o filho e vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

Os mandados desta segunda-feira visam contatos de Alexandre Ramagem (PL-RJ), aliados dele na época da Abin e no atual mandato como deputado federal. A ação de busca e apreensão tem como objetivo identificar possíveis destinatários de informações.

Um dos locais mencionados por uma fonte da PF é a Câmara do Rio de Janeiro, além da residência de Carluxo e o DF. A suspeita é de que Carlos, filho “02” de Bolsonaro, teria recebido “materiais” obtidos ilegalmente pela Abin.

 

Ø  Oposição defende Carlos Bolsonaro após operação da PF

 

Parlamentares da oposição usaram as redes sociais, para defender o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado pela Polícia Federal (PF) na operação que apura as atividades da “Abin paralela” durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) [leia mais abaixo].

Carlos Bolsonaro, filho 02 do ex-presidente, foi alvo de mandados de busca e apreensão. Agentes da PF estiveram na casa e no gabinete do vereador, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, nesta manhã.

Em publicação no X (antigo Twitter), o líder do PL no Senado Federal, Carlos Portinho (PL-RJ, foto em destaque), afirmou que a operação contra Carlos Bolsonaro é “vingança política”. “Para isso querem prender o presidente Jair Bolsonaro e qualquer coisa serve de mote. O regime avança sobre a oposição”, escreveu.

O deputado Messias Donato (Republicanos-ES) também chamou de “perseguição” a ação da PF. “E começa mais uma semana com mais perseguição política escancarada para minar adversários e calar a oposição. E ainda tem quem ache que estamos em uma democracia plena”, afirmou o parlamentar em publicação no X.

Carlos Bolsonaro também foi defendido pelo senador Jorge Seif (PL-SC), que também defendeu a narrativa de perseguição contra a oposição. “A Gestapo Tupiniquim segue sua ‘missão’ de perseguir todos ligados ao presidente Bolsonaro: familiares, ex-membros do executivo e políticos”, publicou no X.

 

Ø  Deputado alerta a família sobre risco de serem acordados pela PF

 

O clima é de apreensão em Brasília após o STF determinar buscas em endereços do deputado Carlos Jordy. Nos corredores do Congresso, circula a informação de que nova operação policial, mirando simultaneamente meia dúzia de parlamentares, estaria prestes a ser deflagrada.

Seria uma extensão da que levou a Polícia Federal (PF) à casa e a gabinetes de Jordy. Na última quarta-feira (24/1), em gesto simbólico, ele foi reconduzido ao posto de líder da oposição na Câmara.

Um deputado federal de primeiro mandato alertou a família sobre a possibilidade de serem acordados pela Polícia Federal. Ele disse que, após a operação contra Jordy, a tendência é que mais parlamentares, como ele próprio, citado em inquérito, tornem-se alvo.

“Se foram na casa do Jordy porque um manifestante o chamou de ‘meu líder’, imagina com o que está por vir com os outros. Já avisei a todos lá em casa”, disse, sob reserva.

Por ora, não há o receio de prisões preventivas. Mas sim de buscas e apreensões de telefones, computadores e documentos no âmbito da Operação Lesa Pátria.

O inquérito conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mira atos antidemocráticos. Não apenas o 8 de Janeiro em si, mas articulações prévias que teriam contribuído para a manifestação que culminou com as depredações.

Como a investigação é sigilosa, sem que se saiba quais são os elementos de prova, fica difícil prever para qual lado a caneta de Moraes vai apontar. Jordy, até onde se sabe, transformou-se em alvo após mensagens trocadas com Carlos Victor de Carvalho. Conhecido como CVC, o suplente de vereador em Campos dos Goytacazes, no Rio, teria articulado protestos antidemocráticos.

Após a operação contra Carlos Jordy, parte da oposição iniciou um movimento para pressionar pela instauração da chamada CPI do Abuso de Autoridade. A comissão parlamentar de inquérito teria objetivo de mirar supostas ilegalidades do Judiciário e de botar uma lupa sobre o ministro Alexandre de Moraes.

CPI fortaleceria Lula

Contudo, a instauração da CPI do Abuso de Autoridade é vista com desconfiança até mesmo por críticos de Alexandre de Moraes. Há uma avaliação de que deputados que integrarão o colegiado, sobretudo do Centrão, poderão negociar cargos com o governo Lula para mudar de lado.

Por essa ótica, Lula viraria o fiel da balança e se fortaleceria ainda mais junto ao STF.

Dessa forma, a tendência é que o foco da oposição se volte a Rodrigo Pacheco (PSD). O objetivo seria pressionar o presidente do Senado a levar a plenário um pedido de impeachment de Alexandre de Moraes.

 

Ø  PF investigado por “Abin paralela” promovia Carlos Bolsonaro nas redes

 

O policial federal afastado Marcelo Bormevet, suspeito de participar de um esquema de espionagem ilegal quando estava na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), usava suas redes sociais para compartilhar conteúdo do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos).

A casa de Carlos e o gabinete dele, na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, foram alvos de mandados de busca e apreensão nesta segunda-feira (29/1) em uma nova operação da Polícia Federal sobre a chamada “Abin paralela”.

Entre julho e novembro de 2020, Marcelo Bormevet compartilhou 13 conteúdos de Carlos Bolsonaro ou ligados a ele em sua conta no antigo Twitter (atual X).

“Excelente ideia. Belíssima atividade legiferante. Parabéns CB”, escreveu Marcelo Bormevet em uma publicação de Carlos sobre uma lei que substitui tambas de bueiro de metal por tampas de concreto.

O agente da PF investigado também compartilhou um vídeo de Carlos pedindo apoio para sua candidatura e uma matéria jornalística com o título “Carlos Bolsonaro diz que é pré-candidato à reeleição no Rio”.

 

Fonte: DCM/Metrópoles

 

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