Alemanha legaliza maconha: o que muda com
as novas regras?
O Parlamento alemão
aprovou uma nova lei que permite o uso recreativo de cannabis sativa, a maconha.
Segundo a lei, os
maiores de 18 anos na Alemanha poderão
possuir quantidades substanciais de cannabis, mas regras rigorosas vão
dificultar a compra da droga.
Usar cannabis em
muitos espaços públicos da Alemanha será permitido pela lei a partir de 1º de
abril.
A posse de até 25
gramas será liberada em espaços públicos. Em residências particulares o limite
legal será de 50 gramas.
A polícia de algumas
partes da Alemanha, como Berlim, já faz muitas vezes vista grossa ao uso em
público, embora quem fosse pego com a droga para uso adulto pudesse ser
processado.
O consumo de maconha
entre os jovens tem aumentado durante anos, apesar da lei existente, afirma o
ministro da Saúde, Karl Lauterbach, que apoiou a reforma.
Seu projeto tem como
objetivo minar o mercado ilegal, proteger os usuários da cannabis de baixa
qualidade e cortar os fluxos de receitas das quadrilhas do crime organizado.
Mas os “cafés de
cannabis legalizada” não vão surgir repentinamente em todo o país.
Um debate feroz sobre
a descriminalização da planta tem sido travado há anos na Alemanha, com grupos
de médicos expressando preocupações relativas ao consumo dos jovens. Já
políticos conservadores dizem que a liberalização irá alimentar o consumo de
drogas.
A deputada Simone
Borchardt, da oposição conservadora CDU, disse ao Bundestag, o parlamento
alemão, que o governo avançou com a sua "lei completamente desnecessária e
confusa", independentemente dos avisos de médicos, policiais e
psicoterapeutas.
Já Lauterbach disse
que a situação atual não é sustentável: “O número de consumidores com idades
entre os 18 e os 25 anos duplicou nos últimos 10 anos”.
Como tantas vezes
acontece na Alemanha, a lei aprovada pelos deputados na tarde de sexta-feira é
complexa.
Fumar cannabis em
algumas áreas, como perto de escolas e campos desportivos, ainda será ilegal.
De maneira geral, o mercado será estritamente regulamentado, por isso comprar
maconha não será tão fácil.
Os planos originais
para permitir que lojas e farmácias licenciadas vendessem cannabis foram
descartados devido às preocupações da União Europeia de que isso poderia levar
a um aumento nas exportações de drogas.
Em vez disso, os
clubes não comerciais, apelidados de “clubes sociais da cannabis”, vão
distribuir uma quantidade limitada da droga.
Cada clube terá um
limite máximo de 500 membros, o consumo de cannabis no local não será permitido
e a adesão estará disponível apenas para residentes na Alemanha.
O auto cultivo da
planta também será liberado a partir de abril, sendo permitido até três plantas
de maconha por família.
Isso significa que a
Alemanha poderá estar na posição paradoxal de permitir a posse de grandes
quantidades da droga, ao mesmo tempo que dificulta a sua compra.
Os consumidores
regulares serão beneficiados, mas os ocasionais terão dificuldade em comprar
legalmente - será proibido vender para turistas, por exemplo. Os críticos dizem
que essas restrições vão fomentar o mercado paralelo e ilegal.
Nos próximos anos, o
governo alemão pretende avaliar o impacto da nova lei e, eventualmente,
introduzir a venda licenciada de cannabis.
Entretanto, os
conservadores da oposição dizem que se chegarem ao governo no próximo ano, irão
anular totalmente a lei. É pouco provável que a Alemanha se torne a nova
Amsterdam da Europa tão cedo.
·
Legalização em outros
outros países
A Alemanha é mais um
país a legalizar o consumo da planta em seu território depois de décadas de
proibição.
Canadá, Malta e
Uruguai são outras nações que permitem o uso adulto da cannabis sativa.
Nos Estados Unidos,
não há uma legalização federal, mas diversos Estados, como Nova York,
Califórnia e Colorado, têm leis próprias que permitem o consumo e o comércio de
maconha.
Porém, o mercado
informal continua crescendo devido às altas taxas e licenças impostas aos
produtores legais nos Estados Unidos. Pessoas que anteriormente tenham sido
condenadas por porte de cannabis, por exemplo, não podem abrir empresas de
cultivo.
Para especialistas no
setor, essas restrições excluem a população negra e pobre da área, deixando o
mercado nas mãos da parcela mais rica.
·
Descriminalização no
Brasil
No Brasil, o Supremo
Tribunal Federal (STF) está prestes aprovar a descriminalização do porte de drogas para
consumo, incluindo a maconha.
Cinco ministros se
posicionaram a favor da medida, sendo necessário mais um voto para que ela
entre em vigor.
A Corte também caminha
para fixar parâmetros objetivos de quantidade de maconha para diferenciar quem
seria usuário ou traficante, o que, na visão de defensores da medida, pode
reduzir o que seriam prisões equivocadas por tráfico no país.
Por enquanto, estão a
favor da descriminalização do porte para consumo Gilmar Mendes (relator da
ação), Edson Fachin, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e a
ex-presidente da Corte, Rosa Weber, que se aposentou.
Eles argumentaram que
o uso da maconha é uma questão de liberdade individual e deve ser combatido com
campanhas de informação e atendimento focado na saúde dos usuários.
Votou contra a
descriminalização o ministro Cristiano Zanin, recém-nomeado para a Corte pelo
presidente Luís Inácio Lula da Silva, o que gerou revolta nas redes sociais de
progressistas que apoiaram a eleição do petista.
“A descriminação,
ainda que parcial das drogas, poderá contribuir com o agravamento deste
problema de saúde", argumentou.
O julgamento, iniciado
em 2015, foi suspenso em agosto do ano passado, após o ministro André Mendonça
pedir vista (mais tempo para analisar o caso). Além dele, faltam votar Nunes
marques, Luiz Fux, Dias Toffoli e Cármen Lúcia.
Em entrevista à
GloboNews nesta semana, Barroso, atual presidente do STF, disse que o
julgamento deve voltar à pauta da corte ainda neste ano.
"[O STF] “dizer
qual quantidade distingue o porte pessoal do tráfico, para a polícia não fazer
essa escolha, que são critérios que discriminam pobres e negros", disse o
ministro.
Fonte: BBC News Mundo
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