quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

TOC TOC: Carlos Bolsonaro - por que a PF deu bom dia ao filho de Bolsonaro mais próximo de Ramagem

A operação de busca e apreensão que acontece nesta segunda-feira (29) na casa de Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) tem um potencial explosivo sobre o clã tanto na questão criminal, quanto na estratégia de cooptação política.

A investigação sobre a "Abin paralela" revela que Jair Bolsonaro (PL) e os filhos montaram uma organização criminosa para espionar adversários políticos e até mesmo aliados próximos, como o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, um dos estrategistas da tentativa de golpe desencadeada após a derrota para Lula nas eleições de 2022.

Carlos Bolsonaro tem uma ligação estreita com Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi seu homem de confiança dentro do governo.

A investigação da PF deve revelar que era o filho "02" de Jair Bolsonaro - e não Ramagem - o líder da Organização Criminosa que criou uma estrutura paralela de arapongagem, que abastecia o Gabinete do Ódio, quem também é uma criação de Carlos.

Com a decisão de autorizar a busca e apreensão na casa e no gabinete de Carlos Bolsonaro, Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) vê uma forma de unificar os inquéritos da "Abin Paralela" e das milícias digitais.

Em delação, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, já teria afirmado que Carlos definia as estratégias de Bolsonaro nas redes sociais e dava ordens para a equipe do gabinete do ódio, que era formada por Tércio Arnaud Tomaz, Mateus Matos Diniz e José Matheus Sales Gomes.

Com o avanço das investigações sobre a Abin Paralela, a PF e Moraes identificam o uso do sistema de arapongagem ilegal para determinar os alvos dos extremistas nas redes sociais.

·        Ramagem e Carlos Bolsonaro

Formado em Direito, Ramagem entrou para a Polícia Federal (PF) em 2005 e, como delegado, se especializou no combate ao tráfico de drogas, antes de entrar para a equipe da PF que atuava na operação Lava-Jato no Rio de Janeiro, em 2017.

No posto, começou a se interessar pelo submundo da política e e coordenou a operação “Cadeia Velha” que prendeu a cúpula do MDB na Alerj: os ex-deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi.

Após a vitória de Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018, Ramagem foi escalado para coordenar a segurança pessoal do presidente eleito, quando se aproximou de Carlos Bolsonaro.

A proximidade com o vereador - com quem passou o reveillon de 2018 para 2019 - fez com que Ramagem fosse alçado, em março como assessor da Secretaria de Governo, subordinado ao então ministro, o general Carlos Alberto Santos Cruz.

Enquanto montava o chamado Gabinete do Ódio no Palácio do Planalto, Carlos Bolsonaro ficou cada vez mais íntimo do delegado da PF.

À época, a instalação de uma "Abin paralela" já fazia parte dos planos do filho "02" de Jair Bolsonaro.

O desejo de Carlos Bolsonaro foi revelado em entrevista ao Roda Viva pelo ex-secretário geral da Presidência, Gustavo Bebianno, no dia 3 de março de 2020. Bebianno morreu 11 dias depois da entrevista.

Na ocasião, o ex-secretário geral da Presidência revelou que o filho de Bolsonaro articulava com "um delegado da PF" a montagem da Abin paralela logo nos primeiros meses de governo.

"Um belo dia o Carlos Bolsonaro aparece com um nome de um delegado federal e três agentes que seriam uma Abin paralela. Isso porque ele não confiava na Abin".

Ainda segundo o ex-secretário, ele e o general Santos Cruz afirmaram a Bolsonaro que eram contra a ideia.

"O general Heleno (chefe do gabinete Institucional da presidência) foi chamado. Ficou preocupado. Mas ele não é de confronto e o assunto acabou comigo e o general Santos Cruz. Nós aconselhamos o presidente a não fazer aquilo porque também seria motivo de impeachment. Eu não sei se isso foi instalado porque depois eu acabei saindo do governo".

Questionado se o delegado seria o atual diretor da Abin, Alexandre Ramagem, Bebianno preferiu não responder. “Eu lembro o nome do delegado. Mas não vou revelar por uma questão institucional e pessoal”, afirmou.

Na mesma entrevista, Bebianno revelou que Carlos Bolsonaro comandava o Gabinete do Ódio.

“Eu disse ao presidente que as notícias falsas não podiam estar dentro do Planalto porque poderiam dar em impeachment. Mas a pressão que o Carlos faz é tão grande que o pai não consegue se contrapor ao filho. É como aquela criança que quer um presente no shopping, esperneia e o pai não tem pulso para dizer não”, contou.

·        Gabinete do ódio e "Abin paralela"

Após se aproximar de Ramagem e em meio à tentativa de criar a "Abin paralela" para atuar junto ao Gabinete do Ódio, Carlos Bolsonaro instalou a primeira grande crise no Planalto.

O alvo era justamente o general  Carlos Alberto dos Santos Cruz, que se opôs aos planos do filho de Bolsonaro e foi demitido em 13 de junho de 2019. 

Menos de um mês depois, Ramagem foi nomeado por Bolsonaro como diretor-geral da Abin e, sob o aval de Augusto Heleno, iniciou a instalação da Organização Criminosa que virou alvo da PF - e resultou na ação contra o agora deputado federal nesta quinta-feira (25).

A investigação da PF segue a mesma linha de raciocínio exposta por Bebbiano e escancara a relação espúria com o clã Bolsonaro que fez Ramagem alavancar sua carreira política e se lançar pré-candidato à prefeitura do Rio - tendo como coordenador de redes sociais, Carlos Bolsonaro.

Cabe destacar alguns fatos que levam luz ao que Bebianno deixou de revelar com sua morte 11 dias após revelar a atuação de Carlos Bolsonaro no Gabinete do Ódio e dos planos de implantar, juntamente com Ramagem, uma Abin paralela.

Vamos a eles:

O software FirstMile, usado pela "Abin Paralela", foi comprado com dispensa de licitação pelo general Walter Braga Netto no final de 2018, ainda durante o governo Michel Temer (MDB), quando o militar comandava o Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro;

  • A compra do software junto à empresa israelense Cognyte, que integra o grupo Veinrt Systems Inc e tinha como representante no Brasil Caio Santos Cruz, filho do general Santos Cruz;
  • Segundo a PF, a estrutura foi montada para obter, entre outras informações, dados de investigações envolvendo os filhos de Bolsonaro, especialmente Flávio Bolsonaro - no caso do esquema de corrupção das "rachadinhas" - e de Jair Renan.
  • Segundo as investigações, "o estado brasileiro, portanto, efetuou o pagamento de R$ 5 milhões para que empresa estrangeira realizasse ataques sistemáticos contra a rede de telefonia nacional para comercializar dados pessoais sensíveis que resultaram na disponibilização da geolocalização de diversos brasileiros sem qualquer ordem jurídica”. 
  • Presos em outubro, os agentes Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Yzycky teriam coagido colegas que tinham conhecimento do suposto esquema de arapongagem para evitar uma possível demissão. 
  • Ainda de acordo com as investigações, Alexandre de Moraes era um dos alvos do sistema de arapongagem e a espionagem teria sido feita, inclusive, durante o período da pré-campanha eleitoral.

Com a investigação contra Ramagem, a PF aprofunda o que Bebianno revelou antes de morrer e coloca os dois pés no gabinete do ódio montado pelo clã Bolsonaro no coração do Palácio do Planalto.

 

Ø  Carlos Bolsonaro pode ter recebido informações obtidas ilegalmente pela Abin

 

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) é um dos alvos de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) na manhã desta segunda-feira (29).

A operação se refere a um suposto uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro, quando Alexandre Ramagem (PL-RJ) dirigia o órgão.

A operação mira aliados de Ramagem na época em que ele estava na Abin e também no atual mandato como deputado federal, o chamado "núcleo político" do ex-delegado da PF.

A suspeita da PF é que Carlos Bolsonaro, teria recebido "materiais" obtidos ilegalmente pela Abin.

·        A operação

Investigação da Polícia Federal aponta que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e governadores foram espionados de maneira ilegal pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o comando de Alexandre Ramagem, que hoje é deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.

Os ministros do STF que foram alvo de espionagem ilegal da Abin são: Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. O governador espionado foi Camilo Santana, à época da araponga em Santana comandava o estado do Ceará, hoje ele é ministro da Educação do governo Lula. Outros governadores foram espionados, mas os nomes não foram revelados.

Quem também foi espionado de forma ilegal foi o ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

·        Alexandre Ramagem é o principal alvo da operação da PF

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) é um dos principais alvos da Operação Vigilância da PF deflagrada na quinta-feira (25). O gabinete, o apartamento funcional no DF e a casa do deputado no Rio são alvos de busca e apreensão da PF. Até este momento, o parlamentar não se pronunciou.

No total, a Polícia Federal cumpre 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, incluindo a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais. As diligências ocorrem em Brasília/DF (18), Juiz de Fora/MG (1), São João Del Rei/MG (1) e Rio de Janeiro/RJ (1).

·        Continuação da Operação Última Milha

Esta operação é uma continuação das investigações da Operação Última Milha, deflagrada em 20/10/2023. As provas obtidas na época indicam que o grupo criminoso estabeleceu uma estrutura paralela na Abin, utilizando ferramentas e serviços da agência para ações ilícitas. Isso inclui a produção de informações com fins políticos e midiáticos, visando benefícios pessoais e até mesmo interferência em investigações da Polícia Federal.

Os investigados podem responder, conforme suas responsabilidades, pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, informáticas ou telemáticas sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados por lei.

 

Ø  Assessora de Carlos acionou Ramagem para ‘ver’ inquérito contra família Bolsonaro

 

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que autorizou a operação da Polícia Federal que cumpriu mandados de busca e apreensão contra o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na manhã desta segunda-feira (29), revelou que uma assessora do parlamentar, que atua na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pediu auxílio direto ao ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o hoje deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), para “ver” um inquérito da PF que investiga “o PR (presidente da República) e três filhos”. O fato teria ocorrido no final de 2022.

“A solicitação de realização de ‘ajuda’ relacionada à Inquérito Policial Federal em andamento em unidades sensíveis da Polícia Federal indica que o NÚCLEO POLÍTICO possivelmente se valia do Del. ALEXANDRE RAMAGEM para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas”, diz o despacho do ministro do STF.

Após uma mensagem enviada em 11 outubro de 2022, parabenizando Ramagem por sua eleição à Câmara dos Deputados, Luciana Almeida retoma contato dias depois com o ex-responsável pelo órgão de arapongagem, e suspeito de operar a criminosa ‘Abin paralela’, solicitando “ajuda” para a tal empreitada ilegal.

“Bom diaaaa. Tudo bem? Estou precisando muito de ajuda”, escreve a assessora, para na sequência enviar o nome completo de uma delegada, Isabela Muniz Ferreira, da Delegacia de Polícia Federal de Inquéritos Especiais, junto com números que seriam de inquéritos que investigam o clã Bolsonaro, assim como o nome do escrivão responsável pelos autos. Ela fala sobre uma investigação “contra o PR e três filhos”. PR é a forma como os bolsonaristas, chegados a um jargão militarizado, chamam o cargo de presidente da República.

O inquérito da PF aponta ainda que Ramagem, em 2020, quando estava à frente da Abin, teria realizado impressões de páginas constantes em inquéritos da PF sobre questões eleitorais de vários políticos do Rio de Janeiro, estado que serve de base eleitoral para a família Bolsonaro.

 

Ø  Mourão “defende” Carlos Bolsonaro o chamando de “incompetente” e “incapaz”

 

O senador Hamilton Mourão e ex-vice de Jair Bolsonaro, inverteu o ditado: “a melhor defesa é o ataque”. Para defender o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos)alvo de operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) na manhã desta quarta-feira (29), o chamou de “incompetente” e “incapaz”.

Mourão foi perguntado pela coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, se ele sabia do suposto plano do vereador para fundar uma “Abin paralela” no governo Bolsonaro. A denúncia foi feita pelo ex-ministro Gustavo Bebianno em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Mourão, então, lascou:

“Não tenho conhecimento disso, por outro lado julgo que o Carlos não tem competência e capacidade para isso”.

·        Bebianno

Carlos Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência de Bolsonaro, afirmou em 2 de março de 2020, em entrevista ao programa Roda Viva:

“Um belo dia o Carlos me aparece com um nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela, porque ele não confiava na Abin. O general Heleno [então ministro do GSI, a quem a Abin é subordinada] foi chamado, ficou preocupado com aquilo, mas Heleno não é de confronto. A conversa acabou comigo e com o Santos Cruz [então ministro da Secretaria de Governo]. Aconselhamos ao presidente que não fizesse aquilo de maneira alguma. Muito pior que o gabinete de ódio, aquilo também seria motivo para impeachment. Depois eu saí, não sei se isso foi instalado ou não”.

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) é um dos alvos de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) na manhã desta segunda-feira (29).

·        A operação da PF

A operação se refere a um suposto uso ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro, quando Alexandre Ramagem (PL-RJ) dirigia o órgão.

A operação mira aliados de Ramagem na época em que ele estava na Abin e também no atual mandato como deputado federal, o chamado "núcleo político" de Ramagem.

A suspeita da PF é que Carlos Bolsonaro, teria recebido "materiais" obtidos ilegalmente pela Abin.

Investigação da Polícia Federal aponta que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e governadores foram espionados de maneira ilegal pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sob o comando de Alexandre Ramagem, que hoje é deputado federal pelo PL do Rio de Janeiro.

 

Fonte: Fórum

 

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