quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Pesquisa revela que Milei tem 55% de imagem negativa 21 dias após sua posse na Argentina

Após 21 dias de mandato como presidente da Argentina, o extremista Javier Milei observa uma deterioração recorde de sua imagem perante a opinião pública do país, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira (02/01) pelos principais meios de comunicação portenhos.

O estudo realizado pela consultora Zurban Córdoba foi divulgado no domingo (31/12) mas ganhou as manchetes no país vizinho apenas depois das festas de fim de ano.

Segundo a pesquisa, 55,5% dos argentinos têm uma imagem negativa do atual presidente, contra 44,1% que mantêm uma imagem positiva. Os que não souberam opinar foram 0,3%.

A impopularidade também afeta a vice-presidente Victoria Villarruel, advogada que foi defensora de violadores de direitos humanos durante a última ditadura do país. A pesquisa mostra que ela tem 54,4% de imagem negativa e 43,9% de positiva.

•        Ajuste rechaçado

Outro ponto abordado pela pesquisa foi a opinião das pessoas sobre o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), um mega ajuste econômico apresentado por Milei há duas semanas.

A pesquisa apresentou a afirmação de que “o ajuste está sendo pago pela casta”, em referência ao termo com o qual Milei se refere às elites políticas e econômicas da Argentina e que foi primordial para o discurso que o elegeu presidente, e observou que 65% das pessoas disseram “discordar” ou “discordar muito” da frase – a maioria, 53,4% dos entrevistados, disse discordar muito.

Em seguida, diante da frase “o ajuste está sendo pago pelo povo”, 52,3% disseram concordar muito com isso, outros 19,6% concordaram moderadamente, totalizando 71, 9% de opiniões favoráveis à afirmação. Apenas 25,8% discordaram da frase.

•        Comparações com Bolsonaro e Collor

Para o cientista político Igor Fuser, professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), o fenômeno político de Milei guarda paralelos com dois ex-presidentes brasileiros: Jair Bolsonaro (2019-2022) e Fernando Collor de Mello (1990-1992).

Segundo o acadêmico “Milei se elegeu com base no mesmo discurso enganoso de Bolsonaro, a ideia de que ele era um verdadeiro ‘homem comum’ em oposição aos chamados ‘políticos’, e que sua ascensão à presidência mudaria a vida do povo para melhor, como num passe de mágica”.

No entanto, ao comentar as primeiras semanas de mandato do presidente argentino, Fuser afirmou que o desmoronamento da sua rejeição “lembra o que aconteceu com Fernando Collor no início do seu governo, quando congelou a poupança dos brasileiros”.

“As falácias de Milei estão desmoronando em poucos dias. A queda de popularidade é realmente espantosa, mas está relacionada com a situação material dos argentinos, que vai se agravando dramaticamente. A inflação, que já era alta, disparou e as tarifas de todos os serviços públicos, como gás, gasolina e energia elétrica, subiu a patamares inacessíveis, da noite para o dia. E isso é só o começo”, ressaltou o cientista político.

Para o professor, os índices de rejeição de Milei devem continuar altos nas próximas semanas, e a crise política do país poderia se agravar, mesmo com um mandato presidencial recém iniciado.

“O próprio Milei já deixou claro que a vida vai continuar piorando nos próximos anos do seu mandato e tenta jogar a culpa no governo anterior. Certamente, um número cada vez maior de argentinos que se deixaram enganar durante a campanha vai despertar daquela espécie de transe hipnótico que os levou a votar contra seus interesses”, concluiu.

 

       Milei 2024: Greve, beijo ‘analisado’ e decisão da Justiça. Por Maria Carmo

 

A Justiça do Trabalho da Argentina decidiu, nesta terça-feira (2), suspender o recesso e voltar às atividades para atender o recurso da Confederação Geral do Trabalho (CGT) contra o governo de Javier Milei. O apelo da CGT, a maior central sindical do país, repudia o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), equivalente a uma Medida Provisória, que tem mais de 360 artigos, incluindo uma reforma trabalhista e a possibilidade de privatização de empresas estatais.

A decisão da Justiça de voltar ao trabalho antes do previsto para analisar o recurso da CGT foi vista como boa notícia por parte dos sindicatos ligados à entidade. A CGT convocou uma greve de doze horas no dia 24 de janeiro contra as medidas de Milei. Será a primeira paralisação contra o governo, que começou no dia dez dezembro e mesmo antes de completar um mês na Casa Rosada registrou, no fim do ano passado, três panelaços e manifestações dos chamados piqueteiros dos partidos de esquerda e da CGT, que, em um ato em frente ao Tribunal de Justiça, entregou seu recurso formal contra o DNU de Milei. Com a desvalorização do peso, que foi uma das primeiras medidas do novo governo, os salários dos assalariados caíram cerca de 40% - num país que registrou inflação anual de 160% até novembro do ano passado, na gestão do ex-presidente Alberto Fernández, mas que pode superar 200% na administração de Milei.

São vários sinais de insatisfação em pouco tempo para um presidente eleito com cerca de 56% dos votos – a maior votação em 40 anos de democracia na Argentina – e que é, simultaneamente, o mais frágil por sua menor representação no Congresso Nacional em tempos democráticos. Além do DNU, Milei enviou ao Congresso um pacote com mais de 640 artigos, para desregulamentar a economia, sob o argumento de que o país está em emergência econômica e que ele precisa de via livre para governar até 2025. Essa ‘via livre’ poderia ser renovada por mais dois anos, completando assim os quatro anos de mandato para o qual Milei foi eleito. O presidente argentino tem deixado claro, desde o seu discurso de posse de costas para o parlamento, que pretende governar com sua própria caneta e sem debates prévios das medidas que implementa. Milei tem sido elogiado por setores do empresariado e financeiro, mas criticado abertamente por sindicatos, empregados públicos e movimentos sociais. O Ano-Novo não será fácil para os argentinos, como disse o próprio Milei no palco de um teatro do balneário de Mar del Plata, no fim de semana. Ali, após assistir ao espetáculo de sua namorada, a popular humorista Fátima Florez, ele fez um discurso avisando que a situação que já está ruim vai piorar – segundo ele, para depois (não se sabe quando) melhorar. Ele e Florez deram um longo beijo na boca diante do público, que registrou o ato com seus celulares. O beijo foi o assunto nas emissoras de rádio e de televisão e nas redes sociais. Foi verdadeiro ou foi falso?, chegou a analisar um especialista em gestos entrevistado pelo portal La Voz, de Córdoba. Momento ‘doçura’ jamais visto na Argentina, assim como os pacotes com mais de 600 artigos, o discurso de costas para o Congresso Nacional e a ideia de Milei de convocar um plebiscito caso os deputados e senadores não aprovem suas medidas. Tempos inéditos e turbulentos no vizinho do Brasil.

 

Ø  Justiça da Argentina derruba reformas trabalhistas do ‘decretaço’ de Javier Milei

 

A Câmara Nacional do Trabalho da Argentina emitiu nesta quarta-feira (03/01) uma medida cautelar que suspende a aplicação de uma reforma trabalhista proposta no “decretaço” anunciado pelo presidente Javier Milei. A decisão foi baseada em um recurso apresentado pela Confederação Geral do Trabalho (CGT) na semana passada.

Por dois votos favoráveis e um contra, o órgão revogou a decisão do juiz José Ignacio Ramonet, que havia recebido a apresentação da CGT, mas recusou-se a expedir uma medida cautelar pois, para ele, o decreto ainda não havia entrado em vigor. 

A decisão afeta a aplicação do capítulo IV do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) ligado à esfera do trabalho. Neste ponto, o governo de Milei havia estabelecido uma reforma trabalhista que incluía, entre diversos tópicos, a redução das verbas rescisórias, ampliação do período experimental do trabalhador de três para oito meses e a limitação do direito à greve. 

“É emitida medida cautelar suspendendo a aplicabilidade do disposto no Título IV Obra do Decreto de Necessidade e Urgência nº 70/23 até que seja proferida decisão definitiva sobre a questão de fundo suscitada neste processo”, decidiu o órgão.

Para a Câmara Nacional do Trabalho, estão comprovados todos os requisitos necessários para suspender a aplicação de uma lei, tais como a capacidade da execução da norma causar “danos graves e irreparáveis”, assim como a plausibilidade do direito invocado e a plausibilidade da ilegitimidade.

O organismo, formado pelos juízes María Dora González, Andrea García Vior e Alejandro Sudera, considerou que alguns dos regulamentos apresentavam “natureza criminal” e avaliou que a justificativa do Executivo em relação à gravidade da situação econômica do país é “insuficiente para demonstrar a urgência na implementação de mudanças estruturais na legislação trabalhista”.

No entanto, ainda há uma discussão sobre qual será a instância competente para dar prosseguimento à pauta, uma vez que a decisão da Justiça é cautelar e válida "até que seja proferida decisão definitiva sobre a questão de fundo suscitada neste processo” .

·        Protestos contra o decreto

O decreto anunciado por Milei suscitou a rejeição das principais forças trabalhistas, que na semana passada se mobilizaram no Palácio da Justiça, em Buenos Aires, para contestar o decreto por conta das desregulamentações que propõe em matéria de trabalho.  

Um dia após a marcha massiva, a CGT convocou uma greve geral para 24 de janeiro. Será a primeira grande medida de protesto contra a administração do líder ultraliberal que está no poder há menos de um mês.

O questionado decreto entrou em vigor no final de dezembro. A norma, anunciada pelo presidente no dia 20 de dezembro e intitulada Bases para a reconstrução da economia argentina, consiste em 366 artigos que desregulamentam completamente a economia do país sul-americano.

Embora seja um instrumento constitucional de que dispõe o Poder Executivo, será preciso que seja aprovado no Congresso, onde o partido governista A Liberdade Avança não tem maioria.

No entanto, Milei já antecipou que se o Parlamento rejeitar a sua ampla iniciativa de reforma, convocará um plebiscito ou uma consulta popular.

 

Fonte: Opera Mundi/Brasil 247

 

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