Pesquisa revela que Milei tem 55% de imagem negativa 21 dias após sua
posse na Argentina
Após 21 dias de mandato como presidente da
Argentina, o extremista Javier Milei observa uma deterioração recorde de sua
imagem perante a opinião pública do país, segundo pesquisa divulgada nesta
terça-feira (02/01) pelos principais meios de comunicação portenhos.
O estudo realizado pela consultora Zurban Córdoba
foi divulgado no domingo (31/12) mas ganhou as manchetes no país vizinho apenas
depois das festas de fim de ano.
Segundo a pesquisa, 55,5% dos argentinos têm uma
imagem negativa do atual presidente, contra 44,1% que mantêm uma imagem
positiva. Os que não souberam opinar foram 0,3%.
A impopularidade também afeta a vice-presidente
Victoria Villarruel, advogada que foi defensora de violadores de direitos
humanos durante a última ditadura do país. A pesquisa mostra que ela tem 54,4%
de imagem negativa e 43,9% de positiva.
• Ajuste
rechaçado
Outro ponto abordado pela pesquisa foi a opinião
das pessoas sobre o Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), um mega ajuste
econômico apresentado por Milei há duas semanas.
A pesquisa apresentou a afirmação de que “o ajuste
está sendo pago pela casta”, em referência ao termo com o qual Milei se refere
às elites políticas e econômicas da Argentina e que foi primordial para o
discurso que o elegeu presidente, e observou que 65% das pessoas disseram
“discordar” ou “discordar muito” da frase – a maioria, 53,4% dos entrevistados,
disse discordar muito.
Em seguida, diante da frase “o ajuste está sendo
pago pelo povo”, 52,3% disseram concordar muito com isso, outros 19,6%
concordaram moderadamente, totalizando 71, 9% de opiniões favoráveis à
afirmação. Apenas 25,8% discordaram da frase.
• Comparações
com Bolsonaro e Collor
Para o cientista político Igor Fuser, professor do
curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), o
fenômeno político de Milei guarda paralelos com dois ex-presidentes
brasileiros: Jair Bolsonaro (2019-2022) e Fernando Collor de Mello (1990-1992).
Segundo o acadêmico “Milei se elegeu com base no
mesmo discurso enganoso de Bolsonaro, a ideia de que ele era um verdadeiro
‘homem comum’ em oposição aos chamados ‘políticos’, e que sua ascensão à
presidência mudaria a vida do povo para melhor, como num passe de mágica”.
No entanto, ao comentar as primeiras semanas de
mandato do presidente argentino, Fuser afirmou que o desmoronamento da sua
rejeição “lembra o que aconteceu com Fernando Collor no início do seu governo,
quando congelou a poupança dos brasileiros”.
“As falácias de Milei estão desmoronando em poucos
dias. A queda de popularidade é realmente espantosa, mas está relacionada com a
situação material dos argentinos, que vai se agravando dramaticamente. A
inflação, que já era alta, disparou e as tarifas de todos os serviços públicos,
como gás, gasolina e energia elétrica, subiu a patamares inacessíveis, da noite
para o dia. E isso é só o começo”, ressaltou o cientista político.
Para o professor, os índices de rejeição de Milei
devem continuar altos nas próximas semanas, e a crise política do país poderia
se agravar, mesmo com um mandato presidencial recém iniciado.
“O próprio Milei já deixou claro que a vida vai
continuar piorando nos próximos anos do seu mandato e tenta jogar a culpa no
governo anterior. Certamente, um número cada vez maior de argentinos que se
deixaram enganar durante a campanha vai despertar daquela espécie de transe
hipnótico que os levou a votar contra seus interesses”, concluiu.
Milei
2024: Greve, beijo ‘analisado’ e decisão da Justiça. Por Maria Carmo
A Justiça do Trabalho da Argentina decidiu, nesta
terça-feira (2), suspender o recesso e voltar às atividades para atender o
recurso da Confederação Geral do Trabalho (CGT) contra o governo de Javier
Milei. O apelo da CGT, a maior central sindical do país, repudia o Decreto de
Necessidade e Urgência (DNU), equivalente a uma Medida Provisória, que tem mais
de 360 artigos, incluindo uma reforma trabalhista e a possibilidade de
privatização de empresas estatais.
A decisão da Justiça de voltar ao trabalho antes do
previsto para analisar o recurso da CGT foi vista como boa notícia por parte
dos sindicatos ligados à entidade. A CGT convocou uma greve de doze horas no
dia 24 de janeiro contra as medidas de Milei. Será a primeira paralisação
contra o governo, que começou no dia dez dezembro e mesmo antes de completar um
mês na Casa Rosada registrou, no fim do ano passado, três panelaços e
manifestações dos chamados piqueteiros dos partidos de esquerda e da CGT, que,
em um ato em frente ao Tribunal de Justiça, entregou seu recurso formal contra
o DNU de Milei. Com a desvalorização do peso, que foi uma das primeiras medidas
do novo governo, os salários dos assalariados caíram cerca de 40% - num país
que registrou inflação anual de 160% até novembro do ano passado, na gestão do
ex-presidente Alberto Fernández, mas que pode superar 200% na administração de
Milei.
São vários sinais de insatisfação em pouco tempo
para um presidente eleito com cerca de 56% dos votos – a maior votação em 40
anos de democracia na Argentina – e que é, simultaneamente, o mais frágil por
sua menor representação no Congresso Nacional em tempos democráticos. Além do
DNU, Milei enviou ao Congresso um pacote com mais de 640 artigos, para
desregulamentar a economia, sob o argumento de que o país está em emergência
econômica e que ele precisa de via livre para governar até 2025. Essa ‘via livre’
poderia ser renovada por mais dois anos, completando assim os quatro anos de
mandato para o qual Milei foi eleito. O presidente argentino tem deixado claro,
desde o seu discurso de posse de costas para o parlamento, que pretende
governar com sua própria caneta e sem debates prévios das medidas que
implementa. Milei tem sido elogiado por setores do empresariado e financeiro,
mas criticado abertamente por sindicatos, empregados públicos e movimentos
sociais. O Ano-Novo não será fácil para os argentinos, como disse o próprio
Milei no palco de um teatro do balneário de Mar del Plata, no fim de semana.
Ali, após assistir ao espetáculo de sua namorada, a popular humorista Fátima
Florez, ele fez um discurso avisando que a situação que já está ruim vai piorar
– segundo ele, para depois (não se sabe quando) melhorar. Ele e Florez deram um
longo beijo na boca diante do público, que registrou o ato com seus celulares.
O beijo foi o assunto nas emissoras de rádio e de televisão e nas redes
sociais. Foi verdadeiro ou foi falso?, chegou a analisar um especialista em
gestos entrevistado pelo portal La Voz, de Córdoba. Momento ‘doçura’ jamais
visto na Argentina, assim como os pacotes com mais de 600 artigos, o discurso
de costas para o Congresso Nacional e a ideia de Milei de convocar um
plebiscito caso os deputados e senadores não aprovem suas medidas. Tempos
inéditos e turbulentos no vizinho do Brasil.
Ø Justiça da
Argentina derruba reformas trabalhistas do ‘decretaço’ de Javier Milei
A Câmara Nacional do Trabalho da Argentina emitiu
nesta quarta-feira (03/01) uma medida cautelar que suspende a aplicação de
uma reforma
trabalhista proposta no “decretaço” anunciado pelo presidente Javier
Milei. A decisão foi baseada em um recurso apresentado pela Confederação Geral
do Trabalho (CGT) na semana passada.
Por dois votos favoráveis e um contra, o órgão
revogou a decisão do juiz José Ignacio Ramonet, que havia recebido a
apresentação da CGT, mas recusou-se a expedir uma medida cautelar pois, para
ele, o decreto ainda não havia entrado em vigor.
A decisão afeta a aplicação do capítulo IV do
Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) ligado à esfera do trabalho. Neste
ponto, o governo de Milei havia estabelecido uma reforma trabalhista que
incluía, entre diversos tópicos, a redução das verbas rescisórias, ampliação do
período experimental do trabalhador de três para oito meses e a limitação do
direito à greve.
“É emitida medida cautelar suspendendo a
aplicabilidade do disposto no Título IV Obra do Decreto de Necessidade e
Urgência nº 70/23 até que seja proferida decisão definitiva sobre a questão de
fundo suscitada neste processo”, decidiu o órgão.
Para a Câmara Nacional do Trabalho, estão
comprovados todos os requisitos necessários para suspender a aplicação de uma
lei, tais como a capacidade da execução da norma causar “danos graves e
irreparáveis”, assim como a plausibilidade do direito invocado e a
plausibilidade da ilegitimidade.
O organismo, formado pelos juízes María Dora
González, Andrea García Vior e Alejandro Sudera, considerou que alguns dos
regulamentos apresentavam “natureza criminal” e avaliou que a justificativa do
Executivo em relação à gravidade da situação econômica do país é “insuficiente
para demonstrar a urgência na implementação de mudanças estruturais na
legislação trabalhista”.
No entanto, ainda há uma discussão sobre qual será
a instância competente para dar prosseguimento à pauta, uma vez que a decisão
da Justiça é cautelar e válida "até que seja proferida decisão definitiva
sobre a questão de fundo suscitada neste processo” .
·
Protestos contra o decreto
O decreto anunciado por Milei suscitou a rejeição
das principais forças trabalhistas, que na semana passada se mobilizaram no
Palácio da Justiça, em Buenos Aires, para contestar o decreto por conta das
desregulamentações que propõe em matéria de trabalho.
Um dia após a marcha massiva, a CGT convocou uma
greve geral para 24 de janeiro. Será a primeira grande medida de protesto
contra a administração do líder ultraliberal que está no poder há menos de um
mês.
O questionado decreto entrou em vigor no final de
dezembro. A norma, anunciada pelo presidente no dia 20 de dezembro e
intitulada Bases para a reconstrução da economia argentina, consiste
em 366 artigos que desregulamentam completamente a economia do país
sul-americano.
Embora seja um instrumento constitucional de que
dispõe o Poder Executivo, será preciso que seja aprovado no Congresso, onde o
partido governista A Liberdade Avança não tem maioria.
No entanto, Milei já antecipou que se o Parlamento
rejeitar a sua ampla iniciativa de reforma, convocará um plebiscito ou uma
consulta popular.
Fonte: Opera Mundi/Brasil 247
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