terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Joaquim de Carvalho: Escândalo da Abin pode ajudar a desvendar o que aconteceu em Juiz de Fora com Bolsonaro

A imprensa de uma maneira geral, inclusive aquela que se apresenta como mídia independente, foge do evento de Juiz de Fora em 6 de setembro de 2018 como o diabo da cruz. Mas os fatos insistem em envergonhá-los. Refiro-me à operação da Polícia Federal que escancara a chamada Abin Paralela.

Essa estrutura de espionagem e outras ilegalidades nasceu naquela tarde em que Adélio Bispo de Oliveira ficou frente a frente com Carlos Bolsonaro e caminhou na sua direção antes de ficar frente a frente com Jair Bolsonaro e, com sua atitude, eleger o líder da extrema direita brasileira presidente da república.

Dois policiais federais afastados por decisão de Alexandre de Moraes tiveram atuação decisiva naquela tarde: Marcelo Bormevet e Luiz Felipe Barros Felix. Relatei a atuação dos dois em dois documentários censurados pelo YouTube.

Um deles, "Bolsonaro e Adélio - Uma fakeada no coração do Brasil", está disponível no catálogo da Claro TV. O outro, “Fakeadas - Bolsonaro e a guerra contra o Brasil”, continua fora do alcance do público.

Bormevet foi quem coordenou o esquema de segurança paralela em Juiz de Fora, e exigiu que a Associação Comercial e Empresarial da cidade contratasse uma empresa de drone para gravar todo o trajeto de Bolsonaro naquela tarde.

Busquei a íntegra das imagens desses drones, mas não encontrei. Uma edição foi divulgada pela propaganda bolsonarista horas depois do evento, com cortes.

Felipe Félix é o policial em quem Bolsonaro se apoiava no trajeto pela cidade. Depois, ele foi flagrado espionando um ex-sócio de Jair Renan.

Ao apurar esta história, recebi mensagem ameaçadora, envolvendo inclusive minha família. Denunciei o caso à Polícia Civil do Distrito Federal, mas a investigação não avançou, até onde sei.

Foram esses policiais federais que indicaram Alexandre Ramagem para a direção-geral da Abin, por intermédio de Carlos Bolsonaro.

Parte da história foi contada por Gustavo Bebianno, meses antes de morrer, sem revelar os nomes. Eu descobri os nomes quando apurei o documentário "Uma fakeada no coração do Brasil".

Essa investigação da Polícia Federal, que teve operação nesta quinta-feira, poderá jogar luz sobre o episódio mais nebuloso da história do Brasil.

Não se trata de alimentar teoria da conspiração, mas da necessidade de responder a todas as perguntas sobre aquele caso.

Até agora, só o 247 cumpriu o papel de perseguir estas pistas. Os outros veículos continuam fugindo. Por quê?

 

Ø  PGR e STF preparam o bote sobre Bolsonaro e seu clã com ações da PF contra Ramagem, Jordy, e novas que virão. Por Luiz Costa Pinto

 

Quando assumiu a responsabilidade sobre o inquérito e as denúncias decorrentes das investigações pelos atos antidemocráticos que tentavam abolir o Estado Democrático no dia 8 de janeiro de 2023, o procurador-geral da República, Paulo Gonet Branco, elogiou o trabalho que tinha sido feito até ali pelo subprocurador Carlos Frederico Santos e, ato contínuo, solicitou à equipe da PGR que acelerasse os procedimentos que estavam pendentes. O objetivo, já pactuado com o ministro Alexandre de Moraes, é encerrar todos os procedimentos investigatórios até o final de abril - no mais tardar. Isso permitirá que uma denúncia bem roteirizada, fundamentada, alicerçada em provas materiais e delações como a do tenente-coronel Mauro Cid possa ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal até agosto. 

Já há certeza, entre procuradores e assessores do STF que trabalham no caso, do protagonismo que Jair Bolsonaro terá nessa denúncia. Ele surge, nos esboços prévios, como idealizador, formulador, açulador via redes sociais e aparato público e privado de comunicação, articulador de financiamento e beneficiário final de todas as tentativas violentas de abolição do Estado de Direito tentadas entre 2021 e 2023 no Brasil. O golpe dado (e derrotado) em 8 de janeiro do ano passado foi o ápice dos estratagemas boçais de Bolsonaro, de seu clã e dos bolsonaristas que atuavam a soldo desses empresários sabujos ou apenas por diletantismo.

A operação de busca e apreensão contra o deputado Carlos Jordy, líder do PL na Câmara, é fruto do pedido de aceleração de procedimentos feito por Gonet ao seu pessoal. Jordy, o PL, Jair Bolsonaro e seus filhos sentiram o golpe. A operação desta quinta-feira, contra Ramagem, é fruto do curso natural das águas de rios afluentes que correm na direção do rio maior a fim de rumarem todos para o mar. O inquérito contra Ramagem e outros integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi aberto a fim de apurar espionagens e monitoramentos ilegais efetuados contra políticos, jornalistas e ONGs que se posicionavam na resistência aos arreganhos antidemocráticos de Bolsonaro. O mesmo esquema, dentro da Abin, agiu a favor dos filhos do ex-presidente e de de seus amigos empresários a favor de negócios ou da elaboração de dossiês que os auxiliassem a ganhar dinheiro e processos. Como investigadores, procuradores e policiais federais se comunicam, dialogam e compartilham informações, as duas ações se conectaram: a PGR passou a beber na fonte das espionagem ilegais do ex-chefe da Abin alçado a um mandato de deputado federal, conexões possíveis com os atos antidemocráticos de 2021, 2022 e com o golpe do 8 de janeiro de 2023. 

A partir dessa produtiva visão panorâmica de provas, delações e fatos conexos colocados lado a lado numa espécie de “mind map” (mapa mental) do Ministério Público, da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal, os fatos vão se conectando. Os CPFs dos satélites do bolsonarismo vão se ligando aos cargos que ocuparam na passagem de Jair Bolsonaro pela presidência e tudo vai sendo conectado com golpes frustrados ou executados no período. Uma fotografia térmica imaginária tirada desse mapa mental formado pelos fragmentos das investigações e inquéritos que ora se juntam revela: no epicentro de tudo, vermelho como um camarão GG cozido, está Jair Messias Bolsonaro. Outras operações da PF, a pedido da PGR e autorizadas pelo STF virão nos próximos dias. Serão desencadeadas contra ex-ministros, ex-auxiliares e mesmo familiares do ex-presidente que o ajudaram na tentativa de turvar e curvar a Democracia brasileira. Sejam parlamentares, ou não. Os 00, 01, 02, 03 e 04 do seu clã são coadjuvantes, mas, sobrará sal para seus respectivos lombos. O bote final está a caminho, num movimento de pinça, e todos figurarão na denúncia por tentativa de abolição do Estado Demcorático de Direito. 

 

       Espionagem na Abin: veja quem foi monitorado ilegalmente pela agência, segundo a PF

 

Na manhã de quinta-feira (25), a Polícia Federal (PF) realizou a Operação Vigilância Aproximada e cumpriu 21 mandados de busca e apreensão contra suspeitos de terem monitorado ilegalmente autoridades como os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia.

Entre os alvos da PF estava o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), incluído pelos investigadores no primeiro núcleo da organização criminosa – chamada de “alta gestão”, que utilizava o software israelense First Mile para seguir os passos das vítimas.

De acordo com a decisão do STF que autorizou as buscas contra Ramagem, a PF tem evidência de que o parlamentar teria interferido nas apurações disciplinares e anulado as demissões de dois servidores envolvidos nas escutas ilegais e nos monitoramentos de opositores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) feitos pela Abin.

•        Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes

A PF identificou a tentativa da Abin de associar os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) durante a gestão de Ramagem. Na decisão que embasou as buscas da PF – proferida por Moraes -, o ministro detalha o modus operandi de parte dos servidores da Abin sob comando de Ramagem.

“O arquivo “Prévia Nini.docx”, por seu turno, retrata ação deliberada de desvirtuamento institucional da operação de inteligência em comento. Neste documento, identificou-se anotações cujo conteúdo remete à tentativa de associar Deputados Federais, bem como Exmo. Ministro Relator Alexandre de Moraes e outros parlamentares à organização criminosa PCC”, escreveu Moraes.

“Não somente o ministro relator, mas também com o Exmo. Ministro Gilmar Mendes houve a tentativa de vinculação com organização criminosa”, acrescentou o ministro.

“O desvirtuamento da diligência no sentido de tentar vincular a imagem do Exmo. Ministro Relator e demais deputados pode ter sido reação em razão das ações realizadas no cumprimento de seu mister constitucional”, completa.

•        Rodrigo Maia

Um jantar na casa do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, no dia 19 de abril de 2020, teria sido alvo do monitoramento ilegal promovido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), segundo fontes ouvidas pela CNN.

“Isso [a espionagem] estava na cara. No dia eles vazaram isso. Mas como o Ciro Nogueira estava no jantar, desmentiu que havia algum assunto do governo”, disse Maia à CNN.

Ciro Nogueira é senador pelo PP. Na época já era presidente do partido, mas não ocupava cargo no governo. Ele só veio a ser nomeado ministro chefe da Casa Civil no ano seguinte, em setembro de 2021.

A CNN ainda não conseguiu contato com o senador Ciro Nogueira para comentar a citação ao nome dele.

•        Camilo Santana

O diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Segurança das Comunicações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Magno, teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então governador do Ceará Camilo Santana, atual ministro da Educação, segundo as investigações da PF.

“A Polícia Federal destaca episódios que elucidam a hipótese delitiva, como na conduta de Paulo Magno (gestor do sistema First Mile), que teria sido flagrado pilotando um drone nas proximidades da residência do então governador do Ceará Camilo Santana”, diz outro trecho da decisão de Moraes.

Promotora do caso Marielle

A Abin foi “instrumentalizada” para monitorar a promotora do Rio de Janeiro responsável pela apuração das mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

“Ficou patente a instrumentalização da Abin, para monitoramento da Promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da força-tarefa sobre os homicídios qualificados perpetrados em desfavor da vereadora MARIELLE FRANCO e o motorista que lhe acompanhava ANDERSON GOMES”, escreveu Moraes.

Conforme a decisão, a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou um resumo do currículo da promotora com a “mesma ausência de identidade visual nos moldes dos Relatórios apócrifos da estrutura paralela” da Abin.

Segundo a investigação, os relatórios apócrifos criados pela estrutura paralela “seriam divulgados com o fim de criar narrativas falsas”.

•        Outro lado

Em entrevista à CNN, Ramagem afirmou que nada foi feito durante sua gestão na Abin para monitoramento de membros do Poder Legislativo e Judiciário.

“Nada foi feito para que houvesse o monitoramento de pessoas políticas, tanto do Legislativo, quanto do Judiciário. Não na minha gestão, não sob meu comando, ou sob ordem minha, de maneira alguma”, disse Ramagem.

De acordo com Ramagem, o ex-presidente Jair Bolsonaro “sempre se muniu de diversas inteligências”, mas “nunca de cunho a fazer uma invasão de pessoas como foi feita”.

“Nós que fizemos auditoria desses sistemas para que eles trabalhassem de maneira correta. Então, tudo o que foi feito ali, e se tiver equívocos e investigações, ou inteligência realizada em alvos que não deveria ser feita, foi feita dentro e internamente do Departamento de Operações que estava sob correição e levado para a corregedoria por nós”, expressou Ramagem.

•        Pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro

Ramagem é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PL, tendo sido inclusive escolhido por Bolsonaro para concorrer ao pleito de outubro. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, elogiou o deputado e afirmar que ele seria o candidato ideal do partido para a disputa.

Mesmo após operações da PF mirarem dois pré-candidatos a prefeitos do PL no Rio de Janeiro em uma semana, o presidente do partido no estado, o deputado federal Altineu Côrtes, afirma que não haverá mudança nos planos para as eleições municipais.

“Não há hipótese em alguma de essas operações afetar os planos nas eleições”, disse Altineu Côrtes. “São candidatos fortíssimos”, completou presidente do PL fluminense.

Próximo da família Bolsonaro, Ramagem tem como um dos coordenadores da pré-campanha o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

 

Fonte: Brasil 247/CNN Brasil

 

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