FIM DA REELEIÇÃO, STF E REFORMA ADMINISTRATIVA VÃO OPOR LIRA E PACHECO
EM 2024
Reeleitos para um novo biênio no começo da
legislatura, em fevereiro, os presidentes da Câmara e do Senado colecionaram
discordâncias ao longo de 2023. Donos de perfis políticos distintos, Arthur
Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) disputaram a primazia sobre as medidas
provisórias, divergiram sobre fundo eleitoral, anistia para partidos políticos
e mudanças
nas regras das eleições municipais e do Supremo Tribunal Federal (STF). As
prioridades anunciadas por ambos para 2024 deixam claro que novos embates serão
travados ao longo do novo ano.
Às disputas ainda não resolvidas, vão se somar nos
próximos meses pautas como a reforma administrativa, o fim da reeleição para o
Executivo e a fixação de mandato para ministro do Supremo. Sem entendimento
entre as duas partes, a tendência é que temas como esses não cheguem a um
desfecho em 2024. Ou seja, podem até passar numa das Casas, mas enfrentarão
dificuldade para avançar na outra.
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Mandato para o Supremo
O Supremo Tribunal Federal continuará no centro da
discórdia entre Lira e Pacheco em 2024. No fim de novembro, o Senado aprovou a
PEC 8/2021, que limita decisões monocráticas (individuais) na Corte e em outros
tribunais superiores. O texto era uma das reivindicações da oposição. Sem
entusiasmo pela proposta, Lira empurrou o debate para este ano e não incluiu o
assunto em sua lista de prioridades.
Rodrigo Pacheco já anunciou que pretende pautar no
primeiro semestre do ano a proposta que fixa mandato para ministros do Supremo.
Lira deixou claro que é contra a medida. “Imagine uma pessoa que vá para o STF
com 44 ou 45 anos, que sabe que vai sair com 55. O que é que vai se esperar de
isenção de julgamento de alguém que sabe que em dez anos vai sair com 55 anos,
em plena atividade?”, questionou Lira em entrevista à GloboNews.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do
Senado tem três propostas semelhantes que estipulam mandato temporário para
ministros do Supremo. Pacheco não exernou preferência por nenhuma delas no
momento. O texto ainda não tem relator.
A PEC 77/2019, do senador Angelo Coronel (PSD-BA),
limita o mandato de ministros a oito anos, permitida uma recondução, e aumenta
para 55 anos a idade mínima para compor o Supremo. O texto também altera a
escolha dos magistrados, que passariam a ser indicados também por deputados e
senadores. Dos 11 ministros, três seriam eleitos pelo Senado e três pela
Câmara; os demais continuariam sendo indicados pelo presidente da República.
Todos os indicados teriam que ser escolhidos dentre os “ministros de tribunais superiores,
desembargadores ou juízes de tribunais”.
A PEC 16/2019, do senador Plínio Valério
(PSDB-AM), estabelece mandato fixo de oito anos para ministros do Supremo
e aumenta a idade mínima para nomeação de 35 para 45 anos. O texto também
fixa prazo de até um mês, após o surgimento da vaga, para o presidente fazer
suas indicações para o STF.
Já a PEC 51/2023, de Flávio Arns (PSB-PR),
estabelece mandato de 15 anos para ministro do STF e fixa em 50 anos a idade
mínima para a nomeação. A proposta estabelece também uma quarentena para
impedir que sejam nomeados para o STF quem tenha exercido determinados cargos
públicos nos três anos anteriores.
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Fim da reeleição
Outro tema
que deve opor Lira e Pacheco é o fim da reeleição para o Executivo. Pacheco
manifestou simpatia pela PEC 12/2022, do senador Jorge Kajuru (PSB-GO), que
acaba com a reeleição para prefeitos, governadores e presidente da República e
aumenta de quatro para cinco anos o tempo de mandato deles. O senador entende
que a mudança só deve valer a partir de 2030. “Não pega o Lula, não pega o
Tarcísio [Freitas, governador de São Paulo]”, ressalta.
O presidente do Senado também propõe a unificação
das eleições, que passariam a ser realizadas a cada cinco anos. Nesse caso,
deputados e vereadores também teriam um ano a mais de mandato. No caso dos
senadores, a discussão seria se o mandato seria reduzido dos atuais oito para
cinco ou ampliados para dez anos. “O fim da reeleição é algo que é um desejo
muito forte dos senadores, nós vamos fazer audiências públicas, debater isso”,
afirma.
Arthur Lira tem evitado se manifestar sobre o
assunto, mas defende abertamente a discussão a longo prazo sobre a adoção de um
modelo de semipresidencialismo no país. Ele defende que seja instalado um grupo
de trabalho para debater a mudança, que poderia valer, segundo o deputado, a
partir de 2030. Nesse sistema de governo, o presidente da República compartilha
o Executivo com um primeiro-ministro indicado pelo Congresso e um conselho de
ministros. Pacheco, no entanto, entende que não deve haver pressa nesse
tipo de discussão.
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Reforma administrativa
Outro ponto
tratado com entusiasmo por Lira e relegado a segundo plano por Pacheco é a
reforma administrativa. “Acho que o problema do Brasil não é o servidor
público, mas a qualidade do gasto público”, disse o senador em café da manhã
com jornalistas no último dia 22. Para ele, algum tipo de reforma no
funcionalismo público é necessária, mas o tema não é prioritário neste momento.
O senador considera que o mais importante é
promover uma ampla discussão sobre a qualidade do gasto público, o que inclui a
destinação das emendas parlamentares. O controle sobre as emendas, aliás, é o
principal capital político do presidente da Câmara. Qualquer tentativa de se
impor limites às emendas enfrentará resistência de Lira.
Em seu primeiro ano à frente da Câmara, em 2021,
Lira emplacou a reforma administrativa na comissão especial. Teve de segurar o
assunto – impopular entre os servidores públicos – no ano seguinte por causa
das eleições. Em 2023, viu o tema esfriar com a ascensão de Lula ao poder. O
governo é contra reforma administrativa nos moldes discutidos pelo Congresso,
com o fim da estabilidade, por exemplo, e propõe a reestrutura das carreiras.
Em encontro com instituições financeiras, ele
afirmou que a administrativa é o “último pilar” das reformas de que o país
precisa, “um convite à transformação”. “Uma oportunidade para repensarmos e
reconstruirmos a máquina pública, tornando-a mais eficiente e condizente com os
desafios do século 21”, discursou. Ele admitiu, no entanto, que sem o apoio do
Executivo dificilmente a reforma será concluída no Congresso.
A proximidade das eleições municipais é outro
complicador para a reforma em 2024. Além de o calendário de votações ficar
esprimido no primeiro semestre, os parlamentares reconhecem que a mudança nas
regras do funcionalismo soa como medida impopular, capaz de prejudicar a
eleição daqueles que postulam o Executivo municipal.
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Fundo eleitoral
Na última sessão do Congresso em 2023, Pacheco saiu
derrotado na queda de braço com Lira. O presidente do Senado fez um apelo
derradeiro aos parlamentares durante a votação da proposta orçamentária, para
que recuassem da ideia de elevar para R$ 4,9 bilhões o fundo destinado a
custear as campanhas eleitorais deste ano.
Ele propôs que fossem retomados os cerca de R$ 900
milhões propostos inicialmente pelo governo e se comprometeu a fechar um acordo
com o governo para elevar o fundo de financiamento para cerca de R$ 2,7 bilhões
– valor correspondente ao executado na campanha municipal de 2020, acrescido da
correção da inflação. Segundo ele, o valor acolhido pelo relator do orçamento,
deputado Luiz Carlos Mota (PL-SP), era um exagero e poderia precipitar uma
campanha contra o financiamento público na sociedade.
Governistas e oposicionistas rejeitaram a proposta
e confirmaram o montante de quase R$ 5 bilhões. Lira, que não integra a
Mesa Diretora do Congresso, foi um dos incentivadores do valor.
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Minirreforma eleitoral
Em outubro, o Senado impôs uma derrota à Câmara ao
se recusar a acelerar a votação de uma minirreforma eleitoral que flexibilizava
a cota de participação das mulheres nas eleições, afrouxava regras sobre
prestação de contas e alterava o calendário eleitoral. O texto foi engavetado
pelos senadores, o que impediu que as mudanças valessem para as eleições e
2024.
Na ocasião, diante de críticas de aliados de Lira,
Pacheco respondeu: “Paciência. Discutiremos mais alongadamente [as mudanças]
para poderem valer nas eleições de 2026”.
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Medidas provisórias
A queda de
braço travada entre Lira e Pacheco no ano passado se
fez sentir no Palácio do Planalto. O presidente do Congresso tentou
restabelecer o rito de tramitação das medidas provisórias por meio de comissões
mistas (formadas por deputados e senadores), responsáveis por fazer a análise
prévia do texto antes de submetê-ao plenário. A relatoria e a presidência da
comissão eram alternadas por senadores e deputados. Esse foi o rito que imperou
até o início da pandemia, quando os trabalhos legislativos passaram por uma
série de adaptações.
Lira resistiu a indicar os representantes da
Câmara, o que obrigou o governo a tratar dos mesmos assuntos por projeto de
lei, sob pena de ver suas MPs perderem a validade. Ele defendeu que o relatório
deveria ser feito pelos deputados em plenário, a exemplo do que ocorria desde o
início da pandemia.
Como consequência, Lula terminou o primeiro ano de
seu mandato com apenas nove, de um tota de aproximadamente 50 medidas
provisórias, convertidas em lei após votação na Câmara e no Senado. Os temas
tiveram de ser tratados por projeto de lei com regime de urgência. “Tivemos
essa divergência. Continuo acreditando que eu estava certo. Mas no final deu
tudo certo”, disse Pacheco no café da manhã com jornalistas às vésperas do
Natal.
Ø CÂMARA
FECHA 2023 COM APENAS DOIS PARTIDOS EM FRANCA OPOSIÇÃO A LULA
Os dados da ferramenta Radar do
Congresso demonstram a formação de uma ampla base de apoio ao presidente
Lula na Câmara dos
Deputados em 2023. O segundo semestre foi encerrado com 72% da Casa votando
de acordo com a orientação do governo. Dos 16 partidos que não compõem o
governo, dez são extremamente governistas, coincidindo em mais de 75% das
votações. No sentido oposto, apenas dois partidos preservam o padrão de franca
oposição: o PL e
o Novo.
O Radar do Congresso compila os
resultados do final de cada semestre do ano. Ao longo do primeiro semestre,
apenas o Novo votava majoritariamente contra o governo, com 48% de governismo.
O PL, maior partido da oposição, seguia a orientação do governo em 54% das
votações. Esse período também consolidou o PT e PSB como os mais governistas,
com 99% e 96% de votos favoráveis. Essa liderança se manteve ao longo do ano.
O final do segundo semestre demonstrou um movimento
desfavorável para o governo em relação à governabilidade. Com exceção do PDT,
PT e Psol, todos os partidos tiveram queda na taxa de adesão às pautas do
governo em plenário. Esse momento consolidou o PL e o Novo como partidos
efetivamente de oposição, encerrando o mês de junho com 27% e 20% de
governismo.
A queda de governabilidade foi a principal
preocupação do presidente ao longo do terceiro semestre, período marcado por
uma reforma ministerial para aumento da base na Câmara. Os ministérios do
Esporte e de Portos e Aeroportos foram reacomodados para incluir o
PP e Republicanos, movimento acompanhado pela distribuição de cargos na cúpula da Caixa,
incluindo a presidência.
Os resultados da reforma ministerial refletiram no
comportamento das bancadas. Os partidos Republicanos, União Brasil e PP,
principais beneficiados pelas mudanças, apresentaram aumentos em torno de 10
pontos percentuais na adesão às orientações do governo. Outros partidos de
centro e centro-direita, como PSD e MDB, retornaram aos parâmetros do início do
ano.
Entre o terceiro trimestre e o quarto, a tendência
foi de estabilidade. Republicanos e PP seguiram com leve aumento no índice de
governismo, acompanhados pelo PSD e pelo PSDB que, apesar de
não compor o governo, apresenta porcentagens equivalentes às legendas da base. Leves
quedas foram observadas pelo MDB e Podemos.
O PL e o Novo, apesar de apresentarem evoluções
semelhantes de aumento e queda nos índices de governismo, demonstram um
distanciamento gradual nesses índices. Ao final do primeiro trimestre, a
diferença entre os dois era de 6 pontos percentuais. Ao fim do ano, o PL adere
a 31% das orientações de governo, enquanto o Novo apoia 20%, estabelecendo com
isso uma distância de 11 pontos.
Fonte: Congresso em Foco
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