Eleição em SP decompõe frente de Lula em palanques de Boulos, Tabata e
Nunes
A já precificada decomposição da frente que elegeu
o presidente Lula (PT) ficará evidente na eleição municipal de 2024 em São
Paulo, com personagens centrais se dividindo entre os palanques de Guilherme
Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB) e Ricardo Nunes (MDB).
O quadro tem inspirado cautela e preocupação tanto
entre os pré-candidatos e suas equipes quanto no governo federal. A situação é
tão delicada que deve opor Lula ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB),
figura-símbolo da ideia de frente ampla em torno do petista para derrotar Jair
Bolsonaro (PL).
Há esforços para que a disputa local entre
apoiadores de Lula, que se repetirá em outras cidades, não respingue na
hiperfragilizada articulação política do governo no Congresso nem crie tensões
que comprometam o entendimento na Esplanada dos Ministérios e entre partidos
aliados.
Fiador da candidatura de Boulos, Lula se envolveu
nas costuras em prol do deputado federal e iniciou sua participação direta na
campanha ao comparecer a um evento do governo federal na cidade, em dezembro,
feito sob medida para alavancar o pupilo.
O psolista, apoiado pelo PT em uma inédita renúncia
à cabeça de chapa na capital paulista, deverá contar com o suporte de quadros
petistas de peso, como os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Alexandre
Padilha (Relações Institucionais), além de Marina Silva (Meio Ambiente), da
aliada Rede.
Alckmin se posicionou em defesa de Tabata, o que
tem sido tratado com naturalidade em público, mas motiva queixas e pressões nos
bastidores. O próprio Lula demonstrou desconforto com a participação do vice na
campanha local, por ver como negativa a separação da dupla entre dois projetos.
Em outubro, Alckmin chamou a correligionária de
"a novidade, a mudança, a verdadeira mudança", durante discurso em um
encontro do PSB na cidade.
A deputada, que apoiou Lula para evitar Bolsonaro e
busca se diferenciar ideologicamente de PT e PSOL, atua para barrar rumores
sobre uma eventual desistência, assim como desmentiu seguidas vezes a hipótese
de aceitar a vice de Boulos vaga que,
por acordo, caberá ao partido
de Lula.
Ela também tem como peça central em sua campanha o
ministro Márcio França (Empreendedorismo e Microempresa), homem forte do PSB no
estado. O ex-governador atuou em articulações como a que resultou na filiação
do apresentador José Luiz Datena, cotado para ser vice de Tabata.
A parlamentar passou a mencionar o apoio dos
líderes partidários para dissipar as suspeitas sobre sua candidatura. Ela
também esperava contar em seu palanque com a presença de Flávio Dino (Justiça),
que deixará o governo para assumir uma cadeira no STF (Supremo Tribunal
Federal).
Apesar de estar em campo oposto ao de Boulos e
Tabata e ser oposição a Lula, Nunes está indiretamente na órbita
governista porque seu partido compõe a base no Congresso e tem três ministros.
A emedebista Simone Tebet (Planejamento) foi
considerada peça central para o simbolismo da frente ampla almejada pelos
entusiastas de Lula em 2022. A ex-senadora, que concorreu à Presidência no
primeiro turno vocalizando críticas inclusive ao petista, declarou apoio a ele
contra Bolsonaro.
Tebet é tida por Nunes como um reforço na campanha
à reeleição, mas sua presença e o nível de engajamento ainda são dúvidas. A
eventual adesão de Bolsonaro ao emedebista deve ser empecilho para uma
participação mais efetiva da ministra, que considerou o ex-presidente um risco
à democracia.
Em meio ao avanço das movimentações do prefeito
para conseguir o apoio de Bolsonaro, ela disse ao Painel, do jornal Folha de
S.Paulo, em agosto que Nunes "não é um extremista, é um democrata" e
pregou união contra "o extremismo de direita". Procurada via
assessoria, Tebet não voltou a comentar o assunto.
O prefeito também se mostra confiante em gestos dos
demais ministros do partido, Jader Filho (Cidades) e Renan Filho (Transportes).
"Os ministros do MDB evidentemente vão estar
me apoiando", disse Nunes à Folha de S.Paulo. "Não tem nenhuma forma
de não acontecer isso. A eleição da capital é a mais importante do MDB."
Um sinal da prioridade foi a escolha do presidente nacional da legenda, Baleia
Rossi, para ser o coordenador da campanha.
Uma prévia das saias justas que virão pela frente
ocorreu na cerimônia que marcou a estreia de Lula na série de agendas que ele
incumbiu o governo federal de realizar na cidade para promover Boulos. O
intuito é atrelar a imagem do pré-candidato a realizações da gestão petista.
Jader Filho estava no mesmo palco que os dois na
assinatura do contrato para a construção de um empreendimento habitacional do
Minha Casa, Minha Vida evento em
dezembro que ganhou ares de ato de campanha. Como não houve pedido de voto, foi evitado
maior constrangimento.
Lula fez um apelo, na última reunião ministerial do
ano, para que partidos aliados evitem ao máximo enfrentamento nas cidades.
Falando especificamente da questão com Alckmin, o petista disse ser necessário
evitar problemas. O PSB se apressou em reiterar apoio aos planos de Tabata.
Com o discurso de que é legítimo Tabata lançar
candidatura, Boulos tem fugido de embates com ela e deixado sem resposta
críticas da adversária, algumas delas consideradas duras. Aliados do psolista
vislumbram um apoio dela caso ele chegue ao segundo turno contra alguém da
direita.
Para o cientista político Leandro Machado, a
fragmentação era previsível porque a "frente não tão ampla", como
define a coalizão em torno de Lula, já nasceu com um caráter momentâneo e isso
ficou explícito na montagem do governo, com uma distribuição mal ajeitada de
poderes e cargos.
O especialista lembra que eleições municipais têm
características próprias, com debate mais voltado a problemas locais, e nem
sempre refletem composições nacionais. Machado especula, por exemplo, que a
rixa entre PT e PSB em São Paulo não significa que os dois partidos estarão
separados em 2026.
O presidente municipal do PT, Laércio Ribeiro, diz
que "o PSB tem direito de colocar seu projeto num primeiro turno para
debater, para testar" e nega desconforto com a sigla de Alckmin.
"Num segundo turno, se nós estivermos lá [com
Boulos], e eu tenho segurança de que vamos estar, vamos ter condição de fazer
uma aproximação com o PSB e com outros setores", afirma o dirigente, que
coordena a pré-campanha ao lado de Josué Rocha, indicado pelo PSOL.
Alckmin
desconversa sobre apoio a Tabata à Prefeitura de SP e diz que decisão será só
em julho
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento,
Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), desconversou ao ser
questionado sobre a manifestação de apoio à deputada federal Tabata Amaral
(PSB-SP) na disputa pela Prefeitura de São Paulo, nas eleições de outubro. A
definição das candidaturas, segundo Alckmin, se dará em julho, nas convenções
partidárias.
“Os apoios são importantes, porque são um aval, mas
não decidem eleições”, disse o vice-presidente no programa WW, da CNN Brasil,
na noite desta terça-feira, 2. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai
endossar o nome do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) na disputa na
Capital paulista.
Alckmin afirmou ainda que a população “separa
totalmente as eleições estaduais, municipais e federais”. O vice-presidente
acrescentou que considera “natural que os partidos optem por ter candidaturas
próprias no primeiro turno”.
Em outubro, Alckmin sinalizou apoio a Tabata em
discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Ele afirmou que a
deputada era a “verdadeira mudança”. “Nós, do PSB, vamos representar a mudança,
a mudança para mudar a vida da população de São Paulo. Vamos criticar sim, não
criticar pessoas, respeitamos as pessoas. Mas criticar o que precisa ser
melhorado”, afirmou o vice-presidente na ocasião. Três dias depois do discurso
na Alesp, Alckmin fez um “afago” a Boulos, chamando o parlamentar de “companheiro”
durante uma reunião partidária na Câmara dos Deputados.
O vice-presidente é uma figura forte na política do
Estado e seu apoio tem relevância na disputa eleitoral. Ele foi governador
quatro vezes e, para seu último mandato (que durou entre 2015 e 2018), foi
eleito no primeiro turno com mais de 12 milhões de votos, o que representava
57% do eleitorado paulista. Em 2022, Lula o procurou para compor sua chapa à
Presidência para atrair o eleitorado de centro durante uma disputa polarizada
contra Jair Bolsonaro (PL).
• Alckmin
diz que democracia saiu ‘fortalecida’ do 8 de janeiro
Alckmin também foi questionado sobre os atos
golpistas de 8 de janeiro. O vice-presidente contou que estava em uma missa na
catedral de São Miguel Paulista quando foi informado sobre a depredação na
capital federal.
“Quando terminou a missa é que fui verificar a
gravidade da situação. É crime, né? Na realidade, você atentar contra a
Constituição brasileira, atentar contra o Estado Democrático é inacreditável.
Patriota é quem defende a lei, quem defende a democracia, defende a
Constituição. O contrário disso é golpista”, disse ele à CNN.
O vice-presidente opinou que a “democracia saiu
fortalecida” do episódio e defendeu a resposta do governo aos ataques. “A
resposta do 8 de janeiro foi rápida e foi decisiva. Os três Poderes, Executivo,
Legislativo e o Judiciário, todos unidos na defesa da democracia. E no
Executivo nos três níveis”, afirmou.
Alckmin criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro por
ter contestado o resultado das eleições em que saiu derrotado. “Quando você
perde uma eleição, agradece os votos recebidos, cumprimenta os vencedores e
bola para frente. Não é possível você se eleger pela urna eletrônica, eleger um
filho senador pela urna eletrônica, eleger outro filho deputado pela urna
eletrônica, outro filho vereador pela urna eletrônica, e, na hora que perde,
não vale? É inacreditável”, disse o vice-presidente.
Alckmin defende vetos de Lula à LDO
Durante a entrevista, Alckmin comentou os vetos
impostos por Lula à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 nesta
terça-feira. Entre os dispositivos vetados pelo presidente estão trechos do
calendário para a distribuição de emendas parlamentares impositivas, ou seja,
de pagamento obrigatório. Alckmin negou que os vetos representem um desgaste
entre os Poderes Legislativo e Executivo. “É natural que pontos do texto
orçamentário sejam modificados. Isso faz parte da regra da democracia”,
argumentou.
Alckmin afirmou ainda que os Poderes são
independentes, mas devem ser harmônicos. “A relação com o Legislativo deve ser
pautada pelo diálogo”. A boa relação com o Congresso resultou, por exemplo, nas
aprovações do arcabouço fiscal e da reforma tributária, segundo o
vice-presidente.
Alckmin reconheceu, no entanto, que o excesso de
partidos políticos em atuação no Parlamento é um problema. “A fragmentação
parlamentar dificulta a governabilidade, mas com o tempo isso será corrigido”,
disse.
Fonte: FolhaPress/Agencia Estado
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