quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Analista afirma que 'Schengen militar' da OTAN evoca memórias anti-Rússia da Alemanha nazista

O Ocidente defende a ideia de um movimento militar livre de procedimentos burocráticos e procura concluir um acordo sobre a criação de corredores militares em toda a Europa até julho, segundo o The Times. O que realmente está por trás da ideia?

O movimento de tropas e carga militar dentro da Europa é alegadamente complicado por numerosas restrições que impedem as forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) de se movimentarem rapidamente através do Velho Continente.

A liderança da OTAN está preocupada com as regras que limitam a troca e a movimentação de equipamento militar não só entre países europeus, mas também entre regiões — no caso da Alemanha —, alegando que a burocracia poderia se tornar um sério obstáculo em um eventual conflito com a Rússia. A aliança gostaria de ver "um espaço Schengen militar" na Europa, semelhante ao espaço Schengen político, que garante um movimento contínuo em toda a Europa.Não estou surpreso que a OTAN esteja criando um 'Schengen'", disse à Sputnik o professor Stevan Gajic, pesquisador associado do Instituto de Estudos Europeus de Belgrado.

"Gostaria de sublinhar que a última vez que tivemos um Schengen europeu desse tipo foi na Alemanha de Hitler, e esta ocupou a Europa durante a Segunda Guerra Mundial. E podemos falar de ocupação, uma vez que países como a Finlândia e a Suécia foram arrastados para a OTAN sem o consentimento de seu povo. Isso vale especialmente para os finlandeses, porque eles têm uma longa tradição de neutralidade. Os suecos também têm, mas, ao contrário dos suecos, o sentimento antirrusso na Finlândia praticamente não existia. E essa história de que eles foram 'vendidos' sem um referendo, sem que o seu povo tivesse realmente uma palavra democrática sobre o assunto, foi a sua adesão à OTAN", afirmou o pesquisador.

A questão de um Schengen militar foi levantada pela OTAN em 2017 após a identificação de três tipos diferentes de barreiras na Europa: físicas, legais e regulamentares/administrativas.

Por barreiras físicas, compreende-se a infraestrutura de transportes existente na União Europeia (UE). As barreiras legais se referem aos direitos soberanos dos Estados europeus de recusar o acesso aos seus respectivos territórios por parte das tropas da OTAN. Já as barreiras regulatórias foram definidas como o conjunto de regras que dificultam indiretamente o movimento da aliança, ou seja, diferentes limites de velocidade nacionais, controles policiais, obrigação de declarar o que é embarcado, proibição de usar estradas específicas, etc.

Contudo, a ideia de uma zona de livre circulação não obteve muito apoio na altura, mas a operação militar especial russa na Ucrânia foi usada pelo establishment da OTAN para reavivar a ideia, alimentando infundadamente uma alegada "ameaça da Rússia".

No final de novembro, a OTAN alertou os seus membros que a burocracia existente seria um problema no caso de um hipotético conflito com a Rússia, citando a operação militar especial em curso de Moscou na Ucrânia. "O tempo está acabando", afirmou o tenente-general Alexander Sollfrank, chefe do comando de apoio logístico (JSEC, na sigla em inglês) da OTAN, à Reuters. "O que não fizermos em tempos de paz não estará pronto em caso de crise de guerra."

Segundo o The Times, a liderança da aliança está atualmente negociando a criação de corredores militares em toda a Europa no âmbito do sistema "Schengen militar"; os resultados das conversações vão poder ser anunciados antes da cúpula da OTAN em julho, em Washington.

"Penso que o ano em que estamos, 2024, é muito arriscado porque a OTAN sente uma ameaça existencial como organização burocrática", disse Gajic. "Se Trump vencer as eleições, poderá tirar os Estados Unidos da OTAN."

Durante seu mandato presidencial, Trump questionou repetidamente a lógica por detrás da manutenção da aliança da era da Guerra Fria. Segundo Gajic, os líderes da OTAN fariam tudo, incluindo todo o tipo de provocações contra a Rússia, para impedir que Trump saísse da aliança no caso da sua vitória. O ex-presidente ultrapassou seus pares, emergindo como o favorito republicano na corrida de 2024.

Entretanto, Moscou alertou repetidamente a OTAN contra o uso de retórica provocativa para justificar a criação de um Schengen militar.

"A aliança sempre considerou o nosso país como um suposto adversário imaginário. Agora considera abertamente o nosso país como um adversário óbvio. Esta [declaração] nada mais é do que [uma tentativa de] atiçar tensões na Europa que teriam consequências", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov aos repórteres no dia 24 de novembro. Segundo ele, Moscou responderia adequadamente se uma proposta de um Schengen militar se tornasse realidade.

Gajic observou que não é a primeira vez que a Rússia é demonizada para justificar o militarismo do Velho Continente, citando a liderança nazista alemã e sua ideia racista de "hordas asiáticas" estarem alegadamente ameaçando a Europa. Sob o termo "hordas asiáticas", os propagandistas do Terceiro Reich referiam-se à URSS, embora se autodenominasse defensora da Europa.

"Vemos a repetição do mesmo discurso sobre como a 'civilização europeia está ameaçada pelas hordas asiáticas'. Eles não usam a palavra asiática hoje, mas estão falando sobre o 'Eurodefender' ou 'resposta nórdica'. Quero dizer, toda esta formulação nórdica tem a ver com o neopaganismo que está intimamente ligado ao neonazismo no lado da frente ucraniana. Basicamente, há muitas analogias que estão sendo feitas com a Alemanha de Hitler pelos países ocidentais, pela OTAN, especificamente", disse o acadêmico.

"Na prática, geopoliticamente falando, o que a OTAN está criando é uma repetição de uma zona onde a força militar pode circular livremente. E, claro, isto é muito perigoso devido às analogias históricas que são bastante nítidas. Veremos o que isso trará. Mas penso que esta medida é uma escalada", sublinhou Gajic.

Entretanto, a OTAN iniciou este mês os seus exercícios Steadfast Defender 2024 — os maiores em décadas, envolvendo aproximadamente 90.000 soldados de 31 aliados e da Suécia. Os exercícios, que visam mostrar a capacidade da OTAN de "mobilizar rapidamente forças da América do Norte e de outras partes da aliança para reforçar a defesa da Europa", continuarão até 31 de maio e participarão desde o Extremo Norte até à Europa Central e Oriental. De acordo com Gajic, o momento das negociações sobre o Schengen militar em meio ao desenrolar dos exercícios não é de forma alguma uma coincidência.

•        OTAN pode chegar a acordo para a criação de 'Schengen militar', revela jornal britânico

Os países da OTAN podem chegar a um acordo para criar um sistema de "Schengen militar", o que permitiria que as unidades militares se movam livremente dentro das fronteiras dos Estados-membros, antes da cúpula da aliança em Washington que será realizada em julho, relata o The Times.

"Durante muitos anos, os líderes da aliança têm procurado criar um equivalente militar do espaço Schengen, que permitiria na sua maioria a circulação desimpedida dentro das fronteiras dos Estados-membros. Pelo que se pode entender, agora estão sendo conduzidas negociações para estabelecer uma série de 'corredores militares' na Europa, e os resultados podem ser anunciados antes da próxima cúpula da OTAN em Washington em julho", escreve o jornal.

No final do ano passado, Alexander Sollfrank, chefe do Comando Logístico Conjunto da OTAN, falou da necessidade de criar um "Schengen militar", que permitiria a livre passagem de equipamento e pessoal militar através das fronteiras dos Estados-membros da OTAN. De acordo com o general, as forças da aliança enfrentam obstáculos para movimentar pessoal militar e munições devido às regulamentações nacionais.

 

       Ex-líder tcheco explica por que o conflito na Ucrânia foi desencadeado pela OTAN ainda em 2008

 

O conflito na Ucrânia foi desencadeado pelos EUA e Reino Unido em 4 de abril de 2008 na cúpula da OTAN em Bucareste, quando prometeram a adesão de Kiev à aliança, declarou o ex-presidente tcheco (2003-2013) Vaclav Klaus.

O ex-presidente falava em 15 de janeiro nas margens do Fórum Econômico Mundial de Davos. No entanto, de acordo com jornal polonês Mysl Polska, as principais mídias "não notaram" essas declarações porque elas iam totalmente contra a propaganda antirrussa do Ocidente. Neste contexto, Klaus mais tarde postou o texto do discurso em seu site.

"Esta guerra começou em 4 de abril de 2008. Naquele dia, na cúpula da OTAN em Bucareste, foi tomada uma decisão de aceitar a Ucrânia e a Geórgia na OTAN. Estive presente nesse evento, estava lá e já sabia que era um erro trágico. Tentei me opor a isso. Esta decisão foi forçada pelos EUA, apesar da oposição da maioria dos países participantes, e apesar das posições da Alemanha e da França", declarou o ex-líder tcheco.

De acordo com ele, mesmo o então embaixador dos EUA em Moscou, William Burns, alertou a liderança de que tal passo ultrapassaria todas as "linhas vermelhas" para a Rússia.

O ex-presidente expressou sua convicção de que o principal objetivo da Rússia era impedir que a Ucrânia ingressasse na OTAN, não sua "ocupação". É por isso, segundo Klaus, que a Rússia introduziu apenas um contingente limitado no país.

 

       Turquia vai se arrepender de aprovar entrada da Suécia na OTAN, afirma político

 

Na última quinta-feira (25), o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ratificou a entrada da Suécia na OTAN, após aprovação pela Grande Assembleia Nacional, Parlamento unicameral do país. Para o líder do Partido da Grande União, Mustafa Destici, a nação vai se arrepender de ter dito "sim" à entrada da Suécia na aliança.

"Não deveríamos ter dito 'sim' à entrada da Suécia na OTAN até que a Suécia cumprisse todas as suas obrigações com a Turquia e 'removesse' do seu país todas as extensões de organizações terroristas [representantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), banido na Turquia]", afirmou Destici ao jornal Duvar.

A Turquia e a Hungria eram as duas únicas nações da OTAN que ainda não tinham aprovado a adesão da Suécia em seus Parlamentos. Agora, a Hungria segue como único impedimento para a entrada do país nórdico no bloco militar.

Em troca da entrada sueca, os políticos turcos queriam que a Suécia tomasse medidas para atender suas reinvindicações de segurança, como alterar sua política antiterrorismo.

No entanto, pelo "sim" à Suécia, Ancara viu o avanço nas negociações de compra de aviões F-16 dos Estados Unidos. Na quarta-feira (24), o presidente dos EUA, Joe Biden enviou uma carta aos líderes do Congresso notificando a retomada das negociações dos jatos, que estavam paradas há três anos.

É dito também que pela facilitação da adesão do país nórdico à OTAN, a Suécia ajudará no processo de entrada da Turquia na União Europeia.

"A Suécia não mudará a Constituição e as leis do seu país e não introduzirá responsabilidade criminal por insultar os nossos locais sagrados, especialmente o Alcorão. Infelizmente, os grupos parlamentares do partido concordaram com isso", afirmou o político de posição.

•        Polícia turca prende 47 suspeitos de envolvimento em ataque com morte em igreja de Istambul

Ataque foi perpetrado durante a missa dominical. Ministro do Interior turco diz que todos os detidos serão submetidos a interrogatórios.

O ministro do Interior da Turquia, Ali Erlikaya, afirmou que a polícia turca prendeu 47 pessoas suspeitas de ligação com o ataque contra uma igreja, localizada no norte de Istambul, na tarde deste domingo (28).

O ataque foi perpetrado por dois homens armados, contra a igreja italiana Santa Maria, no distrito de Sariyer, no lado europeu da cidade, durante a missa dominical, e resultou na morte de um cidadão turco de 52 anos.

O grupo extremista Daesh, também conhecido como Estado Islâmico (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), assumiu a autoria do ataque.

Dois suspeitos foram presos logo após o ataque, ambos estrangeiros e, supostamente, integrantes do Daesh. Segundo Erlikaya, um é cidadão do Tadjiquistão, o outro é russo. Posteriormente, uma investigação prendeu dezenas de pessoas suspeitas de conexão com o ataque.

"Imediatamente após o ataque à igreja, a polícia lançou uma operação em grande escala. No domingo, 47 pessoas foram detidas em 30 endereços [em conexão com o ataque]", disse Erlikaya, em comunicado.

O ministro afirmou que todos os detidos serão submetidos a interrogatórios. Erlikaya também publicou uma postagem na rede social X (antigo Twitter) parabenizando o trabalho da polícia.

"Parabenizo nosso departamento de polícia de Istambul e os heroicos policiais que identificaram e capturaram os perpetradores", escreveu o ministro.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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