quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Alzheimer pode ter 5 variantes diferentes, mostra estudo

Apesar de o Alzheimer já atingir cerca de 32 milhões de pessoas no mundo, os cientistas ainda não conseguiram definir uma causa exata para a doença. O que já se sabe é que existe um acúmulo de proteínas chamadas beta-amiloide e tau no cérebro em pacientes que possuem a condição.

No entanto, um novo estudo pode dar nova luz às possíveis causas da doença neurodegenerativa. Pesquisadores da Universidade de Amsterdã e da Universidade de Maastricht identificaram cinco variantes biológicas relacionadas ao Alzheimer. São elas:

  • Crescimento anormal de células nervosas;
  • Sistema imunológico hiperativo, o que pode agravar a progressão da doença;
  • Disfunção do metabolismo do RNA;
  • Danos no plexo coroide, que é o órgão do cérebro que produz líquido cefalorraquidiano (responsável por proteger o encéfalo e a medula espinhal contra choques e pressão);
  • Vazamento da barreia hematoencefálica (responsável por regular o transporte de substâncias entre o sangue e o cérebro).

“O crescimento [de células nervosas] é um processo normal no cérebro quando as conexões entre as células nervosas são danificadas, por exemplo, devido ao acúmulo de beta-amiloide. Mas, aqui, vemos que esse processo fica acelerado e não parece reparar as conexões com eficiência”, explica Betty Tijms, professora no Centro Médico da Universidade de Amsterdã e principal autora do estudo, ao Medical News Today.

As descobertas foram publicadas no jornal científico Nature Aging e podem trazer novas perspectivas para o tratamento da doença.

·        Como o estudo sobre as variantes do Alzheimer foi feito?

O estudo tinha como objetivo procurar outros processos biológicos que poderiam estar associados ao desenvolvimento de Alzheimer, além do acúmulo de proteínas beta-amiloide e tau. Para isso, os pesquisadores utilizaram técnicas que possibilitaram medir proteínas do líquido cefalorraquidiano e fornecer uma imagem dos processos que estariam ocorrendo no cérebro.

“Utilizamos essas inovações para estudar se poderiam ser identificados certos subgrupos de pacientes com doença de Alzheimer que compartilham processos biológicos subjacentes distintos”, comenta Tijms.

Portanto, para realizar o estudo, foram analisadas mais de mil proteínas no líquido cefalorraquidiano de 419 pessoas com Alzheimer. Através disso, foi possível identificar as diferentes variações biológicas dentro desse grupo.

Os pesquisadores afirmam que as novas descobertas podem mudar a forma como os medicamentos para Alzheimer serão desenvolvidos e prescritos no futuro. Isso porque, na visão dos autores, cada subtipo da doença pode demandar um tratamento específico.

Para confirmar essa hipótese, estudos futuros devem testar o mecanismo de ação de medicamentos levando em consideração cada variante da doença, para identificar quais subtipos respondem melhor ao tratamento analisado. O mesmo deve ser feito com ensaios para investigar os efeitos colaterais de cada medicamento para cada variante do Alzheimer.

 

Ø  Exame de sangue que rastreia Alzheimer pode se tornar realidade, diz estudo

 

Um novo tipo de exame de sangue, capaz de rastreiar a Doença de Alzheimer com “alta precisão” antes mesmo do início dos sintomas, pode se tornar realidade em breve, diz estudo publicado nesta segunda-feira (22) na revista JAMA Neurology.

Isso seria possível a partir da identificação de um tipo de proteína no sangue, chamada tau fosforilada, ou p-tau.

Essa proteína funcionaria como um biomarcador, já que ela aumenta no sangue ao mesmo tempo que outras proteínas prejudiciais aumentam no cérebro de pessoas com a doneça.

Atualmente, para identificar o acúmulo de p-tau no cérebro, os pacientes são submetidos a uma tomografia cerebral ou punção lombar, que muitas vezes pode ser inacessível e dispendiosa.

Mas descobriu-se que este simples exame de sangue tem até 96% de precisão na identificação de níveis elevados de beta amiloide e até 97% de precisão na identificação de p-tau, de acordo com o estudo.

“O que foi impressionante com estes resultados é que o exame de sangue foi tão preciso quanto testes avançados, como testes de líquido cefalorraquidiano e tomografias cerebrais, para mostrar a patologia da doença de Alzheimer no cérebro”, disse Nicholas Ashton, professor de neuroquímica na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e um dos principais autores do estudo.

As conclusões do estudo não surpreenderam Ashton, que acrescentou que a comunidade científica sabe, há vários anos, que a utilização de análises de sangue para medir a p-tau ou outros biomarcadores tem o potencial de avaliar o risco da doença de Alzheimer.

“Agora estamos perto desses testes, e este estudo mostra isso”, disse ele.

A Doença de Alzheimer, um distúrbio cerebral que afeta a memória e as habilidades de pensamento, é o tipo mais comum de demência, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde.

No ano passado, o primeiro exame de sangue para avaliar a proteína beta-amilóide foi disponibilizado para compra ao consumidor nos Estados Unidos, chamado  AD-Detect, para ajudar pessoas com comprometimento cognitivo leve a identificar o risco de desenvolver a Doença de Alzheimer.

Alguns pesquisadores levantaram dúvidas sobre a ciência por trás do teste.

A Quest Diagnostics, empresa por trás do teste, enfatizou que ele não se destina a diagnosticar a doença de Alzheimer, mas afirma que ajuda a avaliar o risco de uma pessoa desenvolver a doença.

O teste utilizado no novo estudo, denominado ensaio ALZpath pTau217, é uma ferramenta disponível comercialmente desenvolvida pela empresa ALZpath, que forneceu materiais para o estudo gratuitamente.

O teste está atualmente disponível apenas para uso em pesquisa, mas Ashton disse que deverá estar disponível para uso clínico em breve.

“Esta é uma descoberta instrumental em biomarcadores sanguíneos para Alzheimer, abrindo caminho para o uso clínico do ensaio ALZpath pTau 217”, disseram os professores Kaj Blennow e Henrik Zetterberg da Universidade de Gotemburgo, coautores do estudo, em um comunicado de imprensa.

“Este ensaio robusto já é usado em vários laboratórios em todo o mundo”.

ALZpath estima que o preço do teste pode estar entre US$ 200 e US$ 500 (de, aproximadamente, R$ 1.000 a R$ 2.500).

“Um biomarcador sanguíneo robusto e preciso permitiria uma avaliação mais abrangente do comprometimento cognitivo em ambientes onde os testes avançados são limitados”, escreveram os pesquisadores no estudo.

“Portanto, o uso de um biomarcador sanguíneo visa melhorar um diagnóstico precoce e preciso da DA, levando a um melhor manejo do paciente e, em última análise, ao acesso oportuno a terapias modificadoras da doença”.

Por exemplo, o teste demonstrou “alta precisão” na identificação da patologia tau em pessoas com teste positivo para beta amilóide, de acordo com o estudo.

Isso pode ajudar a orientar as decisões de tratamento em pacientes que consideram terapias direcionadas à beta amiloide, como Leqembi e Aduhelm, uma vez que podem ser menos eficazes em pacientes com patologia tau avançada, escreveram os pesquisadores.

“Estes resultados enfatizam o importante papel do p-tau217 plasmático como ferramenta de rastreio inicial no tratamento do comprometimento cognitivo, destacando aqueles que podem beneficiar de imunoterapias antiamilóides”, escreveram.

·        Exame de sangue “definitivo” em 80% dos participantes

O estudo contou com dados de 786 pessoaso com idade média de 66 anos de idade e que realizaram exames cerebrais e punções lombares, bem como amostras de sangue coletadas.

Os dados e essas amostras vieram dos Biomarcadores Translacionais em Envelhecimento e Demência, Registro de Wisconsin para Prevenção de Alzheimer e Iniciativa Sant Pau sobre Neurodegeneração.

Alguns dos participantes mostraram sinais de declínio cognitivo durante a coleta de dados, mas outros não.

Os pesquisadores, de instituições da Suécia, dos Estados Unidos e de outros países, analisaram os dados dos participantes de fevereiro a junho do ano passado.

Eles descobriram que quando testaram a amostra de sangue de um participante com o imunoensaio p-tau217, o exame de sangue mostrou resultados e precisões semelhantes na identificação de beta amiloide e p-tau anormais como os resultados da punção lombar ou tomografia cerebral do participante.

Apenas cerca de 20% dos participantes do estudo tiveram resultados de exames de sangue que, em um ambiente clínico, teriam exigido mais exames de imagem ou punção lombar por não serem claros.

“Esta é uma redução significativa nos exames caros e de alta demanda”, disse Ashton no e-mail.

Portanto, com base nos resultados do estudo, “pensamos que um exame de sangue e um exame clínico podem ter uma precisão definitiva em 80%” daqueles que estão sendo investigados para sinais precoces de demência.

No entanto, embora o exame de sangue neste estudo tenha sido altamente preciso para prever se alguém tem características-chave da doença de Alzheimer no cérebro, nem todas as pessoas com essas características desenvolverão a doença.

Além disso, o teste p-tau é específico para a doença de Alzheimer, portanto, se alguém tiver um resultado negativo, mas apresentar sinais de comprometimento cognitivo, este teste não poderá determinar outras possíveis causas de seus sintomas, como demência vascular ou demência por corpos de Lewy.

“Um exame de sangue negativo acelera a investigação de outras causas dos sintomas, e isso é igualmente importante”, disse Ashton.

No geral, um exame de sangue para a doença de Alzheimer, como o descrito no novo estudo, pode ser usado para ajudar a diagnosticar tanto uma pessoa com perda precoce de memória, quanto antes que um paciente apresente sinais ou sintomas da doença.

Isso porque alterações no cérebro podem ocorrer cerca de 20 anos  antes do início dos sintomas evidentes, disse o neurologista preventivo Dr. Richard Isaacson, diretor de pesquisa do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, que não esteve envolvido no estudo.

“Este é, na verdade, o teste que tem, neste momento, uma das melhores evidências disponíveis de ser um único teste para a doença de Alzheimer”, disse Isaacson sobre as conclusões do estudo.

“Este estudo nos leva a um passo realmente poderoso em direção à realização desse teste, e a beleza deste estudo é que ele também analisou as pessoas antes que elas apresentassem sintomas”.

Os sinais e sintomas da doença de Alzheimer  podem variar de pessoa para pessoa, mas muitas vezes os problemas de memória são os primeiros sinais da doença, como perder a noção de datas, perder-se, colocar coisas no lugar errado ou ter dificuldade em completar tarefas, como tomar banho, ler ou escrever.

Isaacson, que pesquisou biomarcadores sanguíneos em pessoas com nenhuma ou mínima queixa cognitiva, comparou o teste de amostras de sangue para detectar sinais da doença de Alzheimer à forma como as pessoas são submetidas a exames de sangue de rotina para detectar colesterol alto.

“As pessoas fazem testes de colesterol antes de terem um ataque cardíaco. As pessoas fazem testes de colesterol antes de sofrerem um derrame. Para mim, esse tipo de teste acabará sendo melhor aplicado em pessoas antes que elas comecem a apresentar sintomas cognitivos”, disse Isaacson.

E “tal como os testes de colesterol, ao seguir o nível de pTau217 ao longo do tempo, podemos compreender melhor como várias terapias e mudanças no estilo de vida funcionam para manter a doença de Alzheimer sob melhor controle”.

·        Forma de “democratizar o acesso”

Testar o Alzheimer antes que alguém apresente sintomas “deixa muito tempo” para que essa pessoa faça escolhas saudáveis ​​para o cérebro e converse com seu médico sobre seus fatores de risco individuais, disse Isaacson.

Ele também acrescentou que um exame de sangue também pode ser mais barato e eficaz do que realizar exames cerebrais ou outros métodos de teste.

“Os exames PET contêm radiação e podem custar mais de US$ 5 mil. As punções lombares são ótimas porque você obtém informações detalhadas, mas nem todo mundo quer uma e é cara e não é coberta pelo seguro. Esses exames de sangue geralmente têm preços mais razoáveis”, disse Isaacson.

“Fazer um exame de sangue como este também pode ajudar a democratizar o acesso das pessoas e apenas tornar mais fácil para o nosso sistema de saúde gerir de forma mais proativa o tsunami de risco de demência que a nossa sociedade enfrenta”, disse ele.

“Esta é a chave para abrir a porta para o campo da prevenção da doença de Alzheimer e da neurologia preventiva”.

Mais de 6 milhões de pessoas nos Estados Unidos vivem com demência causada pela Doença de Alzheimer, de acordo com a Associação de Alzheimer.

A previsão é de que o número de pessoas afetadas duplique nas próximas duas décadas, aumentando para cerca de 13 milhões em 2050, somente nos EUA.

No futuro, pode ser recomendado que adultos com mais de 50 anos sejam submetidos a exames de sangue de rotina para detectar a doença de Alzheimer, disse David Curtis, professor honorário da University College London, que não esteve envolvido no novo estudo.

“Quando tratamentos eficazes para prevenir a progressão da doença de Alzheimer estiverem disponíveis, será essencial ser capaz de identificar as pessoas que estão em alto risco antes que comecem a deteriorar-se. Este estudo mostra que um simples exame de sangue pode fazer isso medindo os níveis de proteína tau no sangue que foi fosforilada de uma maneira específica. Isto poderia ter implicações enormes”, disse Curtis num comunicado distribuído pelo Science Media Centre, com sede no Reino Unido.

“Todas as pessoas com mais de 50 anos poderiam ser examinadas rotineiramente a cada poucos anos, da mesma forma que agora são examinadas para colesterol alto. É possível que os tratamentos atualmente disponíveis para a doença de Alzheimer funcionem melhor naqueles diagnosticados precocemente desta forma”, disse ele.

“No entanto, penso que a verdadeira esperança é que melhores tratamentos também possam ser desenvolvidos. A combinação de um simples teste de rastreio com um tratamento eficaz para a doença de Alzheimer teria um impacto dramático para os indivíduos e para a sociedade”.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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