terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Um em cada cinco brasileiros com 15 a 29 anos não estudava e nem estava ocupado em 2022

O número de jovens que não estudavam nem estavam ocupados foi de 10,9 milhões em 2022, o que corresponde a 22,3% das pessoas de 15 a 29 anos de idade. Do total, as mulheres de cor ou raça preta ou parda representavam 4,7 milhões (43,3%), enquanto as brancas formavam menos da metade desse montante: 2,2 milhões (20,1%). Outros 2,7 milhões (24,3%) eram homens pretos ou pardos e 1,2 milhão (11,4%) eram homens brancos. Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais, divulgada hoje pelo IBGE.

A redução do número de jovens que não estudam e não estão ocupados foi inferior à do total de jovens e, por isso, a taxa de jovens nesta condição não foi a menor da série. As menores taxas ocorreram em 2012 (21,8%) e 2013 (22,0%). A taxa de 2022 (22,3%) foi a terceira menor da série.

“O indicador inclui simultaneamente os jovens que não estudavam e estavam desocupados, que buscavam uma ocupação e estavam disponíveis para trabalhar, e aqueles que não estudavam e estavam fora da força de trabalho, ou seja, que não tomaram providências para conseguir trabalho ou tomaram e não estavam disponíveis”, explica Denise Guichard, analista da pesquisa.

A pesquisadora do IBGE completa que essa é uma medida mais rigorosa de vulnerabilidade juvenil do que a taxa de desocupação, pois abrange aqueles que não estavam ganhando experiência laboral nem qualificação, possivelmente comprometendo suas possibilidades ocupacionais futuras.

Afazeres domésticos e cuidados de parentes mantém mulheres jovens fora da força de trabalho

Em 2022, 4,7 milhões de jovens não tomaram nenhuma providência para conseguir trabalho e nem gostariam de trabalhar. Os motivos estão relacionados aos cuidados de parentes e com os afazeres domésticos para 2,0 milhões de mulheres, enquanto para 420 mil homens destaca-se o motivo por problema de saúde. Ambos os sexos também abordam o estudo por conta própria como um dos motivos para não querer trabalhar.

Já o contingente de jovens que querem trabalhar foi de 2,4 milhões, sendo que para as mulheres o cuidado e os afazeres domésticos também se destacam como principal motivo para 553 mil jovens, mas o fato de não haver trabalho na localidade atinge ambos os sexos, chegando a mais de 800 mil jovens nesta situação (356 mil homens e 484 mil mulheres).

·        De 2019 a 2022, o atraso escolar aumentou e a alfabetização das crianças diminuiu

A tendência de aumento do atraso escolar no início do ensino fundamental após os dois primeiros anos de pandemia de COVID-19 também foi observada a partir de dados do Censo da Educação Básica do INEP. Nesse sentido, houve aumento na taxa de distorção idade-série do 1º ano do ensino fundamental de 2,8% para 4,0% em todo o país de 2019 para 2022.

Esse indicador se refere ao atraso escolar de crianças de 7 anos ou mais, que não deveriam estar no 1º ano do ensino fundamental, mas no 2º ano ou acima, seja porque repetiram o 1º ano, seja porque ingressaram no ensino fundamental com idade acima da esperada.

Em 2022, os maiores incrementos nessa distorção idade-série dos alunos no 1º ano do ensino fundamental ocorreram no Norte (5,7%), Nordeste (5,8%) e Centro-Oeste (3,8%).

A piora no atraso escolar no 1º ano se deu em maior intensidade entre as crianças que estudavam na área urbana (de 2,6% para 3,9%) e nas escolas das redes privada (2,8% para 5,2%) e estadual (de 2,3% para 4,3%). Não houve aumento da taxa de distorção idade-série do 1º ano do ensino fundamental na área rural nem na rede federal (de 2,8% para 1,9%).

“Uma provável consequência do atraso do ingresso na escola, a partir de 2019, foi a piora nos resultados da alfabetização. O percentual de crianças consideradas alfabetizadas no 2º ano do ensino fundamental recuou dos 60,3% em 2019 para 43,6% em 2021, segundo resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica”, analisa Fresneda.

·        Dois em cada cinco brasileiros com 25 a 64 anos não concluíram a educação básica obrigatória

A proporção, no Brasil, de 41,5% das pessoas de 25 a 64 anos que não haviam concluído a escolaridade básica obrigatória em 2022, isto é, o ensino médio, é mais do que o dobro dessa proporção para o mesmo grupo etário na média dos países da OCDE em 2021 (20,1%), divulgado no relatório Education at a glance 2022: OECD indicators.

Esse resultado coloca o Brasil com percentual de pessoas sem ensino médio acima de países latino-americanos como Colômbia (37,9%), Argentina (33,5%) e Chile (28,0%). Se limitarmos a comparação ao grupo etário mais novo, de 25 a 34 anos, o Brasil continuava, em 2022, com um percentual duas vezes maior do que a da média dos países da OCDE em 2021, isto é, 28,6% para o Brasil em comparação com 14,2% para a média da OCDE.

O atraso histórico na expansão do sistema de ensino brasileiro também se reflete no baixo percentual de pessoas de 25 anos a 64 anos de idade que concluíram o ensino superior. Enquanto a média dos países da OCDE em 2021 era de 41,1%, a média brasileira, em 2022, era a cerca da metade da média da OCDE: 20,7%.

Ainda que a faixa etária mais nova de 25 a 34 anos de idade tenha atingido um percentual maior de pessoas com ensino superior no Brasil, com 23,4% em 2022, o resultado do esforço nacional de expansão do acesso a esse nível permaneceu a metade do divulgado para a média dos países OCDE em 2021 na mesma faixa etária: 46,9%. O percentual brasileiro (23,4%) estava abaixo de países latino-americanos como: México (27,1%), Colômbia (30,5%) e Chile (40,5%).

 

       Mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam para cuidar de parentes ou das tarefas domésticas, diz IBGE

 

Quase 7 milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estudavam nem estavam ocupadas em 2022. Elas representam nada menos que 63,4% dos mais de 10,8 milhões de brasileiros da mesma faixa etária que estavam nesta situação no ano passado.

Os dados são da Síntese de Indicadores Sociais 2023, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quarta-feira (6).

A pesquisa faz uma análise das condições de vida da população brasileira em 2023, incluindo mercado de trabalho, indicadores de rendimentos, condições de moradia e educação. Um dos cortes traça o perfil da população conhecida popularmente como “nem-nem” (nem estuda, nem trabalha).

O instituto, porém, prefere a sigla “Neno” para definir os jovens que “não estudam e nem estão ocupados”. E, apesar de uma queda de 14,3% em relação ao ano anterior, consequência de um reaquecimento do mercado de trabalho, o padrão demográfico dos Neno continua sem alteração. A ampla maioria é feminina, com 4,7 milhões de mulheres pretas ou pardas e 2,1 milhões de brancas.

E o principal motivo que as tirou do mercado de trabalho foi o cuidado. Mais de 2 milhões disseram que não buscaram trabalho porque precisavam cuidar dos afazeres domésticos ou tomar conta de parentes.

Outras 553 mil mulheres que procuravam emprego também mencionaram esses fatores como impeditivos. Ao todo, portanto, mais de 2,5 milhões de mulheres não trabalharam em 2022 para cuidar de parentes ou de tarefas domésticas.

A título de comparação, o contingente de homens que saíram do mercado pelo mesmo motivo e não procuravam emprego foi de 80 mil — número que não representa nem 4% do total de mulheres na mesma situação. O principal motivo alegado por eles foram os problemas de saúde, com 420 mil.

Entre aqueles que queriam trabalhar, apenas 17 mil mencionaram questões domésticas. A alegação mais recorrente, para 356 mil homens, é a de que não havia trabalho na localidade. Entre as mulheres, 484 mil mulheres disseram o mesmo.

Vale mencionar que essa diferenciação acontece porque os jovens Neno podem estar fora da força de trabalho ou desocupados. Já quem procura emprego é considerado desocupado pelo IBGE. Em 2022, 65,9% estavam fora da força de trabalho e 34,1% desocupados.

Por diferentes motivos — como estudo, falta de trabalho disponível ou cuidado — 4,7 milhões de jovens não procuraram trabalho e nem gostariam de trabalhar, segundo o instituto.

>>> Veja os números de gênero e raça:

•        Entre os jovens de 15 a 29 anos do país, 10,8 milhões não estudavam nem estavam ocupados em 2022;

•        Um em cada cinco jovens brasileiros desta faixa etária (22,3%) faziam parte do grupo dos Neno;

•        Do total, 6,9 milhões são mulheres e 3,9 milhões são homens;

•        Também do total, 7,4 milhões são pretos ou pardos (67,6%) e 3,4 milhões são brancos (31,5%);

•        No corte de raça, o maior grupo são as mulheres pretas ou pardas, com 4,7 milhões (43,3%);

•        Já o menor grupo são os homens brancos, com 1,2 milhão (11,4%);

•        Mulheres brancas são 2,1 milhões (20,1%) e homens pretos ou pardos, 2,6 milhões (24,3%);

>>> Negros e mulheres têm rendimentos piores

A pesquisa do IBGE evidencia também dados clássicos da desigualdade no mercado de trabalho.

No quesito renda, por exemplo, os profissionais brancos continuam a ganhar 61,4% a mais por hora trabalhada que pretos e pardos. A métrica vale para todos os níveis de instrução, mas a média geral é de R$ 20 por hora para brancos e de R$ 12,40 para negros.

Além disso, a série histórica do IBGE mostra que essa distorção de raça pouco se mexeu ao longo dos últimos 10 anos. Em 2012, a média de rendimentos de brancos era 69,8% maior que de negros.

Dividido por instrução, a diferença mais relevante é no nível mais alto de instrução, o ensino superior. A diferença chega a 37,6%, sendo R$ 35,30 para brancos versus R$ 25,70 para pretos e pardos.

>>> Veja abaixo as demais, sempre com rendimento de brancos sendo o maior:

•        Total: R$ 20 x R$ 12,40

•        Sem instrução ou fundamental incompleto: R$ 10,90 x R$ 8,40

•        Fundamental completo: R$ 11,60 x R$ 9,30

•        Médio completo: R$ 14,10 x R$ 11,10

•        Superior completo: R$ 35,30 x R$ 25,70

O IBGE mostra, por fim, que o país prossegue com forte diferenciação na distribuição de atividades de trabalho, que impactam nos salários. Enquanto brancos são maioria em setores como Informação e Serviços Financeiros, pretos e pardos são mais numerosos em atividades como Serviços Domésticos (66,4%), Construção (65,1%) e Agropecuária (62%).

No recorte por gênero, a média de rendimentos de homens é 14,9% maior que de mulheres. No ensino superior, a relação sobe para 43,2% — diferença ainda mais agressiva que o corte interracial. Além disso, o nível de ocupação dos homens alcançou 63,3% e o das mulheres, 46,3%.

Quanto à qualidade de emprego, os pretos e pardos ficam bem atrás dos brancos. As mulheres do grupo compõem o maior percentual de informalidade no mercado de trabalho, com 46,8% das profissionais. Os homens negros não ficam tão atrás, com 46,6%.

Em comparação, mulheres brancas na informalidade são 34,5%. Os homens brancos, novamente no menor contingente, são 33,3% informais.

Informais são empregados e trabalhadores domésticos sem carteira assinada, trabalhadores por conta própria e empregadores que não contribuem para a previdência social, além de trabalhadores familiares auxiliares. Em 2022, 40,9% dos trabalhadores do país estavam em ocupações informais.

Mas há também os dados de subutilização, que são pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas ou na força de trabalho potencial — aqui se encaixam os Neno. E para a taxa composta de subutilização, os índices também mais elevados são para as mulheres e para as pessoas de cor ou raça preta ou parda.

A taxa de subutilização para homens era de 16,8%, enquanto chegava a 25,9% para as mulheres. Entre os brancos, eram 16,2%. Para negros, 24,6%.

 

Fonte: O Cafezinho/g1

 

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