Retrospectiva: Brasil pior no ranking educacional e violência marcam
2023
Quase quatro anos após o início da pandemia de
covid-19, o Brasil e o mundo ainda tentam dimensionar os impactos da emergência
sanitária na educação e como superá-los. A divulgação dos dados do Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), os primeiros desde
a crise pandêmica, escancarou o que os especialistas já vinham falando: a
educação retrocedeu. Os países ricos tiveram uma queda histórica de
desempenho no exame, que avalia os estudantes em matemática, leitura e
ciências. O Brasil, no entanto, foi menos afetado do que o resto do mundo.
Porém, a educação por aqui ainda está abaixo da média dos outros países.
Segundo o relatório, 73% dos alunos não alcançaram
o patamar mínimo de aprendizagem em matemática, 50% não conseguiram em leitura
e 55%, em ciências. Os dados são preocupantes. Segundo a Todos pela Educação, organização não governamental e sem
fins lucrativos, os "patamares brasileiros são inaceitáveis".
Um relatório divulgado pelo Banco Mundial este ano
realça esses dados. Segundo o documento, a pandemia retirou uma década de
avanço na produtividade das crianças brasileiras. Segundo o estudo, o Índice de
Capital Humano (ICH) brasileiro caiu, entre 2019 e 2021, de 0,6 para 0,54 —
mesmo nível registrado em 2009.
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Ensino superior
Os dados educacionais divulgados em 2023 também
mostraram que apenas um em cada quatro jovens de 18 a 24 anos entrou na
faculdade no Brasil. Segundo o Censo da Educação Superior, 43,4% desses jovens
nem terminaram o ensino médio. O desafio também é preencher as vagas ofertadas
na educação superior, principalmente nas instituições públicas. Cerca de 25%
das vagas não são ocupadas.
Outro ponto de preocupação é o crescimento da
Educação à Distância. Os dados revelaram que 72% dos calouros do ensino
superior nas instituições particulares estão matriculados em cursos
não-presenciais. O crescimento é de 700% em 10 anos. Além disso, dos
789,1 mil alunos ingressantes em cursos de licenciatura em 2022, 81% foram na
modalidade de ensino à distância.
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2023 marcado por violência nas escolas
O ano de 2023 começou com estatísticas terríveis.
Em março, um jovem de apenas 13 anos matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, em um ataque à faca na
Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo. Menos de um mês depois,
um homem de 25 anos invadiu uma creche e matou quatro crianças em Blumenau (SC).
Este ano, foram registrados 10 ataques a escolas no
Brasil. De acordo com levantamento do instituto Sou da Paz, o número é um
recorde desse tipo de ataque. O último foi em outubro, quando um adolescente de
16 anos invadiu a Escola Estadual Sapopemba, na zona Leste de São Paulo e
atirou em três meninas. O resto do mundo também sofre com o mesmo
fenômeno, este mês um ataque a tiros deixou 14 mortos em uma universidade de Praga, na República Tcheca.
De acordo com o governo de São Paulo, em 2023 foram
evitados pelo menos 165 ataques a escolas no estado. Já os dados mais recentes
do governo federal apontam 400 prisões e apreensões desde 5 de abril, quando
foi lançado o programa Escola Segura. De acordo com dados do Instituto
DataSenado, 90% dos brasileiros temem que seus filhos ou pessoas próximas
sofram algum tipo de violência no ambiente escolar.
Segundo as pesquisadoras Miriam Abramovay,
coordenadora do Programa Estudos e Políticas sobre Juventudes, Educação e
Gênero: Violências e Resistência, e Tereza Perez, diretora-presidente da
Comunidade Educativa Cedac, em artigo publicado no Correio, o combate a esse tipo
de violência vai além de aumentar a quantidade de guardas dentro da escola ou
aderir a uma militarização, é necessário investir em um ambiente saudável.
“Precisamos sim combater as violências, mas não faremos isso com mais práticas
violentas, mas com a construção de um ambiente escolar saudável, onde a
definição de regras de convivência seja feita com foco no desenvolvimento da
autonomia, da interação, do aprender a conviver”, dizem.
Por falar em militarização, este ano o governo
federal também decidiu encerrar o Programa de Escolas Cívico-Militares (Pecim). O
programa tinha sido instituído em 2019 por um decreto de Bolsonaro. Segundo o
MEC, 216 escolas aderiram ao modelo em todo o país. Mesmo com o fim do
programa, no entanto, alguns estados como Goiás, Paraná, São Paulo, Minas
Gerais e o Distrito Federal continuam a investir no modelo.
No DF, o governador Ibaneis Rocha (MDB) disse que iria manter as escolas que são do modelo e que iria
ampliar o programa. O DF tem 17 escolas cívico-militares, sendo quatro de gestão
compartilhada com o Ministério da Educação e o da Defesa. “Esse é um projeto
que eu acredito muito e a gente tem um projeto de ampliar cada vez mais as
escolas de gestão compartilhada, que é um modelo muito bem instituído”, disse
em novembro.
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Endividados conseguem quitar Fies
Após o ministro da Educação, Camilo Santana,
admitir que "a inadimplência do Fies está altíssima", o governo
anunciou um programa de renegociação das dívidas do Fundo de Financiamento
Estudantil com descontos de até 99%. De acordo com dados do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), até dezembro 120 mil brasileiros já tinham
sido beneficiados. Em média já foram renegociados mais R$ 4 bilhões em
dívidas. O prazo para aderir é até maio.
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Enem com problemas
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2023
teve que ser aplicado duas vezes após alguns candidatos terem sido prejudicados
pelo local em que foram colocados para fazer a prova. Um erro da organização do
exame fez com que o local da avaliação de alguns estudantes passasse de 30 km
de distância da moradia. O jeito foi fazer uma reaplicação.
Este ano, o Enem também foi marcado pelo tema da
redação. A escolha foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado
realizado pela mulher no Brasil”.
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Eleições nas escolas
Em outubro, estudantes a partir dos 13 anos;
pais, mães ou responsáveis legais; professores; orientadores educacionais e
demais servidores da carreira magistério e da carreira assistência foram às urnas escolher os diretores, vice-diretores e conselheiros das
escolas públicas do DF. A eleição teve 4.488 candidaturas ao
conselho escolar e 797 chapas concorrentes aos cargos de diretor e
vice-diretor. Os eleitos tomarão
posse em 2 de janeiro de 2024 e permanecerão nos cargos até 31 de dezembro de
2027.
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Ensino médio em pauta
A votação sobre o Novo Ensino Médio no Câmara dos
Deputados foi adiada para 2024. O projeto em discussão prevê 2.400 horas para a
Formação Geral Básica e 600 para optativas. No caso da formação técnica, a
parte geral é de 2.100 horas e a parte técnica é de pelo menos 800 horas. Para
os cursos técnicos mais longos (1.200 horas) a proposta é de ampliação da
jornada escolar. O ministro da Educação, Camilo Santana, defende que o texto
não sofra alterações profundas já que foi o aprovado em consulta popular.
No início de dezembro, o governo retirou a urgência
do projeto por medo do substitutivo do deputado Mendonça Filho (União-PE) ser
aprovado. Mas, dois dias depois, o plenário da Câmara aprovou novamente o
regime de urgência. No entanto, um acordo entre o governo e a Câmara adiou a votação para o ano que vem.
Fonte: Correio Braziliense
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