sábado, 30 de dezembro de 2023

Mais de 1.000% de crescimento: como o Brasil está fortalecendo o comércio com o Sudeste Asiático

Formada por dez países de uma das regiões com maior dinamismo econômico do mundo, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean) conta com uma população superior a 650 milhões de pessoas e muito a oferecer. De arroz a produtos de alta tecnologia, a região tem fortalecido a parceria com outros países do Sul Global, principalmente o Brasil.

Nos últimos 20 anos, o comércio do Brasil com os países da Asean teve um crescimento surpreendente: saltou de US$ 2,9 bilhões (R$ 14 bilhões) em 2002 para US$ 34 bilhões (R$ 164,9 bilhões) em 2022, uma alta de 1.072%. Crucial para o fortalecimento das relações entre o Sul Global, a região do Sudeste Asiático respondeu por quase um quarto do superávit de US$ 73 bilhões (R$ 354,2 bilhões) acumulado pela balança comercial brasileira entre janeiro e setembro deste ano.

Outra prova da aproximação cada vez maior foi o lançamento neste mês do documento "Áreas de Cooperação Prática", pelo Conjunto de Cooperação Setorial Brasil-Asean, com diretrizes para os próximos cinco anos de atuação conjunta em setores como segurança, economia e cultura.

Pesquisador formado em comércio exterior e idealizador do projeto MenteMundo, que aborda relações dos países com o Sudeste Asiático, Valter Peixoto avaliou à Sputnik Brasil que ainda há muito para se avançar com relação à parceria, principalmente na questão cultural.

"A cultura é o passo inicial para qualquer tipo de negociação, e, infelizmente, conhecemos quase nada do Sudeste Asiático, esse é o grande ponto fraco dessa relação. É preciso retirar o rótulo de 'exótico' dos países da região e perceber a beleza e a singularidade histórica que possuem. A Ásia é muito mais do que a China", defende o especialista.

·        Quais são os países do Asean?

Formado por Brunei Darussalam, Camboja, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Tailândia e Vietnã, a Asean já representa a quinta maior economia do mundo, com PIB de US$ 3 trilhões (R$ 14,5 trilhões), e, diante de uma das maiores taxas de crescimento populacional do mundo, consome cada vez mais produtos brasileiros do agronegócio, como carne, soja e outros alimentos. Peixoto destaca ainda o acordo de livre comércio firmado entre Cingapura e Mercosul no fim deste ano, além do início das negociações com o Vietnã, que já tem parceria com o Brasil no setor de semicondutores.

"Isso necessariamente implica em queda de barreiras tarifárias e não-tarifárias. Os setores imediatamente beneficiados seriam os que já dominam o comércio bilateral entre os países dos blocos. Do nosso lado, estão os setores do agro e de commodities. Os países do Mercosul exportam soja, trigo, carne, petróleo e algodão. Enquanto do lado asiático os produtos mais enviados para nós são manufaturas finais e intermediárias de média e alta tecnologia, como circuitos variados, peças automotivas e eletrônicas", enfatiza.

·        Fortalecimento do comércio 'Sul-Sul'

Para o pesquisador, o fortalecimento do comércio "Sul-Sul" é uma resposta aos longos anos de dominação imperialista dos países ocidentais, como Estados Unidos e União Europeia.

"Esse é o impacto que os países do G-7 não conseguem enfrentar, estão com o protagonismo reduzido por não conseguirem competir com as economias e investimentos do próprio Sul-Global, tampouco gozam da credibilidade que um dia já tiveram", acrescenta.

Além disso, Valter Peixoto pontuou que a pandemia mostrou a necessidade de diversificar o portfólio de clientes e fornecedores entre os países, como vem ocorrendo entre Brasil e Asean. E são justamente os países emergentes, pontua o especialista, os principais responsáveis pelo dinamismo econômico do século XXI, e novas oportunidades não faltam.

"Hoje, o país que mais cresce no mundo é a Guiana, a Índia se consolida como potência incontornável, a Indonésia tem tudo para ser uma das cinco maiores economias até 2050, e, nessa mesma década, outros quatro países da Asean devem estar no top 30, ou seja, quase metade do bloco", explica.

·        Quais são os principais acordos da Asean?

Nos últimos anos, a Asean tem apostado em ampliar seu leque de parcerias para além dos países da Ásia e do Pacífico, o que trouxe oportunidades para o Brasil e o Mercosul. "Com isso, a aproximação entre esses dois blocos pode ser uma forma de fortalecimento regional, tanto intrabloco como, claro, para suas políticas externas em um momento de retração [mundial]. É mais um passo em direção a esse protagonismo dos emergentes e ascensão de um novo arranjo mundial que precisa nascer", afirma o pesquisador.

Ao longo dos primeiros nove meses do ano, o principal mercado para os produtos brasileiros no Sudeste Asiático foi Cingapura, cujas exportações alcançaram US$ 6,2 bilhões (R$ 30 bilhões) ou 34% de todas as vendas brasileiras. Na sequência, aparecem Tailândia, com US$ 2,8 bilhões (R$ 13,5 bilhões), e Malásia, que somou US$ 2,7 bilhões (R$ 13,1 bilhões).

"Há em andamento diversos projetos interessantes. Por exemplo, a Embrapa atua em alguns países da região com exportação de tecnologia de plantio. A Tailândia e as Filipinas possuem projetos verdes que o Brasil pode atuar com sua inteligência em biotecnologia, assim como a área de segurança alimentar, [é] uma região densamente povoada, responsável por 30% da produção mundial de arroz", exemplifica Peixoto.

Com 261 milhões de habitantes, a Indonésia é o maior país muçulmano do mundo, onde quase 90% da população segue o islamismo, e um dos principais membros da Asean. De acordo com o especialista, a cada ano, o Brasil tem aumentado o número de frigoríficos autorizados a vender carne Halal (produzida a partir dos preceitos do islã do nascimento à morte dos animais) para a região.

"Tem um potencial muito grande para crescer ainda [o setor de carnes]. Há também uma parceria no setor de calçados da cidade de Blumenau (SC) com a Indonésia. Em feiras locais, a nação asiática costuma enviar representantes. O setor de turismo também pode ser uma alternativa, a Tailândia conta com uma expertise única de quem costuma figurar no topo da lista de país mais visitado ano após ano, e Cingapura anunciou o setor hoteleiro [do Brasil] como um dos principais para investir", finaliza.

 

Ø  Kremlin: se o Ocidente roubar ativos da Rússia, consequências serão 'prejudiciais' e terão resposta

 

O porta-voz do presidente russo criticou "a total imprevisibilidade de nossas contrapartes", que, diz ele, estão minando a confiança em si mesmos e no sistema econômico mundial com tais medidas.

A Rússia tem uma lista de ativos que podem ser confiscados de estrangeiros em resposta a suas ações, disse na sexta-feira (29) Dmitry Peskov, porta-voz presidencial do Kremlin.

"Compreendendo a total imprevisibilidade de nossas contrapartes, sua propensão a violar a lei internacional e outras leis, incluindo suas próprias leis nacionais, compreendendo sua propensão à autodestruição, quero dizer, a destruição do sistema econômico moderno, minando a confiança nos princípios básicos do sistema econômico mundial, ou seja, a moeda de reserva principal, o princípio da inviolabilidade da propriedade e assim por diante", listou ele.

"Analisamos antecipadamente as possíveis medidas de retaliação e faremos tudo da melhor maneira possível, de acordo com nossas próprias leis nacionais", conforme Peskov.

O porta-voz sublinhou que há um efeito óbvio do bumerangue das sanções contra Moscou, e que muitos estrangeiros começaram a pensar nisso.

"Tais ações, em termos de volume de roubo de nossos ativos, terão consequências mais prejudiciais", acrescentou Peskov.

Na quinta-feira (28) o jornal britânico Financial Times citou fontes que afirmaram que a Alemanha, a França, a Itália e a UE questionaram os planos dos EUA de confiscar US$ 300 bilhões (R$ 1,5 trilhão) em ativos congelados da Rússia, considerando necessário primeiro avaliar cuidadosamente a legalidade de tal medida. Washington tem planos de anunciar o confisco em 24 de fevereiro de 2024, no aniversário do começo da operação militar especial na Ucrânia.

·        EUA dependem de consentimento europeu para transferir ativos russos para Ucrânia, diz mídia

A administração do presidente dos EUA, Joe Biden, enfrenta desafios na implementação de plano para utilizar ativos congelados da Rússia a fim de auxiliar a Ucrânia, uma vez que necessita do consentimento dos países europeus, os quais, incluindo a Alemanha, questionam a viabilidade dessa medida, segundo o colunista do Washington Post, Josh Rogin.

O colunista ressalta a falta de consenso entre os países europeus em relação a essa questão. "Sem o apoio europeu, este plano não funcionará. É verdade", afirma o autor, citando funcionário não identificado do governo Biden.

"Apenas cerca de 2% desses fundos são mantidos nos Estados Unidos. A maior parte dos ativos congelados da Rússia está localizada na Bélgica e na Suíça. Há resistência na Europa, especialmente em Berlim, sobre se a medida é justificada ao abrigo do direito internacional e se poderia minar a confiança no euro", destaca o artigo, citando fontes não identificadas.

Segundo Rogin, sem acesso aos ativos russos, a Ucrânia corre o risco de perder a capacidade de "sobreviver como país funcional".

Na quinta-feira (28), o jornal Financial Times informou que a Alemanha, a França, a Itália e a União Europeia expressaram dúvidas sobre a ideia dos EUA de confiscar ativos congelados russos no valor de 300 bilhões de dólares (cerca de R$ 1,5 trilhão), considerando necessário avaliar cuidadosamente a legalidade dessa medida.

Anteriormente, o coordenador de Comunicações Estratégicas da Casa Branca, John Kirby, afirmou que os EUA consideram prematuro falar sobre a possibilidade de usar ativos soberanos congelados da Rússia para ajudar a Ucrânia.

Desde o início da operação especial na Ucrânia, os países da UE e do G7 congelaram quase metade das reservas cambiais russas, principalmente nas contas do Euroclear belga — um dos maiores sistemas de liquidação e compensação do mundo.

O Euroclear informou que, nos nove meses de 2023, obteve cerca de 3 bilhões de euros (R$ 16 bilhões) em juros ao investir em ativos russos sancionados.

O ministro das Finanças russo, Anton Siluanov, destacou anteriormente que a Rússia lidará com a pressão das sanções impostas pelo Ocidente, intensificando-se ao longo dos anos, e continuará a defender seus interesses.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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