domingo, 31 de dezembro de 2023

Ciro Gomes diz que não quer mais disputar eleições: ‘asfixiado por aqueles por quem lutei’

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou em entrevista à GloboNews nesta sexta-feira, 29, que “dificilmente” voltará a disputar eleições. Em 2022, o pedetista amargou seu pior desempenho em uma campanha à Presidência da República, quando obteve apenas 3% dos votos e ficou em 4º lugar. Ciro criticou o movimento para fazê-lo desistir de se candidatar nas últimas eleições.

“Eu fui desistido. Não é bem que eu desisti, não”, disse. “Quando eu saía de uma eleição difícil, quase impossível, com 12% (dos votos), eu achava que não tinha direito de desertar da expressão daquilo. Quando aconteceu aquilo (eleições de 2022), da forma que foi, eu me senti asfixiado por aqueles por quem eu lutei a minha vida toda. De repete senti: estou fazendo isso sozinho. Em nome de quê?”

Nas últimas eleições, apoiadores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e artistas como Caetano Veloso e Alinne Moraes fizeram uma campanha para tirar votos de Ciro, batizada de #tiragomes. O objetivo era estimular o voto útil no petista para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ciro na época chamou o movimento de “terrorismo eleitoral”.

À GloboNews, Ciro criticou artistas que apoiam Lula apesar de concessões feitas ao Congresso. O ex-governador citou repetidamente as emendas parlamentares liberadas pelo governo como exemplo de falhas da gestão federal. Diante disso, o cearense afirmou que perdeu “a crença e o entusiasmo na linguagem eleitoral brasileira”.

“O que me causou um constrangimento e me fez perder a vontade de disputar minhas ideias eleitoralmente são as mediações”, afirmou. “Como vou explicar isso aqui (suas ideias de governo) pro povão se não tiver um conjunto de pessoas equipadas pelo privilégio de serem artistas, intelectuais, cientistas, líderes estudantis, lideranças sindicais? Essa gente toda está batendo palma para a destruição do meu País, para o apodrecimento da República. O cinismo perdeu o pudor. Fala-se: o Congresso é assim”.

Ciro criticou Lula por, segundo ele, agravar a “relação podre, corrupta, fisiológica e clientelista” com o Congresso. Em agosto, o petista se tornou o presidente que mais liberou emendas parlamentares em um único mês. Para o ex-governador, este é um sinal de que a negociação com os deputados e senadores continua da mesma forma que ocorria com Bolsonaro, quando revelou-se o esquema do orçamento secreto. “Enquanto isso, nossa elite, de forma cínica, diz: se não assim, como faria?”, questionou Ciro, propondo a adoção de plebiscitos para resolução de disputas entre Executivo e Legislativo.

O ex-ministro disse crer que a verba que os parlamentares ganham com emendas acaba com a equidade na disputa política. “Não se elege mais uma pessoa jovem, uma pessoa séria no País. Estamos ensinando aos jovens que a política é assim?”, criticou.

O cearense foi candidato à Presidência quatro vezes. Em 1998 e em 2002, pelo PPS, chegou a 10,9% e 11,9% dos votos. Em 2018, com o PDT, alcançou 12,4% do eleitorado. Na última disputa, ficou atrás de Lula, Bolsonaro e Simone Tebet (MDB). “Eu tenho êxito na política, só não consegui ser presidente do País. Deus não quis”, disse Ciro na entrevista. Depois de afirmar que “dificilmente” entraria em disputas novamente, reafirmou: ”Eu vou seguir lutando, mas disputar eleição não quero mais não”.

•        Ciro critica governo Lula e diz que Brasil está em ‘decadência franca’

O ex-governador do Ceará criticou a atuação do governo federal em diferentes áreas, da economia ao meio ambiente, passando por segurança, educação e tecnologia. Para ele, Lula “perdeu o pulso faz tempo” e o País está em “decadência franca” há anos. Ciro disse acreditar que as políticas públicas não mudaram muito desde a gestão passada.

“É muito melhor criticar um governo como o do Lula, do que um governo como o do Bolsonaro”, afirmou. “Mas vamos ficar amarrados nessa âncora mortal? Ao invés de comparar as coisas com o passado, eu comparo com a promessa que foi feita, que está muito longe de ser atendida, e com as condições objetivas de fazer diferente, que eu sei que poderia ser”.

Outra área de atuação do governo criticada por Ciro foi a da política externa. Para ele, o Brasil deveria voltar seus olhos à resolução de conflitos e tensões na América Latina. “Lula está buscando ser um pop star, uma celebridade internacional, a falar bobagens em assuntos externos complicados e complexos”, afirmou. “Eu fui ao Parlamento Europeu e o que eu ouvi me obrigou a defender o Lula, de tanta bobagem que ele falou. Lula só se preocupa com a paz onde a imprensa está olhando”.

•        Irmãos Gomes em disputa

O ex-ministro não citou na entrevista a briga com o irmão, Cid Gomes. O senador deve sair do PDT para se filiar ao PSB, do vice-presidente Geraldo Alckmin, sigla em que já esteve por oito anos, quando foi eleito e reeleito para o governo do Ceará, em 2006 e 2010. Em outubro deste ano, Cid Gomes ameaçou deixar o PDT após uma reunião acalorada que contou com bate-boca e troca de ofensas entre ele e Ciro.

 

       Cúpula do PSB vê como ‘praticamente acertada’ filiação de Cid Gomes após briga com o irmão no PDT

 

Partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, o PSB deve ser a nova sigla do senador Cid Gomes a partir de janeiro do ano que vem. Atualmente no PDT, Cid busca um novo partido após brigar com o irmão e ex-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT). De acordo com um integrante da cúpula do PSB, a filiação de Cid à legenda está “praticamente acertada”, devendo ser oficializada ainda no primeiro mês de 2024.

O grupo de Cid deve anunciar até o início de janeiro a filiação em massa para o PSB. A informação foi inicialmente noticiada pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estadão. Procurada pela reportagem, a assessoria do senador disse que a filiação ao novo partido ainda não está definida e que o senador ainda está discute com a sigla questões que envolvem as eleições municipais de 2024. A reportagem apurou tratar-se justamente de negociações com relação à migração de aliados de Cid Gomes ao partido.

Em outubro deste ano, Cid Gomes ameaçou que iria deixar o PDT após uma reunião acalorada que contou com bate-boca e troca de ofensas entre ele e o irmão Ciro. Depois do encontro, foi realizada uma intervenção do comando nacional do partido no diretório estadual da legenda no Ceará, tirando o senador do comando. Em novembro, a Justiça suspendeu a ação.

Após a briga com ex-presidenciável, Cid deixou claro a sua intenção de deixar o PDT, mas sem anunciar qual seria a sua próxima legenda. Foi ventilada a possibilidade do senador ir para o PT, mas a cúpula petista resistiu à ideia.

Caso Cid realmente deixe o PDT para ir ao PSB, o partido de Ciro, que tem atualmente três senadores, passará a ter apenas dois: Leila Barros (DF) e Weverton (MA). Já a sigla de Alckmin aumentará a sua bancada de quatro para cinco senadores. Atualmente, os integrantes da da legenda no Senado são Ana Paula Lobato (MA), Chico Rodrigues (RR), Flávio Arns (PR) e Jorge Kajuru (GO).

A ida de Cid para o PSB não será inédita, já que o senador esteve na sigla por oito anos. Foi pela legenda que ele foi eleito governador do Ceará em 2006 e reeleito em 2010. Em ambas as eleições, o PT fazia parte da coligação cidista. Em 2013, ele deixou o partido junto com o irmão para ingressar no PROS e em 2015, novamente ao lado de Ciro, foi para o PDT.

•        Racha no PDT envolve apoio ao PT e eleições estaduais em 2022

O “racha” do PDT no Ceará tem origem nas eleições de 2022, quando o partido decidiu lançar o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) na disputa pelo governo do Estado. Foi uma vitória do grupo de Ciro Gomes que custou uma aliança de 16 anos com o PT, simpático à candidatura de Izolda Cela. Ex-governadora do Ceará, ela havia assumido o cargo com a saída de Camilo Santana (PT) para a disputa do Senado. Quem venceu foi o candidato petista, Elmano de Freitas, com Cláudio terminando em terceiro.

Após as eleições, o PDT entrou em um acordo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no plano federal, com o presidente nacional da sigla, Carlos Lupi, ocupando o Ministério da Previdência. No Ceará, a maioria dos deputados votam com o governo de Elmano, mas a adesão do partido não foi oficializada, justamente pela resistência do grupo ligado a Roberto Cláudio e Ciro Gomes, que preferem assumir uma postura oposicionista aos governos petistas.

 

Fonte: Agencia Estado

 

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