Americanas, 123 Milhas, Starbucks: as grandes empresas que entraram em
recuperação judicial ou faliram em 2023
O anúncio de um rombo bilionário nas contas
da Americanas pegou
todo mundo de surpresa logo no começo do ano, mas foi apenas um prenúncio de
que 2023 seria repleto de pedidos de recuperação judicial e falências de
grandes nomes corporativos do país.
Como mostrou reportagem do g1, eram 3.872 as
companhias em recuperação judicial no Brasil até o
terceiro trimestre deste ano, segundo dados da RGF Consultoria. Além da
Americanas, também estão na lista grandes nomes como Light, Grupo Petrópolis,
123 Milhas e Grupo M5 (dona da marca de roupas M.Officer).
Outras, como a Livraria Saraiva e a Livraria
Cultura, tiveram falência decretada pela Justiça, sendo que a segunda conseguiu
uma decisão para paralisar o processo.
Relembre, a seguir, os principais casos de
recuperação judicial e falência de 2023.
·
Americanas
A lista começa pelo caso mais emblemático. A
gigante varejista Americanas informou um rombo contábil
bilionário no dia 11 de janeiro. Naquele momento, a companhia
disse que havia identificado "inconsistências em lançamentos
contábeis" nos balanços corporativos no valor de quase R$ 20 bilhões.
Sergio Rial, então presidente da empresa, decidiu
deixar o comando do negócio e os investidores — pessoa física e
institucionais — iniciaram uma corrida para se desfazer dos papéis. Isso fez
com que as ações da companhia despencassem
quase 80% em um único dia, e a fuga continuou nos pregões seguintes.
No dia 19 de janeiro, a
Americanas pediu a recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro e
teve suas ações retiradas da B3. A primeira versão do plano de recuperação foi
apresentada em março, mas a empresa só teve um
plano aprovado no último dia 19 de dezembro, exatamente 11
meses depois.
A dívida
final apresentada no plano foi de R$ 50 bilhões e o
processo de recuperação envolverá um aporte de R$ 12 bilhões dos
"acionistas de referências — o trio de bilionários Jorge Paulo
Lemann, Carlos
Alberto Sicupira e Marcel Telles — e a venda de ativos, inicialmente o Hortifruti
Natural da Terra e a Uni.Co (empresa de franquias das marcas Imaginarium e
Puket).
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Oi
Apenas poucos meses depois da Americanas, a
operadora de telefonia móvel Oi entrou com um novo
pedido de recuperação judicial em 1° de março. A
empresa já era velha conhecida dessa realidade: a segunda recuperação
começou alguns meses após a conclusão de outro processo semelhante, que levou seis
anos para ser concluído.
No primeiro processo, a Oi vendeu uma série de
ativos, com destaque para suas operações de telefonia móvel para as rivais
Telefônica Brasil, TIM e Claro.
O plano de
recuperação da empresa foi aceito pelo seu Conselho de
Administração em 19 de maio. Com isso, a dívida de dezenas de bilhões de reais
do grupo foi suspensa mais uma vez. O processo também suspendeu a penhora da
bens ou mandados de busca e apreensão contra a companhia por parte de seus
credores.
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Grupo Petrópolis
O Grupo Petrópolis, dono das
cervejarias Itaipava e Petra, entrou com
o pedido de recuperação judicial em 27 de março, com uma
dívida estimada em R$ 5,6 bilhões.
O plano de recuperação correu rápido e foi aceito
em setembro pelos credores, com aprovação de 96,4% dos votantes. O grupo
tinha uma lista de mais de 5 mil credores.
Segundo a empresa, a razão para sua dívida foi uma
grande queda no consumo das bebidas produzidas pelas suas marcas.
Em nota, a companhia disse que "31,2 milhões
de hectolitros de bebida [foram] vendidos no ano de 2020. [Já], nos anos de
2021 e 2022, o volume caiu para 26,4 e 24,1 milhões de hectolitros,
respectivamente", uma redução de 15,4% e 22,7%, respectivamente.
·
Light
Em 12 de maio, outro grande nome entrou com um
pedido de recuperação judicial. Dessa vez foi a Light S.A.,
controladora do Grupo Light, fornecedora de energia elétrica do Rio de Janeiro,
que fez o pedido à Justiça em caráter de urgência, com
uma dívida de R$ 11 bilhões, alegando que "os desafios oriundos da
atual situação econômico-financeira" se agravavam.
A principal fonte do problema financeiro da Light é
a sua subsidiária de distribuição de energia. Embora seja o segmento mais
relevante da empresa, também é a área mais desafiadora, já que a companhia
sofre, cada vez mais, com os furtos de luz no Rio de Janeiro, o que reduz a
arrecadação e gera prejuízos financeiros.
Em setembro, circularam boatos de que a companhia
havia desistido da recuperação judicial, mas a Light mantém o processo e, no
começo de outubro, pediu à Justiça uma extensão de 180 dias do prazo da
suspensão das ações de execuções — que impede a cobrança de dívidas por parte
dos credores para que a empresa possa manter suas operações.
A primeira assembleia de credores para discutir um
plano de recuperação judicial deve acontecer em março de 2024.
·
Grupo M5
Sucesso nos anos 1990 e 2000, o Grupo M5, dono
da marca de roupas M. Officer, teve o pedido de recuperação judicial aceito pela
Justiça de São Paulo em 6 de setembro, com uma dívida estimada em R$
53,6 milhões.
Na decisão, a juíza do caso, Maria Rita Rabello
Pinho Dias, aceitou o pedido ressaltando que a crise enfrentada pela companhia
tem como principais motivos:
- a
concorrência desequilibrada com as gigantes varejistas asiáticas;
- as
consequências econômicas trazidas pela pandemia de covid-19, período em
que a M. Officer alega ter perdido 91% do seu volume de vendas;
- a
grande inadimplência dos consumidores.
O escritório TWK Advogados, que representa a M5 no
processo, destaca que a empresa gera cerca de 130 empregos diretos e outras
centenas de empregos indiretos, justificando a importância da recuperação.
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123 Milhas
Depois de suspender
os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional em agosto, a agência
de viagens 123 Milhas entrou com um pedido
de recuperação judicial em 29 de agosto, alegando que fatores internos e
externos "impuseram um aumento considerável de seus passivos nos últimos
anos".
A empresa disse que os resultados esperados com seu
pacote promocional não foram atingidos, ao mesmo tempo em que os preços das
passagens aéreas subiram muito no pós-pandemia.
O pedido foi aceito e, em
setembro, suspenso de forma provisória após um pedido do Banco do
Brasil, um dos principais credores da companhia. A Justiça de Minhas, no
entanto, determinou a retomada da recuperação em 16 de dezembro.
·
SouthRock
A gestora SouthRock, empresa responsável pelas
operações do Starbucks e Eataly no Brasil, pediu
recuperação judicial em 31 de outubro, alegando uma dívida de R$ 1,8
bilhão.
Segundo informações da companhia, o pedido de
recuperação acontece por conta do baixo grau de confiança e alta instabilidade
no Brasil, além da volatilidade da Selic, taxa básica de juros e constantes
variações cambiais.
Essas questões, diz a SouthRock,
"desequilibram o mercado e atingem fortemente o empreendedor
brasileiro". A companhia também culpou a crise econômica trazida pela
pandemia de covid-19.
O pedido foi aceito
pela Justiça em 12 de dezembro.
·
Livraria Saraiva
A Livraria
Saraiva teve falência decretada pela Justiça de São Paulo. O pedido
foi feito pela própria empresa dentro do processo de recuperação judicial, em
razão de dívida de R$ 675 milhões.
Na decisão, o juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho
reconheceu o "descumprimento do plano de recuperação judicial e determinou
a suspensão de ações e execuções contra a falida e a apresentação da relação de
credores".
A empresa estava em recuperação judicial desde
2018, depois de não conseguir renegociar dívidas com fornecedores. Uma
referência do mercado editorial, com lojas enormes e catálogo variado, a
Saraiva tentou, como último recurso, manter o funcionamento apenas no
e-commerce e demitir todos os funcionários da operação presencial.
Na mesma semana em que a empresa revelou o
fechamento de todas as suas lojas físicas, seu
presidente e vice renunciaram aos cargos. Na semana seguinte, o pedido de
autofalência foi protocolado.
·
Livraria Cultura
A Justiça de São Paulo decretou a
falência da Livraria Cultura em fevereiro. A decisão foi
tomada mais de quatro anos após a 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais
do Foro Central Cível aceitar o pedido de recuperação judicial da companhia.
Na época, a livraria já alegava estar em crise
econômico-financeira. O pedido de recuperação havia informado dívidas de R$
285,4 milhões – a maior parte com fornecedores e bancos.
No dia 16, a empresa conseguiu
uma liminar para ter seu processo de falência suspenso, pedindo
revisão da quebra do processo de recuperação. Em maio, depois da avaliação, a
Cultura voltou a
ter sua falência decretada pela Justiça de São Paulo, e as lojas
chegaram a fechar.
No fim de junho, a empresa conseguiu
novamente uma liminar para suspender sua falência, desta vez
no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Na decisão, o ministro Raul Araújo
determinou que sejam retomadas as obrigações do plano de recuperação judicial
da empresa, que foi aprovado pela assembleia geral de credores e homologado
pela Justiça em 2018.
"A falência da agravante, diante do global
inadimplemento do plano de recuperação, tem como objetivo proteger o mercado e
a sociedade, assim como fomentar o empreendedorismo e socializar as perdas
provocadas pelo risco empresarial", disse o juiz na decisão.
Fonte: g1
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