quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Estudo alerta: meta de evitar aquecimento acima de 1,5ºC mais distante

Antes de 2030, a janela para se evitar o aquecimento acima de 1,5ºC até o fim do século, como prevê o Acordo de Paris, se fechará, alerta um estudo publicado ontem na Nature Climate Change. Os autores, do Imperial College London, na Inglaterra, descobriram que, no ritmo das atuais emissões, o orçamento global de carbono — quantidade de gases de efeito estufa que ainda pode ser lançada para alcançar a meta — tem 50% de chance de se extinguir nos próximos seis anos.

O artigo é a análise mais abrangente e atualizada do orçamento global de carbono, destacaram os autores, em uma coletiva de imprensa on-line. Formulado na Conferência do Clima de 2009, a COP15, o Acordo de Paris visa limitar o aquecimento do planeta bem abaixo (termo usado no documento) de 2ºC, chegando preferencialmente a 1,5ºC, com base nos níveis pré-industriais. Diversos estudos científicos demonstram que, ao ultrapassar essas marcas, a Terra ficará sujeita a um colapso ambiental.

Os cientistas usaram dados atualizados e uma modelagem climática aperfeiçoada, comparada a estimativas recentes, para calcular o quanto de gases de efeito estufa pode ser lançado para cumprir a meta de Paris. Eles descobriram que é muito pouco: menos de 250 bilhões de toneladas. Em 2022, foram emitidos 40 bilhões, o que significa um esgotamento ainda em 2029.

•        Progressos

"Nossa descoberta confirma o que já sabemos — não estamos fazendo o suficiente para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C", destacou, na entrevista, Robin Lamboll, pesquisador do Centro de Política Ambiental do Imperial College London e principal autor do estudo. "As estimativas apontam para menos de uma década de emissões nos níveis atuais. A falta de progressos na redução das emissões significa que podemos ter cada vez mais certeza de que a janela para manter o aquecimento em níveis seguros está se fechando rapidamente."

Joeri Rogelj, professor de Ciência e Política Climática no Centro de Política Ambiental do Imperial College London, disse que a atualização do orçamento de carbono é totalmente consistente com o mais recente Relatório Climático do Painel Intergovernamental das Nações Unidas (IPCC-ONU). "Produzido em 2021, o documento destacava uma chance em três de que a quantidade disponível para emissões chegasse ao nível detectado agora", destacou.

O estudo divulgado nesta segunda-feira (30/10) também concluiu que, no ritmo das emissões atuais, o orçamento para limitar o aquecimento a 2ºC até o fim do século se esgotará em 2046."Grande parte da redução dos orçamentos de carbono advém do simples fato de a humanidade ter continuado a emitir cerca de 40 bilhões de toneladas de CO2 todos os anos desde a publicação do orçamento anterior", observou Gabriel Abrahão, do Instituto Potsdam de Pesquisa sobre Impacto Climático do Reino Unido, que não participou da pesquisa. "Mesmo que o clima não mude de forma visível e tangível de um ano para outro, a ação para reduzir as emissões tem de ser rápida e decisiva para evitar os piores impactos das alterações climáticas dentro de alguns anos."

•        Zero líquido

Segundo os pesquisadores do Imperial College, ainda é incerto como os sistemas climáticos responderão a um cenário de zero líquido — quando as emissões são contrabalanceadas pela captura de carbono, uma das metas da COP15 para 2050. É possível, disseram, que o clima continue a aquecer devido a efeitos como derretimento do gelo, liberação de metano e alterações na circulação oceânica.

Para Lamboll, isso ressalta ainda mais a necessidade de redução urgente dos lançamentos de gases de efeito estufa. "Nessa fase, o nosso melhor palpite é que o aquecimento e o arrefecimento irão se anular aproximadamente após atingirmos o zero líquido. No entanto, só quando reduzirmos as emissões e nos aproximarmos do zero líquido é que veremos como serão os ajustes de aquecimento e refrigeração a longo prazo", disse. "Cada fração de grau de aquecimento tornará a vida mais difícil para as pessoas e os ecossistemas. Este estudo é mais um alerta da comunidade científica. Agora, cabe aos governos agir", concluiu.

>>>>> Palavra de especialista / Modo de emergência - Niklas Höhne, climatologista e especialista em mitagação de emissões da Universidade de Wageningen, na Holanda

"O estudo atual mostra uma coisa acima de tudo: está muito, muito apertado para alcançarmos o limite de 1,5ºC. É quase irrelevante se o orçamento se esgota em seis anos — como esse estudo sugere — ou em 10 anos, como se pensava anteriormente, se as emissões permanecerem as mesmas. É extremamente apertado de qualquer maneira. E essa não é uma descoberta nova. Mas isso não significa, de forma alguma, que devemos desistir, muito pelo contrário. Mostra que cada tonelada de dióxido de carbono poupada é ainda mais importante porque o orçamento é extremamente apertado. E mesmo que o aumento da temperatura média plurianual exceda 1,5ºC, é bom ter poupado o máximo de emissões possível de antemão, porque cada tonelada poupada leva a um menor aumento da temperatura global e, portanto, a menos danos. Esse estudo é mais um apelo para entrarmos em modo de emergência e fazermos tudo o que estiver ao nosso alcance para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa o mais rapidamente possível.

•        Para atingir meta, Brasil precisa acabar com desmatamento

Para que a temperatura do planeta não exceda 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais até o fim do século, o Brasil se comprometeu, no Acordo de Paris, a zerar as emissões líquidas até 2050. Isso significa o equilíbrio entre o que se emite e o carbono que se sequestra da atmosfera. O país pode ser o primeiro a alcançar essa meta, mas, para isso, terá de investir urgentemente nas soluções baseadas na natureza — especialmente o fim do desmatamento e a restauração da vegetação nativa.

Segundo um estudo publicado nesta terça-feira (31/10) na Global Change Biology, o impacto de ações do tipo seria imediato, com um custo muito mais baixo que das tecnologias que, por exemplo, pretendem retirar da atmosfera os gases de efeito estufa. Para tanto, os autores do artigo insistem na necessidade de políticas mais fortes em todo o país. Eles também destacam que, além de a interrupção do desmatamento ser a medida mitigatória mais importante para o país zerar as emissões líquidas até 2050, é a principal forma de evitar a perda de biodiversidade.

Os pesquisadores projetaram as emissões de gases de efeito estufa do Brasil até 2050 sob diferentes cenários políticos, com uma modelagem computacional. Eles compararam as potenciais reduções resultantes das soluções baseadas na natureza — incluindo reflorestamento em larga escala — com aquelas centradas na engenharia, como captura e armazenamento de carbono.

Código Florestal

Os resultados mostram que soluções baseadas na natureza contribuiriam com 80% da meta de líquida zero, além de reduzir 781 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano no país nas próximas três décadas. Alcançar isso, no entanto, exigiria políticas nacionais que vão além do atual Código Florestal. Sem ações adicionais, os pesquisadores descobriram que a implementação da Lei preencheria levaria a uma redução de emissões de 38% até 2050, muito longe do compromisso assumido.

"Soluções baseadas na natureza, em particular acabar com o desmatamento e restaurar a vegetação nativa, são o caminho a percorrer neste sentido", aposta Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético (PPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coautor do estudo, liderado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra. "A implantação de tecnologias de emissões negativas é muito dispendiosa e, mais importante ainda, arriscada, uma vez que não foi comprovado que estas tecnologias funcionam em escala ainda", destaca.

Diminuir significativamente o desmatamento também foi apontado por uma nota técnica divulgada ontem pela rede Observatório do Clima (OC) como essencial para o país chegar a 2025 com uma redução de 48% nas emissões, em comparação a 2005. Essa é uma das contribuições assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris. De acordo com o texto, desde janeiro deste ano, o governo "conseguiu reverter uma aceleração de 54% na taxa de alertas de desmatamento, produzindo uma queda de 42% no primeiro semestre de 2023". Para que, nos próximos dois anos a meta seja alcançada, "será preciso manter esse nível de empenho", afirma o OC.

•        Desmatamento na Amazônia sentido de longe

O desmatamento da Amazônia tem impactos de longo alcance no aumento da temperatura, segundo pesquisadores brasileiros e britânicos que publicaram, ontem, um artigo na revista Pnas. Segundo os cientistas, superfícies terrestres até 100km distantes ficam mais quentes com o desflorestamento.

Para chegar a essa conclusão, foram combinados dados de satélite sobre a temperatura da superfície terrestre e a perda de florestas na Amazônia de 2001 a 2020. As informações foram analisadas em 3,7 milhões de localidades ao longo da Bacia Amazônica. Então, os cientistas compararam o aquecimento nessas áreas às taxas variadas de desmatamento local (raio de 2km) e regional (2km a 100km de distância).

Proteção

Nas áreas onde houve pouco desmatamento, tanto local como regionalmente, a mudança média na temperatura da superfície de 2001 a 2021 foi de 0,3°C. Áreas com 40% a 50% de desmatamento local, mas pouco regional, aqueceram, em média, 1,3°C. Já naquelas em que o desflorestamento foi combinado, os termômetros aumentaram 4,4ºC.

Os cientistas também analisaram como o desmatamento futuro poderá aquecer ainda mais a Amazônia brasileira, entre 2020 e 2050. Eles examinaram dois cenários, um em que o Código Florestal é ignorado e as áreas protegidas não são salvaguardadas. O outro, onde existe alguma proteção.

No sul da Amazônia, onde a perda florestal é maior, a redução do desmatamento teria o maior benefício, reduzindo o aquecimento futuro em mais de 0,5 °C no Mato Grosso. "Novos esforços para controlar o desmatamento em toda a Amazônia brasileira foram bem-sucedidos e as taxas de desmatamento diminuíram no último ano, e agora vemos benefícios na possível redução do aquecimento que afeta as pessoas que vivem nessa região", comenta Celso von Randow, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coautor do estudo. "Espera-se que o reconhecimento de tais benefícios resulte num apoio mais generalizado aos esforços contínuos para reduzir o desmatamento e proteger as florestas."

 

       Capitais brasileiras estarão entre as mais quentes do mundo em 2050, indica estudo americano

 

Uma pesquisa realizada pela ONG Carbon Plan, em conjunto com o jornal The Washington Post, investigou o dano potencial que o calor pode causar ao planeta a longo prazo. No estudo foi previsto quais serão as cidades mais quentes até o ano de 2050.

A ONG evidencia a perspectiva de que, em cerca de 30 anos, aproximadamente 5 bilhões de pessoas estarão expostas a, pelo menos, um mês de calor prejudicial à saúde humana. A análise foi feita por meio de uma escala que combinou temperatura, umidade, luminosidade solar e vento e que determinou que 32° Celsius é a condição limite para a saúde do indivíduo. Eles reforçam que essa condição é nociva até mesmo para um adulto saudável, caso exposto por mais de 15 minutos, e pode ser responsável pelo aumento da morte de pessoas em consequência de altas temperaturas.

Paulo Artaxo, professor do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, analisou o estudo e comentou: “Essas hipóteses levantadas podem se tornar realidade. Eles têm base física, base científica e só reforçam a necessidade urgente da redução de emissões de gases de efeito estufa, que é a única maneira que nós temos de evitar um colapso do sistema climático”.

•        Consequências do superaquecimento

As mudanças climáticas estão associadas, no geral, a desastres como queimadas e enchentes. Entretanto, os perigos do calor extremo são mais silenciosos e menos visuais — pessoas morrem nas ruas, outras adquirem doenças cardíacas e mentais por consequência dessa conjuntura. “Com as emissões atuais, a temperatura deve chegar, na segunda parte deste século, em 3° Celsius de média global, o que significa, em áreas continentais, como o Nordeste brasileiro ou a Amazônia, um aumento da ordem de 4° a 4,5º”, garante o professor.

As métricas mais populares avaliam apenas a temperatura e a umidade, o que auxilia na explicação de como o corpo trabalha para controlar sua temperatura. Em contraponto, a temperatura de bulbo úmido analisa a influência do Sol e do vento na capacidade das pessoas em se resfriar.

De acordo com o levantamento, a temperatura absoluta não é tudo. Portanto, é levado em conta o aumento repentino da temperatura, pois isso ameaça a capacidade dos indivíduos em lidar com a situação, mesmo nos lugares que já são quentes. Artaxo garante que as áreas mais atingidas pelo aquecimento global serão as que já viviam no limiar de temperaturas perigosas, antes da intensificação dos eventos climáticos.

Um estudo da revista Lancet Planetary Health, publicado em 2021, apontou que ocorrem cerca de meio milhão de mortes ao redor do planeta devido ao calor excessivo e o número de pessoas acometidas por doenças crônicas desencadeadas por esse contexto está em crescimento.

•        Desigualdade no aquecimento global

Essa epidemia de calor, apesar de representar uma das maiores ameaças à humanidade, não irá afetar o mundo de maneira uniforme, segundo a pesquisa. Eles assumem que 80% da população afetada pelo calor extremo será de países mais pobres, enquanto apenas 2% viverá nas localidades mais ricas do mundo. Isso ocorrerá em regiões como o Sul da Ásia e a África Subsaariana, em virtude de sua localização e de questões socioeconômicas que dificultam o enfrentamento dos problemas climáticos. A falta de um sistema de saúde de qualidade ou de produtos, tal qual ar condicionado, são fatores essenciais para essa realidade.

Além disso, vale destacar que os trabalhadores ao ar livre, os mais afetados, costumam estar mais presentes nos países de maior risco. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), enquanto os EUA apresentam apenas 10% da força de trabalho ao ar livre, a Índia — um dos países de maior ameaça — possui 56% dela. Especialistas também ressaltam que os trabalhadores imigrantes são responsáveis por serviços mais pesados e possuem maiores demandas, mesmo que seja no mesmo local de trabalho que os nativos.

A pesquisa indica algumas possíveis soluções para mitigar essa problemática. Entre elas, é destacada a mudança na legislação dos países para a melhora de vida dos trabalhadores ao ar livre, como a garantia de pausas durante o serviço ou, até mesmo, a proibição quando as temperaturas estiverem extremas. Além disso, o uso de coletes acoplados a ventiladores e de roupas brancas demonstraram reduzir a tensão do calor na pele dessa mão de obra.

•        Cidades brasileiras mais quentes

Conforme o estudo, a cidade que mais sofrerá será Pekanbaru, na Indonésia, que deverá ter quase um ano de calor extremo — 344 dias. Já no Brasil, várias capitais sofrerão por, ao menos, um dia. “O Brasil é um dos países que mais devem sofrer com as mudanças climáticas globais, por conta de sua extensão continental e sua localização tropical. Muitas cidades brasileiras, como Teresina, Cuiabá e cidades do Agreste nordestino, já vivem no limiar da temperatura.” Em números absolutos, Manaus lidera entre as capitais brasileiras, ultrapassando o limite de 32°C por 258 dias. Em sequência, fecham a lista das cinco primeiras: Belém (222), Porto Velho (218), Rio Branco (212) e Boa Vista (190).

O professor ressalta que cidades de regiões como da Amazônia, que combinam altas temperaturas com altas umidades, terão um agravante: “É perigoso para a saúde humana, porque uma das maneiras que o corpo utiliza para se resfriar é a transpiração. Se você tem umidade relativa do ar entre 70% e 80%, dificulta a evaporação da água do corpo, o que conflui para que os mecanismos de regulação térmica do corpo deixem de funcionar adequadamente”.

 

       Mudanças climáticas são bênção e ameaça para arqueologia

 

As mudanças climáticas raramente trazem algo de bom. A arqueologia, no entanto, parece se beneficiar com o rápido derretimento das geleiras, com o recuo maior do permafrost e com a seca extrema de rios e lagos. Nos últimos anos, acumulam-se as descobertas de sensações arqueológicas preservadas durante séculos no gelo ou protegidas em regiões inundadas.

Embora muitas destas descobertas só tenham sido possíveis graças ao derretimento do gelo, o aumento da temperatura do ar e do mar nos últimos anos tem consequências dramáticas para a ciência. O que esteve protegido durante milhares de anos no clima frio e úmido pode desaparecer em pouco tempo devido às mudanças climáticas.

O gelo, por exemplo, preservou achados sensacionais, como o homem da Idade da Pedra apelidado Ötzi, descoberto em 1991. Graças a seu excelente estado de conservação, pesquisadores conseguiram reconstruir com precisão como o "homem do gelo" vivera há cerca de 5.300 anos nos Alpes, entre Itália e Áustria.

Arqueólogos que trabalham em montanhas elevadas descobrem agora com maior frequência indícios impressionantes de dramas passados. Pesquisadores do Peru e da Polônia acabaram de apresentar a reconstrução da múmia inca Juanita, uma menina de 14 anos sacrificada em oferenda aos deuses há mais de 500 anos.

Os incas esperavam, por meio do ritual sangrento chamado Copacocha, conquistar dos deuses proteção contra desastres naturais. A múmia congelada foi descoberta em 1995 a mais de 6 mil metros de altitude no vulcão Ampato, no sul do Peru. Devido ao derretimento do gelo e à erosão, a múmia, que estava num sítio inca mais elevado, caiu na cratera do vulcão.

•        Cápsulas do tempo congeladas

As descobertas de armas, trenós, peças de roupas do Império Romano ou da Idade Média estão cada vez mais frequentes nos Alpes ou na Escandinávia. Graças a seu bom estado de conservação, esses objetos revelam aos pesquisadores muito sobre a vida de antepassados.

Muitas peças arqueológicas estão sendo descobertas principalmente em regiões onde o permafrost – camada permanentemente congelada da superfície terrestre – está recuando de maneira acelerada. Na Antártida, imagens de radar mostram paisagens fluviais embaixo do gelo. No Alasca surgem de repente aldeamentos antigos. Na Sibéria, pesquisadores descobriram fósseis de três mamutes que teriam mais de 3 milhões de anos. No Canadá foi descoberto o fóssil de um bebê mamute completamente preservado e mumificado.

São grandes descobertas, mas o tempo urge. Onde hoje há ainda permafrost, que conserva excelentemente material orgânico, em alguns anos restará apenas uma simples alteração da cor do chão.

O derretimento dos glaciares, as chuvas intensas e o aumento do nível do mar representam novos desafios para a arqueologia. Esses fenômenos ameaçam, por exemplo, muitas cidades portuárias antigas ao redor do Mediterrâneo. As mudanças climáticas não são apenas responsáveis pelo degelo e inundações, mas também por secas terríveis.

•        Secas revelam tesouros

Para os arqueólogos, as secas são, em parte, uma sorte, mas, para ecossistemas e seus habitantes, são uma catástrofe: peixes morrem em massa, campos já não podem mais serem cultivados e há escassez de água potável.

Uma seca extrema revelou no Iraque uma cidade de 3.400 anos que estava no fundo de uma barragem. Arqueólogos alemães e curdos puderam estudar brevemente a cidade da Idade do Bronze. Depois, o centro de poder dos Mitanis voltou para debaixo d'água.

Em Cáceres, na Espanha, uma seca trouxe à tona o Dólmen de Guadalperal. Apelidado "Stonehenge espanhol", o monumento megalítico de 150 blocos de pedra foi construído há cerca de 7 mil anos.

Destroços de embarcações surgiram no leito seco do rio Mississipi, restos de navios alemães da Segunda Guerra Mundial apareceram no Danúbio. Esses restos de embarcações que se tornaram visíveis com as secas não são somente um perigo para a navegação, mas muitas vezes ainda carregam munições, ameaçando assim o meio ambiente.

•        Problema ambivalente

Essa problemática é atual também no Brasil, onde a seca extrema na Amazônia revelou gravuras rupestres ao longo do rio Amazonas. Os desenhos pré-históricos mostram uma variedade de expressões. Culturas indígenas que viviam na região provavelmente fizeram as gravuras há cerca de 2 mil anos.

As gravuras são uma descoberta "inestimável" para a compreensão dessas populações pré-históricas, afirmou a historiadora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Beatriz Carneiro à agência de notícias AFP. "Infelizmente elas estão reaparecendo agora com a intensificação da seca."

O nível do rio Negro baixou cerca de 15 metros desde julho e na última semana de outubro foi registrada sua menor vazão em 121 anos. Segundo arqueólogos, isso coloca em risco a preservação do sítio arqueológico. Mas a seca está atingindo principalmente a população local, isolando comunidades inteiras e dificultando o acesso a alimentos, meios de subsistência e até a água potável.

 

Fonte: Correio Braziliense/Jornal da USP/Deutsche Welle

 

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