quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Chamas da vingança: o fator Hezbollah no conflito Israel-Palestina e a eclosão da guerra regional

Após os ataques do Hamas em 7 de outubro, militares israelenses fixaram suas atenções para a Faixa de Gaza. No entanto, na fronteira norte com o Líbano novas ameaças como o Hezbollah vêm ganhando corpo, prometendo transformar o conflito Israel-Palestina numa verdadeira guerra regional.

Fato é que desde as primeiras semanas de outubro, o grupo Hezbollah (sediado no Líbano) prometeu apoiar o Hamas, ameaçando inclusive abrir uma segunda frente contra Israel em sua fronteira norte. Como resposta, o governo de Tel Aviv já chegou a trocar mísseis com o grupo, vitimando soldados de ambos os lados.

Em vista desse cenário, populações no sul do Líbano encontram-se em preparação para a ampliação das hostilidades na região. O Hezbollah, vale lembrar, possui cerca de 130 mil foguetes e mísseis sob seu poder, representando uma força militar ainda mais perigosa do que o Hamas em diversos aspectos.

Dado esse extenso arsenal, o grupo pode causar sérios danos às defesas aéreas israelenses e até mesmo a infraestruturas críticas controladas por Tel Aviv. Israel, por sua vez, tem se preparado para uma escalada também ao norte e conta com o apoio irrestrito das potencias ocidentais e sobretudo dos Estados Unidos para atuar da forma que imaginar conveniente aos seus objetivos.

Outras potencias internacionais, como Rússia e China, por outro lado, tem demonstrado visível consternação com a resposta desproporcional de Israel em Gaza, cujos constantes bombardeios têm transformado diversas áreas no local em um verdadeiro tapete de ruínas.

Não raro, vídeos circulando nas redes sociais, assim como em canais oficiais e não oficiais de notícias, vem relatando a tragédia das vítimas dos ataques israelenses, fomentando interpretações, sobretudo no mundo árabe e no Sul Global, de que Israel age sem consideração pelas perdas humanas causadas pelas suas ações.

Como se não bastasse atacar bairros inteiros em Gaza, os militares israelenses preparam-se para uma invasão terrestre total da região, o que tem causado um êxodo descontrolado de civis e pânico em diversas partes do enclave palestino. O objetivo das operações anunciado por Tel Aviv é o de destruir o potencial ofensivo do Hamas, entretanto, tal justificativa tem sofrido muitas críticas devido às dificuldades implicadas em sua execução.

Isso porque o Hamas possui cerca de 40 mil soldados altamente treinados e conta com uma rede gigantesca de tuneis subterrâneos ao longo da Faixa de Gaza. Ademais, a Faixa de Gaza é uma área urbana densamente populada, o que faz com que qualquer ação militar por parte de Israel na região acabe invariavelmente vitimando inúmeros civis sem qualquer ligação com o Hamas.

Logo, com o número de palestinos mortos aumentando de forma exponencial a cada dia, Israel vem causando mais e mais indignação nos países árabes em seu entorno. Enquanto isso, o Hamas não é o único ator que possui pretensões de vingança para com o Israel. Afinal, países como o Irã têm sido bastante ativos no financiamento e no apoio logístico a grupos como o Hezbollah pelo menos desde a década de 1990.

Com o apoio iraniano, por sua vez, o Hezbollah cresceu de um pequeno bando de rebeldes desorganizados para se tornar uma poderosa força de combate com cerca de 100 mil homens, mais de duas vezes o número de combatentes do Hamas. Não obstante, combatentes do Hezbollah participaram de diversos combates na Síria, no Iraque e no Iêmen ao longo dos últimos anos, aumentando significativamente sua experiência em batalhas.

Sua capacidade para um conflito sustentado com Israel, portanto, ofusca em muitas vezes a do próprio Hamas que, se estiver em vias de ser subjugado, vai provocar a intervenção do Hezbollah (e consequentemente do Irã) no conflito, transformando-o numa guerra de proporções regionais.

Ao mesmo tempo, durante a atual fase das hostilidades, tanto o Hezbollah como o Irã, que não possuem condições de auxiliar fisicamente o Hamas em Gaza, podem recorrer à utilização de drones (como o Shahed) para atacar forças israelenses em diversas partes do país.

No mais, vale lembrar que, ao visitar o Líbano no início de outubro, o ministro das relações exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, já havia deixado clara a possibilidade de Teerã abrir uma segunda frente contra Israel caso o bloqueio de Gaza continuasse, com o Hezbollah se juntando à luta armada contra o governo de Tel Aviv.

Em tal situação, Benjamin Netanyahu se veria exposto a duas frentes de batalha simultâneas, ao sul (envolvendo o Hamas) e ao norte (envolvendo o Hezbollah), o que explica a manobra estadunidense de enviar dois porta-aviões para o Mediterrâneo, numa demonstração de que Washington também está pronto para intervir caso necessário.

Enquanto isso, a Síria, que faz fronteira com Israel pelo norte, pode servir de posto avançado para o Irã posicionar equipamentos militares direcionados contra Israel. Do território sírio, aliás, tropas do Hezbollah são capazes de atacar Israel a partir das colinas de Golã, o que marcaria um ponto de não retorno para o conflito.

Em suma, enquanto o Hezbollah se vê disposto a retaliar Israel por suas ações em Gaza, a contagem de corpos resultante dos ataques aéreos na região vai aumentando. Ao mesmo tempo, Israel envia milhares de soldados para a fronteira com o sul do Líbano, se preparando para uma provável escalada militar com o Hezbollah.

Para o mundo, Tel Aviv justifica suas operações como essenciais para a destruição do Hamas e em prol da libertação dos reféns israelenses capturados no dia 7. Do outro lado, o Hamas continua a atacar alguns bairros israelenses por meio de foguetes lançados da Faixa de Gaza, como forma de retaliação às operações de Israel e às mortes de palestinos causadas pelos bombardeios recentes.

Em se prologando esse cenário, o Oriente Médio continuará marcado por paisagens apocalípticas compostas de ruínas, estilhaços e de ódio recíproco. Logo, as imagens de escombros e de prédios destruídos, alguns deles em chamas, continuarão a circular por diversos cantos da Internet e das redes sociais.

Ao passo que o mundo acompanha essa tragédia humana, uma triste convicção vai se formando: de que há incêndios que são impossíveis de se apagar. E infelizmente, o Oriente Médio está repleto deles. Trata-se de incêndios formados pelas chamas da vingança.

 

Ø  Amorim: situação geopolítica mundial é preocupante com ONU enfraquecida

 

O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou nesta terça-feira (31), que a Organização das Nações Unidas (ONU) está enfraquecida, o que classifica como um dos momentos mais graves da história mundial contemporânea.

"Como pode as Nações Unidas inertes diante de uma situação tão grave como a que temos hoje?", questionou ele na abertura do Fórum Brasil África 2023, em São Paulo.

"Hoje, vivemos uma situação muito mais grave, com a multiplicidade de atores, duas guerras, e ver a ONU enfraquecida é algo que preocupa", disse.

O assessor da Presidência mencionou a participação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, na reunião do Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, que chamou de heroica ao tentar aprovar a resolução e defender todos os que sofrem na região, como também "para defender a própria Nações Unidas".

De acordo com o assessor especial e ex-chanceler brasileiro, a ameaça de destruição mostra-se muito maior que em outros momentos de crises internacionais, como o da crise dos mísseis de Cuba, em plena Guerra Fria, a disseminação do ódio e polarização não era tão intensa como no momento atual.

"Havia dentro da irracionalidade do que seria uma guerra nuclear, uma racionalidade na condução dos fatos. Telefone vermelho, dois homens, [John F.] Kennedy e [Nikita] Khrushchev, que chegaram a um acordo", ponderou ele.

Ontem (30), Mauro Vieira, criticou a "paralisia" do Conselho de Segurança frente ao conflito entre Hamas e Israel. Para Vieira, a entidade tem "vergonhosamente falhado" para buscar soluções.

Na última semana, a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução de pedido de cessar-fogo imediato, o que foi rejeitado por Israel e Estados Unidos. O embaixador do país na entidade declarou que a organização não possuía legitimidade para interferir no conflito.

Hoje (31), as Forças de Defesa de Israel (FDI) passaram para a terceira fase da guerra com o movimento palestino Hamas, de expansão das operações na Faixa de Gaza.

O Escritório da Organização das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) anunciou que o único abastecimento de água via Israel que ainda havia na Faixa de Gaza foi completamente cortado ontem (30). Israel nega que falte água no território.

·         Início do conflito

A guerra começou no dia 7 de outubro, quando o movimento fez um ataque surpresa com foguetes em grande escala que atingiu o território de Israel.

Os militantes provocaram centenas de mortes e sequestraram centenas de judeus na região sul. A maioria ainda segue sob o poder do Hamas. Uma das regiões mais pobres do mundo, Gaza tem mais de 80% da população na pobreza e sofre um bloqueio israelense por terra, ar e mar desde 2007.

 

Ø  'Genocídio' em Gaza: diretor do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pede demissão

 

Em carta de demissão, Craig Mokhiber diz que a ONU fracassou perante a comunidade internacional e se rendeu ao poder dos EUA e ao lobby de Israel.

O diretor do gabinete de Nova York do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) pediu demissão do cargo nesta terça-feira (31), citando como justificativa o fracasso da organização em impedir o que chamou de genocídio perpetrado por Israel contra palestinos na Faixa de Gaza.

Em sua carta de demissão, Craig Mokhiber afirmou que a Organização das Nações Unidas (ONU) fracassou perante a comunidade internacional.

"Escrevo em um momento de grande angústia para o mundo, inclusive para muitos de nossos colegas. Mais uma vez, estamos assistindo a um genocídio se desenrolar diante de nossos olhos, e a organização a que servimos parece impotente para impedi-lo. Como alguém que investiga os direitos humanos na Palestina desde a década de 1980, viveu em Gaza como conselheiro de direitos humanos da ONU na década de 1990 e realizou várias missões de direitos humanos para o país [EUA] antes e depois, isso é profundamente pessoal para mim", escreveu.

Mokhiber criticou a ONU por ter se rendido ao lobby de Israel e ao poder dos EUA e lamentou o fato de a organização ter perdido a credibilidade.

"Nas últimas décadas, partes importantes da ONU renderam-se ao poder dos EUA e ao medo do lobby de Israel para abandonar esses princípios [dos direitos humanos] e se afastar do próprio direito internacional. Perdemos muito com esse abandono, inclusive nossa própria credibilidade global."

Ele ressaltou que, no contexto atual, as exigências impostas à ONU para que a organização tome medidas eficazes são maiores do que nunca. "Mas nós não enfrentamos o desafio. O poder de proteção do Conselho de Segurança da ONU foi novamente travado pela intransigência dos EUA", criticou.

Na carta, Mokhiber também ressaltou que as ações tomadas pelo governo israelense não representam o povo judeu.

Ele citou um protesto realizado em Nova York no qual milhares de defensores dos direitos humanos judeus se solidarizaram com o povo palestino e exigiram o fim da tirania israelense.

"Ao fazer isso, eles eliminaram o argumento de que Israel, de alguma forma, representa o povo judeu. Não representa. E, como tal, Israel é o único responsável pelos seus crimes", disse Mokhiber, acrescentando que "as críticas à violação dos direitos humanos em Israel não são antissemitas".

A carta de demissão reflete o posicionamento do agora ex-diretor divulgado na última segunda-feira (30), em uma postagem na rede social X (antigo Twitter), na qual afirmou que o genocídio na Faixa de Gaza é produto de décadas de impunidade israelense sustentada pelos EUA e por outros governos ocidentais.

"O genocídio que estamos testemunhando na Palestina é o produto de décadas de impunidade israelense sustentada pelos EUA e por outros governos ocidentais e de décadas de desumanização do povo palestino pelos meios de comunicação corporativistas ocidentais. Ambos devem acabar agora. Defenda os direitos humanos", escreveu Mokhiber.

·         Egito permitirá entrada de palestinos feridos na fronteira com a Faixa de Gaza

A passagem de Rafah, única saída terrestre da Faixa de Gaza na fronteira com o Egito que não é controlada por Israel, será aberta amanhã (1º) para palestinos feridos, informou o canal de televisão egípcio Al Qahera News nesta terça-feira (31), citando fontes.

Cerca de 250 caminhões cruzaram a fronteira de Rafah desde 21 de outubro, para levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza, de acordo com o chefe do Serviço de Informação de Estado egípcio, Diaa Rashwan. A declaração foi transmitida por canais de televisão egípcios.

Também nesta terça-feira, o braço armado do grupo palestino Hamas, as Brigadas Al-Qassam, anunciou, em discurso transmitido pela mídia árabe, que libertará vários reféns estrangeiros nos próximos dias.

·         Crise humanitária sem precedentes

De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, na sigla em inglês), o panorama da situação humanitária em Gaza é sombrio, 24 dias depois do ataque-surpresa do Hamas contra Israel, em 7 de outubro, e da resposta militar israelense ao grupo islâmico, que governa Gaza.

Dados recentes do Ministério da Saúde de Gaza apontam que mais de 8,3 mil pessoas perderam a vida — 63% delas mulheres e crianças. Quase 3,5 mil crianças foram mortas, e pelo menos 6,3 mil estão órfãs.

Em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas realizada na última segunda-feira (30), a diretora do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) Lisa Doughten declarou ser urgente a criação de uma passagem adicional para permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, na medida em que a situação na região piora.

"Mais de um ponto de entrada em Gaza é indispensável se quisermos fazer a diferença. Kerem Shalom, entre Israel e Gaza, é a única passagem equipada para processar rapidamente um número suficientemente grande de caminhões", disse Doughten.

 

Ø  Grupo do Iêmen afirma ter realizado 3 ataques com mísseis e drones em território israelense

 

O movimento Ansar Allah, dos houthis do Iêmen, afirmou nesta terça-feira (31) ter realizado três ataques com mísseis e drones em território israelense.

De acordo com o anúncio do porta-voz do grupo, Yahya Saria, as investidas ocorrem desde a escalada do conflito israelo-palestino.

"Disparamos uma grande quantidade de mísseis balísticos e de cruzeiro, bem como numerosos drones, contra vários locais do inimigo nos territórios ocupados. Confirmamos que esta foi a terceira operação em apoio aos nossos irmãos palestinos oprimidos", disse Saria, em declaração em vídeo transmitida pelo canal Almasirah, administrado pelos houthis.

Na última sexta-feira (27), o porta-voz militar egípcio Gharib Abdel Hafez disse que a Força Aérea do Egito respondeu a dois drones que faziam uma trajetória do sul ao norte sobre o mar Vermelho, com um deles sendo abatido fora do espaço aéreo do país e o outro caindo perto de um hospital.

O Iêmen passa por um conflito armado, entre as forças do governo e os rebeldes do movimento houthi, desde 2011.

·         Ataque matou 500 e feriu centenas em hospital de Gaza; Palestina pede 'fim do genocídio intencional'

Um bombardeio contra o Hospital Batista al-Ahli, localizado em Gaza, deixou pelo menos 500 pessoas mortas na metade deste mês.

A contagem preliminar de vítimas foi divulgada pelo Ministério da Saúde da Palestina. Ao todo, o ataque ainda deixou centenas de pessoas feridas.

Segundo informações da Defesa Civil local, foi o ataque aéreo israelense mais letal em todas as cinco guerras travadas na região desde 2008.

Em discurso nas Nações Unidas, a ministra da Saúde palestina, Mai al-Kaila, fez um apelo aos países estrangeiros, à organização e às instituições humanitárias de todo o mundo: "Salvem o nosso povo deste genocídio intencional".

"O massacre no Hospital al-Ahli não tem precedentes na nossa história. Embora tenhamos testemunhado tragédias em guerras e dias passados, o que aconteceu esta noite equivale a um genocídio", disse o porta-voz da Defesa Civil palestina, Mahmoud Basal.

O representante palestino nas Nações Unidas, Riyad Mansour, pediu ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que pressione Israel por um cessar-fogo e passe a considerar a opinião de seu povo, que é fortemente afetado pela guerra.

"A nossa posição comum é um cessar-fogo imediato. Ele [Biden] é capaz de dizer a Israel 'Basta, vocês devem parar com esse massacre do povo palestino na Faixa de Gaza'. Que pare, que a ajuda humanitária seja entregue, não expulsem 2 milhões de palestinos e não os empurre para a Jordânia", disse Mansour.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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