sexta-feira, 27 de outubro de 2023

'Tudo está acabando': a grave situação de Gaza pelos olhos de um médico

Não há nada em seu rosto que dê sinais sobre as tragédias recentes que ele viu.

Os corpos sem vida de crianças retirados dos escombros; as tendas cheias de mortos envoltos em panos brancos; edifícios indo abaixo pela força devastadora dos ataques aéreos.

O médico Mahmoud Badawi tem visto a humanidade ser destruída diante de seus olhos.

"Há muitas situações difíceis", diz ele. "Como motorista de ambulância, você se acostuma com o que está acontecendo. Quer sejam mãos, cabeças ou corpos cortados... estamos acostumados com isso."

A ambulância em que ele trabalha corre de uma cena de carnificina para outra. Num beco estreito em Gaza, ele recolhe os corpos de duas crianças vítimas de um ataque aéreo. Um homem se aproxima segurando nos braços um menino que foi gravemente ferido.

Badawi chama um amigo que está ajudando a equipe de emergência a socorrer as vítimas e lhe pede que tome cuidado especial com o menino.

"Nasser, a cabeça dele está aberta."

No entanto, Mahmoud mantém a compostura. Não é que ele não se comova diante de tudo o que vê, mas a necessidade exige que ele se concentre naqueles que podem ser salvos.

Enquanto ele fala com um jornalista da BBC, ouve-se o som de um míssil explodindo.

"Não descansamos muito, com tudo o que está acontecendo. A situação está muito ruim. Agora vamos tentar localizar uma área bombardeada para chegar aos feridos e aos mortos."

Questionado sobre qual é a situação dos suprimentos médicos, Mahmoud diz em tom grave: "Tudo está acabando".

De acordo com a autoridade de saúde liderada pelo Hamas em Gaza, mais de 6 mil palestinos foram mortos nas últimas duas semanas. Cerca de 40% seriam crianças.

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que quase um terço dos hospitais e dois terços dos centros de atendimento primário tiveram de fechar "devido a danos causados pelos ataques ou pela falta de combustível".

A ONU diz que o seu estoque de combustível está se esgotando e que "escolhas difíceis" terão de ser feitas nos próximos dias sobre quais serviços priorizar.

Israel recusa-se a permitir a entrada de combustível na Faixa de Gaza porque afirma que o produto pode ser levado pelo Hamas — grupo que o país acusa também de estar acumulando combustível.

Em Gaza, os dias e as noites misturam-se impiedosamente. A guerra é constante e está por todo lado desta pequena faixa de terra — a área total da Faixa de Gaza é de apenas 365 km².

Israel ordenou que cerca de um milhão de moradores na parte norte de Gaza evacuassem para o sul, para que suas forças ataquem o Hamas. Mas há contínuos ataques aéreos israelenses no sul de Gaza, para onde milhares de pessoas fugiram.

Fugir ou não, para onde fugir, onde se abrigar — todos os dias e noites em Gaza estão repletos de escolhas difíceis.

A situação faz também com que, para os trabalhadores de emergência, não haja como voltar para casa — para um local seguro.

Quando está trabalhando, Mahmoud se preocupa com a esposa e os seis filhos, assim como eles se preocupam com o médico. Quando o bombardeio é intenso, ele tenta ligar de hora em hora. Mas a comunicação telefônica é difícil em meio à guerra.

"A conexão com a família é muito difícil. Mal temos serviço para poder ligar e saber se eles estão bem ou não."

Mahmoud se esforçou para criar uma família com preocupações sociais. Ele tem orgulho de seus filhos. Uma filha está estudando para ser médica — ela se inspira no trabalho do pai e em sua própria experiência de guerra em Gaza quando criança. Há também um filho que é enfermeiro; outro se qualificou como professor.

À medida que a noite chega, há uma pausa no bombardeio. Mahmoud faz também uma pausa e fica entre a ambulância e uma pilha de escombros. Ele segura uma maca na mão esquerda, aguardando a próxima emergência. A adrenalina diminui. Ele fica brevemente imóvel e seus olhos olham para longe.

Estão cheios de tristeza por tudo o que viram.

 

Ø  Irã acusa EUA de cumplicidade no 'genocídio' israelense contra Gaza

 

Durante discurso à Assembleia Geral da ONU, Ministério das Relações Exteriores do Irã ainda defendeu o Hamas, caracterizado como um grupo que tem "direito à legítima defesa".

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, acusou os Estados Unidos de se aliarem de forma explícita ao "regime de ocupação de Israel".

"Os EUA e vários países europeus estão observando e apoiando o assassinato de cerca de 7 mil civis em menos de três semanas pelo regime israelense. Eles ajudam este regime militarmente e financeiramente", declarou o oficial.

Citando a ala armada do Hamas, o ministro iraniano apontou uma suposta "hipocrisia" norte-americana, visto que o país caracteriza o grupo como "terrorista", mas, na realidade, este seria um "movimento de autodeterminação palestino, que tem direito à legítima defesa".

Sobre Israel, Hossein criticou a denominação dos EUA, que "referem-se ao regime ocupante e criminoso de guerra, que está cometendo um genocídio em Gaza", como "tendo o direito à legítima defesa".

"Recomendamos que os EUA trabalhem pela paz e segurança, não pela guerra contra mulheres e crianças… e parem de enviar foguetes, tanques e bombas para serem usados contra o povo de Gaza. Os EUA deveriam parar de apoiar o genocídio em Gaza e na Palestina", concluiu o ministro.

Em última atualização oficial, o Ministério da Saúde da Palestina confirmou que o total de vítimas desde o início da agressão a Gaza chegou a 5.791, incluindo 2.360 crianças, 1.292 mulheres e 295 idosos, além de 16.297 cidadãos que sofreram ferimentos diversos.

No momento, o número de fatalidades totais pode ultrapassar a casa de 7 mil.

 

Ø  Israel faz incursão em Gaza com tanques e soldados em 'ataque direcionado'; ONU diz que 'nenhum lugar é seguro'

 

As forças armadas de Israel (IDF) realizaram um “ataque direcionado” durante a noite com tanques de guerra no norte de Gaza.

Militares israelenses informaram que o ataque foi realizado como parte da “preparação para as próximas fases do combate” e “atingiu várias células terroristas, infraestruturas e postos de lançamento de mísseis antitanque”.

“Desde então, os soldados deixaram a área e regressaram ao território israelense”, continuaram as IDF.

Enquanto Israel afirma que seus ataques aéreos atingiram 250 alvos do Hamas nas últimas 24 horas, a coordenadora humanitária da ONU afirma que “nenhum lugar é seguro em Gaza”.

O Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, diz que quase 6.500 pessoas foram mortas desde 7 de outubro, quando mais de 1.400 pessoas morreram nos ataques do Hamas contra Israel.

Mais de 200 pessoas ainda são mantidas reféns em Gaza.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse em discurso na televisão local que as forças das FDI ainda estão se preparando para uma invasão por terra, mas não deu nenhuma informação sobre quando isso deve acontecer.

Israel disse para 1,1 milhão de residentes da cidade de Gaza e de outras áreas do norte da faixa deixarem sua casas "para sua própria segurança".

Mas um alto funcionário da ONU disse à BBC que alguns palestinos que fugiram das suas casas no norte de Gaza estão começando a regressar à medida que as condições se deterioram no também sul.

Um homem em Khan Younis, onde boa parte dos refugiados palestinos se concentram no sul da faixa, disse à agência de notícias Reuters: “A região sul é segura (...) Há massacres dia e noite, muitos massacres, onde crianças, jovens, bebês – todo mundo está morrendo".

"Edifícios foram destruídos, árvores foram mortas... não há lugar seguro em toda a faixa de Gaza. O sul está destruído, todas as mortes e deslocamentos ocorrem no sul", continuou.

·         'Nenhum lugar é seguro em Gaza'

Esta não é a primeira vez que as IDF confirmam uma incursão para dentro da faixa de Gaza desde 7 de outubro.

Em 13 de outubro, as forças de segurança israelenses anunciaram operações em Gaza pela primeira vez desde os ataques do Hamas, enviando tropas e tanques para atacar integrantes do Hamas que disparam foguetes.

Foi neste dia que Israel alertou residentes do norte para evacuarem rumo ao sul.

Em 22 de outubro, um soldado israelense foi morto e três ficaram feridos por um míssil lançado contra um tanque das FDI durante um ataque à Faixa de Gaza.

Nesta quinta-feira (26/10), coordenadora humanitária da ONU para os palestinos, Lynn Hastings, fez um comentário em resposta ao aviso de Israel para que pessoas evacuem a cidade de Gaza.

“Para as pessoas que não tem como evacuar – ou porque não têm para onde ir ou porque não podem se movimentar – os avisos prévios não fazem diferença”, ela disse.

“Quando as rotas de evacuação são bombardeadas, quando as pessoas do norte e do sul são pegas em ataques, quando faltam elementos essenciais para a sobrevivência e quando não há garantias de regresso, restam às pessoas escolhas impossíveis", continuou. "Nenhum lugar é seguro em Gaza.”

Ela acrescentou que o conflito armado deve seguir as regras do Direito Internacional.

“Isso significa que os civis devem ser protegidos e ter o essencial para sobreviver, onde quer que estejam e independentemente de decidirem se mudar ou ficar.

“Isso também significa que os reféns – todos os reféns – devem ser libertados imediata e incondicionalmente”.

A Organização Mundial da Saúde publicou uma lista de suprimentos médicos que afirma estarem prontos e aguardando do outro lado da fronteira de Gaza, no Egito.

Eles incluem equipamento cirúrgico para 3.700 pacientes feridos, serviços de saúde básicos e essenciais para 110 mil pessoas e equipamento médico para 20 mil pacientes que sofrem de doenças crônicas.

A OMS apela ao “acesso imediato e ininterrupto para dentro e por dentro de Gaza” para que possa apoiar o “sistema de saúde em dificuldades” do território.

Nos últimos dias, dezenas de caminhões de ajuda humanitária foram autorizados a entrar em Gaza pela passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, mas as agências humanitárias dizem que são necessários pelo menos 100 caminhões por dia.

·         Análise: por que Israel quer que a invasão terrestre pareça iminente

Para o correspondente da BBC Tom Bateman, que está em Jerusalém, as imagens de tanques em território palestino recém-divulgadas por Israel "são exatamente o tipo de coisa que se esperaria antes de uma invasão terrestre — tropas atuando para encontrar e destruir oponentes no seu terreno".

As imagens divulgadas por Israel mostram tanques e escavadoras blindadas dentro de Gaza. O comentário feito pelas forças armadas faz referência a combates no local, embora as imagens não mostrem isso.

As IDF disseram que as tropas se retiraram “no final da ação”.

Mas o episódio não traz muitas pistas sobre o momento de uma operação terrestre.

A linguagem usada pelo exército israelense é mais forte do que nas operações anteriores, dizendo que são “parte dos preparativos para as próximas fases do combate”.

Mas a guerra narrativa também é crítica. Israel quer manter a sensação de que uma incursão é iminente por três razões, segundo Bateman:

  • Para impedir que a moral das tropas baixe;
  • Para que o o público doméstico israelense veja que a resposta está chegando;
  • E para manter a pressão sobre o Hamas — especialmente em relação às negociações sobre reféns.

 

Ø  Hamas está disposto a libertar reféns não militares, segundo ministro das Relações Exteriores do Irã

 

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian, anunciou nesta quinta-feira (26) que o grupo Hamas está disposto a libertar reféns não militares. A declaração foi feita durante seu discurso na sessão de emergência da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, sobre o conflito Israel-Palestina.

Amir-Abdollahian informou que a libertação de 6 mil palestinos que estão presos pelo Estado israelense também é "uma necessidade":

"Os líderes do movimento Hamas expressaram sua disponibilidade para a libertação de prisioneiros não militares, e a República Islâmica do Irã está pronta para desempenhar um papel crucial nesse esforço humanitário, em colaboração com o Catar e a Turquia. Naturalmente, a libertação dos 6 mil prisioneiros palestinos é uma necessidade adicional e uma responsabilidade da comunidade global", declarou o chanceler iraniano.

Em seu discurso, ele também alertou os Estados Unidos para as "consequências incontroláveis" do apoio financeiro e militar a Israel:

"Alertamos fortemente contra as consequências incontroláveis ​​das armas financeiras ilimitadas e do apoio operacional da Casa Branca ao regime de Tel Aviv, que levaram à expansão e aumentaram a gravidade do bombardeamento de civis em Gaza e na Cisjordânia."

Israel prometeu acabar com o grupo palestino Hamas em retaliação ao ataque de 7 de outubro, que culminou na morte de 1,4 mil pessoas em Israel e centenas de reféns. As Forças de Defesa de Israel (FDI) cercaram Gaza — onde se encontra o grupo palestino — e bombardearam a região causando mais de 7 mil mortes, de acordo com a última atualização oficial do Ministério da Saúde da Palestina, sendo a maioria civis, entre crianças e mulheres.

 

Fonte: BBC News Brasil/Sputnik Brasil

 

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