sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Furto de armas: Exército prende 17 militares por falha na fiscalização e pede prisão preventiva de 6 suspeitos por furto

O Exército prendeu administrativamente 17 militares acusados de falharem na fiscalização e controle das armas do Arsenal de Guerra, em Barueri, Grande São Paulo. E também pediu à Justiça Militar a prisão preventiva de seis que são investigados como suspeitos de participarem diretamente do furto das 21 metralhadoras do quartel.

Dezessete militares foram presos administrativamente por terem deixado de fiscalizar e conferir o armamento durante o período em que ele desapareceu. Eles não têm participação direta no crime, mas ficarão detidos de um a 20 dias de cadeia.

As prisões começaram a ser cumpridas nesta quarta-feira (25) no próprio Arsenal de Guerra. Mas caberá ao comandante do local decidir se os militares ficarão em celas ou se estarão proibidos de sair do quartel. Os presos ainda poderão trabalhar nesse período. A reportagem apurou que eles permanecerão na base como no esquema de "aquartelamento", sem poderem ir para suas casas.

"O Comando Militar do Sudeste (CMSE) informa que no dia 25 de outubro foram concluídos procedimentos disciplinares sobre as condutas de militares do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), resultando, na punição de 17 (dezessete) militares (oficiais e praças). As sanções aplicadas foram de 1 (um) a 20 (vinte) dias de prisão, à luz do Regulamento Disciplinar do Exército. Informações de dados pessoais dos militares são de caráter reservado.", informa nota do Exército.

Mais seis militares são investigados no mesmo processo administrativo por falhas na conferência das armas do armazém do Arsenal de Guerra. O Exército ainda não decidiu se eles serão punidos.

Dois tenentes-coronéis vão ficar presos por 20 dias. Um major e um capitão ficarão detidos por 10 dias. Entre os detidos tem os oficiais de dia, que tem patentes de subtenente a tenente em sua maioria. No grupo de quem foi preso administrativamente tem aqueles que cumprirão punição de cinco dias de prisão se forem militares de carreira. Os que são temporários ficarão um dia na cadeia.

•        Prisões preventivas

A reportagem também apurou que ao menos outros seis militares tiveram as prisões preventivas pedidas pelo Exército por serem investigados por suspeita de terem tido participação direta no furto das 13 metralhadoras calibre .50 e das oito metralhadoras calibre 7,62.

Até a última atualização desta reportagem a Justiça Militar ainda não havia dado uma decisão a respeito da solicitação. Caso haja decretação das prisões, os militares vão para o 2º Batalhão da Polícia do Exército, em Osasco. E se forem julgados e condenados, as penas vão de 1 ano a quase 30 anos de prisão, se somadas.

"O feito a que você se refere encontra-se em segredo de justiça. Por essa razão, a Justiça Militar não irá se pronunciar", informa nota divulgada por sua assessoria de imprensa.

Procurado, o Ministério Público Militar (MPM), que acompanha o caso, informou por comunicado que não passaria "informações sobre as investigações e o trâmite processual".

O sétimo militar que também é investigado por envolvimento direto no crime não teve nenhuma prisão solicitada até esta quinta-feira (26).

O Comando Militar do Sudeste investiga os crimes militares de furto, peculato, receptação e extravio no caso.

•        investigação indica que cabo usou carro de diretor

O Exército investiga a participação de um cabo que era motorista do ex-diretor Arsenal de Guerra de São Paulo no furto das 21 metralhadoras do quartel que fica em Barueri, na região metropolitana.

Segundo reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, ele é suspeito de usar um carro oficial do do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista para levar as armas para fora do quartel, onde seriam negociadas com facções criminosas em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O cabo é um dos sete militares investigados criminalmente por suposto envolvimento no furto das armas. Nessa semana, eles tiveram os sigilos bancário e telefônico quebrados pela Justiça Militar. Batista, que não é formalmente investigado, foi exonerado do cargo e será transferido de unidade.

Os investigadores suspeitam que ele tenha se aproveitado do livre acesso que tinha ao quartel, como homem de confiança do então diretor da unidade, para retirar as metralhadoras.

Segundo a TV Globo, outra hipótese investigada é a de que o crime possa ter ocorrido no feriado de 7 de Setembro. Naquele dia, a energia elétrica foi cortada intencionalmente, causando um “apagão” que desligou as câmeras de segurança da base militar, e religada logo após o furto.

A energia foi religada automaticamente depois do furto. Um dos cadeados que trancava a porta foi rompido e trocado por outro. O lacre da inspeção, que fica junto com o cadeado, também teria sido adulterado para tentar enganar a fiscalização.

A reportagem mostra que peritos do Exército encontraram impressões digitais de militares do quartel em quadros de energia e na sala de armas. Um dos cadeados que trancava a porta foi rompido e trocado por outro. O lacre da inspeção, que fica junto com o cadeado, também teria sido adulterado para tentar enganar a fiscalização.

Apesar de ter suas as impressões digitais encontradas na sala de armas, o cabo não tinha autorização para entrar no lugar. Sua "missão" se restringia a atuar como motorista do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, que havia assumido a direção do quartel em março de 2023. O motorista militar já estava trabalhando nessa função desde a época do diretor anterior. Os investigadores suspeitam que ele tenha se aproveitado do livre acesso que tinha ao quartel, como homem de confiança do então diretor da unidade.

A última inspeção na sala de armas havia sido feita no dia 6 de setembro. Os militares só conferiram se a porta permanecia lacrada 33 dias depois, em 10 de outubro, quando um subtenente viu sinais de arrombamento e percebeu que o lacre tinha sido trocado. Foi nesta data que o comando militar constatou o furto das 13 metralhadoras calibre .50, capazes de derrubar aeronaves, e de oito calibre 7,62, que perfuram veículos blindados. O furto foi revelado pelo Metrópoles.

Até o momento, 17 das 21 armas furtadas foram recuperadas pela polícia — oito em uma comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro e nove em São Roque, no interior de São Paulo. Ninguém foi preso até o momento. As polícias civil e militar ainda buscam as quatro armas restantes, que são metralhadoras calibre .50.

Segundo o Exército, as armas, fabricadas entre 1960 e 1990, são "inservíveis", ou seja, não estariam funcionando perfeitamente, passariam por manutenção e seriam avaliadas. Possivelmente seriam destruídas ou inutilizadas já que recuperá-las teria um alto custo.

•        Oficiais envolvidos

Além do cabo, mais seis militares são investigados como suspeitos de participarem diretamente do maior desvio de armas da história do Exército brasileiro. O cabo era motorista pessoal do então diretor do AGSP, o tenente-coronel Batista, que foi exonerado do cargo pelo Exército após o desaparecimento das metralhadoras. Em seu lugar, assumiu o novo diretor, o coronel Mário Victor Vargas Júnior, que comandará a base em Barueri.

Batista não é investigado no Inquérito Policial Militar (IPM) conduzido por um oficial do Comando Militar do Sudeste (CMSE). O tenente-coronel continua na ativa, mas será transferido para outra unidade militar ainda não divulgada. Ele não foi localizado para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.

Além dos sete militares investigados criminalmente, outros 20 são alvos de apuração disciplinar por parte do Exército, por suposta negligência no controle do armamento.

No grupo dos sete militares investigados tem as patentes de soldado, cabo, sargento e tenente. O CMSE quer usar as informações das quebras dos sigilos bancários, telefônicos e das redes sociais autorizadas pela Justiça para levantar mais provas do envolvimento deles no sumiço das metralhadoras.

E também tentar descobrir quais tinham contatos com o crime organizado para negociar a venda. As armas iriam para o Comando Vermelho (CV), no Rio, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo.

O general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Sudeste, afirmou, no último domingo (22/10), que há praças e oficiais na relação de suspeitos que “serão punidos ou por ação ou por inação”.

“Há diversos militares do quartel que, por negligência, deixaram de agir ali na gerência, controle e na fiscalização do material. Todo esse pessoal está sendo julgado administrativamente e pode ser preso disciplinarmente”, disse o general.

Assim que o crime foi descoberto, todo o quartel – cerca de 480 militares – havia sido retido para que o Exército ouvisse depoimentos e reduzisse a quantidade de suspeitos envolvidos no episódio.

Segundo a Polícia Civil, as armas furtadas seriam vendidas para as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), que recusaram o armamento por falta de peças e por causa do estado de conservação das metralhadoras.

•        Como retiraram as armas?

A principal linha da investigação sugere que o cabo levou a viatura oficial do então diretor do Arsenal de Guerra, possivelmente uma caminhonete branca com brasão do Exército, até o armazém das armas sem levantar suspeitas. Militares que acompanham o inquérito reconhecem que o veículo dificilmente é revistado por alguém quando entra ou sai da unidade.

Por essa hipótese, o cabo dirigiu o veículo sozinho ao sair do Arsenal de Guerra quando a maioria dos oficiais estava fora do quartel por causa das festividades do 7 de Setembro. Eles foram para outras unidades militares participar de desfiles.

Os investigadores avaliam que os indícios reunidos até o momento seriam suficientes para pedir à Justiça Militar a prisão dos sete investigados por suspeita de terem cometido os seguintes crimes militares: furto, peculato, receptação e extravio. O pedido ainda não foi feito.

A solicitação irá antes para análise do Ministério Público Militar (MPM). Procurado para comentar o assunto, o órgão informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o órgão não passaria "informações sobre as investigações e o trâmite processual".

Desse grupo de sete militares, três deles seriam os responsáveis pelo furto, de acordo com a investigação: um teria aberto a sala de armas, outro pegou as metralhadoras e um terceiro transportou o material em um veículo militar para fora do quartel. Os investigadores ainda apuram se as armas foram desviadas todas de uma vez num só dia ou em outras datas.

Aqueles que tiveram envolvimento direto ou colaboraram intencionalmente com o desaparecimento das metralhadoras (seja pela invasão do galpão onde estavam as armas, até a retirada e transporte delas) podem ser punidos criminalmente pela Justiça Militar. Se forem condenados, as penas vão de 1 ano a quase 30 anos de prisão, se somadas.

Mais 20 militares são investigados pelo Exército por participação indireta no sumiço das armas por terem falhado na fiscalização e segurança do Arsenal de Guerra. Essa apuração é feita exclusivamente pelo Comando Militar do Sudeste. Se eles forem punidos poderão receber penas administrativas que vão da advertência, impedimento disciplinar, repreensão, detenção disciplinar, e prisão disciplinar por até 30 dias.

De 10 de outubro a 24 de outubro, o Exército manteve a tropa ou parte dela "aquartelada" no quartel por causa do furto das armas. No início, foram 480 militares impedidos de deixar a unidade. Eles tiveram inclusive seus telefones confiscados. Todos foram ouvidos pela investigação para ajudar na localização das armas. Depois esse número foi reduzido a 160, e nos dias seguintes a 40.

Dentro desse grupo último grupo proibido de ir para casa estavam os sete militares investigados, de acordo com o Exército. Os suspeitos foram "soltos" na última terça (24), quando o Exército pôs fim ao "aquartelamento".

Até a última atualização desta reportagem, nenhum militar investigado pelo sumiço das metralhadoras havia sido punido. Quem for preso poderá ir para o 2º Batalhão de Polícia do Exército, que fica em Osasco. Após a prisão é possível que ocorra um processo de expulsão deles da instituição.

Também nesta terça, o Exército recolheu, na delegacia de Carapicuíba, na Grande São Paulo, as nove armas (cinco .50 e quatro 7,62) encontradas pela Polícia Civil em São Roque, no interior paulista. Elas foram para o 8º Batalhão de Polícia do Exército, na capital paulista. O armamento estava num lamaçal da cidade. Dois criminosos que tomavam conta das armas trocaram tiros com a polícia e fugiram. Ninguém foi preso ou ferido.

As oito armas (quatro .50 e quatro 7,62) achadas pela Polícia Civil no Rio ainda não foram devolvidas ao CMSE em São Paulo. Elas haviam sido abandonadas dentro de um carro.

Segundo o Instituto Sou da Paz, o furto das 21 metralhadoras é o maior desvio de armas já registrado no Exército brasileiro desde 2009, quando sete fuzis foram roubados em um batalhão em Caçapava, no interior de São Paulo.

•        Polícia encontra munição do Exército na casa de ex-militar em SP

A Polícia Civil investiga se o ex-militar Michel Eric Rabelo da Silva, de 22 anos, tem envolvimento com o furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército em Barueri, na Grande São Paulo, após encontrar 19 projéteis e documentos militares falsificados na casa dele.

A residência de Michel fica no bairro Vila Universal, a 6 km do Arsenal de Guerra de onde as metralhadoras foram furtadas em setembro. O caso foi divulgado por Josmar Jozino, colunista do UOL, e confirmado pelo Metrópoles.

Por meio de nota, o Comando Militar do Sudeste afirmou que as munições encontradas na casa de Michel são inertes, ou seja, mostruários enviados por fabricantes que não efetuam disparos, e que a apreensão “não tem ligação com a investigação do furto de armamentos e não há extravio de munições da organização militar”.

•        Prisão em flagrante

A apreensão na casa de Michel ocorreu no dia 15 de setembro, após o sumiço das armas no quartel. Conforme revelado pelo Metrópoles, o furto das 13 metralhadoras calibre .50, capazes de derrubar aeronaves, e oito calibre 7.62, que perfuram veículos blindados, só foi descoberto pelo Exército durante uma vistoria no dia 10 de outubro.

A polícia investigava se Michel tinha envolvimento no desaparecimento de uma mulher trans quando o ex-militar foi autuado em flagrante portando um documento militar falso.

Após ter sido detido, ele autorizou que a polícia revistasse sua casa, onde foram encontradas roupas camufladas, capacete balístico de uso exclusivo das Forças Armadas, carteira e distintivo do Exército e 19 projéteis (foto em destaque), sendo:

•        4 munições calibre .50;

•        2 munições 30 mm;

•        3 muniçoes 20 mm;

•        4 munições calibre 7,62;

•        4 munições calibre 5,56;

•        2 munições de festim calibre 7,62.

Desligado do Exército em fevereiro de 2022, Michel admitiu que portava um documento falso e afirmou ter ganhado as munições de um amigo que serviu com ele.

 

Fonte: g1/Metrópoles

 

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